terça-feira, 1 de outubro de 2019

Novelando: Mais uma vez Éramos Seis parece que veio para agradar


Hoje, depois de voltar do trabalhos, assisti ao primeiro capítulo da nova versão de Éramos Seis, livro de Maria José Dupré, para telenovela.  Trata-se da quinta adaptação, a terceira baseada no texto de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho.  Eu só assisti a versão do SBT de 1994, e, bem, é uma das minhas novelas favoritas, já o livro, bem, nunca consegui gostar dele, não.  Estabelecido isso, achei o primeiro capítulo de Éramos Seis da Globo impecável, bonito mesmo.  

Angela Chaves, responsável por adaptar o roteiro que foi utilizado pela Tupi (1977) e pelo SBT, ofereceu para a audiência um belo cartão de visita.  O elenco inteiro, inclusive as crianças e adolescentes, atuaram muito bem, as mudanças foram pequenas, algumas me agradaram, outras precisam ainda me convencer, pouca coisa realmente não me deixou feliz (*e comentarei já*).  Há todo um requinte na reconstituição de época, recriando um pedacinho de São Paulo nos anos 1920, ficou um primor.

A família no capítulo de estreia.
A novela começa com a primeira comunhão de Julinho (Davi de Oliveira) e Isabel (Maju Lima), os filhos mais jovens de Lola (Glória Pires) e Júlio (Antonio Calloni).  O marido é mostrado como um sujeito estressado por causa das contas a pagar, arrimo de família, ele precisa pagar as prestações da casa, escola das crianças (*está no livro, mas eu não entendo o motivo dos filhos estudarem em escola particular*) e ainda conviver com um problema de saúde muito sério.  É um peso enorme.  Lola, a esposa, o apoia, mas o marido, já no primeiro capítulo, chega bêbado em casa e terminamos com a surra que ele dá no filho mais velho, Carlos (Xande Valois).

Coisas que não consegui ainda digerir, três das crianças serem adolescentes.  Gosto bastante de Xande Valois, mas ele já tem 15 anos e aparenta a idade que tem.  Em 1994, Caio Blat  tinha um tiquinho menos, mas aparentava ser mais jovem.  Não sei como ficará a parte em que Lola pede ao marido que deixo o garoto usar calças compridas e Júlio dá um chilique.  Vamos ver.  Não sei quantos anos tem Pedro Sol, que faz Alfredo, mas não lhe dou menos de 13 anos.  Já Wagner Santisteban, que defendia a personagem na versão anterior, tinha 11 anos.  

O elenco infantil era formado por crianças de verdade em 1994.
Como os novos Alfredo e Carlos são adolescentes, a novela introduziu no primeiro capítulo uma disputa dos dois, o bom menino e o peste, pelo coração de Carmem, a vizinha.  Na versão anterior, Alfredo era um moleque que não dava a mínima para garotas e Carlos era o único a olhar para a menina com algum interesse.  Na nova versão, além da disputa, Carlos é mais reativo, eu diria, ele enfrenta e xinga o irmão, não é somente a vítima.  Houve uma ligeira mudança na sequência da surra.  Alfredo não mentiu, ele se calou e deixou o irmão ser espancado pelo pai.  A parte em que ele derruba a santa, foi inventada para a nova versão.  Enfim, mas esses dois meninos me incomodam menos que Julinho.

Julinho era o filho caçula, mais novo que Isabel, era o bebê da mamãe e isso ficava claro.  Davi de Oliveira não parece ter menos de 12 anos, deveria ter no máximo uns sete.  O problema?  Ele continua sendo tratado como o filhinho da mamãe, vide a cena do cavalinho, mas a coisa não casa com a idade que o ator aparenta.  Não sei como o terrível Alfredo ainda não o chamou de maricas.  Já a menina Maju Lima, que faz Isabel parece perfeita no papel.

Gosto muito dos dois, mas acho que
erraram feio no cabelo de Clotilde.
Falando em figurino, Ricardo Pereira está um deleite para os olhos, super elegante como Almeida, o colega de trabalho de Júlio, que irá se interessar pela irmã solteirona de Lola.  Não deixa nada a dever a Paulo Figueiredo, que fez a personagem em 1994.  Agora, e isso escrevi em algum texto sobre Gabriela, não vou procurar qual, os figurinistas da Globo não conseguem deixar de pensar que toda mulher era um pouco melindrosa nos anos 1920.  Fora a D. Genu (Kelzy Ecard), que se veste como uma dona de casa de classe média baixa da época, todas as mulheres parecem um pouco destoantes, modernas demais.  As saias deveriam ser mais longas, quase não há mangas nos vestidos e todo mundo tem cabelo curto.  

Olga (Maria Eduarda de Carvalho) poderia até ser um pouco saidinha, mas ela era do interior e professora.  Dificilmente se vestiria na última moda.  Sua irmã solteirona, Clotilde, e é bom ver Simone Spoladore de volta, usa cabelo curto e franja.  Franja era coisa de menina e, bem, deveriam ter olhado para a forma como Jussara Freire compôs a mesma personagem.  Ela poderia até cortar o cabelo ao longo da trama, mas deveria começar com cabelos longos arrumados em uma trança, ou coque, algo mais conservador, mas, de novo, todo mundo tem que ter cabelo curto nos anos 1920.

Olga e Zeca estão ótimos, mas ela deveria usar saias e
mangas mais longas. Professoras precisavam
se vestir de forma conservadora.
D. Lola a mesma coisa.  Sendo mulher casada, deveria estar com cabelos presos, ou curtos, que seja, mas não aquele semi longo solto que desafio ser encontrado em uma mulher da mesma classe e idade em qualquer foto de época ou revista de moda.  E o que vi da tia Emília, que deveria ser uma mulher conservadora, não me agradou, as saias de Susana Vieira parecem mais curtas que as das sobrinhas e seu cabelo aparece solto.  Ela deveria espelhar uma outra época, o passado que se recusa a abrir caminho para o futuro.  E, de novo, bastava pegar fotos de época. 

Isso faz diferença em uma adaptação de época e eu tenho tique com essa coisa de cabelo, desculpem.  Aliás, vi um vídeo no domingo que mostrou como a questão apareceu em Downton Abbey.   Michelle Dockery, que faz Lady Mary, teria cortado o cabelo curto, ao estilo dos anos 1920, antes de gravar a última temporada.  Os responsáveis pela produção disseram que era cedo demais.  A atriz teve que usar peruca, mas, no filme, ela aparece com o cabelo bem curtinho e há um diálogo entre Lady Mary e a avó (Maggie Smith) com a velha dama comentando que pensara que ela era um rapaz.  Cortar cabelo para mulheres ainda era tabu nos anos 1920 e a nova moda era vista como agressiva e pouco feminina por muita gente.

Lola se dá ao direito de olhar brava para Júlio nessa versão.
Como a autora da nova novela tinha dito que falaria de esperança e das lutas da classe média, sem muito drama e choradeira.  Estou com medo ainda, especialmente, da Lola feminista, porque a personagem é tudo, menos isso.  No primeiro capítulo, Lola pareceu mais reativa em relação à bebedeira e grosseria do marido, ela mostrou claramente sua insatisfação.  Nada muito gritante.  Cortaram o cachimbo de Júlio na cena dele assoviando com Isabel ao lado.  Cena lindinha, aliás, como está bem o Calloni e a menininha.  De resto, a tal Shirley (Bárbara Reis) não me convenceu ainda como esposa de Afonso (Cassio Gabus Mendes) parece que no segundo capítulo explicam a personagem e, bem, vão precisar mesmo.

Concluindo, foi bom não terem arrancado de Éramos Seis o primeiro drama pela falta de direitos sociais.  Júlio trabalha 12 horas por dia, depende da boa vontade do dono para receber um bônus de fim de ano e, bem, o chefe prefere dar para outro.  Sabe décimo terceiro?  É o bônus que não podem lhe tomar.  Direitos trabalhistas são muito importantes.  E sinto muita falta de Marcos Caruso e Jandira Martini, eles eram Genu e Virgulino perfeitos.  

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