sexta-feira, 13 de julho de 2018

Saiu o primeiro trailer de Mary, Queen of Scots com Saoirse Ronan e Margot Robbie


Ontem, saiu o trailer, o primeiro, do filme Mary, Queen of Scots.  Eu estava esperando com ansiedade depois que vi algumas fotos.  Não tinha detalhes para além do título e de que duas jovens atrizes competentes Saoirse Ronan (Lady Bird) e Margot Robbie (Eu, Tonya). Iriam interpretar as duas rainhas, que eram primas e rivais de certa forma.  Olhando o verbete da Wikipedia, há detalhes maiores como que o filme se baseia em uma biografia histórica, My Heart is My Own: The Life of Mary Queen of Scots, do historiador especializado em período Tudor, John Guy.  O trailer está aí embaixo:


Já abro dizendo que é muito mais fácil ser Mary Stuart (1542-87), do que Elizabeth I (1533-1603).  Há muito mais elizabeths com quem ser comparada e muito menos maries, por assim dizer.  Mary, Rainha dos Escoceses, é uma personagem marcada pela tragédia e sempre no centro das atenções, uma espécia de celebridade do século XVI, por assim dizer.  Tornou-se rainha aos cinco dias de vida com a morte de seu pai, Jaime V.  Sua mãe, Marie de Guise, da famosa casa católica que foi uma das protagonistas das guerras de religião que ensanguentaram a França, assumiu a regência e enviou a filha para seu país natal aos cinco anos de idade.  

Educada na corte francesa, casou-se com 16 anos com o herdeiro do trono.  Enviuvou aos 17, voltou para seu país com 18 anos, sem marido, católica em um país que caminhava à passos céleres para o protestantismo e que tinha em John Knox, que será interpretado por David Tennant, como feroz opositor.  Ele escreveu  um texto contra o governo das mulheres (First Blast of the Trumpet against the Monstrous Regiment of Women/1558), mirando em Mary e sua mãe, que o tinha condenado às galés, e acabou se queimando com Elizabeth I.  Tenho pena dele, não. 

Um dos retratos da jovem Mary.
De volta ao seu país, a rainha enfrentou uma séria resistência por parte dos lordes escoceses, que por vários motivos, recusavam-se a se submeter a uma mulher, uma rainha vista como estrangeira e, o que era defeito para muitos, católica.  Já Mary, era vista como esperança pelos católicos ingleses que reconheciam nela, não em Elizabeth, fruto de um casamento não reconhecido por Roma, a legítima herdeira do trono.  Mary, Rainha da Escócia, era neta do Rei Henrique VII da Inglaterra.  Mary se casou com outro neto deste rei, Henry Stuart, Lord Darnley, normalmente, os filmes sobre Mary o pintam como uma espécia de playboy na época, um sujeito cheio de defeitos e com muito charme.  Ele é pai do único filho da rainha, que será responsável pela unificação das coroas britânica e escocesa.

Violento, ele tinha ciúmes da esposa e tentava ser protagonista da política escocesa. Acabou assassinado.  Quem o mandou matar?  A Rainha? Os Lordes que lhe faziam oposição?  O amante de Mary, Lorde Bothwell (*já era amante, ou não era?*)?  Os ingleses?  O fato é que o tal assassinato lhe custou o trono.  O novo casamento de Mary Stuart com o citado poderoso Lorde Bothwell não lhe deu a segurança desejada.  Terminou fugindo para a Inglaterra e lá ficou presa 18 anos, parte considerável de sua vida adulta.  

Interpretar Elizabeth é sempre um desafio.
Uma conspiração católica para colocar-lá  no trono inglês foi a gota d'água e Elizabeth teve que mandar executá-la.  Sim, não há filme sobre Mary Stuart que não tenha uma cena de uma Elizabeth resistindo e pranteando o fato de ter que assinar a tal ordem de execução.  É uma cena chave, aliás.  O trailer do filme mostra Mary encontrando Elizabeth.  Esse encontro nunca aconteceu, mas é constantemente colocado nos filmes sobre Mary e/ou Elizabeth.  Está, por exemplo, no filme de 1971, com Vanessa Redgrave como Mary Stuart e Glenda Jackson como Elizabeth.  

Para mim, Jackson, que fez a rainha na TV e no cinema, é a que melhor encarnou Elizabeth.  E pensem que Elizabeth já foi Flora Robson, Bete Davis, Cate Blachett, Judi Dench (*duas vezes*), Vanessa Redgrave, Anne-Marie Duff, Helen Mirren, Emma Thompson (*Acabei de descobrir agora!!!!!!!*) etc.   Margot Robbie terá que competir com gente muito boa na sua representação de Elizabeth I.  A rainha da Inglaterra tem quase o mesmo tempo de tela no trailer que sua prima.  

Destaque para os olhos azuis que Mary não tinha.
Saoirse Ronan terá menos competidoras.  A já citada Vanessa Redgrave,  Camille Rutherford (*em um filme recente que pouca gente viu, está em casa no meu HD*), Katharine Hepburn (*o filme romantiza muito Mary...*), Samantha Morton e Clémence Poésy.  A atriz que fez Fleur Delacour nem está listada na Wikipedia, mas interpretou a rainha em um seriado britânico muito interessante chamado Gunpowder, Treason & Plot.  Como eu assisti por alto a série e os sotaques me atrapalharam muito, porque não havia legendas, não poderia esquecer dela.  

Enfim, menos gente foi Mary, menos gente memorável. Saoirse Ronan será uma Mary ruiva.  A rainha parecia ser ruiva, como Elizabeth, e não loura, ou morena.  A atriz, no entanto, não tem nem perto dos 1,80 m da rainha da Escócia.  Mary Stuart, e deve ter herdado isso da mãe, que era uma mulher alta, também, tinha uma altura incomum no século XVI e ainda difícil em nossos dias. Fora isso, a Rainha dos Escoceses tinha olhos castanhos e, não, olhos azuis. Eu acho a coisa mais linda ruivos de olhos castanhos.  Tive uma colega de colégio, Fabrícia, que reclamava que nunca colocavam em filmes, ou desenhos animados, pessoas ruivas que não tivessem olhos azuis, ou verdes.  Ela era ruiva, sardenta, muito branca, mas tinha olhos escuros.  Enfim, são somente observações preciosistas.  O século XVI foi marcado por mulheres poderosas e Mary e sua prima foram duas delas. Elizabeth I, com certeza, uma das mais, senão a mais, importante de todas.

Retrato de Elizabeth de 1575, ou seja,
anterior à execução de Mary.
Segundo vi na resenha do livro no The Guardian, e que parece ser a ideia do trailer, embora esse tipo de material seja feito para enganar, a biografia vende, com base em numerosa documentação, que Mary era uma mulher que pensava politicamente com uma clareza que lhe foi negada por muita gente.  Seja por falta de fontes, seja por desejar criar uma dicotomia entre Elizabeth I, um ser racional, e uma Mary romântica, movida pelo coração e por sua fé católica.  Parece, repito, que é uma boa biografia, a única crítica consistente ao livro foi o fato do autor, que defende de forma apaixonada sua visão sobre a Rainha dos Escoceses, é que ele dá pouca atenção aos anos de May como prisioneira, afinal, ele quer apresentar a Mary estadista, mesmo guerreira e, não, a cativa.

Segundo o The Guardian, o autor da biografia original pinta Mary como uma mulher competente, não guiada por sentimentos, mas extremamente azarada.  Outra coisa é que a tal biografia, ponto de partida do filme, repito, meio que transforma Sir William Cecil, principal conselheiro da Rainha Elizabeth I, como o vilão dessa história toda.  Ele teria maquinado para queimar Mary Stuart, tanto na Escócia, quanto na Inglaterra, e impedir uma restauração do catolicismo nas ilhas.  Ele tinha muito poder, sim e não existe ator listado para esse papel no IMDB.  E não sei como alguém coloca Elizabeth I em tela sem Sir William Cecil nem para compor o fundo.  Não é bom sinal.  Pode dar certo.  Pode dar errado.  Estou empolgada com o filme, mas sei lá, já me decepcionei muito nos últimos anos.  as atrizes são boas, o elenco, no geral, é promissor.  O filme não deve estrear aqui este ano.


Se a biografia fosse seguida, 
Sir William Cecil seria o vilão.
De resto, vou reclamar de novo do uso do preto.  O trailer abusa da cor nas roupas tanto de escoceses, quanto de ingleses. "Ah mas era moda!  Vinha da Espanha!"  Era moda no final do século, as ilhas britânicas, não raro, estavam defasadas em relação ao continente..  Pegue os retratos da própria Elizabeth, ou de seus cortesão, ou do período Tudor como um todoHavia cor, muita co, ainda que o preto estivesse presente.  O preto só começa a aparecer (*não dominar*) nos retratos da rainha no final do século XVI, nos últimos anos de sua vida.  O preto era favorecido pelos protestantes mais austeros?  Era.  Poderia ser usado em alguns lordes escoceses e em John Knox?  Claro, mas uma rainha católica não usaria preto com frequência, tampouco Elizabeth que era tudo, menos uma protestante radical.  Mas é isso, moda do preto.  Preto é elegante.  Preto sugere poder e toca essa monotonia.  

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