A jovem Midori Akitsu tem 27 anos e morre de tanto trabalhar. Isso, no Japão, virou um problema social grave e tem nome: karoshi. A alma da recém-falecida sai do seu corpo e encontra uma figura divina que parece aquelas representações genéricas de Jesus Cristo. A entidade avisa que ela vai reencarnar e Akitsu acorda criança no corpo da terceira filha de um duque e se chama Nefertima. Agora, ela é amada, mimada, tem tudo o que poderia desejar e ainda a habilidade de se comunicar com animais. Um paraíso, não é? Para a protagonista, sim, e imagino que a série tenha mais que uma menininha acariciando bichinhos fofinhos para compensar a vida infeliz que teve na Terra, pois, ao que parece, ela precisa salvar o mundo de fantasia no qual passou a residir. Isekai (異世界) quer dizer "outro mundo", "mundo diferente", e é um dos gêneros favoritos dos japoneses. Trailer abaixo:
Vocês que frequentam o meu site sabem que eu considero esse tipo de história, o isekai reencarnacionista, muito perturbador, fiz até um Shoujocast sobre isso. Agora, ao que parece, Fluffy Paradise, em japonês Isekai de Mofumofu Nadenade Suru Tame ni Ganbattemasu。(異世界でもふもふなでなでするためにがんばってます。), assume isso integralmente. A vida da protagonista no mundo corporativo japonês, que é uma cria do capitalismo, era miserável e, agora, ela tem tudo e muito mais do que poderia desejar. E ainda é criança, e uma que não é maltratada, e não precisa se preocupar com nada, fora isso, tem um monte de gente para cuidar dela. Escapismo pesado na veia e com character design fofo.
Fluffy Paradise começou como livro em um site japonês super importante (Shōsetsuka ni Narō) nos quais as pessoas publicam suas histórias. Isso lá no longínquo ano de 2012. Fez sucesso, ou veio ao encontro dessa demanda por isekai reencarnacionista, e a autora, Himawari, teve a chance de publicar sua história em formato light novel com ilustrações de Kiouran. O ano era 2016 e já temos 15 livros e contando. A série saiu por um selo para o público feminino, porém, quando o mangá foi lançado, ele estreou em uma plataforma na Web que é seinen, a Gaugau Monster. A arte é de Yuriko Takagami, o ano era 2017 e já temos 11 volumes e contando. Na Wikipedia em inglês, mudaram a demografia de seinen para josei, mas até anteontem, estava como seinen. Muito bem, como anunciaram o anime e tem feito sucesso, recentemente estreou um novo mangá, esse indubitavelmente shoujo. Essa manobra é comum.
Como minha tolerância com isekai reencarnacionista é baixa e essa história parece forçar a mão para parecer bonitinha, evitei falar da série, mas ela estreia daqui a pouco, em 7 de janeiro. Enfim, eu queria menos isekai reencarnacionista e mais histórias que questionassem a estrutura corporativa japonesa, o modelo capitalista do país e defendessem uma mudança para melhor. Mas, ao que parece, teremos ainda muitas e muitas séries dos mais diferentes tipos defendendo que o bom é morrer e ir para um mundo melhor, todas elas protagonizadas por adolescentes no limiar da vida adulta ou jovens adultos em sofrimento.
Diferentemente dos primeiros isekai, não se trata de adolescentes pressionados pela rotina escolar que vão para um mundo de livro, game, fantasia, ou mesmo o passdo, ou o futuro, e voltam (*pelo menos na maioria dos casos*), porque amam sua família e tem sonhos que podem e/ou precisam ser realizados no mundo real, essa nova leva de seriados, que nem é tão nova assim, tem bem uns dez anos, é a celebração do fracasso da sociedade japonesa, da desesperança mesmo. Acho bem angustiante.
É isso! Imagino que Fluffy Paradise, gostei do nome em inglês, então, estou usando, será um grande sucesso e será esquecido e substituído pelo isekai reencarnacionista da próxima temporada. Agora, há um consolo aqui, pelo menos, não se trata de isekai reencarnacionista de vilã, já é um alívio... Quer dizer, não é, não. Eu deveria criar uma tag isekai, porque sei que essa moda não vai passar tão cedo.
2 pessoas comentaram:
Eu penso MUITO dessa forma quando se trata de Isekai. Claro, sempre tem um ou ou outro que é realmente bom, mas não é essa a questão.
Excelente o seu ponto, Valéria. Não tinha parado pra pensar sobre esse caráter pessimista que permeia o isekai reencarnacionista.
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