sábado, 17 de fevereiro de 2018

Hana Junrei: Descobri um shoujo mangá sobre as Cruzadas e com direito à Leonor da Aquitânia!!!!


Estava no Twitter e uma mangá-ka comentou sobre Hana Junrei (花巡礼), um novo mangá que acabou de sair na revista Kiss e falando de temas relacionados ao Islã.  Parece que Hana Junrei pode ser traduzido como Terra Santa.  Perdi o twitt, queria poder postar a imagem do mangá que estava lá, mas não achei mesmo.  Pesquisando no Google, acabei encontrando outro mangá de mesmo nome, um shoujo  em três volumes publicado pela revista Hana to Yume, no ano de 1998, e de autoria de uma mangá-ka muito experiente, Kawasou Masumi.  Imagens, não encontrei nada de significativo, salvo as capas, mas há um verbete grande sobre o mangá na Wikipedia japonesa.

Nova edição.
Em linhas gerais, a história acompanha a vida de três mulheres, avó-filha-neta, cada uma é protagonista de um dos volumes.  Os acontecimentos da série cobrem o período da II (1147-1149) e da III Cruzada  (1189-1192) e, ao que parece, existe uma personagem que costura toda a narrativa, Leonor da Aquitania (1122 ou 1124-1204), uma das mulheres mais poderosas e impressionantes do período medieval.  O primeiro volume é protagonizado por Ludwina, dama de companhia de Leonor, então duquesa da Aquitânia e Rainha da França.  Ludwina acompanha a rainha e seu marido, o rei Luís VII na II Cruzada.  Parece que arranja um marido e fica por lá mesmo.

Visão pré-rafaelita de Leonor.  Frederick Sandys, 1858. 
O segundo volume conta a história de Melusine, filha de Ludwina e nascida na Palestina.  Millesine é criada na Terra Santa, parece que sua mãe decide entrar para um convento depois de enviuvar (*algo comum*).  Melusine termina tendo um caso com Ricardo I, Coração de Leão, durante a III Cruzada.  Bem, mais uma narrativa que ignora que Ricardo não tinha grande interesse por mulheres... O volume 3, conta a história de Blanche, filha de Ricardo e Melusine, ela passa a ser ameaçada pelo tio, João, sem Terra, depois que fica órfã.  João efetivamente eliminou, ou tentou eliminar, todos os possíveis herdeiros de Ricardo, especialmente, seus sobrinhos, já que filho mesmo...  Se entendi bem, ela acaba sendo protegida pela avó, e ser protegida por Leonor não era pouca coisa, e, mais ainda, e,  posso não estar muito correta, ela tem que assumir a identidade da prima, Branca de Castela (1188-1252), que é assassinada em seu lugar, provavelmente, e se casa com o rei Luís VIII, da França.  Mas não tenho certeza se os detalhes estão corretos.  Branca de Castela foi uma das mais importantes rainhas da frança durante a Idade Média.

O Leão no Inverno, 1968.  Leonor e Henrique.
De qualquer forma, a última missão de Leonor da Aquitânia, então rainha viúva da Inglaterra, foi ir até Castela buscar a neta para casar com o filho do seu primeiro marido.  Não há incesto envolvido, vejam bem, porque o Rei Luís VII separou-se de Leonor.  o motivo principal?  Esterilidade, mesmo que ela tivesse tido filhas, o desejo do marido era por um herdeiro.  Mas a rainha, que levou de volta o seu ducado, quando o casamento foi dissolvido, casou-se menos de um ano depois com o Rei da Inglaterra, bem mais jovem do que ela, e teve vários filhos homens.  Já o rei da França, só conseguiu produzir um filho homem no seu terceiro casamento.  E foi um filho que deu trabalho para os ingleses e foi um dos amantes de Ricardo, Coração de Leão... 

Família de mafiosos, mais amante do filho (Ricardo) que,
por acaso é o Rei da França
e sua irmã, que foi "seduzida" (*estuprada, na verdade*) pelo
velho Rei Henrique quando era criança. 
E a princesa era noiva de Ricardo, enfim...
Aquele programa do SBT sobre barracos de família
não é nada comparado com isso.
Enfim, assistam O Leão no Inverno (1968) que é um ótimo filme medieval, embora lembre as histórias sobre mafiosos, e dá muitos detalhes dessas fofocagens todas.  O velho Rei Henrique decide reunir os três filhos homens restantes e a esposa, que ele mandara encarcerar, para uma festinha de Natal.  O resultado, claro, não será o esperado... Prefira a primeira versão, mas a refilmagem de 2003, o original é uma peça, tem o Capitão Picard no papel de Henrique II  e Glenn Close como Leonor.  De resto, imagino que este mangá é divertido e não creio que Hana Junrei seja o único mangá sobre Leonor da Aquitânia já produzido.

Vale a leitura.
Para não dizer que não recomendei um livro de História sobre o assunto, há o excelente A Mulher nos Tempos das Cruzadas, de Régine Pernoud.  A historiadora francesa escreve uma obra monumental mostrando como as mulheres estiveram presentes nas Cruzadas atuando de todas as formas, desde acompanhantes de seus maridos, caso de Leonor, como trabalhadoras (*há um documentário hilário de um dos sujeitos do Monty Python falando das lavadeiras da III Cruzada*) , até as guerreiras.  Ela fala de cristãs, principalmente, mas, também, de muçulmanas.  Está esgotado, mas dá para achar na net para download, ou comprar no Estante Virtual.

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