sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Propaganda, quando você tinha tudo para acertar, mas... e outras coisas enervantes



O Kinoplex lançou a promoção “Orgulho de ser brasileiro” para promover o cinema nacional. Eu soube da promoção quando fui assistir Gonzaga, de Pai para Filho. Nada contra, acho louvável que se queira promover o cinema brasileiro, desde que ancorado não em “orgulhos”, mas em qualidade. E minha experiência com produções brasileiras, este ano assisti três filmes nacionais no cinema, aponta que a maioria das produções de nosso país a chegar nas salas de exibição é pelo menos boa. E o que fica abaixo disso, não é pior do que a média de filmes ruins que vem do mercado americano para cá. Então, qual o problema da proposta da rede Kinoplex?

O slogan da campanha é “Sem dublagem. Sem legenda. Eu sou é brasileiro.” Olha, o gênio ou gênia, ou gênios que fizeram essa campanha se mostraram no mínimo pouco sensíveis ao fato de termos aproximadamente 5 milhões de deficientes auditivos neste país. Eu mesma tenho três primos surdos, que precisam de legendas – as tais closed captions – para que possam aproveitar ao máximo a experiência no cinema ou na TV.  Será que eles e elas não são brasileiros, também?  Associar “orgulho” nacionalista a não precisar de dublagem ou legenda é ter uma visão muito estreita daquilo que deveria nos levar a assistir um filme brasileiro.


Falando nisso, e foi uma notícia que me deixou deveras feliz, o jornal O Dia trouxe uma matéria dizendo que uma jovem, deficiente auditiva, de Minas Gerais deve receber indenização da empresa de cinemas Cineart Multiplex, no valor de R$ 10 mil, por danos morais. Sabem o motivo? Ela queria assistir os filmes “Shrek” e “Meu malvado favorito” e não havia uma sala sequer exibindo uma única sessão legendada. Eu já comentei aqui que a ditadura da dublagem – que, afinal, segue a lógica do “orgulho de ser brasileiro”, ainda que a rede Kinoplex acredite que não – faz com que não se tenha sessões legendadas de nenhum desenho animado. O último que vi legendado no cinema foi Os Incríveis, pois havia uma única sala em Brasília. OK, era desenho, acho que uma sala, ou a última sessão, basta, já que os interessados seriam minoria e trata-se de um negócio. Quem prefere som original, ou o deficiente auditivo pode tentar fazer uma forcinha... Ou não! Só que não há opção e o drama tem se estendido a outros filmes do circuito comercial.

Tenho amig@s de cidades como Manaus que reclamam por não poderem assistir filmes legendados no cinema. Aqui em Brasília, há um shopping central que se especializou em exibir tudo dublado. A única vez que fui ao cinema lá, foi para ver um filme nacional... Curiosamente, tenho um amigo deficiente visual que reclama que os filmes que ele quer assistir, são sempre legendados. Daí, ele não entende quando eu reclamo... Cinema “de arte” continua sendo legendado mesmo. Agora, poderiam, sim, colocar disponível em alguma sessão, ou alguns lugares com fones que possibilitassem ouvir o áudio dublado ou a áudio descrição. Tecnologia serve para quê? Só para colocar salas 3D caríssimas? Todo filme que vem para o país deveria ter cópia dublada, a depender do filme o esquema da uma sessão dublada poderia vigorar, também. Por que, não?  Quero que muito mais gente entre com processo e ganhe.  Assim, quem sabe, tenhamos alguma mudança?


E caio em outra questão ligada às discussões acima. A amiga Karla me passou a informação e fez um post no seu site sobre os novos lançamentos da Log On: Sherlock 2, Northanger Abbey e Manfield Park (2007). Olha, eu comemorei alguns lançamentos da Log On aqui no blog (Ex.: 1 - 2). Como não ficar feliz quando lançaram Orgulho & Preconceito (1995)? Relevei os defeitos – legendas deficientes, falta de dublagem nacional, poucos extras ou nenhum – deste primeiro lançamento, afinal, a Log On estava começando. Daí, comprei Emma (2009) e Razão & Sensibilidade (2008). E descobri o quê? Havia cenas cortadas. No caso de Razão & Sensibilidade, a mutilação comprometia o entendimento da história.  Algo inexplicável... Por que eu pagaria e anunciaria no Shoujo Café material que não atende as minhas exigências? Que eu considero desrespeitoso com os consumidores? E a cereja do bolo: eu posso não usar, eu posso nem querer ouvir, mas deveria ser obrigatório para qualquer material lançado em nosso país que houvesse dublagem nacional. Eu importo DVDs e BDs do Reino Unido. Não compro nada que seja lançado das séries inglesas aqui, porque me decepcionei muito.

Ter “orgulho de ser brasileiro”, para mim, implica em exigir material lançado com qualidade e preços razoáveis. Que tenha som original; legendas em pelo menos duas línguas, a original e a NOSSA. Lembram do movie de Utena que saiu aqui com dublagem nacional e som original e nenhuma legenda? Pois é... E, claro, a dublagem brasileira. Somos brasileiros, é nossa língua. Há quem prefira e quem precise da dublagem. É preciso obrigar as distribuidoras a terem respeito por nós consumidores. Só elogio quem merece elogio. Posso até me calar, não comentar, faço isso constantemente, mas bater palmas só por mérito.

2 pessoas comentaram:

Realmente vc lavou minha alma neste texto. Não estão dando opção... ou é dublado ou é dublado. Não gosto de filme dublado, prefiro som original.
As opções de filmes legendados nos cinemas, pelo menos aqui em SP, são inviáveis para quem trabalha o dia inteiro.
Agora uma dúvida: os dvds que você compra no UK rodam bem nos aparelhos de dvd brasileiros?
Os que comprei nos EUA, so consigo assistir pelo computador, não não roda nos aparelhos de dvd que tenho em casa.....
Parabéns pela matéria.

Marcia, o meu aparelho de DVd é desbloqueado. Há essas opções aqui, o meu já é antigo até. Philips. BD, ainda preciso rodar no computador, porque não tenho aparelho, mas há desbloqueados, tb.

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