Ontem assisti ao primeiro episódio da série Elementary (CBS, 2012) ou o Sherlock Holmes moderno em Nova York. Sinceramente? Não vou esculhambar geral, porque fazer isso somente com um episódio é covardia e falta de elegância... Se é que eu tenho alguma... Mas que tudo começou muito torto, começou. A série nada tem da elegância daquela produzida pela BBC, isso nem é surpresa. O que mais me incomodou mesmo foi tentarem reforçar várias vezes que Holmes é heterossexual e que, bem, nosso detetive é um filhinho de papai rico.
A ambientação de Elementary é das séries policiais padrão norte americanas, ou seja, é mediano, não brilhante. Há uma tentativa de mostrar Nova York, assim como é feito com a Londres de Sherlock da BBC, e temos logo de saída Joan Watson (Lucy Liu) fazendo cooper, o que dá aquela possibilidade de ver o quanto a cidade é bonita. Houve algumas cenas legais, verdade, na qual a personagem de Jonny Lee Miller lembra um pouco o original. Ressalto a cena na qual Watson e ele conversam a primeira vez e o detetive tinha fugido da clínica de reabilitação. Ele diz que fez um bem para a clínica, afinal, expôs suas falhas de segurança... De resto, fico com o que um americano ou americana escreveu em um fórum: esse Holmes parece inspirado em House. Como House foi inspirado em Holmes, é como pegar o derivativo como modelo. Claro que, para mim, é “parece”. Precisamos de mais episódios.
A personagem de Liu foi contratada pelo pai de Sherlock Holmes para ser sua acompanhante e observá-lo por seis semanas para saber se ele continua, ou não, usando drogas. A personagem interpretada por Jonny Lee Miller foi transformada nessa série em um filhinho de papai que está fazendo reabilitação nos EUA. Holmes é sujo, mal arrumado, vive com barba por fazer, é cheio de tatuagens e (*aparentemente*) adepto de BDSM, isto é, sexo sadomasoquista. Não tenho nada contra tatuagens, desde que bem feitas, mas nesse caso elas só servem para ressaltar de forma bem clichê o quanto a personagem é junky e sujinha. Assim, é o tipo de composição rasinha que “turns me off”, se é que vocês me entendem.
Quanto ao sexo, o Holmes original nem se preocupava com isso. Em Elementary, ele faz questão de esfregar na cara de Joan Watson que faz sexo, que se interessa por mulheres e (*bingo*) nossa doutora descobre que o pobre detetive caiu nas drogas por causa de um amor do passado. Sabe, uma das coisas mais incômodas nesse primeiro episódio foi o esforço para marcar Sherlock Holmes como heterossexual, nem no cânone a sexualidade da personagem está clara ou é importante. Holmes é seu trabalho. A ambigüidade faz parte da personagem. E, claro, não vejo nada de revolucionário em colocar Watson como mulher. Seria um bom sacolejo colocarem ambos – Holmes e Watson – como mulheres. Só que isso ninguém teve coragem de fazer. E antes que alguém venha falar de sobrinhas ficcionais de Holmes, eu falo do próprio detetive mesmo, sem concessões.
Além desse viés heteronormativo forçado para criar um clima entre a Watson mulher e o detetive, temos a sugestão por parte de Holmes que ela limpe o apartamento, afinal, quando ela se muda ele está uma bagunça. Holmes, em qualquer adaptação anterior, teria uma síncope se alguém limpasse e tirasse do lugar qualquer das suas coisas, mas tinham que largar a piadinha sexista lá no meio. Depois, claro, o detetive, que despeja grosserias, se desculpa, diz que queria afastá-la e tal, mas ficou uma sensação estranha. E Holmes se desculpou muito, quase me sugerindo que mulheres são sensíveis e é preciso ter tato ou elas vão chorar. Aliás, cena estranha quando descobrem o cadáver e a Watson dá gritinho e se afasta com nojo ou terror. ela não era médica militar???? E o que foi aquele cartaz patriarcal com Lee Miller sentado e Liu de pé? Parece aquelas fotos de casal com o grande senhor em seu trono... :P
Joan Watson é uma personagem que pode ficar interessante – ainda que eu aposte em cancelamento depois de, no máximo, duas temporadas – mas que não impressiona com o seu drama de ter perdido um paciente e abandonado a profissão. Ela também é de família rica, quando nosso Watson original e todas as suas posteriores encarnações viviam com dinheirinho contado. Em Nova York, Holmes se torna detetive consultor de novo, graças ao convite do Capitão Tobias Gregson (Aidan Quinn) e é dito que os dois se conheceram em Londres quando o policial estava fazendo curso antiterror depois do 11 de setembro. E há o detetive Abreu. A figura que duvida dos talentos do detetive e deve ser regularmente humilhado por ele... Será de origem brasileira? Fiquei curiosa.
O trabalho de Quinn, assim como o mistério a resolver nada teve de especial. Assim, eles deveriam ter pego um caso clássico e trabalhado em cima dele. O caso inventado não me comoveu nem um pouco, não me emocionou, e a todo o momento vinha O Mentalista – série ruinzinha que eu gosto – na minha cabeça. Acredito que muitas das deduções do detetive ficaram meio largadas, mas isso não é defeito da série. Nem sempre as adaptações conseguem te mostrar a linha de raciocínio do detetive e, em alguns casos, essas versões para cinema e TV são falhas mesmo.
É isso. Eu devo acompanhar mais alguns episódios pelo menos. Reforço que prevejo duas temporadas, a não ser que a paixão dos americanos por séries policiais e a mística de Holmes consigam segurar a coisa por mais tempo. Assisti com legendas em português, liberaram bem rápido mesmo. Não achei em inglês, eu geralmente procuro nessa língua e tropecei de cara nas legendas em nosso idioma. Agora, falta ver World Without End. Se duvidar já saiu o segundo capítulo. E a segunda The Borgias, que está aqui faz tempo. Agradeço ao Anderson por me avisar, eu só iria perceber que a série tinha sido lançada depois de vários dias... Aliás, não acredito em "vazamento" dessas coisas. É possível que na estréia o piloto seja outro.
10 pessoas comentaram:
Na verdade esse episodio só apareceu tão rápido pq ele “vazou” para a net antes do tempo. A estreia oficial na TV ainda não aconteceu.
A impressão que tive ao final, foi que não importante tanto se foi bom ou ruim, o fato é que não foi Holmes, nenhuma das muitas versões dele.
Sei que é só o primeiro episodio mas achei tudo corrido, jogado mesmo. Não sei se foi má vontade minha, mas não senti nenhuma empatia pela dupla de protagonistas.
Holmes, sem sotaque britânico, sem aquele charme e elegância que equilibram sua arrogância.
E pior vivendo à custa do pai??? Pq ele diz que não recebia pelo serviço de consultor e se não obedecer o papai, esse homem adulto não vai saber se virar. Aff
A ideia de um trauma amoroso é americanizar demais para mim, e da questão do BDSM nem falo, pq destoa totalmente da personalidade canônica do detetive ceder controle a outra pessoa e como eu dividoooooooo que vão mostrar ou insinuar Holmes submetendo uma mulher a praticas sadomasoquistas, não faz o menor sentido por na serie.
Como comentei antes, uma Watson mulher não é novidade, ja foi usado. Uma Holmes mulher seria sim uma novidade e uma ousadia, mas duvido que veremos isso tão cedo.
Enfim, vou ver mais alguns episódios, mas não me empolgou nem um pouco.
Anderson Rogerio Evangelista ou @Lord_Anderson(Que não conseguiu postar direto).
Oi, Valéria. Esse episódio que saiu é o mesmo que irá ao ar na TV? É comum eles refazerem o piloto [inclusive tem na internet o piloto da série britânica - perfeita, diga-se de passagem - que difere do primeiro episódio exibido na TV.
Enfim, não me empolguei com essa série. Não tive interesse de ver, nem pela Lucy Liu que acho linda [Mas bem, eu nunca assisti série alguma por achar alguém bonito mesmo...]. Acho que só se sustentará se os americanos comprarem a ideia, mas como eles adoram séries policiais episódicas...
Fico triste em saber que The Killing [baseado em uma série sueca]foi cancelado pela AMC. A série é ótima, policial e não episódica, muito bacana mesmo. Recomendo.
Abraços!
Sinceramente? Esse negócio de BDSM foi pra acompanhar a modinha de livros desse estilo, que pegou com 50 Tons de Cinza, como se nunca tivessem feito um livro disso antes. Eu acho que vai mostrar ele usando isso com uma mulher e acho que vai ser com a Watson.
Não estou achando essa série para baixar em português, só tô achando páginas prontas pra quando os links saírem. Pode botar onde vc achou?
PS: vou ter uma síncope toda vez que o Sherlock der uma de porquinho. x.x
Arthur, esse episódio foi vazado. Acredito que o que vá ser exibido na TV seja um pouco diferente... ou totalmente. Aliás, episódio piloto de série americana tende a ser mais longo, sei lá...
Viviane, opensubtitles tem legenda.
Acho que uma das coisas que me desagradaram foi o fato desse episodio ser tão sem sal.
Ela não difere em nada dos varios detetives brilhantes porem exentricos que ja estrelaram outras series.
Monk, o Mentalitas, House, Perception...todos variantes do proprio Holmes.
Outra coisa que percebi é que tanto Holmes quanto Watson tem "traumas" e "falhas" do passado, oq deve fazer a serie ter aquele tema tão caro ao cinema e TV norte-americanos que é o plot de "segunda chance".
E um Sherlock com perdas amorosas não me desce.
Espero que a serie consiga uma cara propria pq esse piloto foi muito generico.
Viviane
Aqui tem o episodio legendado.
http://www.seriesfree.biz/2012/09/elementary/
Obrigada Valéria e Lord Anderson! o/
Pouco Holmes e Watson nessa série ... eu acho. Faltou algo, não sei dizer bem o quê. Como vcs achei que ficou parecendo uma série boazinha americana ... a única 'inovação' nem é inovação... que seria 'Olha Sherlock nos dias de hoje' ... Pq né série da BBC já fez bem. E a Joan Watson sinceramente para mim foi mais uma tentativa de ver a relação do Holmes com o Watson como sexual. O que eu não acho que seja (nem hetero, nem homo ~ como o fandom da série da BBC adora acreditar)
Acabo de ver el piloto... Elementary es como un AU fanfic con un Sherlock extremadamente OOC ("sometime i hate to be right" <- en serio?)
Creo que la terminarán cancelando, pero la seguiré viendo a ver.
Sinceramente este piloto me decepcionou completamente. Acompanhei até os minutos finais na esperança de que aquela nao seria A SERIE baseada nos contos de Sir Arthur Conan Doyle. Infelizmente um piloto mediocre como esse será comparado com o clássico Sherlock Holmes. Pórem ainda me resta uma fraca esperança de que revejam a estrutura da serie e acertem num futuro próximo, pois Sherlock da BBC está se saindo excepcional sobre nosso querido detetive.
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