sábado, 3 de novembro de 2018

Ginasta humilhada por ser "gordinha" ganha primeira medalhada da modalidade para seu país


Não sei quem se recorda, mas Alexa Moreno, hoje com 24 anos, foi ridicularizada na internet durante a Olimpíada do Rio por parecer gorda para os padrões dos especialistas de teclado para uma ginasta.  Na época, o El País fez uma seleção de 5 vídeos mostrando a qualidade de Moreno como ginasta para aqueles que não viam qualificações nela por ser "gorda".  A moça não conseguiu um grande desempenho no Rio, o que, aliás, não era esperado mesmo já que seu país não tem expressividade no esporte.  

Comemorando com o técnico.
Só que ela conseguiu esta semana ganhar a primeira medalha para seu país em um mundial, foi na etapa de Doha, no Catar.   Alexa Moreno ficou com o bronze no salto sobre a mesa.  O ouro ficou com Simone Biles, a norte-americana que também fez história ao se tornar a primeira mulher tetracampeã do individual geral, a prata foi para a canadense Shallon Olsen.

Com Simone Biles, que também fez história.
Para quem não entendeu, além do notável que é a medalha para o México (*as Filipinas também fizeram história, mas no masculino*), o desempenho de Alexa passa uma mensagem para todos aqueles que querem colocar os atletas em forminhas, ou tem tal biotipo, ou não vai dar certo, e que adoram ridicularizar mulheres por causa do seu peso.  É possível ser ginasta, sim, e não ser esguia e de pernas longas, como era o padrão nas décadas de 1970-90, ou pequenininha, leve, mas um tanto musculosa.  

Biles e algumas de suas medalhas... 
Pode até ser que este tipo de constituição física possa lhe dar vantagem, mas há quem consiga quebrar esse paradigma, como nossa Daiane dos Santos, que começou a fazer ginástica por acaso e com mais de 10 anos de idade, ou a própria Biles, porque além do biotipo esguio ou, no máximo, musculoso, sem deixar de ser gracioso (*Quem define isso?  O olhar masculino, claro!*), uma ginasta precisa ser pelo menos de classe média e, claro, branca.  Lembra quando se discutiu, no filme Eu, Tonya, a construção da ideia da princesinha do gelo?  A ginástica também tem seu padrão de princesinha que todo mundo sabe bem reconhecer.

Daiane dos Santos, desprezada por alguns, porque apesar
dos muitos triunfos, não trouxe medalha olímpica para o país.
Enfim, na minha época de adolescente e jovem, havia, também, uma obsessão em relação à idade.  Moças como Alexa Moreno, ou Simone Biles, seriam chamadas de velhas.  As grandes ginastas eram meninas que debutavam como 14 anos e se aposentavam com 20, 21 anos.  Um horror, porque os homens seguiam até os 30, ou mais.  E foi uma surpresa quando, em uma Olimpíada, uma ginasta russa - sim, já era Rússia, acho eu - conseguiu uma medalha de ouro aos 27 anos.  E ainda acrescentaram que ela era notável por ser muito alta para os padrões da ginástica.  Se não me engano, a moça de quem não me lembro o nome, tinha 1,70 m.  

Oksana Chusovitina nas Olimpíadas do
Rio, ela é chamada de "ginasta eterna".
Obviamente, para a maioria das regras, há exceções e Oksana Chusovitina é a própria personificação dessa palavra.  Esta ginasta maravilhosa foi a única a competir por três países diferentes - URSS, Uzbequistão, Alemanha (*naturalizou-se*) - e se mantém em atividade até nossos dias mantendo o alto nível.  Ela estava em Doha.  Ela terminou em quarto lugar em seu aparelho, o mesmo da Alexa Moreno, olha só!  Oksana Chusovitina nasceu em 1975.  Ela é mais velha que eu! Será que vai estar em Tokyo?  Será?

Oksana, medalha de prata, no pódio 
dos Jogos Asiáticos em agosto desse ano.
Precisava comentar a vitória da Alexa Moreno, porque em tempos em que a gordofobia anda tão aflorada e muita gente pratica bullying pela internet, ela não desanimou e seguiu em frente.  Uma medalha em um mundial é algo muito importante, especialmente, para impulsionar o esporte em um país.  Neste caso, torna-se ainda mais importante, porque ajuda a reforçar que não existe um corpo certo para praticar um determinado esporte, ou, como no caso de Chusovitina, até uma idade certa.  


Dê-se o direito de sonhar, se esforce para atingir seus objetivos, se alimente das boas energias e palavras, reconheça seu próprio valor e não se culpe se não conseguir chegar lá, porque, talvez, você tenha lutado contra obstáculos realmente intransponíveis.  Parabéns para Alexa Moreno, para ela faz sentido dizer que "os humilhados, agora serão exaltados"! 

1 pessoas comentaram:

Obrigado por esse texto, Valéria. Eu precisava ler algo assim. Principalmente o último parágrafo.

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