domingo, 9 de abril de 2023

Comentando Super Mario Bros. O Filme (Japão/EUA/2023): um espetáculo colorido e bem mais divertido do que eu poderia imaginar

Ontem, assisti Super Mario Bros. O Filme (The Super Mario Bros. Movie), o título é esse aí mesmo.  Estava com Júlia, motivo principal para ter ido ver este filme e gostei, achei divertido mesmo, consegui rir, e fiquei observando a reação do público alvo principal AS CRIANÇAS, e elas pareciam estar gostando, a minha, aliás, adorou.  Então, eu começo marcando bem esse ponto, o objetivo de um filme de Super Mario é atrair o público infantil e, para ficar no lucro, os adultos que gostam dos games da personagem.  

Fique claro, então, que a proposta desde os trailers não era criar um produto complexo, em camadas, nada disso, mas oferecer um filme colorido, com uma história minimamente interessante, que fosse uma propaganda em longa metragem dos games da Nintendo, suas músicas, personagens icônicas e por aí vai.  E é só isso mesmo.  Não espere nada além disso e se divirta, porque é divertido mesmo.  A graça maior, pelo menos para mim, foi compreender que Bowser, o vilão, é somente um romântico incompreendido.  Mas vamos para o resumo do filme:

Mario é um encanador, que trabalha com seu irmão Luigi, no bairro de Brooklyn. O negócio dos dois não vai bem e, um dia, eles acabam entrando em um encanamento mágico que é uma passagem para um outro universo (?) com vários mundos, todos eles ameaçados por Bowser, o rei dos Koopas.  Mario cai no mundo dos cogumelos, governado pela única humana local, a princesa Peach.  Já Luigi acaba caindo no reino dos Koopas e é capturado.  

Para salvar seu irmão e conseguir ajudar Peach a impedir que Bowser conquiste o seu mundo, Mario terá que aprender como viver nesse novo reino perigoso, passando por vários biomas, aprender a dirigir carros, utilizar itens que o fazem soltar bolas de fogo das mãos, virar um animal e andar em plataformas nada confiáveis.  Em sua jornada, ele enfrentará vários perigos e acabará conquistando novos aliados, como Donkey Kong e seu povo.


Mario, a personagem, foi criada em 1981 como personagem do jogo Donkey Kong.  O macacão que inspirou o Ralph de Detona Ralph está no filme e esses primeiros games são referenciados no filme.  A partir de 1985, Mario ganhou seus próprios jogos e eles já são mais de 20 até os nossos dias.  Um sucesso indiscutível, mas que não tinha conseguido se sair bem nos cinemas.  Parece que este novo filme irá quebrar essa tradição ruim.  

Super Mario Bros. é um desenho animado da Illumination (Meu Malvado Favorito, A Vida Secreta dos Bichos, Sing etc.) e o character design e os gráficos lembram essas obras anteriores, especialmente, quando se está no mundo real e vemos os humanos.  Basta pegar o cachorro que encrenca com Luigi e Mario.  Mas o importante é que os gráficos são bonitos e os vários mundos dos jogos mais antigos da personagem aparecem de forma bem marcada e deve valer para os jogos novos que eu não conheço.  Não jogo nenhum game de Mario faz muito tempo, mas algo divertido foi reconhecer a trilha sonora dos jogos de plataforma em vários momentos do filme.


Falando da história, ela tem alguns pequenos problemas, o maior, eu iria, é não explicarem as passagens entre o nosso universo e o do jogo, especialmente, no final.  Qualquer um pode atravessar?  Mario e Luigi ganharam algum poder especial que lhes permite ir de um mundo para o outro?  Acredito que isso precisaria ser elucidado.  Senti falta de Yoshi, porque ele só aparece no fundo, junto com outros de sua espécie, quando Mario, a princesa e Toad (o cogumelo) passam por seu mundo.

Uma das coisas legais do filme é que ele conseguiu colocar em tela a ideia do jogo de plataforma.  Logo no início do filme, Luigi e Mario estão correndo para chegar a um serviço, porque seu carro quebrou, e o protagonista consegue ultrapassar os obstáculos da cidade como irá precisar fazer no mundo do jogo.  Está tudo lá no mundo real (da animação).  Claro, ao chegar no mundo dos Cogumelos, Mario precisará se aprimorar, mas ele já tem as competências necessárias.  Já Luigi, é pintado como um fraco e pouco competente fisicamente, sozinho, ele não conseguiria sobreviver.  

Agora, o que eu realmente achei muito divertido foi colocarem Bowser como o último romântico, no fim das contas, ficamos sabendo que ele só queria capturar Peach, porque estava apaixonado por ela.  Se ela aceitasse se casar com ele, certamente, ela poderia transformá-lo em um bom sujeito, mas como ela recusou... Estou brincando, claro, mas o fato é que eliminaram os filhos e filhas de Bowser e o colocaram apaixonadíssimo pela princesa.  Pelo que vi, essa ideia não é nova, aparece, ou é sugerida em mais de um game da franquia, porém a paixonite desenfreada acabou rendendo ótimas cenas que eu imagino que foram ainda mais engraçadas com a dublagem original de Jack Black.  Uma das cenas pós-crédito é com Bowser cantando e tocando piano, porque ele canta (mal) em vários momentos.

Outra personagem divertidíssima do filme é Lumalee, a gotinha luminosa que vê o mundo de forma muito pessimista, ou é fatalista, não sei.  Ela aparece na última cena antes dos créditos e está entre os prisioneiros de Bowser.  Ela faz comentários que só servem para aprofundar o desespero dos coleguinhas que acreditam que serão mortos em breve, como Luigi, o rei pinguim e seus súditos, depois os macacos etc.  Achei bem ousado colocarem uma personagem que deseja a morte, que celebra a morte, em um filme infantil.  Lumalee e Bowser me ofereceram as cenas mais divertidas do filme.

Vamos falar de Peach?  Tenho que falar, porque é um blog feminista.  Há pequenos papéis femininos quando estamos em Nova York, gente que contrata Mario e Luigi, a mãe dos dois, mas nenhuma delas recebe qualquer aprofundamento.  O filme não cumpre a Bechdel Rule de forma alguma.  As personagens realmente importantes, salvo Peach, são masculinas (Mario, Luigi, Toad, Bowser, Donkey Kong, Cranky Kong, Kamek, Lumalee etc.), assim como nos games.  Caímos no Princípio de Smurfette, não há como negar isso, mesmo que ela não esteja no filme para ser somente a mulher em cena.  Ela é mais que isso.

Durante muito tempo, houve sérias críticas ao game por só ter uma personagem feminina e ela ser passiva, além de ser NPC (non-player character/personagens que o jogador não controla).  Nos jogos mais antigos, Peach era capturada por Donkey Kong, depois Bowser, e Mario (no início, só podíamos jogar com ele) teria que salvá-la.  Com a evolução dos games, Peach passou a ser uma personagem  jogável e mais ativa.  Isso é uma resposta às críticas feitas pelas feministas (especialmente, Anita Sarkeesian), mas, também, uma forma de lucrar em cima dessa carência de personagens femininas ativas.  Representatividade pode ser explorada pelo capitalismo e é.  A gente avança um pouquinho em termos de representações femininas, mas a Nintendo monetiza em cima disso, também.

A Peach do filme não é a donzela em perigo, este papel é de Luigi (e isso irritou alguns machistinhas da internet).  A princesa é ativa, ela expressa suas ideias com decisão, ela enfrenta Bowser, luta com ele e se salva sozinha (a suprema ofensa na concepção de muitos machistas). Só que, em alguns momentos, essa versão badass/durona de Peach me pareceu forçada, mas um forçado na média das personagens femininas fortes que estão na moda.  Peach poderia ser forte, sem precisar ser guerreira, mas dentro desse modelo (dito) empoderador, ela precisa ser.  Ela tem que falar gírias, ser agressiva (aos moldes mais comuns às personagens masculinas).  Eu queria ver personagens femininas fortes que não precisassem se encaixar nesse molde pré-fabricado, porque ele é quase tão opressor quanto o da donzela em perigo. 

Por outro lado, o filme mantém a paleta de cores tradicional de Peach, o rosa, a coloca boa parte do tempo com a sua roupa convencional de princesa.  Quando há uma alteração, quando ela usa calças compridas, temos o rosa e branco; quando ela aparece com outros vestidos, porque ela adquiriu algum poder, eles têm outra cor (e são mais bonitos que o cor de rosa).  Vi certa sensualidade bem tênue na personagem, acentuados por alguns ângulos de câmera, o que é mais um clichê. 

Peach é princesa dos cogumelos por ser humana e loura, sendo que lourice é um signo de beleza na cultura ocidental faz muito tempo e contaminou os produtos midiáticos japoneses.  Há um flashback da chegada de Peach no mundo dos Cogumelos e ela se tornou a princesa simplesmente por isso, ela é bonita e o é por ser loura.  Além disso, Peach é objeto do desejo tanto de Mario (de forma discreta), quanto de Bowser (de forma escancarada).  Isso pode ter escapado às crianças, é uma das poucas camadas do filme, eu diria.

Estabelecido tudo isso, não me peçam para dizer que Peach é uma personagem feminista, ou que o filme é feminista.  Super Mario Bros. simplesmente utiliza uma representação do feminino aparentemente mais progressista, sem romper com a estrutura do princípio de Smurfette.  Só que eu escrevi lá em cima, que se trata de um filme infantil bem satisfatório e que NADA do que eu comentei sobre Peach invalida o fato da película ser legal, a gente só não pode perder de vista que mesmo um material tão simples oferece material para análise e outros estudiosos da mídia devem ter percebido outros aspectos que me escaparam, ou que não estão no meu radar de análise.

É isso.  Gostei do filme. E se você é adulto e achou ruim, queria algo mais profundo, peço que converse com uma criança, porque é o público algo do filme e se elas gostaram, Super Mario Bros. atingiu seu objetivo. Há esses probleminhas de roteiro, a ausência de Yoshi, e coisinhas que poderiam ser melhor desenvolvidas.  Temos duas cenas pós-créditos, uma com Bowser e a outra com o ovo do Yoshi e há quem considere esta ceninha uma pista para um segundo filme.  Minha primeira ida ao cinema do ano foi para ver um filme infantil, deveres de mãe, mas ir ao cinema é sempre um prazer para mim. 

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