sábado, 13 de setembro de 2025

"Mulheres do Conforto" Sul-coreanas abrem processo judicial contra o exército americano pela primeira vez

Durante a ocupação japonesa na Ásia, mulheres e meninas, algumas com 10 anos de idade, foram obrigadas a prestar serviços sexuais às tropas japonesas.  Poucas dessas mulheres se ofereciam para esse serviço, mas, ainda assim, dificilmente eram remuneradas.  A maioria era enganada, sequestrada ou vendida por familiares para os japoneses.  Sim, vendidas, não vou dourar a pílula, não.  A prática de tratar mulheres e crianças como propriedade não foi inventada pelos japoneses, ou pelo capitalismo, é coisa do patriarcado mesmo.  

Os japoneses chamavam as mulheres escravizadas de  ianfu (慰安婦), o que, traduzido para as línguas ocidentais, virou mulheres do conforto.  Coreanas, chinesas, filipinas, malaias, indonésias e mesmo ocidentais eram obrigadas a servir aos japoneses, às vezes sendo levadas para terras distantes.  Estima-se que até 200 mil mulheres possam ter sido submetidas a essa condição.  Já escrevi sobre isso várias vezes por aqui (*12 - 3 - 4 - 5 - 6 - 7 - 8*), pois as mulheres coreanas lutam faz tempo para terem pelo menos um pedido de desculpas, coisa que os sucessivos governos japoneses negam.  Há até a resenha do manhwa Grama, que eu recomendo muito a leitura. 

Meninas chinesas e malaias levadas à força de Penang pelos japoneses para trabalhar como "mulheres de conforto" para as tropas.

Muito bem, as mulheres do conforto sobreviventes estão movendo processo não contra o Japão dessa vez, mas contra o Exército Americano.  Motivo?  Depois da expulsão dos japoneses, mulheres continuaram sendo enganadas e/ou obrigadas a prestar serviços sexuais aos militares norte-americanos.  O sistema de bordéis mantidos pelo Estado começou em 1950 e seguiu até 1980 (*há controvérsias*).  Sim, você não leu errado.  1980.

Segundo, o jornal português Público, durante a Guerra da Coreia (1950-53), em torno das bases norte-americanas, "(...) criaram-se os chamados kijichon, zonas de prostituição que continham um aglomerado de bares, lojas e bordéis geridos pelo Governo coreano, de forma a atrair os soldados norte-americanos e a convencê-los a gastar dólares no país, numa tentativa desesperada de salvar a economia."  A maioria das mulheres tinha sido enganada com promessas de emprego como vendedoras de loja ou garçonetes, enquanto outras foram vendidas para cafetões, elas são conhecidas por “Camptown women” e, diferentemente das vítimas dos japoneses, sobre elas foi guardado silêncio.  

Cartaz de advertência do Código Uniforme de Justiça Militar contra prostituição e tráfico de pessoas publicado pela USFK (Frças Armadas dos Estados Unidos na Coreia).

Uma dessas mulheres, na casa dos 60 anos, disse à AFP: “Não me esqueço de ser espancada por soldados americanos – esbofeteada por baixar a cabeça enquanto servia bebidas, por não sorrir, ou sem motivo algum”.  Com apenas 17 anos quando foi prostituída, ela continua: "Todas as noites éramos arrastadas até os soldados americanos e abusadas sexualmente. Todas as semanas, éramos obrigadas a fazer exames para doenças venéreas. Se houvesse qualquer coisa anormal, éramos trancadas em um quartinho e injetavam uma agulha grossa de penicilina muito forte".  Ela não quis revelar o seu nome.

Segundo grupos de ativistas, o sistema perdurou até  2004, mesmo com a prostituição sendo proibida pela constituição da Coreia do Sul.  E cito o The Independent: "Durante décadas, a situação das mulheres que trabalhavam em acampamentos perto de bases militares americanas permaneceu amplamente ignorada pelo público e pelas autoridades na Coreia do Sul. A conscientização pública sobre a exploração sexual nos acampamentos sul-coreanos aumentou após o assassinato brutal de uma mulher chamada Yun Geum-i por um soldado americano em 1992.  Entre 1960 e 2004, pelo menos 11 profissionais do sexo foram mortas por tropas americanas, de acordo com o grupo de defesa Saewoomtuh."

A luta das "mulheres do conforto" é antiga, mas sobre as que "serviram" aos norte-americanos, há silêncio.

A atual ação judicial solicita uma indenização de 10 milhões de wons (US$ 7.200 dólares, R$ 39 mil) por vítima e responsabiliza tanto o governo da Coreia do Sul quanto as autoridades militares norte-americanas, segundo a advogada Ha Ju-hee.  Em 2022, as mulheres decidiram abrir um processo contra o governo coreano e ganharam: o Supremo Tribunal da Coreia do Sul ordenou ao governo que compensasse as 120 signatárias pelo trauma sofrido enquanto “mulheres de conforto” dos soldados dos EUA.  Agora, o processo envolve as forças militares dos Estados Unidos na Coreia do Sul, que não irão comentar a ação até que ela seja julgada, segundo seu porta-voz.  Acredito que os norte-americanos vão fazer o possível e o impossível para não assumir qualquer responsabilidade.

1 pessoas comentaram:

Li um artigo científico sobre as "White horses" mulheres ocidentais que vão para a Coreia do Sul casar com coreanos. Certos grupos coreanos acham as ocidentais mais fáceis de lidar e mais puras que as coreanas. Um dos pilares do machismo coreano é chamar todas as mulheres coreanas de puta que só querem dar para estrangeiros. Eles tem mais ódio das mulheres que foram prostituída pelo Estado Japonês e estadunidense do que eles tem raivas desses países ou das pessoas desses países.

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