segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Comentando a minissérie Sissi (Alemanha, Áustria, Itália/2009)



No sábado tinha feito um post sobre a minissérie italiana de Sissi. Descobri por acaso e, enfim, consegui baixar usando o E-Mule. Hoje de manhã, decidi passar os olhos no material e não consegui parar. Nem o fato de não ter legendas, o que ocasiona, acredito eu, a perda de pelo menos 25% da minha compreensão do que é dito, me desanimou. O material é muito bom, muito mesmo. E bem que poderia ser lançado aqui no Brasil... Mas não será, claro! E também não sei se farão legendas, embora valha muito a pena.

A série começa com Sissi servindo de negociadora entre o decadente Império Austríaco e a Hungria, que periga, depois de muitas revoltas e repressão, passar para o lado do Império Germânico recém unificado. Depois de tantas perdas – pedaço por pedaço da Itália, a unificação da Alemanha – a Hungria seria a mutilação final. Aberta a cena com Sissi negociadora, voltamos para a jovem de 15 anos que se tornaria imperatriz. Cristiana Capotondi é belíssima, e faz uma Sissi que vai do tomboy (*e ela parece ter sido mesmo*) até a mulher depressiva com um casamento infeliz. O encontro com o Imperador, destinado a se casar com sua irmã, Helene, é carregado daquelas tintas românticas. Olhos nos olhos, amor à primeira vista e pronto.

Esse compromisso com o romantismo, afinal, é uma obra de ficção televisiva tradicional, impossibilita que o casamento entre Sissi e Francisco José seja mostrado com todas as cores tristes que teve. Para cada problema, há um desenlace feliz, ainda que capenga, garantido pelo amor que existe entre os dois. Em um determinado momento, Sissi diz que ama mais o marido, porque ele erra, e, logo, o amor é um exercício de perdão. O problema é que ela é liberal, politicamente falando e excêntrica para o século XIX, ainda mais em uma corte estagnada como a austríaca, já o imperador, é um conservador, prisioneiro das suas condições de produção. E, claro, há a sogra, a Arquiduquesa Sophie.

O bom da série é que “a Sogra” não é pintada como “malvada”, mas uma mulher astuta, politicamente influente, mas reacionária. Ela torna a vida da heroína um inferno, mas, acima de tudo, a série retrata a luta de duas mulheres, que representam dois ideários políticos diferentes, tentando ter influência sobre um homem para salvar um império. Mas o império já estava perdido, e pessoas não conseguiriam segurar o trem da história. Não tenho nenhuma simpatia por Francisco José, e a série não coloca o rapaz com aqueles bigodões horríveis do século XIX, para não enfeiá-lo, mas ele passa uma imagem de fraqueza. Ele representa o ideário conservador com tão pouca convicção, com uma cara de “é somente isso que eu posso fazer”, que se torna presa fácil de gente como Napoleão III e Bismarck, ambos parecem muito mais astutos e fortes do que ela na minissérie. Já Sissi é pintada como sensível às mudanças dos tempos e às necessidades do povo, e mais esperta politicamente, aliás, a preocupação da série é mostrar que ela não era somente a princesa de contos de fadas ou fazer a ridícula associação com a Diana, Princesa de Gales, mas mostrá-la como uma pessoa completa: mulher apaixonada, mãe sofredora, imperatriz, figura interessada em política e desejosa de ser o braço direito de seu marido em tudo. Mas aí entra “a Sogra” e a vida dela se torna um inferno.

Os homens que são personagens recorrentes e pintados de forma positiva são o pai de Sissi, que a educou para ter a mente aberta e senso crítico; Maximiliano, irmão caçula de Francisco José, que tem idéias liberais e progressistas, mas é impedido de fazer reformas necessárias na Itália; e o conde húngaro Gyula Andrássy, líder da resistência húngara e que se torna amigo de Sissi. Antes de tudo, não sabia da veia liberal de Maximiliano, achava que ele era um absolutista aventureiro que tentou se tornar imperador do México. Preciso ler mais sobre isso, parece que a coisa não era bem assim. Já Andrássy é o sujeito mais interessante da série, seja politicamente, seja por ser o homem mais charmoso do elenco todo. Também não sei muito das fofocas da corte austríaca da época, mas, parece que houve boatos de que ele teria sido amante de Sissi. Na série, ele se mostra apaixonado, os dois se beijam, mas ela recusa ir adiante e essa é a deixa para voltar para o marido.


A série mostra bem a situação política do século XIX, com o velho Império Austríaco ruindo de podre. E, como escrevi, não adiantaria a ação de uma pessoa para conter a mudança estrutural pelas quais a Europa estava passando. A Áustria não estava no século XIX, não no mesmo pé que a Inglaterra, a Prússia e a França. A incapacidade de um monarca absolutista em perceber isso, só tornava as coisas piores. Por mais simpático que o romance de Sissi e Francisco José fosse, ele é mostrado como um conservador obtuso. E devia ser mesmo. Também é mostrada a importância da jovem, simpática e bela imperatriz como peça de propaganda. Para isso, Francisco José não era nada tapado.

Já Sissi, na intimidade, é mostrada como uma mulher apaixonada e infeliz. A etiqueta da corte, para a qual a moça de 16 anos não tinha sido preparada, a sufocava. Até o número de banhos que ela tomava deveria ser regulado pelo protocolo imperial (*só um por semana e nas segundas-feiras*), ela era vigiada, e seus filhos foram tomados dela. Toda a educação foi gerenciada pela sogra sob o argumento que nenhuma imperatriz educou pessoalmente os seus filhos ou os amamentou na Áustria. Isso ate poderia ser verdade, mas as coisas mudam, e se tratava, claro, de uma disputa de poder. Um dos "errinhos" da minissáerie, colocado para ilustrar a boa vontade de Sissi, é que ela e Francisco José decidiram dar o nome de Sophie para a primeira filha, como homenagem à avó. Na verdade, foram o marido e a sogra que escolheram, sem a participação dela. Sissi perdeu o confronto com a Arquiduquesa Sophie, que era também sua tia, pois ela contava com o apoio do Imperador, afinal, ela tinha experiência em educar monarcas, já a imperatriz, não tinha. Assim, seus dois filhos mais velhos foram educados pela sogra. Ela só pode educar sua filha caçula (*que não aparece na série que termina com a coroação do casal como rei e rainha da Hungria*), nascida 10 anos depois do terceiro filho. E, claro, ela se sentia culpada pela morte da filha mais velha, pois em um rasgo de autonomia forçou a barra e levou as duas meninas pequenas para a viagem com o marido à Hungria. Isso é fato. Eu pensei que tinha sido invenção da série, mas aconteceu mesmo. A história de Sissi é tão dramática que não precisa de grandes retoques. O afastamento do marido em relação a ela são mostrados de forma leve, sempre com aquela aura de que no fim das contas eles se amavam, mas a família nunca conseguiu ser feliz ao que parece. Ser excêntrica e anoréxica não seria estranho com uma trajetória dessas.

A série começa na Hungria e termina na Hungria. A importância de Sissi nas negociações pode ter sido exagerada, mas ela teve seu papel, falava húngaro, tinha damas da corte húngaras e é homenageada pelos húngaros em vários monumentos. Enfim, Sissi da Rai foi uma boa surpresa para mim. Não esperava que fosse tão interessante, pensei que a ênfase seria no romance e, não, na política. Preencha a Bechdel Rule perfeitamente, e é um belo espetáculo para os olhos. A reconstituição de época, o figurino, as locações, os artistas, tudo é muito bonito. A escolha de cobrir somente 15 anos da vida de Sissi também foi feliz. Minisséries ou filmes com pretensões biográficas deveriam recorrer aos recortes temporais com mais freqüência, pois, quando não o fazem, acabam normalmente caindo na superficialidade. Vide A Duquesa, onde as pessoas não envelhecem e as crianças não crescem. Pena que as minisséries italianas não cheguem aqui no Brasil, salvo as religiosas. Preciso me informar melhor sobre elas, pois acho que vale muito a pena assisti-las.

Só para contar: acabei de voltar da Livraria Cultura e tomei um susto, a minissérie Sissi saiu no Brasil. Peguei, ia comprar, mas não tem áudio italiano, só o alemão. A série foi produzida em ambas as línguas, com atores italianos (*maioria*) dublados em alemão, e os alemães e austríacos dublados em italiano. Além disso, não tem dublagem nacional. Se tivesse pelo menos o duplo áudio original, eu até levaria sem o áudio em português, mas do jeito que está, não dá. E ainda tem uma sinopse caça-níqueis dizendo que é um "remake" da trilogia com Romy Schneider, o que é uma mentira. Ou seja, lançam, mas fazem lambança. Enfim, a caixa é bonita, vermelha, com a atriz principal em destaque. Quem quiser comprar, está custando 70 reais na Cultura. O Submarino também tem o box da série.

P.S.: A NÓKA XI NÒKA me lembrou nos comentários de algo que eu tinha esquecido, há a versão da vida de Sissi para o Teatro Takarazuka. O nome do espetáculo é Erizabeeto - Ai to Shi no Rondo – (エリザベート -愛と死の輪舞(ロンド)-/ Elisabeth: The Rondo of Love & Death). Aqui a página da última montagem do espetáculo no Takarazuka.

3 pessoas comentaram:

Muito obrigada pela matéria !!
Sempre que se fala em Sissi , a imagem que tenho em mente é da Romy Schneider ^^
Tô correndo pro emule [tava abandonado aqui no meu PC ^_^]
Eu amo muito Sissi ... ainda mais depois de ver [umas 50 vezes] "Elisabeth" do Takarazuka *___*

NÓKA XI NÒKA, eu não vi os filmes da Romy Schneider, acredita? O espetáculo do Takarazuka nem se fala... Aliás, vc sabe se é possível baixar espetáculos completos do Takarazuka?

Mas falando da série itaiana, ela é excelente, muito boa mesmo. Vale a pena assisti-la. :)

Assisti SISSI [Romy Schneider] pela 1° vez na Band [na minha infância] e foi inesquecível !!
Baixei ontem mesmo a série italiana [também está disponivel por torrent].
Eu tenho alguns Dvds do Takarazuka [consegui comprando pelo "Taobao" , o ebay da China . Claro que não são originais , mas o preço compensa e muito]inclusive "Elisabeth" do Hanagumi [2002] ,caso você queira , enviarei com muito gosto ^^
Eu tinha conseguido pelo emule peças completas [Até Berubara],mas não sei dizer se ainda se encontram disponiveis.
Estou colocando o link do "Tudou" [o "youtube" chinês] com Takarazuka.
Pode-se encontrar tudo de Takarazuka [até noticias e peças atuais]e alguns videos tem a peça inteira [na íntegra]
Se preferir , pode apagar o link depois .
http://www.tudou.com/

tentei colocar direto o link do takarazuka ,mas com os kanjis não foi possivel ... [basta vc colocar takarazuka em japonês ou o nome das troupes ou otokoyaku no search do tudou ^^]

Related Posts with Thumbnails