domingo, 14 de outubro de 2018

Dorama baseado em mangá josei com temática polêmica afasta a audiência no Japão


Eu comentei sobre o anúncio do dorama Chugaku Seinikki (中学聖日記), baseado no mangá de de Junko Kawakami, em julho.  Trata-se de um mangá premiado e elogiado, afinal, apareceu na lista dos melhores mangás femininos de 2017 no guia  Kono Manga ga Sugoi! (*Este mangá é legal!*) e venceu o 7º  Prêmio de Melhor Mangá dado pela revista feminina ANAN.  Mas qual é a história e qual o motivo da polêmica?

A série conta a história de um adolescente de 14 anos apaixonado pela professora de 25.  Ao que parece, eles efetivamente ficam juntos.  Estrelado por Arimura Kasumi, que faz a professora, a equipe de produção disse não ter conseguido um ator mais jovem capaz de interpretar o papel do aluno es escalou o estreante Okada Kenshi, que tem 19 anos, segundo o Arama Japan.  Acho desculpa, porque escalar gente mais velha é coisa típica na maioria dos países.  Estranho é quando colocam adolescente fazendo adolescente da idade correta.

Onde esse moço parece ter 14 anos?!
Ainda segundo o AJ, a audiência de Chugakku Seinikki foi desastrosa para o canal TBS, marcando 6.0%.  Gibo no Musume to Blues (義母と娘のブルース), que eu erroneamente disse que estava para começar em outro post, mas já tinha terminado, estreou com 11.5% de audiência, com seu último capítulo marcando 19.2% e média geral de 14.2%.  Enfim, o feedback do público foi o pior possível "Chugaku Seinikki  é assustador.  Eu assisti somente 20 minutos e desliguei."; "É senso comum que um adolescente tão jovem é instável, mas ele parece um stalker."; "Assustador.  É correto que uma emissora ofereça um dorama com esse tipo de história?"; "É impossível transformar essa relação em um amor puro.  Eu fiquei nauseada."

Romances entre professores e alunos/as são temas comuns nos mangás.  Não é o tipo de história que me agrade, já escrevi várias vezes que considero que, mesmo quando não se configura crime, trata-se de uma quebra de confiança e irresponsabilidade do adulto envolvido.  Aliás, muita gente não entende quando aparecem matérias norte-americanas criminalizando a relação entre professores e alunos de colegial, mesmo quando os últimos tem idade de consentimento (*16/17 anos, dependendo do Estado*). Pare e pense que o/a professor/a está em posição de autoridade e tem deveres a cumprir.  Mesmo na faculdade, quando todo mundo é adulto, normalmente, a parte mais prejudicada da questão é a aluna, normalmente, é uma mulher, ainda que possa não ser.  Que fica, inclusive, mal vista e pode ser alvo de retaliação.  Sim, conheço casos.  Pode terminar em um lindo casamento, ou em constrangimentos, depressão e outras coisas mais.

As imagens que achei do mangá parecem mostrar
sempre a professora acuada e assustada. 
Não vi romance, vi algo muito perturbador.
Eu não li nada desse mangá, não achei scanlations, mas consegui um monte de ilustrações e páginas do original.  O traço é o menos suspeito possível, mas lembrei de Koikaze (恋風), uma série de 2004, com um traço inocente como esse, uma abertura e um encerramento lindos, e que era focado no incesto entre irmãos, ele com 27 anos, se bem me lembro, a moça com 15.  Lembro de ter discutido o quanto aquilo era abusivo, envolvia, inclusive, pacto de suicídio... Mas minha memória pode estar falhando.  Voltando para Chugaku, praticamente toda interação da professora com o aluno que me apareceu no Google parecia sugerir constrangimento e uma mulher acuada.  Não sei, pode ser somente impressão.

A protagonista também me pareceu uma menina assustada.
Enfim, não vou enveredar na discussão de gênero, da tolerância que uma relação entre um professor e uma aluna nas mesmas condições teria.  Particularmente, considero ruim de qualquer jeito e, normalmente, quando constroem histórias desse tipo, a opção é por colocar alunos do colegial, alguém do ginásio é visto como criança, daí, talvez, a repulsa generalizada.  Pela matéria do AJ, parece que as pessoas estão rejeitando não somente a história em si, mas, também, estão associando o comportamento do adolescente a algum transtorno.  Achei essa página em japonês apontando que o mangá caminha por aí mesmo, o menino seria desequilibrado e a professora vulnerável.  Acredito que colocar o adolescente como o elemento ativo da relação parece ter soado como uma irresponsabilidade, também.  

De qualquer forma, acho difícil que a audiência seja recuperada.  Vou observar para ver se aparecem outras notícias.  Há material que passa batido em uma revista, nesse caso, a série corre sem problemas e ainda é premiada, mas termina por atrair uma atenção muito negativa quando vira animação, ou, neste caso específico, dorama.

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