Uma das lendas associadas ao Japão e que encanta os apaixonados pelo país e alguns detratores da educação brasileira é que os professores nipônicos são muito bem tratados e respeitados. Há até a fake news de o imperador do Japão só se curvaria a um único tipo de pessoa, o/a professor/a. Lindo! Veio até uma lágrima no cantinho dos olhos. Lendo matérias de sites japoneses, e estou comentando a partir do Sora News (*E do Japan Today*), a gente observa que os problemas enfrentados pelos colegas de lá são parecidos com os nossos no quesito remuneração e quanto mais elementar é a escola, mais a coisa se acentua. Professores japoneses também são submetidos a um grau de exploração que, à despeito dos abusos que sofremos aqui, extrapola nossos piores pesadelos. Dentro da OCDE, os professores japoneses são os que trabalham mais horas semanais com os piores salários proporcionalmente.
Enfim, vamos para a notícia! O ministro da Educação japonês decidiu bancar uma campanha no Twitter chamada #passthebaton, passe o bastão, e começo por não entender o sentido, porque se alguém falar para mim, que tenho quase trinta anos de sala de aula para "passar o bastão", eu entenderia que a ideia é me aposentar (*coisa que não posso fazer ainda e nem sei se poderei um dia*) e deixar um jovem ocupar meu lugar. Mas a ideia parece ser transmitir experiências que estimulassem os mais jovens a seguirem a carreira de professor. “Projeto #passthebaton, comece! Estamos iniciando este novo projeto convocando todos os professores em todo o país para postar conselhos e mensagens para os professores que estão entrando! Por meio dessas postagens, os professores atuais podem #passthebaton para jovens que desejam se tornar professores. Com certeza, siga-nos e veja o que os professores têm a dizer!”
Campanha no Twitter... Tem tudo para dar certo, não é mesmo? Segundo o SN, alguns professores deram conselhos e estímulo para os jovens que estavam iniciando na carreira, inclusive sobre como cuidar da sua saúde física e mental, mas o que mais apareceu foram relatos de abuso e exploração. Segue alguns dos relatos que o site recolheu:
“Eu realmente quero apoiar este projeto, mas é muito difícil quando vou trabalhar aos sábados para a supervisão obrigatória das atividades do clube enquanto os escritórios do governo local estão fechados durante o dia ...”
“Acabei de voltar do trabalho. Estou à beira do karoshi. Boa noite a todos." [nota: Karoshi é o fenômeno de morrer por excesso de trabalho.]
“Eu dei à luz e fiz uma pausa no meio do ano letivo. Mesmo estando tão feliz, recebia excessivamente ligações do diretor da minha escola sobre como estava incomodando a todos. Eles nunca me parabenizaram pelo meu filho recém-nascido. Para meu bebê, obrigado por você estar aqui. Graças a você mamãe pode descansar agora. ”
“Sou professora há 38 anos. Amanhã, vou me aposentar. Quando eu era jovem, trabalhava de manhã à noite e até aos sábados. Achei que meus dias estavam sendo preenchida. Mas agora que penso sobre isso, sinto que perdi muitas coisas no processo. ”
Citando o SN, "Mal pago, subestimado e sem o suporte necessário - os educadores no Japão fazem malabarismos entre ensinar, planejar aulas, supervisionar as atividades extracurriculares do clube e, às vezes, deveres administrativos ridículos.". No mesmo post do Twitter, o Ministério prometeu dar mais atenção às necessidades dos professores (*Há!*), mas acrescenta que não é como se o governo estivesse se posicionando oficialmente. O SN comenta, também, que a obrigatoriedade dos professores supervisionarem as atividades dos clubes foi abolida, mas somente para 2023 em diante. 😁 Achei um relato de uma professora estrangeira no Japão. Legendas em inglês, vale a pena assistir:
2 pessoas comentaram:
Obrigada pela informação! Triste saber que os professores japoneses sofrem tanto. Por aqui uma das coisas que mais me incomoda é ver como as pessoas acham que o professor precisa estar sempre grato por trabalhar muito e ganhar pouco. Mesmo os que ganham o suficiente para sustentar a família não ganham aquilo que é de direito pelo investimento que colocam na profissão. Endossam essa imagem do herói que sofre como um sorriso no rosto - ignorando totalmente que trabalhar muito e ganhar pouco não é bonito: é injusto.
Sempre achei que professor era uma profissão valorizada no Japão.
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