Sábado, finalmente consegui comprar o primeiro volume do mangá Meu Casamento Feliz ou Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚), adaptado das novels de Akumi Agitogi com ilustrações de Tsukiho Tsukioka. Se você não descobriu o meu blog agora, sabe que eu fiz resenha dos três primeiros livros, porque meu amor pela série começou com os livros, e fiz programas no Youtube, o Shoujocast, comentando todos os episódios da animação, além do filme live action e outras coisas relacionadas à série. Eu amo Watashi no Shiawase na Kekkon, mas não tinha lido o mangá ainda. Motivos? O primeiro é específico, o mangá é publicado muito lentamente e eu desconfio que a série em quadrinhos vai parar antes do final da história. O outro é geral, eu tenho a ideia equivocada de que mangás derivados de livros geralmente não são bons, são derivados caça-níqueis. Muito bem, eu estava completamente errada, porque o mangá de Rito Kohsaka é muito bom e é uma releitura respeitosa e inovadora ao mesmo tempo. Fiquei muito surpresa e de forma bem positiva. Mas antes de começar, um resumo:
Miyo Saimori tem 19 anos e pertence a uma família importante e poderosa em um Japão de fantasia que corresponde à Era Taishō (1912-1926) do nosso mundo. Alguns membros dessas famílias são especiais, porque seus membros têm poderes capazes de afastar criaturas (grotesqueries) que podem interferir no mundo natural e causar problemas. Miyo nasceu de um casamento perfeitamente arranjado entre os Saimori e a misteriosa e temida família Usuba, só que sem os poderes, o que representa uma vergonha para seu pai. Após a morte da mãe da protagonista, seu pai se casa com sua antiga amante e, deste novo casamento, nasce Kaya e logo se percebe que a criança tem o dom da visão espiritual. A partir de então, Miyo passa a ser tratada pela madrasta e pela meia-irmã como se fosse uma criada, menos que isso, uma escravizada, sem que seu pai demonstre qualquer interesse por ela.
Crescida, Miyo não tem grandes esperanças de ser feliz, mas o seu único amigo de infância, Shouji Tatsuishi, sinaliza que gosta dela e o coração da moça se enche de alguma esperança quando ele vem visitar sua família e ela é chamada pelo pai que a ignora. Só que é somente para atirá-la em um poço de desespero, pois o patriarca lhe comunica que o rapaz está de casamento marcado com sua meia-irmã e que ela terá que ir para a casa de seu futuro noivo, Kiyoka Kudou, um sujeito de família muito mais poderosa que a dela, mas que já espantou várias noivas. Elas normalmente não conseguem ficar mais do que três dias em sua casa. Só que Miyo não tem para onde voltar, logo, ela precisa transformar seu casamento em um matrimônio feliz.
O primeiro volume do mangá de Watashi no Shiawase na Kekkon corresponde a mais ou menos 1/3 do primeiro livro (*resenha*), ele foi publicado em 2022. Até o momento, são nove livros da série e o mangá está no volume 5 e mal terminou o livro 2, entre o volume 4 e o 5 foram uns dois anos. Por isso mesmo, ainda que o mangá seja muito bom e tenha me emocionado tanto quanto ler os livros ou assistir à primeira temporada do anime (*a segunda tem problemas, mesmo sendo boa*), não acredito que irá ser concluído. Eu traria os livros. A Panini colocou em assinatura os quatro primeiros volumes, mas o que eu li tive que comprar na Livraria Leitura, porque, apesar de ter comprado no dia 18 do mês passado, nem foi para os Correios ainda. Bem, de qualquer forma, eu já tinha quase perdido a esperança de que a editora iria lançar mesmo, porque foram vários adiamentos desde novembro do ano passado.
Falando da leitura do volume em si, foi como me apaixonar novamente pela série. Destaco o quanto Rito Kohsaka consegue trabalhar com o material original mantendo a sua essência e, ao mesmo tempo, inovando. Ela coloca o ponto de vista de Miyo e Kiyoka de forma mais efetiva. Os pensamentos dos dois se entrelaçam com os acontecimentos externos, deixando os sentimentos dos dois muito mais claros do que na versão animada, que precisa enfatizar o mostrar. E não se trata de dizer, pelo menos no que tange ao início da história, que uma versão é melhor do que a outra, mas que as abordagens foram diferentes, assim como no caso do live action.
No mangá, Kiyoka parece muito mais constrangido, porque vemos os seus pensamentos, pela presença de Miyo e por não saber como lidar com ela e seus sentimentos. E, já nesse início do mangá, Kiyoka está apaixonado pela noiva. Kohsaka deixa em evidência a misoginia do rapaz, essa repulsa pelo convívio com as mulheres, que é fruto dos traumas que têm em relação à própria mãe. Já Miyo se compara com muita frequência à irmã, Kaya, estabelecendo de forma muito evidente o tropo da noiva substituta, algo que não está no original. No livro, em nenhum momento somos levados a imaginar que Miyo cederia seu lugar para Kaya, ou sequer imaginasse esse caminho como o melhor para Kiyoka e para todo mundo, já no mangá, ela faria isso.
Algo que eu gosto muito do mangá, e comentei isso em vários vídeos, é que Rito Kohasaka coloca a temporalidade de forma muito precisa. Estamos na década de 1920, Era Taishō, portanto, e a autora se preocupa com o FIGURINO. Aqui, sim, o mangá supera e MUITO o anime, que é de uma preguiça e lugar comum absurdos em relação às roupas femininas ocidentais. O mangá é um esmero só nesse sentido. Imagino quando Hazuki, irmã de Kiyoka entrar em cena, ou a mãe do rapaz. Vai ser muito legal de se ver. 🤗
Um ponto curioso desse primeiro volume é que Kohsaka não explicou a situação da mãe de Kaya, Kanoko, ainda não se disse que ela era a amante que teve que ser deixada para trás, para que o pai de Miyo se casasse com sua mãe em uma aliança arranjada pelo imperador. Ele é o vilão do primeiro e do segundo livro, vamos ver se o mangá vai aliviar a barra dele como o anime aliviou. Kaya e Kanoko são horríveis e suas maldades ficam bem evidentes, assim como a vaidade das duas. E temos Kouji, também. Eu sinto pena dele, mas é só. Ele não tem a capacidade de se posicionar diante do pai, ou do sogro, ou de quem quer que seja e acaba perdendo qualquer chance com Miyo e se tornando o noivo-pet de Kaya.
Na leitura de Rito Kohsaka, o pai de Miyo, Shinichi Saimori, é muito mais ativo em rejeitar a filha, em humilhá-la, do que no livro. Acredito que o líder do clã Saimori do filme live action se inspirou mais no mangá do que no original. Há a conversa entre ele e o pai de Kouji, Minoru Tatsuishi, em relação ao desejo do vizinho de casar Miyo com seu filho mais velho, Tatsuishi, porque se a moça não tem o dom, um filho ou filha que ela tivesse, poderia ter. Aqui, tenho que potuar que Rito Kohsaka não desenha homens mais velhos tão bem assim, me lembrou um pouco Michiyo Akaishi (Alpen Rose), que tem um traço bonito para gente jovem, mas não consegue desenhar gente mais velha. Agora, Rito Kohsaka desenha bem velhinhas, Yurie, a empregada/governanta/ama de Kiyoka/maior aliada de Miyo, não deixa nada a desejar.
Como li o livro em inglês e assisti ao anime com legendas nesse idioma, também não sei como foram traduzidos certos termos. Em meus vídeos e textos, eu traduzo do jeito que me convém, então, não se trata de crítica às opções da Panini. Eles preferiram "habilidades" a "dons", como eu costumo fazer. A edição nacional usa o termo "sobrenaturais" para aqueles que têm poderes. Isso não é um grande problema para mim. Agora, como usam "san", "sama" e "dono", caberia uma nota. Optaram por traduzir "ojou-sama" (お嬢様) por "senhorita", é legítimo, mas eu deixaria, é bonitinho, e colocaria nota, mas achei curioso traduzirem "katagata" (方々), que pode significar "pessoas", como "senhoritas", também. Poderiam usar "moças", porque estão usando para se referir às candidatas a noiva de Kiyoka. Da mesma forma que "danna-sama" (旦那様) é muito melhor que senhor, que é a opção na boca de Miyo. E eu fui ao mangá raw para ter certeza do que estava no original. De qualquer forma, a Panini é, na minha opinião, quem melhor lida com esses honoríficos e detalhes da língua japonesa que ajudam a enriquecer a leitura e compreender melhor como as personagens se relacionam.
Acredito que os pontos altos desse primeiro volume são a sequência na qual Miyo chora e desconcerta Kiyoka ao ser elogiada e o passeio pela cidade. A releitura ficou muito boa. A parte em que ela recebe o pente de Kiyoka ficou melhor no anime, faltou Yurie dizendo que um pente é um presente de noivado. Como o texto está longo, não vou pontuar mais nada. Estou esperando para ver como vai ficar o primeiro confronto de Kiyoka com o pai de Miyo, porque a visita do genro já deve ser no próximo volume, eu imagino.
Falando em pente, no final do volume, Rito Kohsaka cria um material inédito, um conto para explicar a origem do pente quebrado de Miyo. Olha, eu não esperava e ficou tão legal, tão melancólico e gentil. Eu sabia que Kohsaka gostava de escrever contos, porque ela escreve vários mini-contos no artbook da série. Eu comprei a edição norte-americana. Combinou muito, muito bem com o ritmo desse primeiro volume. Estou ávida para ler a segunda parte e ir saboreando aos poucos o material. Ah, sim! No mangá, Miyo parece esquálida e com o cabelo mal cuidado como é escrito no livro, talvez, não tanto, mas quero ver como a autora irá marcar a mudança.
É isso, Watashi no Shiawase na Kekkon é uma história sensível e que consegue traduzir muito bem a condição de uma pessoa que sofreu abusos sua vida inteira, seu trauma, seus sentimentos de inferioridade. A série não é somente uma história de cinderela ou um romance, eu defendo, e o fiz na minha resenha do livro e nos vídeos, também, que é essa a característica que tornou a série um sucesso no Japão. Quem já sofreu abuso se reconhece em Miyo, quem não sofreu, se compadece dela, é uma personagem pela qual podemos ter empatia, desde que a pessoa não faça parte da seita cristã de extrema-direita que considera empatia um pecado ou um veneno. É isso, se tiver a chance, não deixe de ler o mangá. Deixo o link do Amazon, mas não sei se aconselho a usá-lo, porque comprei por lá e não tem nem perspectiva de entrega. Também não recomendo assinar com a editora, porque é dor de cabeça certa. Se houver uma Livraria Leitura perto da sua casa, recomendo comprar por lá, ou encomendar com eles.






















































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