sábado, 11 de fevereiro de 2012

Comentando Saiunkoku Monogatari Volume #3



Concluí, depois de enrolar um pouco, o terceiro volume de Saiunkoku Monogatari (彩雲国物語). Não foi surpresa descobrir que a série manteve a qualidade dos volumes anteriores. Esse volume tem um ponto negativo, mas necessário para o andamento da história, que é a separação entre Riyuki, o jovem imperador, e Shurei. A moça volta para sua casa e continua se dedicando às suas atividades diárias, isto é, trabalho duro e uma rotina de estudos que mescla prazer e um objetivo impossível, que é fazer o concurso e se tornar funcionário público (mandarim) na corte do imperador. Já Ryuki, assume seu papel como imperador, mergulhando nas tarefas cotidianas monótonas, aprofundando-se em seus estudos e buscando ser um administrador capaz. E ele sonha com Shurei e teme que ela termine nos braços de seu irmão mais velho, Seiran. Segue-se o volume inteiro sem que Shurei e o imperador se encontrem. Chato? Sim, mas, ao mesmo tempo, o volume teve outros atrativos.

De cara, Shurei já se mostra a protagonista de shoujo mainstream mais interessante que vi nos últimos tempos. Eu tenho que concordar com a resenha do ANN dos volumes 5 e 6 quando o autor diz que "Existe, como já foi dito, uma escassez de modelos femininos fortes nos últimos tempos, juntamente com alguns retrocessos (backlash) alarmantes em termos de igualdade e feminismo. Verdade ou não, é mais provável que a heroína de seu shoujo mangá médio seja uma menina doce e bonita e procurando o amor, não importando quais outros talentos que ela possa ter. Isso é o que torna The Story of Saiunkoku um destaque no gênero. Shurei é uma jovem determinada que não vai se deixar abater (...)". A partir daí, começam comentários específicos dos volumes 5 e 6, mas o comentário se aplica à série inteira até o momento.

O volume começa com a introdução de uma nova personagem, Ensei, um velho conhecido de Seiran. Ele usa barba, parece um mendigo, e tem uma cicatriz em forma de cruz no rosto. Seiran e ele tem uma relação de amor e ódio. E, de novo, o problema, Seiran precisava ser um pouco mais velho, porque para ter um "passado", a gente precisa ter tido tempo de vivê-lo, enfim. Mas o tal Ensei é acolhido por Shurei e seu pai. E, apesar da relação espinhosa com Seiran, o rapaz confia em Ensei o suficiente para deixá-lo em seu lugar como protetor de Shurei enquanto ele está fora. Ao longo do volume, algumas informações são dadas sobre Ensei: ele é um excelente guerreiro, estudou para fazer o concurso provincial para funcionário público (*Shurei quer fazer o nacional*), come demais... No entanto, sua identidade ainda é uma incógnita.

Mas, por que Seiran se ausenta? Na resenha dos volumes #1 e #2 não dei grandes detalhes sobre os dois oficiais que se tornam os dois braços direitos (*é mais ou menos isso*) do imperador: o General Shuei Ran e o Mestre Koyu Ri. O primeiro é um grande guerreiro, se vende como um conquistador em série (*não apareceu com nenhuma mulher ainda*), e prefere se vestir com roupas da corte do que com armadura militar. Já Koyu Ri é um gênio, um dos mais jovens aprovados no concurso público, despreza as mulheres e (*clichê*) tem um péssimo senso de direção. Shuei e Koyu vao visitar shurei a mando do imperador, já que ele quer saber notícias e se Shurei recebeu seus extravagantes presentes. Na casa da moça, o general convoca Seiran para caçar bandidos que estão invadindo a capital. Seiran vai, mas impõe condições, e Shurei ainda consegue tirar muito dinheiro do jovem general em troca da dispensa do rapaz para o serviço militar. Já Koyu oferece um trabalho muito especial para Shurei: ela deve se passar por um rapaz e trabalhar por algumas semanas no ministério das finanças do imperador.

Koyu considera a moça altamente capacitada, porque, apesar de ser uma mulher, ele não a vê como tal... Aqui cabe explicar que o oficial continua orientando os estudos da moça à distância, só que a forma como ele coloca a questão acaba reforçando o complexo de inferioridade de Shurei, que não se acha bonita, ou, pelo menos, não bonita o suficiente para ser esposa do imperador. O Ministro Ko, o superior de Shurei, é um homem misterioso, que sempre usa uma máscara. Não se sabe muito sobre ele, mas contam-se histórias: ele seria feio demais; teria sido rejeitado pela mulher amada... Enfim, o que se sabe é que ele é muito exigente, quer sanear as despesas, e reconhece os talentos de Shurei, se espantando quando lhe contam que ela não quer fazer o concurso público. Eu tenho algumas teorias sobre ele, inclusive que o Ministro pode ser uma mulher... Mas o mistério persiste e eu não fui atrás de spoilers. Se alguém quiser me contar alguma coisa, use os comentários.

Ao longo do volume, a questão das limitações impostas ás mulheres são retomadas algumas vezes e este é o grande mérito de Saiunkoku Monogatari. Shurei é brilhante, mas, para a maioria, seu destino é somente casar e ter filhos. No volume #3 ela chega a se questionar se não estaria errada em perseguir um sonho impossível. Ela desiste, então? De forma nenhuma! E aceita ainda um outro mestre, o Ministro Ko. Qualquer menina (*japonesa, brasileira, iraniana, americana, etc*) ao ler Saiunkoku Monogataria pode fazer a comparação com a situação de Shurei e a sua própria. Nesse sentido, o mangá tem mantido uma linha feminista muito clara, sem pegar pesado em nenhum momento. Esse volume, aliás, tem muito mais comédia do que os dois anteriores. E, como eu disse na primeira resenha, Shurei não é Utena, nem Oscar, nem Sarasa. Ela é uma moça altamente capacitada, castrada pelos papéis de gênero, mas que não rejeita aspectos que são considerados tipicamente femininos e se sente muito confortável sendo protegida por Seiran e seu pai. Protegida, mas, não, tutelada ou dominada por eles. E veja que eu não considero isso um problema, há vários caminhos possíveis e o caminho escolhido pelas autoras não é equivocado. O importante é que elas criaram uma heroína de shoujo mangá que merece respeito e que não vê como único futuro o casamento com o moço que ama.

O problema é que para que o sonho de Shurei se realize, talvez ela e o imperador não possam ficar juntos. Isso não aparece ainda nesse volume, mas Riyuki faz a proposta aos ministros de que mulheres possam prestar o concurso. A situação fica tensa, mas sabemos que o assunto não está enterrado. O legal de Saiunkoku Monogatari é que a série não se passa na China de verdade, as autoras tomam liberdades e uma delas, quem sabe, será permitir que Shurei realize o seu sonho. Desconfio que a coisa não será simples e, pelo menos nesse volume, já começa a se desenhar que um vilão pode aparecer no próximo volume, ou, talvez, no quinto. Como coloquei, Shurei e Riyuki não se encontram, a moça chega a fugir dele pelos corredores. Aliás, um dos terrores de Shurei é ter que ficar "presa" na corte interior, na estufa que é o harém, sem contato com a realidade. É lá que moram as mulheres do imperador e o próprio monarca mal sai dessa cidadela interna. Daí, Shurei e ele não se cruzam.

O volume termina com a morte da mãe de Shurei. Sim, é uma side story para explicar como ela morreu e que deu sua vida para salvar a filha. Li spoilers sobre isso, foi uma troca mesmo, mas é melhor esperar para ver como o mangá vai trabalhar a questão. Antes de morrer, a mãe de Shurei pede que Seiran cuide dela até que ela possa se virar sozinha. Veja que não é para sempre, mas até que Shurei possa cuidar da sua vida. Eu realmente acho que Seiran era meio fascinado pela belíssima mãe de Shurei. E, sim, descobrimos que o talento para os negócios, o trato com dinheiro e a jogatina, a moça herdou da mãe... :) É um capítulo surpreendente, porque ele consegue ser muito triste e, ao mesmo tempo, divertido, alto astral. Só lendo mesmo para entender.

Enfim, vale a pena ler Saiunkoku Monogatari. Agora, vou parar para ler Black Bird #12, mas ainda esta semana retomarei a leitura do mangá. Definitivamente, Saiunkoku é uma série que merecia mais atenção e que seria um acréscimo precioso em nossas bancas. Acredito que até para contrabalançar as heroínas. Falando nisso, devo escrever um post futuro comparando Shurei e Misao de Black Bird. Ma sé coisa para depois da resenha de Black Bird, eu acredito.

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