segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Entrevista com Frederik Schodt - Parte 2



Desculpem a demora. Tive problemas e fiquei quase off, só usei a net do celular por alguns dias. Enfim, eis a última parte da entrevista do Schodt. Gosto muito do bom senso dele em se recusar a fazer futurologia, algo que muita gente adora fazer aqui no Brasil e em qualquer lugar. De qualquer forma, ele é muito otimista em relação a diversidade de material publicado nos EUA. Em termos de mangá feminino, há ainda um longo caminho a seguir. A não ser, claro, que somente o fator lucro certo for levado em conta. Segue a tradução da entrevista dada ao The Comics Journal. Para a primeira parte, clique aqui.

SMR: O que você acha da possibilidade dos mangás de esporte se tornarem um grande sucesso? Eu estou pedindo para você usar os seus poderes de adivinhação...

FS: Eu não vejo isso acontecendo de verdade. Mas eu já errei tantas vezes. Seria ótimo se acontecesse. Talvez as pessoas que gostem de esportes por aqui não leiam quadrinhos? Eu não sei. Mas eu tenho errado regularmente sobre o que iria se tornar popular [risos]. É fascinante observar como as coisas têm acontecido.

SMR: Parece óbvio a partir do seu novo livro [The Astroboy Essays: Osamu Tezuka, Mighty Atom, and the Manga/Anime Revolution] que você tem um profundo interesse pelo trabalho de Tezuka. Eu fiquei imaginando se existe um period particular [Do trabalho de Tezuka] ou séries que não tenham sido traduzidas, que você gostaria de ver.

FS: Do trabalho de Tezuka? Tezuka foi mais traduzido do que qualquer artista. Claro que isso não significa sucesso comercial. Mas se você olha o que a Vertical lançou ou a DMP trazendo Swallowing the Earth [Chikyuu Nomu (地球を呑む)]... isto realmente me surpreendeu, porque este é um trabalho realmente obscuro, mesmo no Japão. Ele [Tezuka] tem sido mais traduzido do que eu nunca poderia imaginar. Eu acho que gostaria de ver mais materiais que se passassem no Japão. Shumarie, e um outro… Eu não consigo lembrar como ele é chamado em inglêes, mas é sobre os seus ancestrais. [Tezuka’s Ancestor Dr. Ryoan] Eu acho que a Vertical tomou a responsabilidade para si de traduzir Tezuka. E isso é maravilhoso.

SMR: Você teve a chance de ler A Drifting Life [Gekiga Hyouryuu (劇画漂流)]?

FS: Sim, ele foi realmente uma surpresa. Esse é um exemplo de um artista que foi realmente esquecido no Japão. Drawn and Quarterly trouxe muito mais atenção para Tatsumi. E então as editoras japonesas passaram a olhar para ele de novo, e ele se tornou foco de mais atenção da mídia no Japão, e ganhou mais prêmios. Há um punhado de artistas na mesma situaç ão, que tiveram mais fãs e atenção da crítica no exterior, e então foram reavaliados no Japão. Shirow Masamune é outro exemplo. Eu acho que é mais seguro dizer que eles tinham mais fãs nos Estados Unidos antes de se tornarem realmente importantes no Japão.

SMR: Durante o período de Appleseed?

FS: Mesmo Ghost in the Shell. Esse foi um dos primeiros trabalhos japoneses a realmente fazer sucesso na América, em parte por ser ficção científica, um futuro próximo distópico, um mundo com o qual podemos realmente nos relacionar [risos]. Mas eu acho que os americanos podiam realmente se relacionar melhor com o material na época do que o leitor japonês médio. Claro que ele é um grande sucesso no Japão agora, mas eu acredito que a sua carreira teve um grande impulso por causa da sua popularidade na América. E Tatsumi estava relativamente esquecido. Eu escrevi a introdução de Goodbye, um dos livros de Drawn and Quarterly, e este foi o meu argumento principal – na época ele não tinha nem verbete na Wikipedia Japonesa. Esta foi a coisa que mais me surpreendeu quando estava escrevendo a apresentação do material – no Japão as pessoas mal o conhecem, mas na América todos estão excitados com o seu trabalho.

SMR: Eu vi que você o mencionou em Manga! Manga! mas foi quase uma nota, basicamente apenas mencionando que ele foi a pessoa que cunhou o termos “gekiga”.

FS: Sim, e este é mais ou menos o lugar dele na história no Japão. Pouca gente estava lendo o seu trabalho, e muito da sua obra, até que ele foi redescoberto nestes dois últimos anos, era vista como “nekura”, ou realmente sombria. Talvez muito sombria para a geração mais moderna. As pessoas não o estavam lendo muito. Mas, agora, elas estão.

SMR: O que você gostaria de ver mais? Há algum gênero em particular que lhe parece negligenciado?

FS: Não… As editoras americanas tem se interessado por todo o tipo de material que elas esperam que funcione, e eu acho que neste momento se uma editora americana acredita que pode ganhar dinheiro, ela publicará qualquer coisa. [risos] Mas, dito isso, a maioria dos mangás japoneses, e da arte, também, está ainda intrinsecamente ligada a cultura pop cotidiana no Japão e freqüentemente diferente do que ocorre aqui e não será publicada. E isso está OK. Nós nunca iremos ver muitas histórias de pachinko, histórias de mah jong – isso não é parte da vida americana. Seria maravilhoso poder lê-las, mas não acho que um mercado para elas vá se desenvolver.

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