quarta-feira, 28 de novembro de 2018

16 dias de ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres: Sobre Meninas, Homens mais Velhos e Feminicídios

Só em casos assim é que é chocante?
Como comentei no domingo, estamos no período dos 16 dias de ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.  Ele começa no dia 20, dia da Não-Violência contra as Mulheres, e segue até 10 de março, Dia dos Direitos Humanos. Não prometi um post por dia, mas disse que poderia tocar no assunto várias vezes ao longo do período.  Pois bem, dois feminicídios de adolescentes me chocaram e a matéria, cuja foto está abaixo, me obrigou a comentá-los.

Pode parecer bonito e romântico, mas
tais relacionamentos podem ser abusivos.
Enfim, esses dias aconteceram dois crimes terríveis contra adolescentes, meninas, que poderiam ser minhas filhas, ou alunas.  No primeiro caso, a estudante Luana Maciel dos Santos, de 16 anos, foi estuprada e esfaqueada.  O principal suspeito, que não agiu sozinho, foi o ex-namorado de 33 anos.  Ela não queria reatar o relacionamento.  Assim, é um charme namorar um homem mais velho.  Alguém experiente, que pode lhe proteger, que tem uma profissão, um emprego, ou até mais a oferecer.  Repetem isso para as meninas o tempo todo.  Quando elas sofrem alguma violência, ou são mortas, olhe os comentários.  

"O que essa menina tinha na cabeça!"  "Viu no que deu se envolver com homem mais velho?"  "Deveria estar estudando!"  Agora, desvie o olhar para cima e veja a sorridente atriz Global dizendo que prefere "homens mais velhos".  Veja o casal presidencial, Temer tem 78, Marcela, 35 anos.  Só que ela era uma adolescente de 18, 19 anos quando eles se conhecerem com todo o incentivo da família dela.  A questão vai além do fato de uma menina individualmente "não ter juízo", porque, vocês sabem, homens são eternos meninos, já as mulheres... 

Luana tinha toda a vida pela frente... 
O outro caso trágico, acabei de ver agora.  Colocarei o título do G1 "Pai mata esposa e filhos a facadas em Lima Duarte, MG".  A esposa e mãe era uma menina de 17 anos.  O marido assassino, um homem de 43.  Ele conhecera a "esposa" com 14 anos, talvez menos.  O homem matou a moça e as crianças e continuou dormindo na casa, ao que parece.  Os vizinhos chamaram a polícia por causa do mau cheiro.

Segundo o vídeo, parentes do homem alegarem que ele sofre de "depressão", porque os vizinhos e conhecidos o acusavam de se envolver com menores de idade, assim, no plural.  Ele era acusado de pedofilia.  A matéria não deixa claro se criminalmente, ou pela vizinhança.  Ao ser preso, o sujeito alegou ciúmes, que temia ser abandonado, porque a "esposa" era muito jovem.  Agora, peguem lá das estatísticas de gravidez no Brasil que comentei no texto de domingo e lembrem que eu escrevi que, não raro, os pais das crianças eram homens mais velhos.  Afinal, é muito mais interessante ter um homem maduro ao seu lado, repetem os vários discursos direcionados às meninas.  

Eternos meninos.
 Quando eu estava com 9 anos, assisti uma palestra em um acampamento de Mensageiras do Rei (*organização batista para meninas de 9 a 16 anos*) na qual a palestrante disse que deveríamos nos casar com homens mais velhos, com diferença mínima de dez anos.  Afinal, mulheres envelhecem mais rápido.  Nunca esquecerei essa palestra, já na época ela parecia ter vários problemas aos meus olhos.  Que compreendemos disso?  Ah, a mulher ficou velha, ou parece velha, é trocada por outra.  Já o homem, bem, ele precisa de uma enfermeira na velhice e, se a mulher quiser deixá-lo, sabemos que o resultado pode ser um feminicídio. 

Daí, vemos as meninas adolescentes com homens que podiam ser seus avós sendo mortas por eles e as pessoas "de bem" ficam fingindo que são casos isolados. É como se não pudéssemos colecionar os discursos e exemplos que reforçam que esse tipo de relacionamento é OK, é desejável, é glamouroso, que as meninas devem perseguir esse "ideal" de relacionamento. E, ainda assim, devem acreditar que esses seus homens mais velhos são imaturos e, por isso, elas, as meninas, que são exatamente o contrário, "porque mulher amadurece mais rápido e cedo", devem sempre ser compreensivas.  Se algo acontecer, claro, a culpa é delas.  Ou não foram compreensivas o suficiente, ou não foram maduras o suficiente, ou não deveriam ter embarcado no relacionamento.  O homem, mesmo quando mata, parece ter sua culpa diminuída aos olhos da sociedade.

Trama de uma novela que está para estrear.  Vai ser lindo, não é?
Concluindo, não estou dizendo que relacionamentos com grande diferença de idade são ruins por princípio.  Eu, Valéria, não acredito nisso. Sei de pelo menos um caso em que um deles salvou um homem e deu nova vida a uma mulher.  Mas veja, não era uma menina, era uma mulher de quase trinta anos, talvez até mais que isso. Enfim, esse tipo de relacionamento é um fenômeno social legitimado por nossa cultura e passível de ser analisado e estudado e que as mulheres normalmente estão em desvantagem e situação de vulnerabilidade, ainda que, algumas, pareçam felizardas.

1 pessoas comentaram:

Uma coisa que tinha que acabar é novela querendo enfiar goela abaixo do público que homem sexagenário, septuagenário TEM que continuar sendo galã, cobiçado intergeracionalmente. Enquanto isso mulheres na casa dos 30, 40 e poucos são consideradas "velhas" demais para serem par romântico desses mesmos homens. Se continuar assim sem renovação de galãs, nesse ritmo em breve teremos os primeiros casais com homens octogenários. Pelo menos acho que nos livramos do José Mayer desempenhando essa função.

Em nota: O Antônio Fagundes está em seu segundo casamento com uma mulher 27 anos mais jovem do que ele. Pelo menos ela com 42 anos e ele 69 não há diferença de idade o suficiente para ele poder ser avô dela.

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