quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Quais foram os filmes brasileiros mais vistos em 2019? Algumas considerações.


Começo o ano falando de cinema, porque vi esse tweet que coloquei na abertura do post anunciando que cinco das dez maiores bilheterias do cinema nacional ano passado foram dirigidas por mulheres.  É um grande feito, independentemente do que se pense desses filmes em particular.  Desses cinco, só assisti Minha Vida em Marte, aliás, foi um dos primeiros filmes que assisti no ano e poderia ter entrado na lista dos piores filmes que assisti em 2019, se eu não tivesse alguns méritos que destaquei na resenha da película.  Quais foram os filmes brasileiros que assisti em 2019?  Minha Vida em Marte, Turma da Mônica Laços,  Cinderela Pop (*por insistência da Júlia e que ficou sem resenha*), Bacurau e a Vida Invisível.  Todos estão entre os vinte mais assistidos do ano, segundo o Adoro Cinema.  Assisti O Paciente, também, mas em casa e era um filme antigo, sobre a morte de Tancredo Neves.  De repente, ainda faço a resenha.  

Descontado o filme do Bispo Macedo, porque a gente bem sabe como esses quase 7 milhões de espectadores foram conseguidos, há o que comentar nessa lista. Minha Vida em Marte deve ser considerado o filme mais visto do ano, porque, sim, sua bilheteria é real.  E, bem, Minha Mãe é uma Peça 3, que já figura na lista com menos de uma semana de exibição, deve ocupar o topo dessa lista em 2020.  Mas há um padrão na lista, vejam só: comédias com formato bem televisivo, continuações, filmes espíritas e biografias dominam.  Quantas são as biografias na lista?  Nada a Perder, Hebe, Divaldo, Kardec, Erasmo Carlos.  Juntos, eles representam 20%.  Material feito pela Globo Filmes talvez afaste o pessoal, porque todo mundo sabe que vai virar minissérie depois.  Hebe, que eu não consegui ver no cinema, já está no Globoplay e deve ser exibido na TV aberta em breve.   Acredito que esse fato atrapalhou um pouco Carcereiros, mas este filme não estava na minha lista de quero assistir mesmo.

O primeiro colocado, pouca gente acredita nesse sucesso todo, claro.
No caso das continuações, temos a terceira parte de De Pernas para o Ar, eu vi as duas outras incursões nos cinemas (*resenhas: 1 e 2*) e veria esta.  Não consegui encaixar na agenda, mas eu pagaria o ingresso para ver mais trapalhadas de Ingrid Guimarães.  Minha Mãe é uma Peça 3 é sucesso certo e mesmo que haja uma pequena rejeição, o fator Paulo Gustavo atua mais a favor do filme do que contra ele.  Ainda estou pensando se assisto, ou não.  Eu vi os dois filmes anteriores (Resenha 1 e 2*) e, bem, ri bastante.  Como qualquer um desse filme poderia ser um especial de TV, o que temos?  Os brasileiros pagam para ver no cinema aquilo que estão acostumados a ver na televisão sem pensar duas vezes.

E há o nicho dos filmes infantis e o fenômeno chamado Maísa. Nem sabia que Júlia conhecia Maísa e ela insistiu horrores para que a gente fosse ver o filme no cinema.  Não me ofendeu, mas não me acrescentou coisa alguma.  Turma da Mônica era sucesso certo e se confirmou, claro.  Como comentei na resenha, Maurício deveria correr e fazer a sequência antes que o elenco cresça, ou vai virar Turma da Mônica Jovem e vai dar dinheiro do mesmo jeito.  

Bacurau poderia ter atraído muito mais gente, muito mesmo.
Agora, pensem comigo, porque defenderei isso até a morte, se o Kleber Mendonça Filho segurasse seus impulsos por enfiar cenas de sexo e nus frontais aleatórios em TODAS as suas produções, a classificação indicativa de Bacurau seria mais baixa e, possivelmente, teríamos mais tempo para Lunga e mais expectadores.  Sim, porque Bacurau merecia estar no top 5 e, não, em oitavo lugar.  O filme, aliás, ainda está em cartaz em alguns lugares.

O mesmo vale para Vida Invisível porque li o livro e sei que muita coisa foi colocada no filme para satisfazer aqueles que não entendem a repressão sexual que marcava a educação mas boas famílias suburbanas. O filme é bom, mas a Eurídice e a Guida do filme pouco parecem com as moças moldadas nas famílias conservadoras da época.  Fugir para bailes, ou namoricos, seria algo aceitável, mas encontros sexuais no banheiro, ou discussões sobre sexo anal e coisas do gênero para evitar filhos, certamente seria caso excepcional.  Um marido da classe média tijucana dos anos 1950 dificilmente aceitaria que sua esposa, a mulher a quem ele deu seu nome, não estava disposta a ter um filho seu, porque queria ser pianista.  Parece coisa da Zona Sul (*e eu desconfio muito que mesmo nessa área da cidade do Rio de Janeiro isso iria rolar*) do que de Tujuca, São Cristóvão, ou mesmo Santa Teresa.
Excelentes atuações são o destaque de Vida Invisível.
E, claro, a censura seria menor e o alcance poderia se maior se roteiristas e diretor tivessem prestado mais atenção ao livro que inspirou o filme, ou conversado com suas tias e avós e as ouvido de verdade, ou simplesmente pego aquelas colunas das revistas femininas como Cláudia nas quais as anônimas falavam das misérias que a ignorância as fazia passar depois de casadas. Moças que não sabiam direito como poderiam evitar uma gravidez, que perguntavam o que deveriam fazer quando seus maridos exigia alguma prática sexual "alternativa", esposas que tinham que lidar com recriminações e ciúmes por não ter sangrado na noite de núpcias, jovens traumatizadas com a experiência da primeira menstruação etc. Nota dez de crítica ao patriarcado, para a atuação das protagonistas, para o drama da separação, mas o resto ficou um pouco comprometido.

Enfim, tivemos um bom ano para o cinema nacional e termos essas mulheres diretoras se destacando, é um dos fatores a se comemorar, sim.  Houve sucesso de crítica e de público, mas o futuro, com a gestão que temos da Cultura, é sombrio.  Nada indica que teremos mais incentivos, talvez, as verbas públicas passem a ir para filmes religiosos e pouca coisa mais.

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