sábado, 8 de julho de 2017

Comentando Homem Aranha: A Volta para Casa (Spider-Man: Homecoming, 2017)


Ontem, assisti ao novo filme do Homem Aranha e, bem, não tenho como começar este texto sem dizer que eu AMEI.  Já tinha simpatizado com Tom Holland, o novo Peter Parker, que eu considerei a melhor coisa no fraco Guerra Civil, mas a nova série do Aranha ofereceu um vilão igualmente interessante, que tinha motivações e personalidade, além de juntar com o aspecto super-herói um legítimo sabor dos filmes adolescentes dos anos 1980.  Havia algo de John Hughes neste filme e os adolescentes, bem, eles pareciam adolescentes, pareciam com meus alunos e alunas.  No final das contas, eu ri, torci e achei o resultado final uma das melhores coisas que a Marvel já fez.  Sério, eu não esperava tanto.

O novo Homem Aranha começa com o vilão, logo depois do primeiro filme dos Vingadores.  A personagem de Michael Keaton tem uma pequena empreiteira, é um bom patrão e um homem de família, e está responsável pela reciclagem dos destroços depois da grande batalha que conteve a invasão alienígena.  Inteligente, ele já tinha ideia das potencialidades dos detritos vindos de outra dimensão.  De repente, chega o pessoal do U.S. Department of Damage Control (D.O.D.C.) e diz que todos estão demitidos, sem indenização, e que se pegassem alguma coisa, arcariam com as penas de lei.  Há o dedo de Tony Stark e seus empreendimentos nisso, então, acabei lembrando de como, naquela série de filmes do Batman dos anos 1980-90, Bruce Wayne era direta ou indiretamentre responsável pela criação de todo vilão que aparecia em Gotham... 


Enfim, a personagem de Keaton não digere muito bem a coisa e decide empreender produzindo armas com lixo alienígena.  Ele tinha algum em casa e passa a roubar outros com seus empregados.  E, vejam bem, ele não é um vilão super rico, não fica louco, não fala sozinho, nem age como um alucinado.  Continua sendo um pai de família de classe média, que não faz ideia de onde vem o dinheiro do cara, que se preocupa com seus empregados.  Capitalista?  Sem dúvida, mas um cara muito próximo do proletariado.  Resultado?  Talvez o Abutre seja um dos melhores vilões desses filmes de supers.  Ele me lembrou os bons antagonistas dos animes japoneses.  Desslock, sim, pensei nele. Deveria ser uma sinopse esta parte, mas acho que já atropelei tudo... 

E, daí, vamos para o Peter Parker (Tom Holland), que é o mais jovem de todos os Homem Aranha do cinema.  Voltamos para a participação do menino, ele tem 15 anos, afinal, na batalha de Guerra Civil. Toda a sua excitação e como quase enlouquece a “babá” escalada por Tony Stark para cuidar do menino, Happy Hogan (Jon Favreau).   Peter realmente se sente e quer ser parte do grupo de heróis, dos Vingadores, se eles deixarem, mas ele é tratado por Tony Stark (Robert Downey Jr.), que aparece em uma incômoda função paterna, como criança.  O Aranha deve ser o “amigo da vizinhança”, cuidar de problemas pequenos, estudar direitinho, não se meter em encrencas e obedecer sua Tia May (Marisa Tomei).  Só que os caminhos de Peter e do Abutre se cruzam e o jovem não consegue resistir, ele sente que é seu dever frustrar os planos do vilão, mesmo tendo que desobedecer as ordens de Tony Stark.


Se já não tivesse problemas o suficiente, afinal, o Aranha é um garoto que precisa agir sem que sua tia, que ainda precisa levá-lo até alguns lugares, já que ele sequer pode dirigir, ainda temos a parte “filme adolescente” da trama.   A tia que Parker precisa enganar, já que ela nem pode sonhar que seu sobrinho é um super herói; o bullying do colega mais velho e rico, Flash; o melhor amigo nerd (*Peter é super nerd, também*), Ned (Jacob Batalon), que é absolutamente inconveniente; e a paixão que sente por uma colega mais velha, Liz (Laura Harrier).  

Olha, nem percebi que a moça era mais velha, achei que todos tinham a mesma idade, embora Parker, com 15 anos, esteja um ano adiantado no colegial, mas foi a informação que consegui.  E há Michelle (Zendaya), que com seu senso crítico e humor ácido, me lembrou um aluno querido que tive ano passado.  Sério.  Estou pensando se comento, ou não, com ele.  Ela me lembrou a “amiga” do filme Alguém muito Especial.  Outro sucesso das sessões da tarde dos anos 1980-90.  Enfim, a parte trama adolescente foi muito, mas muito filmes dos anos 1980 e, bem, foi ótima.  Se quiser um spoiler violento, é só ler o que vem depois do trailer no fim da resenha.


Não sei se cabe prolongar muito o texto, estou com aquela conexão horrorosa de férias que me impede até de checar informações, mas o fato é o filme costura muito bem a trama do Homem Aranha com os filmes da Marvel, dá detalhes sobre a origem do herói (*a picada da aranha*), mas não se preocupa em apresentar propriamente  a personagem.   Fez falta?  Não.  Os filmes de Batman deveriam atentar para isso.  A película consegue ser, ao mesmo tempo, uma aventura e uma comédia, sem depreciar o super-herói.  E tudo acontece de forma dinâmica, sem deixar a peteca cair em um só momento.

O drama é leve, muito adaptado às restrições que um adolescente sofre, às pressões da persona heroica contrastadas com as necessidades de um garoto.  Imagina, agora, um adolescente com super poderes e um super traje.  Sim, o traje tecnológico me incomodou, não é o Homem Aranha que eu conheço, mas mesmo ele teve uma função na história. Afinal, um herói de verdade não pode se resumir a um traje.  Ele precisa ser mais que isso. Daí, a sequência final ser tão importante para definir quem é este novo Aranha que a Marvel colocou nos cinemas.  E Tom Holland cumpre a missão com louvor.  Ele é uma graça, além de um ator muito convincente.  


Outra coisa interessante é que o filme contrapõe um herói e um vilão proletários.  O Abutre não teria problemas em matar, mas ele não é sanguinário, tampouco “louco”, como já pontuei.  Ele teve Peter em suas mãos em pelo menos um momento do filme, mas – por motivos que não posso explicar aqui – vai agir de forma honrada com seu oponente. Repito, ter um vilão decente em um filme da Marvel é um alívio.  Já o Aranha não quer matar, ou ferir, de forma alguma.  É coerente com o caráter de Peter Parker e, pelo menos aos meus olhos, o desenlace do confronto com o Abutre foi sublime.

Algo curioso no filme, e não tive como sair por aí atrás de artigos comentando, é que fora o próprio Parker, nenhum dos adolescentes tem sobrenomes.  Chamá-los pelo primeiro nome, ou apelido, criou uma proximidade com os meninos e meninas, que, repito, pareciam adolescentes de verdade.  Poderiam ser meus alunos e alunas.  Agora, eles e elas parecem ser tipos, a Wikipedia fala que alguns são síntese de várias personagens dos quadrinhos do herói, caso de Flash, o garoto rico bully, enfim.  


O filme, e isso é positivo, é extremamente multirracial, afinal, é uma vizinhança pobre, de descendentes de imigrantes e imigrantes, negros, enfim, só que o protagonista continua branco.  E não pensem que estou me desfazendo do Tom Holland, eu o adorei desde o primeiro momento que o vi em Guerra Civil, mas, talvez, fosse o momento do Homem Aranha negro aparecer.  Mas não foi.  Esperemos, agora, o Pantera Negra.  E repito, Michelle é nota dez.  E, sim, só descobri AGORA que ela é a tal Zendaya que deixou os racistas revoltados.  Afinal, lá  no fim do filme, ela diz algo como “pode me chamar de MJ”, que, obviamente, não significa mais “Mary Jane”.

Minha crítica, única, assevero, vem do filme anterior.  Tia May ter sido “promovida” de velhinha a uma gostosona.  E todas as piadas insistentes foram em cima disso, do quanto a tia de Peter é “gostosa”.  Precisava?  Não.  Estragou o filme?  Não.  De qualquer forma, em um filme com poucas personagens femininas de destaque, afinal, o herói, Stark, o vilão, o amigo über-nerd, Happy, os capangas do vilão e até o Capitão América (Chris Evans) são as personagens de maior peso na história, não acho que Tia May precisava ser um alívio cômico, já havia vários.  De qualquer forma, espero que a personagem de Marisa Tomei seja melhor desenvolvida no próximo filme.  Ela sofreu uma “grande perda”.  A morte do marido?  Tio Ben tinha grande relevância na vida do herói, mas, como pontuei, é outro Aranha e o papel do tio, a função de “pai”, foi transferida para Tony Stark com risadas garantidas.  


O Capitão América aparece repetidamente em filmes educativos ao longo da película, aqueles chatos que passam nas escolas americanas e que são sempre motivo de piada.  No meu tempo de ginásio (*quinta série até a oitava, hoje, sexto ano ao nono*), quando tínhamos TV, algo raro, era para ver filmes do tipo.  Em um dado momento, o professor de educação física lembra que o Capitão, agora, é um vilão... Ah, sim, e existem duas cenas pós-créditos, a primeira é relevante para o que virá, pois, a meu ver, introduz o vilão do próximo filme do Aranha, a segunda, porém, é uma trolada como nunca vi.  Fique até o fim dos créditos por sua conta e risco.

O filme cumpre a Bechdel Rule?  Realmente, não percebi.  Há várias personagens femininas com nomes – Liz, Michelle, Tia May, Pepper Pots (*Sim, Gwyneth Paltrow faz uma brevíssima aparição no filme.*)  – só não sei, não sei mesmo, se elas conversam entre si.  Talvez, Liz e Michelle durante os treinamentos para o Declato Acadêmico, que é a glória do Homem Aranha e o fiasco de Peter Parker.  Aliás, como Liz deveria gostar dele para aceitar as desculpas e a declaração de amor que foi bem crível na sua timidez e singeleza.  Já disse que o Tom Holland é fofinho?  Pois, é...  Homem Aranha não se qualifica como filme feminista, nem precisa, mas não é um filme machista.  Fora o escorrego com Tia May, ele tem personagens femininas interessantes, inteligentes, seguras, articuladas e críveis.


Terminando, Stan Lee faz uma aparição no filme, como de praxe, e em uma das cenas mais hilárias do filme, durante uma das primeiras ações do Homem Aranha.  Aliás, quando ele era somente “aquele cara do Youtube”, acabei pensando em Kick Ass.  Agora, uma menção direta ao filme símbolo de Jonh Hughes, Curtindo a Vida Adoidado.  Fiquem atentos. E  não me perguntem se o filme do Aranha é melhor que a Mulher Maravilha, são filmes diferentes e igualmente bons, cada um a sua maneira.  Agora, salvo pelas amazonas, o elenco de Homem Aranha é  muito superior e o vilão nem se fala.  De resto digo que fazia tempo que não tinha tanto prazer em ver um filme adolescente.  Esse Homem Aranha que realmente é um garoto foi um achado.





Se você está aqui, assistiu ao filme, ou não tem problemas com spoilers.  Enfim, o Abutre, descobrimos lá perto do fim da película, é o pai de Liz.  Logo depois do vilão jurar que mataria o Homem Aranha, mudamos para Peter indo buscar Liz para o tal baile (*o homecoming do título*) e quem ele encontra na porta?  O Abutre.  Cinema lotado, todo mundo reagiu. Não  acredito que alguém esperasse por isso. Na hora, eu já imaginei algo como “A Morte Pede Carona”, outro clássico dos anos 1980.  

Será  que o vilão teria aprisionado a família da amada do herói? O Abutre era o pai da moça. Daí, toda aquela situação constrangedora do primeiro contato com o “sogro” que, na verdade, é o seu arqui-inimigo do momento.  As caras do Tom Holland.  E, bem, o vilão descobre, mas ele tinha uma dívida com o Aranha, afinal, ele tinha salvo sua filha.  Foi uma grande sacada e, bem, Michael Keaton estava ótimo como o Abutre.  Vejam o filme, vale a pena.

1 pessoas comentaram:

Eu decidi não assistir mais trailers. Tive a sensação que o trailer estragou mais da metade da minha surpresa e diversão com o filme e eu não sai tão empolgada quanto você do cinema...
Gostei e tudo, mas acho que poderia ter gostado mais.
(Pelo menos o trailer não entregou quem era o pai da Liz).

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