segunda-feira, 19 de julho de 2021

Comentando o capítulo #3 de Kageki Shoujo!!: Um mergulho nas trevas

Eu já li o mangá de Kageki Shoujo!! (かげきしょうじょ!!) e estou com o primeiro volume da continuação para olhar, então, já sabia o que ia acontecer no terceiro capítulo.  Foi um episódio pesado no qual foi desvelado o passado de Ai, a coprotagonista do seriado, além de darem início ao drama centrado em Ayako Yamada, a menina tímida e aparentemente comum do grupo.  Para quem qusier olhar as outras resenhas: episódio 1 e episódio 2.

Ai-chan detesta homens, sabemos disso desde o primeiro capítulo.  Ela entra para o Kouka para fugir da convivência com o sexo oposto.  O único homem que ela tolera, e que ocupa a função de pai em sua vida, é Taichi, seu tio e professor de balé no Kouka.  Neste episódio conhecemos sua mãe, Kimiko, uma mulher egoísta e que coloca a filha em segundo plano sempre.  Ela mente que ama e a menina, que é muito bonita, uma típica bishoujo, finge que é amada e feliz.  Ai sequer sabe quem é seu pai e fica muito evidente no episódio o estigma que ela carrega por viver em uma sociedade patriarcal e hipócrita como a japonesa.  A mãe de Ai faz filmes adultos, aparece nua em alguns deles e a menina acaba arcando com o deboche dos colegas e fingindo não se importar.

Vejam que há o problema da sociedade, afinal, nenhuma mulher, muito menos seus filhos e filhas, deveria sofrer humilhações por ter uma profissão pouco convencional, ou que afronta a moral de parte da sociedade.  Agora, a mãe de Ai não se importa em proteger a filha, lhe dar segurança.  E o ponto de virada, a razão do trama da garota, é a quando Kimiko traz para dentro de casa um companheiro que, na verdade, é um pedófilo.  A série optou por nunca mostrar seu rosto, negando ao sujeito qualquer identidade.  Ele pode ser qualquer um e, ao mesmo tempo, é um monstro. O trabalho da dubladora de Ai e dos animadores foi excelente, é possível ter a dimensão de todo o terror imposto à garotinha.

Falando da mãe de Ai, uma mulher pode ser enganada quanto ao homem que escolhe para dividir sua vida, mas não tem o direito, ainda mais no caso de uma mulher vivida e independente como Kimiko, de ignorar os sinais de perigo e os pedidos de socorro da filha.  Kimiko só se interessa por si mesma e foi capaz de terceirizar a um estranho os cuidados com a filha.  Como resultado do incidente, Ai desiste de fingir felicidade e de querer agradar a mãe, ou qualquer um.

Ai se fecha para todos, menos para o tio, que é seu único suporte.  É exatamente por isso, para morar na casa do tio, que ela aceita se juntar JPX48, cujo estúdio fica no mesmo bairro da casa de Taichi, sem mesmo saber que os seus fãs seriam homens.  O episódio mostra a menina se recordando do incidente com o fã que a obrigou a sair (*graduar*) do JPX48.  Meu marido, que entende um pouco de japonês, observou que a tradução das legendas par ao inglês exageraram o que a menina disse.  Ela não chama o fã de "creepy", no sentido de repugnante, ela diz algo como "me solte, a sensação não é boa", porque ele prolonga o aperto de mão.  De qualquer forma, o stalker a segue até a escola e eles se encontram no final do episódio.

Neste capítulo 3 temos, também, Ai rejeitando a amizade de Sarasa e eu acho importante que a menina registra a coisa de forma bem madura.  Se Ai não quer sua amizade, ela não irá forçar, mas continuará sendo ela mesma.  E é interessante que o apelo de Taichi para que ela tente ser amiga de Ai surte efeito, mas dentro dos próprios limites que Sarasa traçou.  Se o mangá for seguido, tanto essa questão da amizade das protagonistas, quanto a do stalker serão muito bem abordadas.

O último ponto sobre o episódio, começou o drama de Yamada.  É curioso que a autora do mangá tenha escolhido exatamente a menina tímida para ter uma história própria dentro dessa primeira parte do mangá, os dois volumes que saíram na Jump Kai.  A professora de sapateado escolhe a menina para fazer de exemplo diante da turma e diz que ela está gorda e que nenhuma fã do Kouka quer ver uma atriz gorda atuando.  Sarasa intervém, mas a professora persiste e, mais tarde, duas das colegas "perfeitas", Hoshino e Sugimoto, ainda reforçam que a errada é a menina por não ter força de vontade e disciplina.  Yamada não é gorda, mas que mulher "acima do peso" nunca ouviu isso?  

O problema maior é que se trata de uma menina de quinze anos e o estrago pode ser enorme.  Eu tomei remédios para emagrecer aos quinze anos levada por minha mãe, eu sei o mal que isso pode fazer.  Enfim, para piorar, o Kouka é super competitivo e Yamada não tem nem a autoestima elevada de algumas colegas, nem a coragem sem noção de Sarasa, ou a armadura de Ai.  Ela vai adoecer e a autora trabalhou a situação de menina muito bem no mangá.  Eu cheguei a pensar que ela iria se matar, mas não se chega a tanto.

Concluindo, este foi o episódio mais denso da série até agora, acredito mesmo que o melhor episódio.  Houve pouco do Kouka e muito de dramas humanos que são possíveis.  Seja o caso do abuso sofrido pela menina Ai e o comportamento de sua mãe, seja o da agressão sofrida por Yamada.  E Júlia, minha filha de sete anos, se interessou pela série e tive que explicar em sequência tanto a situação de pedofilia, quanto os transtornos alimentares (*anorexia e bulimia*).  E ela pediu para ver o primeiro episódio e o segundo.  Foi bem surpreendente.  

Ah, sim, estão usando coisas do mangá que está em andamento na Melody, toda a parte do backstage veio de lá, e já deixaram algumas questões do mangá prequel para lá.  O resultado está muito bom, mas eu recomendo muito que você, que está gostando de Kageki Shoujo, leia o mangá.  E, se possível, assista algo do Takarazuka para entender do que se trata.  Meu marido disse que vai fazer isso em breve.

1 pessoas comentaram:

Eu li o que até o momento foi publicado do mangá e achei que, no geral, a situação toda foi melhor desenvolvida no mangá. Houve uma certa pressa para comprimir todo o drama de infância da Narata Ai num único episódio, embora o mangá também não se prolongue demasiadamente no incidente, afinal o "drive" da estória é ser predominantemente positiva e alegre. Há conflitos e dramas, contudo esses são resolvidos de maneira relativamente rápida. Talvez seja melhor assim, "nem muito à terra, nem muito ao mar", porém ao mesmo tempo introduzir o incidente com o fã no mesmo episódio, ficou algo apressado. Este pequeno arco é um dos pontos altos do mangá e simplesmente não me causou o mesmo impacto no anime.

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