domingo, 26 de março de 2017

The Handmaid's Tale estréia como série de TV em abril


The Handmaid's Tale, em português, O Conto da Aia, a grande obra de ficção científica feminista de  Margaret Atwood, vai estrear em 26 de abril no Hulu, site de vídeos on demand  que, agora, produz, também, suas séries próprias.  Serão três episódios lançados juntos no dia 26 e, a seguir, teremos um episódio por semana.  A protagonista, que no livro é narradora, será interpretada por Elisabeth Moss, que se tornou famosa principalmente por seu trabalho em Mad Men.  Enfim, "shame on me" , não sabia que a série estava sendo feita.  

O Conto da Aia, lançado em 1985, é uma ficção científica que se passa em um futuro próximo distópico.  Os recursos naturais foram depauperados levando a uma guerra civil nos EUA (*e em outros lugares, provavelmente*), a poluição atormenta a humanidade.  A história se passa em um lugar chamado Gilead, na Nova Inglaterra, onde uma seita cristã intitulada "Os Filhos de Jacó" assumiu o poder.  Como houve uma queda brutal de natalidade, os poderosos decidiram impôr um modelo "bíblico" de reprodução: homens poderosos com esposas estéreis fazem uso das "aias" para terem filhos em seu lugar.  A vida das aias, assim como a de todas as mulheres, é controlada com rigor, elas não tem direito a palavra alguma em questões reprodutivas, assim como trabalhar, estudar, ou ter seu próprio dinheiro.  Eis o trailer:


A protagonista da história se chama "Offred", que quer dizer "of Fred", pertencente a Fred, o Comandante, que é seu "senhor", mas ela tem um nome anterior, teve uma vida anterior.  Ela se lembra de como era antes da seita tomar controle.  Ela tinha uma filha e um marido, ela quer retomar sua vida...  O trailer mostra isso.  No Conto da Aia, somente as mulheres são consideradas inférteis, é criminoso atribuir tal "culpa" aos homens.  Não é a primeira adaptação do Conto da Aia, houve um filme de 1990 estrelado por Natasha Richardson.  É difícil achar cópias de qualidade, a que eu consegui é péssima. 



Enfim, com a eleição e posse de Trump, as vendas do livro de Margaret Atwood tornaram-se estratosféricas.  Semana passado, mulheres protestaram no Texas vestidas como as aias do livro.  Na verdade, todas as famosas distopias futuristas passaram a vender bem, mas há o reconhecimento de uma guerra aberta do partido republicano - pelo menos de parte considerável dele - contra os direitos das mulheres.  Especialmente, quando se trata de direito de aborto, contracepção e mesmo o exercício da maternidade/maternagem em conjunto com a vida profissional com os mínimos direitos sociais.  Ainda não é Gilead, mas o que pode ser o futuro?

Nesse sentido, o site BoingBoing postou uma série de comentários que apontam para esta guerra e, também, para como são frágeis os direitos adquiridos.  Uma boa ilustração é a foto das mulheres afegãs usando minissaia na Cabul de 1972.  Aliás, as fotos de Cabul nos anos 1950, 1960 e 1970 são sempre um choque.  O que é o Afeganistão hoje?  Poderia usar mesmo como exemplo o Irã pré-Revolução Islâmica (*1-2-3*) e o quanto de retrocesso houve em relação aos direitos das mulheres.  Perder direitos é fácil, vide o que estamos testemunhando em nosso país hoje (*PEC do Teto de Gastos, a Terceirização e toda uma sorte de retrocessos que podem vir por aí*), recuperá-los, na maioria das vezes, é missão impossível.  Não se enganem, não vivemos em um processo de evolução do pior para o melhor, a História da humanidade é bem mais complexa que isso.



Para terminar, deixo o link de um texto do The Guardian falando da importância da ficção científica feminista desde, bem, o século XVII.  De como as mulheres escritoras costumam lançar olhares críticos sobre o presente e o futuro (*sobre o passado, também, pois incluiria Ōoku de Fumi Yoshinaga nessa panelinha*), na maioria das vezes sem perder de vista a crítica social e as questões de gênero.  São citadas na matéria Margaret Cavendish, Mary Shelley, Begum Rokeya, Ursula LeGuin, além de Atwood, claro.  Eu incluiria Hagio Moto, também, afinal, nem somente na literatura strictu sensu, ou no Ocidente, as mulheres estão pensando a sociedade dentro da ficção científica.

2 pessoas comentaram:

Infelizmente, está mais para uma representação do presente do que uma distopia futura.

Comecei a ler "The Handmaid's Tale" como preparativo para a série e é assustador o quanto o mundo do livro é possível. Como se Gilead estivesse logo ali, a um Congresso Nacional pesadamente teocrático de distância.

O texto do "The Guardian", além de muito bom, serve como lista de coisas a ler. ^_^

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