sábado, 6 de junho de 2020

Motto Sawatte Arashi-san Honki ni natteha Ikemasen: Esse mangá é muito fofinho para eu não recomendar para vocês! (+18)


Dias atrás, eu recomendei um site com centenas de mangás, vários deles josei eróticos, alguns bem mais que isso, pornográficos.  Mais cedo li cinco capítulos de um mangá chamado Skirt wo Nuida Yajuu ~ Josou Danshi ni Houi saremashita!? (スカートを脱いだ野獣。~女装男子に包囲されました!?) de uma mangá-ka Nakatsuki Kana e ia fazer uma resenha (*ainda pretendo, mas não agora*).  Basicamente, temos uma moça desempregada esbarrando em um desconhecido na rua, que ela acha muito parecido com o seu primeiro amor.  

O cara deixa cair uma carteira com cartões de um café bar.  A protagonista, que se chama Kaede, segue o endereço para entregar a carteira e descobre que é ali só trabalham homens vestidos de mulher e ela, que precisa urgentemente de dinheiro, acaba confundida com um novato que iria fazer um teste e o sujeito da portaria ainda dá os parabéns, porque ela já veio à caráter.  Arrumada e pronta, o rapaz, que agora sabemos se chamar Chinatsu, decide ajudá-la.  No final do expediente, ele decide demonstrar seu interesse dizendo que nunca tinha se interessado por um homem antes.  Obviamente, ele descobre o segredo dela, ainda que eles não tenham feito sexo.  

A única imagem colorida que encontrei.
Chinatsu decide continuar em silêncio e protegê-la de clientes mais saidinhos e de outro funcionário, o mais bonito da casa, conhecido por namorar homens e mulheres e assediar os novatos.  Mais tarde, Chinatsu revela ser o primeiro amor da protagonista, Haruto, mas não se enganem, tem caroço nesse angu e as coisas não são bem o que parecem.  Mas a moça decide trabalhar no bar, porque nunca recebeu um salário tão bom e não é escravizada como no escritório de onde se demitiu.  

O interessante dessa autora consegue colocar muita informação em um mangá tão curto.  Temos cenas de sexo explícitas, com a censura imposta aos mangás, claro,  ninguém verá genitálias em minúcias, só que não em um frequência cansativa, insistente, como percebi nos materiais que andei olhando.  E o traço da autora é bom.
A mocinha acha que o rapaz é Haruto, seu primeiro amor.
Outra característica importante, este mangá não tem o tal estupro consentido.  O que é isso?   Temos o interesse romântico da mocinha, às vezes, no início da história ele nem é ainda, que não sabe respeitar um "não" e a insistência em vender aquela ideia de que quando a mocinha diz "não", ela está dizendo "sim", porque é isso que se espera de uma boa moça. Se o corpo dela está reagindo, mamilos enrijecidos, rosto vermelho e Glândula de Bartholin fazendo sua função, é porque ela quer que o sujeito continue e, não raro, ainda temos aquelas frases do sujeito dizendo que a mocinha "é pervertida", ou "tem pensamentos sujos", ou algo do gênero.

Não tomem como crítica a quem gosta dessas coisas, não estou julgando os gostos de ninguém, somente analisando criticamente produtos da indústria cultural.  Agora, dada a quantidade de materiais com essa estrutura que eu tenho encontrado, ou a amostragem do que é publicado é bem ruim, ou temos algumas estruturas prevalentes.  E como toda a mídia tem uma função pedagógica, isto é, novelas, cinema, mangás, livros, revistas femininas etc. são aquilo que chamamos de tecnologias de gênero, elas estão ensinando para as leitoras o comportamento feminino esperado, o que é agradável, ou não, em uma mulher, e por aí vai.  
Ele nunca se interessou por mulheres, mas...
Eles ensinam, também, que um homem espera que uma mulher diga "não" e que ela deve deixá-lo continuar, porque homens são assim, não podem se controlar.  Vejam que é um padrão de comportamento feminino e masculino que se constrói lá atrás, porque eles há estão presentes nos shoujo mangá escolar, troca-se somente o colégio pelo escritório ou outro local de trabalho.  Então, como saber se foi um estupro?  

Em alguns mangás que eu olhei (*e coisa ruim, não vou comentar, nem dar nome*), quando a violência é inegável, o sujeito às vezes não penetra a mocinha e diz algo como "se não, posso ter problemas com a justiça".  Teria que tentar checar o que a legislação japonesa diz sobre o assunto.   Claro, e é um ponto positivo desses materiais, a camisinha é presença em 100% do material que eu olhei e mesmo quando ela não tem função central no ato sexual, fica sugerido que ela foi usada.  Repito, esses mangás são feitos para divertir, mas tem função didática, também.

A primeira página do mangá.
Só que faltavam somente dois capítulos para o fim e eu fui procurar para ver se tinha mais material da autora e tropecei em Motto Sawatte Arashi-san Honki ni natteha Ikemasen (もっとさわって嵐さん~本気になってはいけません!).  São somente oito capítulos e eu me peguei várias vezes repetindo feito uma tonta "Mas esse mangá é tão fofinho!" como nunca tinha feito antes.  Sim, esse texto já virou duas resenhas pelo preço de uma!

Motto Sawatte Arashi-san Honki ni natteha Ikemasen parece um shoujo mangá fofo, que poderia sair na Margaret, na Betsuma, ou na Hana to Yume, só que com sexo explícito.  A protagonista se chama Kokoro Haruno e tem um bom emprego como estilista.  Só que, aos 23 anos, ela nunca namorou, nunca sequer saiu com um rapaz, tem extrema dificuldade em sequer conversar com um homem.  Sua melhor amiga, uma garota super moderna, decide lhe dar um presente.  Ela convence Haruno a passar algumas horas com um sujeito contratado para "conversar" com ela, dessensibilizá-la por assim dizer.

Ele acha que não a merece.
A amiga aluga um quarto de hotel e Haruna fica esperando pelo moço, o tal profissional.  O que ela não sabia é que a amiga tinha contratado um garoto de programa e pago o pacote mais caro disponível para que o moço pudesse satisfazer todas as fantasias da moça.  Arashi é o nome do rapaz e ele fica muito surpreso em saber qual a situação de Haruna.  Ele então decide que só fará o que ela permitir e começará tocando as mãos dela.  E eles não avançam tanto nessa primeira vez e o rapaz, que tinha sido contratado para a noite inteira, decide levar Haruna em casa.  Daí, temos aquelas coincidências de mangá.  Ele acabou de se mudar para o prédio onde ela mora, eles são vizinhos de porta.

Depois dessa noite, a moça já está completamente apaixonada por ele.  Já o rapaz, fica fascinado pela pureza de Haruna (*clichê*) e pelo fato de exatamente por ser inexperiente, ela é incapaz de mentir.  Quando eles finalmente fazem amor, ela não fica dizendo "não" e "não", quando quer dizer "sim".  O próprio título se remete a isso "Não pare, Arashi-san!".  Ela, Haruna, admite que quer fazer amor com ele e que tem prazer com isso, mesmo que continue tímida, ou constrangida.  Mas, de novo, são somente oito capítulos, mas a autora valoriza sua história.  Eles não vão chegar à penetração na segunda vez.  É engraçado, até, porque, bem, a mocinha está tão relaxada que ela DORME enquanto Arashi está no meio das preliminares.

Algumas cenas do mangá.
E o rapaz, óbvio, termina se apaixonando por ela e ele sabe que isso é um erro, afinal, ele é um profissional.  E ele também não se acha digno dela.  Já Haruna, acredita que ele a está "ajudando", porque é o trabalho dele e paga por todos os encontros, o que faz com que Arashi se sinta constrangido.  A moça, por outro lado, imagina que ele esteja saindo com ela por questões profissionais, já que ela não é uma mulher interessante.  

No fim das contas, a gente sabe desde o início que Haruna e Arashi vão ficar juntos, mas é realmente bom ver um mangá que consegue oferecer o sexo explícito, sem normalizar a violência masculina.  Claro, é um produto que idealiza as relações entre homens e mulheres, mas os mangás que reiteram o tempo inteiro que a moça tem que dizer "não", que o homem não vai parar e que, no fim das contas, ela tem que acreditar que queria também, são igualmente idealizações.
A capa do volume.
Enfim, apesar do tamanho reduzido, o mangá tem mais personagens, a melhor amiga, claro, mas temos uma moça misteriosa que ronda Arashi e o patrão de Haruna.  A moça, e darei um spoiler, é a irmã adolescente dele.  Leia o mangá se quiser descobrir a história de família deles.  Já o patrão de Haruna é um sujeito super gentil, que valoriza o trabalho dela e que arruma uma oportunidade para se declarar.  Sim, é muita coisa em oito capítulos e tudo bem arrumadinho.

Ambos os mangás foram publicados na revista Love Chocolat da editora Houbunsha.  Não conhecia a revista, são tantas e tantas que eu descubro uma nova por semana.  Ao que parece, ela entra no guarda-chuva do que se chama de teen love.  São mangás para adolescentes mais velhas e mulheres jovens, sempre com romances heterossexuais, com sexo, mas sem levar a coisa para a pornografia aberta.  Precisaria ver muito mais mangás dessa revista para tentar sedimentar um padrão.  É isso, recomendo os mangás.  Se você clicar em cima do nome, na primeira vez que ele aparecer, irá direto para a página com as scanlations.

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