terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Comentando Wifi Ralph (Ralph Breaks the Internet, 2018)


Sexta-feira fui assistir Wifi Ralph, a última animação da Disney, tinha por companhia duas menininhas de 5 anos muito empolgadas.  O que eu tenho para dizer?  Ah, o filme foi delicioso! Eu não saberia decidir qual dos dois Ralph, o original, de 2012, ou este, foi o melhor.   A vantagem de um segundo filme, se bem explorada, é não precisar apresentar as personagens, pois os conhecemos bem.  Wifi Ralph se aproveita disso, o que dá liberdade ao filme para explorar uma gama de questões interessantes para adultos e crianças.  E o que temos de novo?  A surpresa  é ter  Ralph e Vanellope desbravando não somente a internet, território desconhecido para eles, mas, o mais  importante, aprendendo a lidar com sentimentos que podem abalar, ou mesmo destruir, sua amizade.

Seis anos depois do primeiro filme, o Sr. Litwak, dono do fliperama, instala um roteador Wi-Fi, mas  as personagens dos jogos do local são proibidos de se aproximarem.  A amizade entre Ralph  e Vanellope continua forte, mas a menina começa a ficar insatisfeita com sua vida monótona.  Para compensar, Ralph abre uma pista bônus no jogo Corrida Doce, e quando Vanellope decide utilizá-la acontece um descompasso entre ela e a jogadora.  


Ralph quer alegrar Vanellope mas... 
O resultado é que o volante do jogo é quebrado.  Como consertá-lo é impossível, a companhia que o produziu faliu faz tempo, e o que está disponível no E-Bay é muito caro, o Sr. Litwak, decide desligar o Corrida Doce e mandá-lo para a reciclagem. Se sentindo mal pelo dano que causou, Ralph decide ir até o imenso espaço de dados da Internet para conquistar o tal volante, e Vanellope o acompanha.  

Wifi Ralph traz opções criativas para apresentar a internet, seus usuários, os principais sites, a navegação dentro dela, a Deep Web e tudo mais.  Algorítimos, popups e seus bloqueadores são transformados em personagens e tudo é muito convincente. Todos os grandes sites e alguns portais aparecem na película, mas (*e eu não achei informações sobre  a ausência*) parece que o Youtube não liberou o uso de seu nome, porque temos o Buzztube em seu lugar.  


Quem vai receber os desabrigados da Corrida Doce?
Yesss, o algorítimo do Buzztube, é fundamental para o filme e ela ajuda a dupla a conseguir os recursos para comprar o tal volante depois que Ralph e Vanellope, que não entendem nada da internet fazem uma bobagem (*assista e veja o que é*).  Algo importante que Yesss diz ao pobre Ralph é que nunca leia os comentários deixados em seus vídeos, o motivo, bem, a gente sabe. Há os que gostam dos vídeos de Ralph, mas há  os que escrevem as piores atrocidades.  Para quem não está acostumado, isso pode ser um choque.

O filme é um festival de referências ao universo da Disney que,em nossos dias, inclui a Pixar, a Marvel e Star Wars.  É muita coisa e a gente tem que ficar tentando não perder os detalhes, as pequenas e as grandes participações.  Quando Vanellope entra  no site da Disney, ela encontra personagens de diversas produções da empresa, tem que fugir dos Storm Troopers e até Stan Lee aparece no filme.  Sério, essa parte é muito legal e tem função no roteiro, por assim dizer.


Yesss explica a lógica dos vídeos de internet. 
O que faz com que uns viralizem, outros, não?
E Vaellope interage com as princesas da Disney, todas elas, inclusive Merida (*a parte "ela é do outro estúdio" não ficou muito bem*).  Isso aparecia no trailer, mas ver no filme é muito mais legal.  Somente essa parte já faria com que o filme se qualificasse dentro da Bechdel Rule, mas Wifi Ralph tem uma gama de personagens femininas importantes, começando com Vanellope e Sargento Tamora Jean Calhoun (*Que junto com Conserta Félix Jr. adotam os 15 corredores da Corrida Doce e os transformam em crianças exemplares*), passando por Yesss, a Princesas e Shank, a protagonista do jogo "Corrida do Caos" e que termina por fazer as vezes de irmã mais velha para a protagonista.

Voltando às princesas, elas tem um papel fundamental na batalha final do filme. Sim!  E eu adorei. Agora, o character design da Cinderela e da Branca de Neve ficaram um tanto esquisitos.  Sei que houve uma atualização do visual das personagens, algo inevitável, mas no afã, por exemplo, de colocar orelhas na Cinderela (*nunca percebeu que as da original não aparecem*), ela ficou muito orelhuda.  Muito mesmo. E os rostos nada guardam de relação.


O imenso universo da Disney.
Só as princesas já fariam o filme valer para mim,
mas ele tem muito mais a oferecer.


Agora, as princesas foram usadas para discutir questões de gênero e empoderamento feminino.  Pegue os trailers e temos toda aquela parte de Vanellope e as princesas discutindo o que torna alguém inegavelmente uma princesa.  E o que é?  Ter um homem grandão ao seu lado para salvar o dia. No caso de Vanellope, esse homem não é um par amoroso, mas é alguém que assume uma atitude ciumenta em relação à menina quando ela decide ficar no jogo Corrida do Caos.  O filme consegue mostrar deforma simples, ao alcance das crianças, que não é um homem ao seu lado que define quem você, menina, mulher, é, ou o que pode fazer.

Do outro lado, é possível discutir masculinidade tóxica com Wifi Ralph.  O fofo protagonista, sim, ele é, adoro Ralph, mas ele é inseguro e dependente da amizade de Vanellope.  Por conta disso, capaz de fazer qualquer coisa para não deixá-la escolher o seu destino.  Ralph adota uma postura super protetora em relação à menina, o que escala em uma atitude agressiva, não do próprio Ralph, mas do vírus que ele coloca  na internet.  Sem maiores detalhes, mas ele busca  o tal vírus na Deep Web.  


A internet tem lugares perigosos,
mas "A Corrida do Caos" não é o pior deles.
Outra cosia relacionada a esses padrões de masculinidade agressivos é a escolha dos avatares dos jogadores da Corrida do Caos.   Adolescentes magrelas que precisam obedecer suas mães e que, na rede, escolhem avatares de sujeitos bombados e ameaçadores.  Claro que a própria Corrida do Caos é usada para desmontar papéis de gênero.  Meninas também podem gostar de jogos agressivos, eis Vanellope.  E as personagens do jogo podem parecer marginais (*e no jogo são*), mas serem pessoas legais na intimidade.  Ninguém é uma coisa só, ou,melhor dizendo, a maioria absoluta da humanidade não é.  Daí, Shank ter um papel tão importante no filme.  

Não sei se Aranhaverso, que estréia esta semana, é  melhor que Wifi Ralph, talvez seja mesmo, mas o filme do vilão de bom coração perdido na internet é terno e simpático, além de oferecer tanta coisa para o deleite dos fãs que mesmo adultos devem ficar encantados.  Uma coisa que não entendi das referências é o uso da vinheta, da música, pelo menos, do seriado do Batman dos anos 1960 no filme.  Alguém notou, ou eu ouvi demais?  O copo das princesas que vem com o combo em alguns cinemas, não tem todas as princesas, infelizmente.  Ah, outra coisa, há duas cenas pós créditos.  Uma aparece no trailer, mas a última, que aparece em no final mesmo (*demora MUITO*) é um trote fofinho, tipo o que aconteceu no último Homem Aranha.  


1 pessoas comentaram:

Resenha muito legal. Parabéns!

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