segunda-feira, 30 de maio de 2016

A indústria de anime, do jeito que está não é mais sustentável


O site italiano Manga Forever fez uma grande matéria sobre a situação atual da indústria de anime usando como base as declarações de um animador com 20 anos de experiência publicadas em um site norte americano.  O MF recorre, também a um relatório da  JAniCA (Japanese Animation Creators Association) baseado em pesquisa com 750 profissionais.  Não vou traduzir a matéria - mais por falta de tempo mesmo - mas comentarei o que lá está.

O primeiro ponto que eles apresentam é a disparidade de salários entre os que estão no topo da carreira (diretores e outros artistas especializados) e os demais (inbetweeners) que fazem o trabalho mais pesado e volumoso, por assim dizer.  A remuneração é muito baixa para os padrões japoneses e isso, aliás, já era sabido faz tempo. Outro ponto é que devido a super exploração e baixíssimos salários existe a falta de mão de obra, quando a demanda não para de crescer.  São mais de 300 séries por ano e imagino que estejam falando somente da TV.

Shirobako, um anime sobre a produção de animes.
O tal animador com mais de 20 anos de profissão reclama da demanda de trabalho, do sistema ineficiente e dos salários, claro.  Segundo a matéria, a demanda de trabalho hoje em termos de detalhes nos quadros é muito maior que no passado, etão o que ocorre com freqüência é a inconstância na qualidade da animação, algo, aliás, que não escapa aos fãs e que tende a ser corrigido para os lançamentos em Blu-ray.  Só que retrabalho é, também, mais trabalho, oras.

O veterano aponta, também, que muitos animadores sequer têm condições de residir perto do trabalho, afina;, os estúdios ficam no centro das grandes cidades, áreas mais caras.  Fora isso, pelo menos 14% dos entrevistados têm filhos e vivem economicamente apertados, por assim dizer.  Fora isso, a maioria dos animadores são freelancers, então, sua situação profissional é ainda mais instável.

O anime de Sailor Moon, um caso típico de animação de baixa qualidade.
Além disso, os estúdios japoneses evitam adotar novas tecnologias que facilitariam e tornariam a produção mais rápida, assim como é feito em muitos estúdios ocidentais.  Tudo tende a ser feito à mão, mesmo quando não precisaria.  Nesse ponto, o veterano que dás as informações comenta que gostaria de manter o estilo da animação japonesa e que, bem, pelo menos neste aspecto seria bom não mexer.

O MF, no entanto aponta que há estúdios que trabalham de forma diferente.  Estúdios como o Kyoto Animation (K-On!, Free!, Amagi Brilliant Park) e o Trigger (Kill la Kill) não usam mais freelancers, ou, pelo menos, empregam regularmente a maioria dos seus animadores e eles não trabalham para terceirizados, mas no próprio estúdio, como no caso da Ghibli.  E há pelo menos um estúdio, o Science Saru, que usa flash em seus episódios.

Pyongyang, as aventuras de um animador ocidental na Coréia do Norte.
O que a matéria não fala é que estúdios japoneses terceirizam a produção, isto é, mandam suas séries para serem animadas em outros países, onde os salários são ainda menores e a exploração ainda mais intensa.  Por conta disso, acredito que o tal colapso não venha tão cedo.  Aliás, não é de hoje que isso acontece e não se restringe ao Japão.  Se alguém quiser ler sobre isso em relação às animações ocidentais, recomendo os álbuns do canadense Guy Delisle que foi trabalhar na Coréia do Norte (*Sim, não foi na Coréia do Sul, não!*) gerenciando os inbetweeners que faziam a animação de Corto Maltese e na China, também, em outro projeto. 

5 pessoas comentaram:

Dragon Ball Super, teoricamente deveria está uma maravilha no traço. Mas não é o que acontece, o episídio 44 teve o melhor traço que o anime conseguiu alcançar, em alguns episódios fica bom o traço mas na maioria fica ruim. Tá difícil.

Olha isso tem cara de prostituição de mercado tipo uma empresa tá procurando um estúdio para fazer uma animação e para não perder o cliente o estúdio cobra metade do preço normal, ai isso vai se espalhando até que toda a empresa acaba acreditando que aquele valor "promocional" é o padrão.
Também tem tido uma enxurrada de animes ruins, lembro que antes para um mangá ganhar um anime ele tinha que ser razoavelmente bom, hoje até mesmo títulos fracos e inacabados ganham séries animadas, o que não seria um problema se eles modernizassem um pouco a produção.

Olha isso tem cara de prostituição de mercado tipo uma empresa tá procurando um estúdio para fazer uma animação e para não perder o cliente o estúdio cobra metade do preço normal, ai isso vai se espalhando até que toda a empresa acaba acreditando que aquele valor "promocional" é o padrão.
Também tem tido uma enxurrada de animes ruins, lembro que antes para um mangá ganhar um anime ele tinha que ser razoavelmente bom, hoje até mesmo títulos fracos e inacabados ganham séries animadas, o que não seria um problema se eles modernizassem um pouco a produção.

Achei a matéria muito interessante! Desconhecia essa terceirização das animações e fiquei meia chocada com a informação, vou buscar o quadrinho sugerido para me informar melhor... No mais obrigada <3

Essa terceirização é bastante comum. Sailor Moon Crystal teve uma boa parte da produção terceirizada, o q provavelmente deve explicar a péssima qualidade de alguns episódios. Em um momento do ending aparecem nos créditos os nomes de uns 6 ou 7 funcionários coreanos, pertencentes a um tal de "Studio Forest". Na ANN, eles aparecem como responsáveis pela "background art", seja lá o que isso quer dizer. Na ficha da ANN ainda aparecem nomes da "Toei Animation Philippines" que, junto com vários outros estúdios japoneses menores, foram os responsáveis pelo "in-between animation". Ou seja, a parte principal foi quase toda terceirizada!

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