Fazia tempo que não escrevia sobre questões referentes à maternidade e maternagem, mas um amigo professor, bom frisar isso, repassou uma matéria da revista Pais & Filhos no Facebook com o seguinte título "Escritora critica mães que reclamam das aulas online e rebate: “Escolas não são babás”". Como não há nada mais delicioso do que publicizar as críticas de uma mulher à outras mulheres, toca passar adiante, afinal, é consenso que "escolas não são babás". E babás são profissionais, tem treinamento, merecem respeito e serem valorizadas. Na Inglaterra da autora, existe uma conceituadíssima escola de babás, a Norland College, fundada em 1892 e que confere diplomas de nível superior, ou seja, mãe é mãe, babá é babá, não é mesmo? Mas vamos a um trecho da fala de Samantha Brick:
“Não suporto as mães reclamando sobre como é difícil supervisionar a educação de seus filhos em casa, ou sonhando com maneiras de obter o status de trabalhador importante para que os filhos possam permanecer na escola. É alucinante quando você pensa em quantas mulheres – inclusive eu – teriam dado seu braço direito para se tornarem mães”, explica ela, se referindo a situação na Europa.
Essa mulher é uma cretina, que projeta seu ódio por não poder ter filhos BIOLÓGICOS nas outras mulheres. Sim, se você pegar o artigo e eu li o original em inglês, também, ela fala da sua dificuldade em engravidar, não comenta a possibilidade de adotar e acrescenta que desistiu de ser mãe. Ela não é child-free por vontade, mas o é por escolha parcial, afinal, adoção é uma opção quando você quer ter uma criança. Enfim, ela não daria um braço para ser mãe, ela daria um braço para gestar e parir, é diferente.
Outra coisa, procurando encontrei dados biográficos de Samantha Brick, inclusive um artigo do Daily Mail intitulada "Samantha Brick tells how she turned from failed businesswoman to French housewife" (Samantha Brick conta como ela deixou de ser uma empresária fracassada e se tornou uma dona de casa francesa). Segundo a matéria, ela largou sua carreira anterior como jornalista e produtora de TV, casou, foi para o interior da França e virou escritora, afinal, ela agora pode dar conselhos para outras mulheres.
Pelas fotos e pelos dados que tenho, ela parece ter uma vida bem confortável junto com o marido, então, a realidade dela não deve ser a das mães que em home-office, ou tendo que sair de casa todos os dias para trabalhar, precisam contar o dinheiro no fim do mês para pagar aluguel, comida, e tudo mais que uma família com filhos precisa. E, o que é importante, às vezes sem dividir as despesas com ninguém. E como as mães se desdobraram no ano que passou, acredito que a maioria de nós nunca trabalhou tanto.
A maioria das mães, porque parece que para esta senhora somente as mães têm que cuidar da educação de suas crianças, são criaturas egoístas focadas em suas carreiras se reclamam da carga pesada demais, mas elas não são professoras. E mesmo quando professoras, meu caso, não o são para qualquer nível escolar e/ou disciplina, como qualquer pessoa minimamente informada deveria saber. Eu penei um tanto em 2020 e devo continuar penando com os estudos de Júlia durante o ano de 2021. Não sou professora alfabetizadora, não sou professora das primeiras séries do Ensino Fundamental e tenho profundo respeito pelas colegas, a maioria são mulheres, que o são.
Quando a mulher do artigo fala de escola, ela só o faz para lamentar que as crianças não irão ter interação social. E, sim, escola serve para isso, também, eu defendo que é muito importante e que as escolas fechadas podem, sim, causar dano ao desenvolvimento global de crianças e adolescentes, mas o ambiente escolar é muito mais do que isso. E não é somente uma questão de estrutura física, algo que ela pontua, também, há os profissionais da educação e seu trabalho. Só que pessoas assim devem olhar para professores e demais trabalhadores da educação com muito desprezo, porque, bem, as mães podem fazer o trabalho de todos nós e sem reclamar, ou estão sendo egoístas.
A Pais & Filhos deveria ter dado destaque à matéria completa, pois havia uma outra escritora, mãe de dois filhos, com opinião divergente e acredito que as pessoas deveriam ter um tiquinho mais críticas ao repassarem esse tipo de coisa, porque é machista, classista (*porque parte do pressuposto de que mães casadas ou solo não precisam trabalhar para sustentar suas famílias, que todos tem computador, vários, às vezes, internet de qualidade etc.*) e só ajuda a desqualificar ainda mais os professores, afinal, por qual motivo mandar as crianças para escola, não é mesmo? Mas se você acha que mães são esses seres mágicos, que dinheiro se materializa na sua sala, que professor nem deveria existir e que pode atirar seu recalque nas mulheres, você é que é uma pessoa muito egoísta.
P.S.: Eu não estou defendendo retorno às aulas presenciais, ainda que eu acredite que estratégias precisam ser criadas para isso. Eu passei 2020 trabalhando presencialmente e desde setembro com alunos e alunas em sala. Dia 25, está previsto o nosso retorno com TODOS os alunos, já a vacinação, bem, ontem o governo de Brasília comunicou que professores não são grupo prioritário de vacinação. Eu estou entre a cruz e a caldeirinha. O pai e eu decidimos que Júlia não volta às aulas agora, meu marido acredita que sem vacina é melhor não arriscar.
1 pessoas comentaram:
Faço um curso Tecnólogo com aulas remotas e vejo a dificuldade de professores, homens e mulheres, que mesmo estando em casa possuem crianças. Se não há alguém para cuidar delas, acabam aparecendo no meio das aulas, fazendo barulho. Entendi que criança deve ser criança mas os profissionais que estão nessa situação ficam desesperados. Imagina você além de cuidar ter que educar formalmente, e sem capacitação pra isso. Vejo muito esforço para se adequar à está situação, não é egoísmo.
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