terça-feira, 29 de março de 2022

Depois de Maus, agora é a vez de Persepolis ser banido de currículo de escola nos EUA

Em janeiro, virou notícia o fato de escolas de um distrito do Tennessee banirem Maus dos currículos, agora, é a vez de Persepolis, autobiografia de Marjane Satrapi, que tinha dez anos quando da Revolução Islâmica do Irã, em 1979.  Alguns pais do Distrito Escolar de Franklin, Pensilvânia, ou seja, não é nenhum rincão do Bible Belt, reclamaram da linguagem (palavrões, provavelmente) e da violência presentes na obra, que era recomendada para as turmas de 9º Ano, isto é, adolescentes de 14, 15 anos, na média.  Uma das mães acusou Persepolis de “Empurrar um idealismo liberal que não pertence à nossa escola.”  

Ou seja, uma série que faz usa o humor, inclusive, para fazer crítica limitações impostas às mulheres pelo regime de Teerã, que fala das hipocrisias, das formas de burlar o sistema, de choque entre culturas (em dado momento Marjane vai estudar na Europa), do absurdo da guerra etc. é um problema para esses pais. O fato é que o material pode não estar nas recomendações didáticas no ano que vem.  Nem sei o que dizer, mas Persepolis é uma obra que todos deveriam ler e, não, ser escondida dos adolescentes, que poderiam refletir sobre muitas coisas com a leitura da obra.  E não pensem que coisas assim não acontecem no Brasil, porque havia pais que queriam banir a versão em quadrinhos do Diário de Anne Frank da escola (*e quase conseguiram isso*), inclusive a minha, porque em dado momento uma menina de 13 anos fala alguma coisa relacionada à sexualidade.  Uma menina de 13 anos que viveu nos anos 1930 e 1940, uma menina morta em um campo de concentração.  Percebem o buraco em que estamos?

4 pessoas comentaram:

Curioso o quanto certos "cidadãos de bem" dos EUA se assemelham demais aos teocratas.
Sobre Persepólis, li um relato afirmando que a família de Satrapi apoiou a queda de Reza Pahlavi 2º, pois o pai do Xá, Reza 1º , tinha deposto o sultão Kajah (ancestral de Satrapi) do trono em 1926. Aliás, Reza 2º tava no crepúsculo da vida... com câncer.

Se os Kajar tivessem no poder hoje... talvez Satrapi fosse rainha. Me pergunto.. será que ela
seria 1 líder ética?! Quer conhecer o homem/ a mulher?! Dê poder a ele(a)!

A família da Satrapi era rica e poderosa, mas era, pelo menos na época da Revolução, progressista com alguns de seus membros ligados ao partido comunista. Uma das subtramas importantes do primeiro volume é exatamente a do tio da Satrapi que volta para o Irã com a queda do xá e acredita que o partido comunista vai tomar a chefia do movimento. Ele termina executado. Aliás, a Satrapi não fala do papel ridículo feito pelo partido comunista, que apoiou os religiosos contra os liberais acreditando que iria levar a melhor no final, deu no que deu.

Pode ser, mas essa família considerada progressista manteria esse caráter caso subisse ao poder?! Esse é meu receio. Realmente o PCI pisou na bola ao apoiar os teocratas. Certamente o PCI deve ter sido criticado pelo Kremlin na época.

Não faz sentido perguntar esse tipo de coisa, não para uma historiadora.

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