(AVISO: Esse post será ilustrado com capas de Comic Romances aleatórios, ou nem tanto, porque eu não quero colocar fotos de nenhum dos envolvidos. Estou analisando discursos e papéis de gênero, não pessoas.)
Vi um texto que colocaram para circular sobre a tal traição da tal Luísa Sonza e a cobrança de cancelamento para a moça, porque cancelaram o Arthur Aguiar, que é acusado de trair a esposa mais de 30 vezes e pagar as contas do motel com o dinheiro dela, entre outras coisas. Obviamente, basta trair uma vez se você está em um casamento no qual a fidelidade e/ou exclusividade é algo que não está em aberto. Enfim, atribuíram o tal texto, que eu não irei replicar, a uma mulher indignada com a hipocrisia das feministas e afirmava que Luísa Sonza estaria sendo poupada por ser uma "buceta", sim, o termo apareceu como sinônimo de mulher, que mulheres teriam o privilégio da traição por serem mulheres.
Sei que a maioria das pessoas não sabe disso, mas quando um texto comparar uma mulher a um BURACO, depósito de esperma, ou, como eles gostam muito de escrever, de “porra”, é quase 100% de certeza de que a autoria é masculina e provavelmente terá como origem os grupos masculinistas que são povoados de INCELs (involuntary celibates/celibatários involuntários). Esses moços, que, às vezes, assinam com nomes femininos para causar, semear discórdia e por aí vai, se referem à nossa sociedade como bucetista, porque as mulheres teriam tudo e eles, coitados, seriam os esquecidos no rolê, porque as mulheres preferem os canalhas.
Desde que essa moça, a tal Sonza, casou com o Whindersson Nunes, ela é atacada por várias coisas. Lembro que a primeira vez que li sobre ela foi uma matéria dizendo que ela não queria ter filhos depois do casamento, que preferia adotar. Os comentários da matéria foram um esgoto total. “Egoísta”, “Vagabunda”, “Toda mulher deveria querer ser mãe”. Vi comentários que ressaltavam, também, que ela não queria ter filhos feios, porque, bem, o marido, um nordestino típico, não era nenhum galã. Curioso, mas no caso do Arthur Aguiar, ele supostamente forçou a barra para que a esposa tivesse um filho e, mais tarde, queria deixar tudo para trás para cuidar da carreira, mudar de estado, inclusive, Mayra Cardi que segurasse o rojão, porque maternidade e maternagem não é brincadeira, nem conto de fadas, para quem não sabe. Agora, se Luísa Sonza dissesse que queria filhos imediatamente, a chamariam de golpista.
Eu conhecia o Whindersson Nunes, porque, afinal, houve um tempo em que o único Youtuber brasileiro quase tão famoso quanto o Felipe Neto era ele, um rapaz pobre, nordestino e que despontou fazendo comédia. Não tinha como não saber, em linhas gerais, que era ele. Mas a Sonza era também influenciadora e tinha seu público, não foi um golpe do baú, mas vejam que comparar qualquer influenciador famoso com Whindersson Nunes e Felipe Neto é meio que tentar emparelhar um mangá modinha com One Piece. Um encadernado de One Piece vende na semana de lançamento pelo menos 3 milhões de volumes, se o seu mangá vende 300 mil, você já é um sucesso. Ser sucesso é diferente de ser um fenômeno, por assim dizer.
O fato de eu não conhecer a Luísa Sonza antes do Whindersson Nunes não é um problema dela, ou indicativo de qualquer coisa. Eu não conhecia o marido da Giselle Bündchen antes dele ser apresentado como marido dela, ainda que ele seja um dos mais bem-sucedidos jogadores de futebol americano da atualidade. Eu não acompanho futebol americano. A ignorância é minha. Eu também não conhecia a funkeira Perlla, sobre quem postei dia desses no meu Facebook, porque, bem, ela só entrou no meu radar depois de transformar sua conversão religiosa em ganha pão e ficar vomitando discursos “conservadores” por aí, até desistir e retornar para o funk novamente e, agora, estar sendo acusada até de crimes mesmo (aliciamento para a prostituição).
Voltando, o tal texto não foi escrito por mulher e é obra masculinista. Agora, a Luísa Sonza ter traído, ou não, é lá coisa com o marido dela, ou deveria ser. O problema é que eles são celebridades e, aqui, está operando uma forma bem perversa de machismo, o maior atacado é o Whindersson Nunes. Ele assumiu posturas progressistas, inclusive ofereceu acompanhamento psicológico para a menina de dez anos do caso horroroso lá do Espírito Santo. Bem antes disso, ele mesmo tinha se exposto publicamente ao revelar que sofre de depressão, discutir a questão e, inclusive, parar seu trabalho para se tratar. Homem que é homem, não chora, não revela que sofre, não pede ajuda, não usa máscara para se proteger e proteger outros do Coronavírus. Ele é visto como fraco e esquerdista, emasculado, enfim.
A Luísa Sonza sofre ataques machistas, sem dúvida, e isso nada tem a ver com aprovar, ou não, as atitudes da moça, ou gostar dela, mas o objetivo maior desse zum-zum-zum todo, segundo a minha análise do caso, é atacar a masculinidade e a imagem pública do ex-marido. Os fãs dele podem não estar percebendo, podem estar super chateados com a situação toda, mas mesmo antes da revelação, que nem foi do adultério, porque eles já estavam separados faz tempo, de que a ex estava com outro homem/namorado, um amigo comum do ex-casal, ele vem sendo xingado pelos minions no Twitter e a ofensa principal é “ser corno”. E cabe até lembrar que, normalmente, quando o traidor, ou suposto traidor, é o homem casado, a culpada ainda assim é da mulher, a amante, a destruidora de lares. Por isso mesmo, esse caso é sui generis e não é um caso típico de machismo.
Para quem não entendeu, eu não quero saber dos meandros da relação entre os dois, ou três envolvidos. Quem traiu quem, se houve, ou não houve, traição, é questão íntima deles, ou deveria ser. isso não é assunto deste post. O que me importa são os discursos, o que circula e como circula na mídia. Discursos que reforçam representações sobre masculino e feminino, discursos que são instrumentalizados da pior forma possível e replicados por gente inocente, ou nem tanto.
Resumindo, e já ficou enorme isso, além da gente ter mais coisa para fazer do que discutir se a Sonza traiu o marido, ou não, o caso está sendo usado para atacar um sujeito que não conseguiu performar nem a masculinidade tóxica, nem assumiu publicamente as posturas políticas ao gosto dos (pseudo) conservadores atuais. O machismo não atua somente contra as mulheres, ele atua contra os homens, também. Basta pegar as notícias diárias e ver que as mulheres não tem o privilégio da traição e que a mera suspeita pode significar a morte, ainda hoje.
3 pessoas comentaram:
Adorei o texto e a perspectiva do machismo contra os homens também. Realmente eu tinha pensado por este prisma. É importante as identificações dos comportamentos levantados aqui, pois de fato, as celebridades têm um alcance muito grande e interferem sim, na opinião de pessoas que seguem essas celebridades. Parabéns pelo texto!
Engraçado é q muitos homens q estão supostamente solidários com o whinderson e xingando a moça, certamente ficariam com as namoradas dos amigos se tiverem a oportunidade. No senso comum: mulheres não podem ser amigas pq uma vai roubar o homem da outra. Homem> "mulher de amigo meu é homem" Aham, na prática ...
Valéria. Eu sou fã do Whindersson, não só por ser do meu estado mas com o talento para tornar hiláriosos causos que também era bem comuns na minha infância.
Na separação, só achei lamentável a Luiza ter lançado o clipe com o rapaz que gerou a polêmica logo após o anúncio.
Também percebi que Whindersson estava sendo atacado por uns bolsonaristas principalmente porque ele se posicionou firmemente contra algumas falas e ações do Executivo algum tempo antes.
Ele ignorou falar desse assunto naquela época. Geralmente mudava e defendeu a Luiza. Agora, com a explosão das fofocas, ele ligou o botão F e tá zuando as piadas ou quem quer ganhar like às custas dessa história.
Entendo a postura dos dois, tenho minha opinião, mas posso guardar só pra mim e viver minha vida de boas.
Postar um comentário