terça-feira, 18 de junho de 2019

Comentando o volume #1 de Furi Fura: Amores e Desenganos


Hoje, terminei de ler Omoi, Omoware, Furi, Furare (思い、思われ、ふり、ふられ), de Io Sakisaka.  Houve gente que me pediu para comentar o lançamento da Panini e eu me foquei para concluir a leitura e fazer um review.  Estou com várias coisas atrasadas, inclusive, A Rosa de Versalhes.  Confesso que minha impressão do primeiro volume foi conflitante.  Resumindo, é um belo exemplar do gênero romance escolar, com todos os seus pontos fortes e fracos.  O ponto de partida da história é seguinte:

Yuna Ichihara está feliz por estar prestes a iniciar o seu primeiro ano no colegial e, ao mesmo tempo, sente dor ao ser separada de sua melhor amiga Sa-chan, que está se mudando. Em seu caminho para a estação de trem, ela é parada por uma garota desconhecida que lhe pede dinheiro para sua passagem de trem. Embora Yuna tenha um pouco de medo e relutância, ela dá dinheiro para a garota, que, por sua vez, entrega a pulseira a Yuna como uma promessa de que a encontraria no dia seguinte no mesmo lugar para pagar o dinheiro emprestado e recuperar a joia que deu como penhor. 


Duas garotas bem diferentes.
No mesmo dia, Yuna esbarra duas vezes em um menino que se parece com o príncipe encantado de um livro que leu em sua infância. Depois que a garota, chamada Akari, devolve o dinheiro de Yuna, ela voltam para casa juntas e descobrem que moram no mesmo prédio. As garotas se tornam amigas. No entanto, eles descobrem que eles exploram o amor de maneiras completamente diferentes; Yuna espera encontrar o amor de sua vida, enquanto Akari encara os relacionamentos amorosos de forma muito mais pragmática e sem grande preocupação.  Além das duas meninas, temos Rio, irmão de Akari, que Yuna descobre ser o "príncipe" que ela encontrou na dua, e Kazuomi, amigo de infância da menina, tornando a vida dessas garotas um pouco mais complicada.

FuriFura, que é o apelido do mangá no Japão, não foi inventado por aqui, ainda que seja curioso ter um volume com três títulos na capa.  A série, que foi publicada na Betsuma entre 13 de junho de 2015 e 13 de maio deste ano, é o terceiro grande sucesso em cadeia de Io Sakisaka, hoje, a mais bem sucedida autora de shoujo escolar.  E é uma autora corajosa, porque mesmo fazendo sucesso, ela não estica suas séries, Ao Haru Ride (アオハライド) teve 13 volumes, Strobe Edge (ストロボ・エッジ), 10.  Isso é coisa rara.
Para Yuna, Rio é um "príncipe".
Lendo o primeiro volume, e eu não tinha lido nada da série antes, digo o seguinte, a autora oferece uma história agradável, ainda que comum.  Temos uma heroína sonhadora e tímida, porque Yuna é a protagonista maior pelo menos nesse começo, e a segunda mocinha da história, mais realista e com uma visão um tanto descompromissada do amor.  Akari parece ser mais complexa, especialmente, se levarmos em conta que há um certo segredo de família que não está muito claro.  Não vou dar um spoiler, ainda que isso possa ser facilmente encontrado por aí, mas a relação da menina com Rio, seu "irmão" pode não ser o que parece.  Não imaginem, no entanto, nenhuma situação erótica, ou até sórdida, é Io Sakisaka e é Betsuma, no máximo, teremos um drama.

Algo importante desse primeiro volume, e que me fez gostar dele, é a forma como a autora constrói a relação de amizade das duas meninas tão diferentes.  Há um determinado momento em que Yuna, movida por preconceito, dá ouvidos para as fofocas sobre Akari.  Ela teria dado em cima do namorado de outra colega de escola.  O julgamento da conduta afetivo-sexual de Akari, uma garota que parece livre demais para os padrões gerais e ainda mais leviana para os altos padrões românticos de Yuna, pode render boas discussões.  O fato é que Yuna age de forma corajosa e coloca as coisas em pratos limpos.  Dado o perfil da personagem, toda a sequência dela confrontando as colegas de escola por Akari foi algo bem surpreendente.  É o único momento feminista desse volume.  Sororidade em doses generosas, mas devo marcar que quem impulsiona tudo é um garoto.


A série era a mais importante da Betsuma.
De certa forma, ela é levada à reflexão por Kazuomi seu colega de infância.  Kazuomi é um sujeito de bem com a vida e com um bom coração.  Imagino que possa se tornar o par romântico de Akari, mas não sei em qual velocidade a autora irá desenvolver a relação dos dois.  Enquanto isso, Yuna está absolutamente apaixonada por Rio, que parece um menino fofo, ainda que de um modo diferente de Kazuomi, mas há o tal segredo que parece nublar a sua personalidade.  Não vou entrar em maiores detalhes, mas estou curiosa.

Ao longo do volume, a autora escreve vários free-talks, aquelas caixas de texto que servem para reforçar a intimidade entre a mangá-ka e sua audiência.  Em uma delas, ela explica que o mangá que Yuna, que é ávida leitura de shoujo, mostra para Akari,não existe de verdade, mas tem o nome de uma canção escrita por outra mangá-ka, Misaki Natsumi.  Io Sakisaka também explica que quer fazer um mangá fofo e que retrate duas formas diferentes de amar.  


A edição da Panini ficou muito bonita.
Vamos ver se ela é capaz de manter minha atenção, ao longo do volume, meu nível de adesão à história oscilou e eu parei e retomei umas três vezes.  Só que eu não sou bem o público alvo da série, pois não sou mais adolescente, nem tenho particular apreço por shoujo escolar.  Agora, todos os elementos do gênero estão bem marcados em FuriFura e há essa ideia de amizade entre meninas que faz com que a série tenha mais méritos.  Concluindo, a arte de Io Sakisaka é bonita e a narrativa flui muito bem.  Não há humor nesse primeiro volume, quer dizer, o humor é mínimo, já o drama, pode escalar ao longo das edições.  Irá?  Não sei.  

A edição da Panini ficou muito bem acabada.  Acredito que dos shoujo da editora que eu já comprei, é a encadernação de melhor qualidade.  Papel excelente, capa muito bonita, tamanho um pouco maior que a média e um marcado de texto.  Agora, preocupa-me o seguinte, FuriFura é um mangá de entrada, deveria atrair um público adolescente e, bem, R$22,90 é caro.  A edição da editora de Ao Haru Ride custava 13 reais.  Entendo a inflação e a defasagem da nossa moeda, mas houve a opção por tornar a encadernação mais cara mesmo.


O último volume está prestes a sair no Japão.
O que quero dizer é que mesmo com todos os pontos positivos, o valor de capa exclui a maioria das pessoas que poderiam ter prazer em ler o mangá, que poderiam se tornar fãs de shoujo e consumidoras dos produtos da editora.  Enfim, a Panini está de parabéns, mas acredito que uma encadernação mais modesta, mais padrão, poderia baixar o preço e ajudar nas vendas.  Espero, no entanto, estar errada.

1 pessoas comentaram:

A Sakisaka é competente, mas me parece que joga sempre no seguro. Ela usa os elementos e clichês a seu favor, a arte dela é bonita, a narrativa é eficiente, mas sinto que seus mangás são sempre muito parecidos. Para mim, falta novidade. Deve ter coisa mais interessante no mercado japonês.
Mas a Panini, com certeza, também não vai se arriscar e vai trazer o que já sabe que vende bem. Não temos dados de tiragem ou vendas, e nem pesquisas sobre o mercado consumidor, então não tenho como analisar a fundo, mas tenho a impressão que o mercado shoujo tem um tamanho definido no Brasil, e não parece ser o publico alvo original desse segmento (afinal, até eu estou comprando).
Talvez por isso o preço dessa publicação. Realmente o formato é uma evolução em relação aos shoujos anteriores, como Kimi ni Todoke, LoveCom e Ore Monogatari, mas fica caro para quem não ganha seu próprio dinheiro.
A Panini não está pensando em expandir o mercado, e sim, oferecer um produto para colecionador (padrão nacional, claro. Nada nem ligeiramente perto de uma edição da Yen Press).

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