Ontem, o The Mainichi em inglês postou um artigo sobre novos documentos que provam que o governo japonês montou uma rede de bordéis para atender as tropas norte-americanas. Em setembro, fiz um post sobre o mesmo assunto, só que na Coreia do Sul ("Mulheres do Conforto" sul-coreanas abrem processo judicial contra o exército americano pela primeira vez). Neste post sobre a Coreia, coloquei todos os links para tudo o que eu já escrevi sobre as chamadas "mulheres do conforto". Quem eram elas? Meninas e mulheres recrutadas normalmente à força ou mediante fraude para servirem como escravas sexuais para as tropas japonesas. O mediante fraude se aplica ao artigo do Mainichi, se aplica à Coreia, porque as mulheres eram atraídas para algum emprego, inclusive o da prostituição "normal", por assim dizer, e eram submetidas a trabalho compulsório, sofriam abuso físico e sexual, eram transferidas para outras áreas sob domínio nipônico sem que pudessem consentir ou recusar. A estrutura que existia durante a 2ª Guerra, e na Ásia ela começa em 1937, foi parcialmente mantida depois do fim do conflito para atender as tropas norte-americanas.
O artigo do The Mainichi é bem superficial, mas acho que para a imprensa japonesa é um avanço enorme. No artigo, há a fala de uma historiadora coreana e eu imagino, não tenho a informação, que mulheres coreanas que continuaram no Japão foram também recrutadas para esses bordeis japoneses. A maioria, porém, eram moças desesperadas, famintas, algumas víúvas, com irmãos menores, filhos, pais idosos, acreditando que seriam garçonetes, arrumadeiras, lavadeiras etc., mas que terminaram descobrindo que seus serviços seriam outros e não podiam desistir, porque não tinham recursos ou para onde voltar. Simples assim. Fora, claro, e isso o artigo não explora, as que foram "vendidas" por suas próprias famílias, porque a prática existia no Japão, na Coreia do Sul, na China etc. Por isso mesmo, eu sempre gosto de ressaltar que há muita gente que não quer falar do assunto, inclusive nos países que foram vítimas dos japoneses, porque se remexer direitinho, a coisa vai feder e muito. Falando nisso, uma estátua em memória das mulheres do conforto que estava em Berlim (Alemanha) foi retirada por pressão japonesa. O vídeo está depois do artigo traduzido. E vai sair um mangá sobre duas moças prostituídas que acabaram se casando com norte-americanos, eu falei sobre ele: Senjou no Hito: Mangá sensível sobre duas noivas de guerra será lançado nos EUA. Acho que vai virar filme e acabar saindo por aqui.
Documento revela como mulheres japonesas foram enganadas e levadas à prostituição no pós-guerra.
NIIGATA (Kyodo) -- Bordéis estabelecidos na província de Niigata para as forças de ocupação aliadas imediatamente após a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial enganaram as mulheres recrutadas, ocultando a natureza do trabalho, segundo um documento oficial descoberto recentemente.
Especialistas afirmam que o registro demonstra a atitude subserviente do Japão, simbolizada pela disposição em oferecer mulheres locais para garantir a satisfação dos ocupantes.
O documento, compilado por uma delegacia de polícia na extinta cidade de Tsugawa, entre os anos fiscais de 1945 e 1946, está preservado no Arquivo da Província de Niigata.
Ele oferece um raro vislumbre do caos inicial do pós-guerra, quando as autoridades locais se esforçavam para atender às demandas das tropas de ocupação e às diretrizes do governo central japonês.
Em 18 de agosto de 1945 — apenas três dias após a rendição do Japão — o então Ministério do Interior emitiu um comunicado nacional convocando o estabelecimento de "postos de conforto" para atender às forças de ocupação aliadas.
De acordo com os registros históricos do Departamento de Políticas da Prefeitura de Niigata, 151 dessas instalações foram estabelecidas somente na Prefeitura de Niigata.
Um relatório baseado em instruções telefônicas do chefe de polícia da prefeitura para o chefe da delegacia de polícia de Tsugawa revela os esforços urgentes dos bordéis para recrutar mulheres de conforto.
O relatório também registra o pedido do governo central para que a polícia reprimisse anúncios de jornal provocativos destinados a atrair recrutas. Os oficiais foram instruídos a lidar com agentes que exagerassem o apelo do trabalho ou ocultassem a verdadeira natureza e localização dos empregos oferecidos.
"Os agentes tentavam atrair mulheres pobres prometendo roupas de boa qualidade, comida e moradia em várias regiões, incluindo Niigata", disse Hideaki Shibata, autor de "Violência Sexual na Era da Ocupação". "Na realidade, o trabalho nesses bordéis era praticamente obrigatório para mulheres que não tinham outros meios de sobrevivência."
Shibata acrescentou que era duvidoso que as ordens do governo para reprimir essas práticas de recrutamento fossem cumpridas de forma eficaz. "A polícia era responsável tanto pela emissão de alvarás de funcionamento para os bordéis quanto pela sua supervisão", observou ele, o que gerava um conflito de interesses inerente.
Um relatório enviado pelo governador de Niigata ao ministério detalhou a estrutura oficial de preços: 20 ienes por programa, 30 ienes por até uma hora e 200 ienes para pernoite. Para contextualizar, na época, o salário mensal de um funcionário público era de apenas algumas centenas de ienes.
Embora os postos de conforto fossem oficialmente concebidos para "manter a ordem moral e prevenir incidentes lamentáveis", o relatório do governador observou que vários acidentes e problemas estavam aumentando porque "as tropas de ocupação tendiam a se tornar indisciplinadas e arrogantes".
"Como as taxas eram claramente definidas para oficiais, é provável que soldados de baixa patente, sem condições de arcar com visitas frequentes, recorressem à violência sexual", disse Song Yon Ok, diretora do Centro Cultural Arirang, uma instituição cultural coreana no bairro de Shinjuku, em Tóquio.
Song, que estuda história de gênero, afirmou que o sistema refletia tanto o desespero quanto o oportunismo dentro da burocracia japonesa do pós-guerra.
O documento de Niigata também registra que oficiais das forças de ocupação frequentemente se mostravam "satisfeitos" após serem entretidos em restaurantes japoneses ou por gueixas.
"Dada a experiência adquirida durante a guerra na administração dos postos de conforto para os militares japoneses, os burocratas provavelmente acreditavam que poderiam apaziguar as forças de ocupação por meio de entretenimento sexual", explicou Song. "Isso reflete claramente a mentalidade dos burocratas japoneses." (Por Mahya Ishiguro)
















































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