domingo, 2 de dezembro de 2018

Jornal do Shoujo Café: Mataram Hayao Miyazaki e um Mix de Notícias da Semana


Vamos para mais uma edição do Jornal do Shoujo Café, espero que curtinha dessa vez, mas nunca se sabe!  Notícia é o que não falta para comentar em um post como esse.  E, só lembrando, este site é feito por uma feminista, logo minha leitura tem um filtro e os parâmetros que eu deixo claros.  Aqui, não é um lugar de (*falsa*) neutralidade, tampouco de covardia.


1. Mataram Hayao Miyazaki!  No dia 28 de novembro, circulou pela internet que Miyazaki, aquele do Estúdio Ghibli, tinha falecido.  Amigos repassaram a notícia.  Gente começou a choramingar.  A fonte primeira parecia ser um site português e era absolutamente furada.  Na verdade, quem havia morrido era Akira Miyazaki, diretor e roteirista importante, como Hayao, mas menos conhecido dos ocidentais.  Akira Miyazaki faleceu no dia 25 de novembro aos 84 anos por causa de um câncer. Ele participou da produção de várias séries da série Sekai Meisaku Gekijou (世界名作劇場) da Nippon Animations que adaptava clássicos de literatura ocidental para anime.  Ele foi responsável entre outras séries por Perrine Monogatari (ペリーヌ物語), a versão de 1987 de Little Women (愛の若草物語 /Ai no Wakakusa Monogatari), Araiguma Rascal (あらいぐまラスカル), Tom Sawyer no Bouken (トム・ソーヤーの冒険 ).  Há uma lista mais extensa no ANN.  


2. Grandes redes de livraria em crise arrastam as editoras com elas, as de mangá, inclusive.  Vocês já devem ter ouvido falar, eu fiz um Shoujocast sobre isso, inclusive, que duas das grandes de livraria brasileiras, a Cultura e a Saraiva, estão em crise.  Ambas pediram recuperação judicial que é "uma medida para evitar a falência de uma empresa. É pedida quando a empresa perde a capacidade de pagar suas dívidas. É um meio para que a empresa em dificuldades reorganize seus negócios, redesenhe o passivo e se recupere de momentânea dificuldade financeira." (Fonte: ADVFN) é como um "devo, não nego, pago quando puder" com regras.  Só que como ficam as editoras, as pequenas, especialmente?  Quem paga as contas delas?  Os seus funcionários?  De qualquer forma, os dados das dívidas da Saraiva foram reveladas oficialmente (*as da Cultura, não vi*) e é chocante.  Para mim, pelo menos, é!  

Só a Saraiva deve para as editoras de mangá: Panini: R$ 8.355.502,96; JBC: R$ 939.143,22 e NewPOP: R$ 93.212,97.  Alguém comentou que a dívida com a Panini é maior, porque a editora publica mais que mangás, mas, ainda assim, é absurdamente grande.  E some a isso a dívida da Cultura e a da Laselva, a dos aeroportos, que faliu mesmo (*soube agora, estava em recuperação judicial desde 2013*).  Fui procurar saber da Livraria Leitura e, ao que parece, ela vai bem e ainda está tentando comprar lojas fechadas da Saraiva.  Amazing, ainda mais em um cenário como esse. Mas, repito, como essas empresas fecharão suas contas?  Por conta disso e de outras coisas mais, não acredito que possamos esperar muitos lançamentos para os próximos meses.  De qualquer forma, opte por comprar diretamente das editoras, nas livrarias especializadas (*Comicshops*), e pelo Amazon. Acredito que seja o melhor para que as editoras sobrevivam. 


3. Sugestão de filme sobre o assunto, ou, pelo menos, eu acho.  Parece que essa crise das livrarias, das mega, pelo menos, é global.  A internet, o Amazon, a má gestão, as crises econômicas locais, estão na raiz do problema.  Agora, toda essa discussão me lembrou do filme Mens@gem para Você (You've Got a Mail), uma comédia romântica dos primórdios da  internet com Meg Ryan e Tom Ranks.  Não é das minhas favoritas, mas tem seus momentos.  O filme conta a história de uma dona de livraria pequena, familiar e acolhedora, que termina fechando, porque uma megalivraria abre nos arredores.  Era a época em que esses empreendimentos estavam em expansão.  Há a crítica à falta de qualificação dos trabalhadores das megalivrarias, o fato de transformar esses espaços em hipermercados, ou algo do gênero.  Enquanto isso, os protagonistas trocavam e-mails amorosos sem saber que eram inimigos no mundo real.  Talvez, as megalivrarias estejam falindo e as pequenas e acolhedoras possam voltar.
4. JBC não vai abrir novas assinaturas.  Não entendi, não entendi mesmo, mas parece que os próximos títulos da editora não terão esta opção e que a editora terá sua loja on line e, também, pelo menos uma loja física.  Eu pensava que era lucrativo para eles essa coisa da assinatura, talvez, não seja.  De qualquer forma, no último Henshin on Line, comentaram tudo isso e que a Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら) vem no início de 2019.  Eu pretendia assinar, vamos ver como fica.

5. O lugar mais perigoso para uma mulher é sua própria casa.  Se você leu o jornal da semana passada, deve lembrar que dia 25 de novembro foi o Dia da Não-Violência contra as Mulheres e a data marca a abertura dos 16 dias de ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.  Jornais do mundo inteiro publicam matérias sobre o assunto durante este período e a BBC trouxe a informação de que em 2017 87 mil mulheres foram assassinadas no mundo (*isso são os dados revelados, feminicídios são subnotificados*) em 2017, mais da metade delas foi morta por alguém próximo, cerca de 50 mil foram mortas por um parceiro (*marido, namorado, enfim*), enquanto cerca de 20 mil por um parente.  Nesse caso, são os crimes de honra os que pesam mais, eu imagino.  Cerca de 80% dos assassinatos de mulheres, neste caso, são perpetrados por homens.

Este tipo de crime, cometido por alguém próximo, normalmente, motivado por questões de gênero, chamamos de feminicídio (art. 121, § 2º, VI, do CP).  Uma mulher que é atropelada, salvo se o criminoso tiver jogado o carro sobre ela por ela ser mulher, não é vítima de feminicídio.  A vereadora Marielle, não foi vítima de feminicídio. O crime pode ser cometido por um homem contra uma mulher e não ser feminicídio, é preciso que a motivação seja de gênero, por assim dizer.  Normalmente, está ligada a ideia de que a mulher é propriedade do homem, que ele tem o direito de fazer dela o que quiser e caso ela queira terminar o relacionamento, o uso da violência é algo admissível.  


O medo, a dependência e tudo mais, terminam intimidando muitas mulheres.  Elas aceitam um relacionamento abusivo pelos filhos, por pressão da sociedade, por medo de morrer.  E, sim, muitas vezes os criminosos não recebem a atenção necessária da justiça e ficam livres para cumprir as ameaças.  Todos os dias eu vejo essas notícias, poderia escrever um livro só com elas.  Mesmo quando proibidos de se aproximar da vítima, eles o fazem.  Por isso mesmo, é importante que a Câmara tenha aprovado o aumento de pena para feminicídio se autor tiver descumprido medida protetiva.  Espero que a mudança na lei seja aprovada e os sujeitos fiquem presos.  Melhor ainda seria que fossem impedidos de matar.

6. Democratas querem derrubar regulamento do Congresso Norte-Americano que proíbe pessoas com a cabeça coberta em suas dependências.  Não sou uma entusiasta do hijab, quem me conhece sabe disso, mas normalmente sou capaz de perceber quando sua proibição tem a ver com estratégias de poder e opressão contra as mulheres.  Fora isso, a maioria das matérias vindas dos EUA apontam (*Ex.: 1, 2 e 3*) que esse regulamento do Congresso foi criada em 1837 muito mais para assegurar regras de cortesia do que qualquer coisa. Há quem diga que faltava lugar para pendurar os chapéus, os caras brigavam entre si e reclamavam por causa disso, então, melhor proibi-los.  



O fato é que, normalmente, não é educado para um homem estar com a cabeça coberta em local fechado, exceções para os judeus religiosos, sikhs e homens árabes à caráter, ou nativos, em alguns lugares. Se você não pertence a nenhum desses grupos, a regra é tirar o chapéu. Agora, em 1837, nos EUA, ninguém exigiria que uma mulher, uma dama, especialmente casada, descobrisse a cabeça em lugar público. Motivo? Essa regra se aplica exatamente ao contrário para as mulheres, como no caso do sentido da abotoadura das roupas. Nunca notou? É isso que distingue uma camisa ou jaqueta feminina de uma masculina, mais do que o modelo da mesma. Eu só descobri adulta esse detalhe, pois nunca havia observado. Agora, havia alguma deputada em 1837? Não. E não haveria por muito tempo ainda.

Outra coisa que as matérias sobre a tal lei apontam é que essa regra tinha caído em desuso, ou ninguém se importava com ela até agora. Motivo? Ilhan Omar, uma muçulmana que usa o hijab, elegeu-se deputada. Alguns republicanos rapidamente poderão tentar obrigar essa mulher, constrangê-la, enfim, a descobrir sua cabeça. Afinal, como representante do povo, ela deve respeitar as leis, mesmo as que caducaram. Fosse os EUA um país que cerceasse o véu ou qualquer símbolo religioso em espaços públicos, como escolas estatais e repartições do governo, assim, como se faz na França e se fazia na Turquia antes de Erdogan, estaria corretíssimo exigir que Omar tirasse o véu, mas não é o caso. Agora, qual o problema dessa mulher usar o véu em um país que não vê isso como uma grande questão? Aliás, volta e meia temos movimentos, mesmo da parte de algumas feministas, de apoio nos EUA às mulheres que desejam usar o hijab, ou outras vestimentas religiosas e vistas como modestas. Eu discordo, mas há quem defenda que usar hijab, niqab e similares é empoderador.



Espero, que os democratas consigam, sim, derrubar esse dispositivo legal, não como um incentivo ao uso do véu em geral, mas, simplesmente, porque essa lei caduca estaria sendo utilizada somente para impedir Ilhan Omar de exercer seu mandato, tentando intimidar e constranger uma mulher cuja vitória foi um dos feitos mais significativos da última eleição para as minorias do país.  

7. Para terminar deixo o vídeo abaixo.  Ele é curto e consegue muito bem passar a mensagem sobre como homens e mulheres são desiguais, não por terem nascido assim, por ser vontade de alguma divindade, mas porque os papéis de gênero que nos são atribuídos tornam a vida das mulheres bem mais difícil e penosa.  Até semana que vem.

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