quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

70% dos japoneses consideram correto punir as crianças com castigos corporais


O Sora News trouxe uma matéria importante sobre a tolerância dos castigos corporais em crianças no país, não se trata somente, que fique claro, dos pais poderem usar de métodos violentos para disciplinar suas crianças, mas de permitir que os professores possam continuar a fazê-lo nas escolas.  Logo no início, o SN pontua que a natalidade japonesa bateu novo recorde negativo, algo que comentei, junto com crescentes denúncias e prisões por abuso infantil.  Sim, eu li vários casos na imprensa japonesa, só não comento no blog.

Segundo a matéria, está em discussão desde março passado uma legislação que visa regulamentar o que pode ser considerado abuso infantil e o que é disciplina aceitável.  As diretrizes da legislação foram liberadas no início de dezembro e, por exemplo, passa a ser proibido fazer uma criança dormir sem jantar como forma de punição, mas continua legal esbofetear um menor como forma de discipliná-lo.  Vejam bem, já escrevi isso em mais de um texto, mas é algo a se esclarecer, o que é considerado como violência varia de país para país, assim como o humor, é cultural.  

70% de aceitação é um índice muito alto.
Por exemplo, é comum em animes e mangás que uma pessoa chame a atenção de outra a esbofeteando e quem apanha até agradece, em alguns casos.  Uma bofetada seria considerada uma ofensa grave se um um marido fizesse isso com a esposa no Brasil, ela poderia dar queixa e tudo mais, mas será que no Japão, ou em países islâmicos que usassem a Sharia poderia não ser.  Percebem que índices baixos de violência mais altos.  Outro exemplo, a Suécia (*e esses dados são usados pelos críticos do país*) tem altíssimos índices de estupros, mas a lei do país abrange uma série de questões que em outras nações não seriam estupro, e considera cada acontecimento de forma separada, logo, os números podem indicar uma violência que não seria percebida em outros países.  Mas voltemos para as crianças japonesas.

O SN publicou os dados de uma pesquisa feita por uma companhia de turismo com 796 adultos entre 20 e 70 anos, 456 com filhos e 340 sem crianças.  Foram seis perguntas:

Posição seiza.
1) Você já bateu em seu filho ou filha? Dentre os que tinham filhos, 49,8% responderam que "sim", 26,1% disseram que "não".  

2) Você considera os castigos corporais necessários para disciplinar uma criança?  Entre os que tem filhos, 70,6% disseram que "sim", já entre os que não tem filhos foram 67,4%.

3) Outro dia, o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar divulgou diretrizes sobre o castigo corporal. Como você vê essas diretrizes?  50,8% disseram não ter opinião formada; 35,8% aprovam; 13,4% reprovam.  Aqueles que aprovaram as diretrizes forneceram motivos como “Atualmente, os adultos não têm bom senso, por isso é necessário explicar as coisas para eles” e “A definição de castigo corporal muda com o tempo, por isso é esclarecer as coisas”. Entre os que se opuseram-se às diretrizes, deram razões como "Todo responsável tem um estilo diferente de exercer a parentalidade, por isso é impossível padronizar diretrizes em um manual" e "Mesmo que existam diretrizes, aqueles que abusam de crianças continuarão a fazê-lo".

4) Dentro das diretrizes de punição corporal divulgadas outro dia pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, há os exemplos concretos dados como punição corporal, escolha aqueles que considera punição corporal. (Nota do Sora News: essa pergunta em particular parece compreender uma definição mais flexível de castigo corporal, incluindo punições que não são diretamente físicas, mas também podem abranger abusos emocionais.)

Ambos os grupos, com e sem filhos, selecionaram "Dizer 'eu gostaria que você nunca tivesse nascido' como uma piada" como o exemplo de abuso mais aceito (69,7% com crianças e 80% sem crianças). Os outros exemplos em ordem decrescente de consenso geral incluíam “Não lhes dar o jantar por não fazer a lição de casa”, “criticar ou ignorar apenas um irmão”, “bater neles porque agrediram um amigo”, “esbofeteá-los por não obedecerem depois de advertidos"e" fazê-los ficar no estilo seiza por um longo tempo porque fizeram uma brincadeira ".  

Adultos estressados podem descontar seus problemas
nas crianças que deveriam proteger.
5) O que você acha das leis atuais que punem o abuso infantil perpetrado pelos pais?

O exemplo com o mínimo de consenso geral foi "Surrá-los por roubar as coisas de outra pessoa" (38,4% com crianças e 40,3% sem crianças). Um número muito pequeno de entrevistados também não classificou nenhum dos exemplos como castigo corporal.

A lei atual estipula que os infratores cumprirão um ano de prisão ou pagarão menos de um milhão de ienes (US $ 9.100) em multas. Os pais cujos abusos resultam na morte de um filho ficarão na prisão entre 3-20 anos. Atualmente, nem a prisão perpétua nem a pena de morte são estipuladas por lei.

Dos participantes da pesquisa, 66% consideraram essas penalidades muito frouxas, 22,7% não tinham opinião, 7,8% achavam que eram apropriadas e 3,5% achavam que eram muito rígidas.

6) O que precisa ser feito para impedir o abuso infantil por parte dos pais?

58,8% de todos os participantes da pesquisa concordaram que uma expansão dos centros de apoio aos pais era a medida mais necessária para a mudança. As únicas três outras respostas que alcançaram mais de 50% em consenso geral incluíram uma expansão de abrigos temporários de proteção à criança, intervenção policial proativa e intervenção precoce dos centros de apoio infantil.

A resposta de classificação mais baixa (além de "Outros"), de 21,6%, foi uma mudança no dever e na aquisição de licença de paternidade (ou seja, repensar os papéis tradicionais de gênero no Japão), que especialistas recentemente expressaram como um pré-requisito para diminuir o declínio da taxa de natalidade no país.

Os efeitos do abuso infantil podem ser duradouros.
Enfim, o Brasil é um dos 53 países que proíbe totalmente os castigos corporais em criança.  A lai, que foi pejorativamente chamada de "Lei da Palmada" e, também, Lei Menino Bernardo, data de 2014.  Sabemos bem que tanto a palmada, quanto violências que resultam na morte, ou em grande dano física e/ou psicológico à crianças, continuam muito comuns em nosso país. E mais, acredito que o resultado de uma pesquisa dessas feita em nosso país seria tão diferente do Japão. No mundo, hoje, as legislações variam e os países podem ser divididos em 4 grupos: os que proíbem totalmente (*o Brasil está aqui*); o governo está comprometido em promover a completa proibição; proibido em certa medida e não é proibido e não é totalmente proibido em nenhuma situação.

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