quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Comentando A Sogra (2005)



Dentro da minha proposta de comentar todos os filmes que assistir aqui no blog, decidi comentar A Sogra (Monster-in-Law), primeiro filme que assisti em 2012. Bem, quando A Sogra foi exibido no cinema, não quis assistir. Parecia uma bomba e, em muitos sentidos, é mesmo, mas eu estava na sala da casa dos meus pais, acordada e sem muito o que fazer. Não iria doer assistir um filme inócuo, ainda que ele sinalizasse que iria ser um material extremamente machista. E, aí está o ponto, apesar de medíocre, até que A Sogra tem seus méritos sob uma perspectiva feminista. Mas vamos lá, esse texto será curto.

A Sogra conta a história do confronto entre Charlie/Charlotte (Jennifer Lopez) e Viola Fields (Jane Fonda), que se tornarão parentes, quando Charlie se casar com Kevin (Michael Vartan), o filho da megera. A primeira parte, o encontro e início do romance de Vartan e Lopez é o clichê do clichê. Lopez é pobrinha, mas linda e esforçada, além de bom caráter. Ah, sim! E ela tem o fundamental amigo gay, presença onipresente em toda comédia romântica hollywoodiana. Vartan é riquinho, mas gente muito boa. O problema, claro, começa, quando ela tem que conhecer a sogra. Viola é uma veterana da TV, que galgou posições usando tanto de seu talento e inteligência, quanto de acertados casamentos. Só que a personagem de Fonda passa por um drama: ela foi empurrada para aposentadoria precoce simplesmente por ter envelhecido.

A primeira questão interessante do filme é exatamente essa. Viola é competente e experiente, mas as rugas, a idade a tornam um problema. Fosse um homem, tudo isso passaria experiência, confiabilidade, competência, para uma mulher, envelhecer, a torna um objeto a se descartar. Assim, Viola é trocada por uma mocinha inexperiente, porém com todos os atributos fundamentais para uma profissional da TV: juventude e beleza. Há vários casos reais, basta procurar. Mas o filme só joga a questão, não analisa. Mais tarde, em seu último programa, ela tem que entrevistar uma cantorinha sexy vazia de 16 anos. Todo o auto-controle de Viola vai se esvaindo (e olha que ela já estava meio fora de si) quando a moça diz que não tem tempo para ler e a apresentadora voa em cima da moça quando a garota diz que não entende de futebol ao seu perguntada sobre o que achava da Roe VS. Wade. Para quem não sabe do que se trata, é a decisão da Suprema Corte Americana que deu o direito de aborto às mulheres americanas.

Toda a seqüência é muito útil para discussão, ainda que o próprio filme não aprofunde nada. Afinal, fica evidente a crítica à alienação dos jovens americanos – nesse caso, mais particularmente as jovens – que não conhecem sua história e a luta pelos seus direitos civis. Só que como o filme sinaliza que basta encontrar “o cara certo”, para que saber, ein??? Outra questão é a desvalorização da geração de Viola – a mesma de uma Hilary Clinton, que foi preterida por Obama na corrida pela Casa Branca – pois, apesar de terem lutado pelos direitos iguais para as mulheres, se tornaram harpias egoístas, consumistas, infelizes e opressoras. Tá vendo aí? Os feminismos estão falidos. Tivesse Viola encontrado o cara certo, ela não teria que passar por tudo isso. Quem mandou aderia ao amor livre e todo aquele lixo da contra-cultura da década de 1960?

Eu quase fui dormir, porque é a partir daí que começa o confronto entre sogra e nora pelo bonitinho do Vartan (*achava ele lindo em Never Been Kissed*). É uma sucessão de armadilhas, trapaças, sofrimento para Charlie, Kevin tomando partido da mãe, até a virada de mesa. A mensagem de que “as mulheres são as piores inimigas das mulheres” parece ser apresentada como uma verdade indisputável. Chegamos ao casamento. Charlie conhece a avó de Kevin, sogra de Viola, e percebe que a vida dela também não foi fácil. Por conta disso, decide não se casar, não quer aquela vida para si.

É exatamente no final do filme que A Sogra ganha algum mérito. Sabe por quê? O ciclo de opressão e violência se quebra a partir do momento que Viola e Charlie chegam à conclusão de que toda a situação é destrutiva e só causa infelicidade para ambas. Parece piegas, não é? Mas, ainda que aquilo que as uma seja um homem, elas compreendem que mulheres não precisam ser inimigas, que uma sogra não precisa atormentar a nora, e a nora fazer chantagem emocional para afastar o parceiro da mãe. Em suma que mulheres podem ser, sim, aliadas, amigas.

O filme, que cumpre bem a Bechdel Rule, não deixou de ser medíocre, raso e esquecível, porque vi alguma coisa para discutir nele. Mas, ainda assim, ele tem seu valor para a discussão das relações entre as mulheres e como em uma sociedade patriarcal é importante que sejamos inimigas para que as desigualdades se mantenham. Sogras atormentam noras, que no futuro serão sogras e atormentarão uma nova geração de noras. A Sogra mostra que é possível ser diferente, pelo menos, no mundo Ocidental.

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