segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Já disse que adoro a Meryl Streep?



Como hoje foi retorno (de verdade) ao trabalho, estou pregada, e ainda tenho que ir para uma reunião na faculdade, não vou poder fazer nenhum post específico e elaborado. Na volta, quem sabe? De qualquer forma, li a entrevista com a Meryl Streep na última edição da Isto É e precisava colocar pelo menos um pedaço aqui. Ela fala de mulheres no poder, do filme Dama de Ferro, de sexismo, relações de gênero, do desprezo pelos velhos e, claro, não diz que era fã da Tatcher nem ontem, nem hoje. ^____^ A entrevista está toda na íntegra no site da revista e todo mundo pode (e deve) ler.

ISTOÉ: Filmar “A Dama de Ferro’’ fez a sra. pensar nas poucas mulheres que estão no poder atualmente? Como Dilma Rousseff, a presidenta do Brasil?
MERYL STREEP: Dilma é corajosa! Eu a felicito e as outras mulheres no poder por imaginar que ainda existe certo desconforto quando uma mulher conquista uma posição de liderança no cenário mundial. Cada mulher que consegue bater o pé, se fazer ouvir e se tornar uma líder abre um pouco mais a porta para as que virão depois.

ISTOÉ: Houve muito avanço nesses últimos 30 anos, desde que Margaret Thatcher quebrou essa barreira ao chegar ao poder?
MERYL STREEP: Não muito. É preciso estabelecer mais paridade no governo para que não haja tanta diferença entre homens e mulheres. O cargo de presidente ajuda muito como figura simbólica, mas só teremos um mundo mais equilibrado quando mais mulheres estiverem trabalhando no governo de uma forma geral. Elas precisam estar lá para tentar fazer as mudanças na educação, na saúde, no meio ambiente e em outras áreas às quais a mulher tradicionalmente dá mais importância.

ISTOÉ: O filme não aborda apenas a Thatcher que conduziu a Inglaterra com mão de ferro. Mostra também a sua faceta de esposa e mãe. Isso ajudou a sra. a se transportar para o papel?
MERYL STREEP: Claro que eu sei bem o que é um casamento de longa duração, o que isso significa e o que realmente importa na vida a dois. Para manter a união, você precisa se agarrar a ela, mesmo nos momentos mais turbulentos. Não é fácil, mas é reconfortante mantê-la após tantos anos. A maior contribuição que dei ao papel, a partir da minha experiência de vida, foi outra. Estou velha! E ter passado dos 60 anos me fez entender e aceitar tudo com mais facilidade.

ISTOÉ: A sra. se sente velha?
MERYL STREEP: Nós todos estamos caminhando para essa direção. Não há como escapar. Desde que perdi os meus pais, penso muito mais na mortalidade e no desapego pela vida. A verdade é que eu também já sinto na pele o que é ter a capacidade diminuída, seja no corpo, seja na mente. Às vezes, estou na minha casa e subo ao andar de cima. Mas, quando chego lá, não me lembro do que fui buscar. Aí eu volto ao andar de baixo, na esperança de que o pensamento volte. Mas há vantagens em envelhecer.

ISTOÉ: Quais?
MERYL STREEP: Conforme envelheço, baixo a guarda e penso menos em tudo o que me preocupava quando eu era jovem. É um alívio. A vivência me permite encarnar com autoridade todas as idades pelas quais já passei. E isso é muito importante na profissão de atriz.

ISTOÉ: Foi difícil encarnar uma mulher tão fria?
MERYL STREEP: Há um retrato muito rígido a respeito de quem ela foi, principalmente quando estava no governo. Thatcher costumava manifestar as suas opiniões de forma grandiosa, mas sem demonstrar nenhuma emoção. E quem conviveu com ela diz que a ex-premiê não tinha o menor senso de humor. Pelo que eu pesquisei, Denis Thatcher (o marido, vivido nas telas pelo ator Jim Broadbent) tinha humor de sobra. E talvez tenha sido esse o trunfo que ele usou para conquistá-la. Mas acho que é preciso entender o que Thatcher conquistou. Winston Churchill (primeiro-ministro britânico nos anos 1940 e 1950) podia chorar à vontade em público. Nele essa característica era charmosa, demonstrando a sua humanidade. Se Thatcher chorasse, isso seria tomado como um sinal de fraqueza e de sua inaptidão para o cargo. Ela era fria talvez por necessidade.

ISTOÉ: Até que ponto a sra. precisa gostar da personagem para interpretá-la?
MERYL STREEP: Não costumo julgar as minhas personagens, o que elimina a possibilidade de eu gostar ou não de alguém que interpreto. Mas confesso que me senti atraída por essa qualidade subversiva do filme, de tratar Thatcher como um ser humano. As pessoas parecem se esquecer disso, por ela ter sido uma figura tão controversa na política.

ISTOÉ: Como se sentia com relação a Thatcher, quando ela estava no poder?
MERYL STREEP: Politicamente, eu era muito desconfiada. Sempre fui assim. Quando era mais nova, eu ainda tinha uma tendência a simplificar as coisas. Eu só me perguntava: esse político é um cara bom ou ruim? E o problema é que, naquela época, Thatcher estava alinhada com a política de Ronald Reagan, de quem eu discordava muito. Então já dá para imaginar que eu não me simpatizava muito com ela. Thatcher ainda tinha um penteado terrível e usava roupas feias (risos).

ISTOÉ: Nos anos 1970, durante a ascensão de Thatcher, o que a sra. estava fazendo?
MERYL STREEP: Em 1977, eu me formava em drama na Universidade de Yale. E em 1978, eu já me casava com Don, que era um amigo de longa data de meu irmão Harry.

ISTOÉ: Já tinha a certeza naquele momento de que seguiria a carreira de atriz?
MERYL STREEP: Não. Ainda estava dividida entre ser atriz ou advogada especializada no meio ambiente (risos).

ISTOÉ: Como foi viver uma senhora na casa dos 80?
MERYL STREEP: Minha mãe costumava dizer que há dois palavrões na língua inglesa: gordo e velho. E foi esse aspecto da velhice de Thatcher que mais me interessou. Qual filme nos dias de hoje se preocuparia em contar uma história do ponto de vista de uma idosa? O velho é a pessoa menos importante e interessante para a sociedade consumidora. Ninguém quer saber dos velhos. É essa a verdade.

1 pessoas comentaram:

Ótima entrevista. Meryl Streep é uma mulher brilhante, com certeza.

Related Posts with Thumbnails