quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Algumas palavrinhas sobre os indicados do Oscar, porque este ano temos, sim, o que comentar.

Ontem, saiu a lista dos indicados ao Oscar (*e os filmes com resenha estão linkados*). O povo pode falar que não, fazer pouco caso, mas é a maior premiação do cinema mundial, ainda que isso signifique olhar, principalmente, para o que é produzido nos Estados Unidos. Muito bem, como vinha se desenhando das últimas premiações, Oppenheimer e Pobres Criaturas conseguiram o maior número de indicações, 13 e 11, respectivamente. A seguir, tivemos Assassinos da Lua das Flores com 10 e Barbie com 8.

Primeira coisa, muitas indicações não são sinônimo de muitas estatuetas, a história do Oscar é cheia de filmes que foram muito lembrados, mas saíram quase que de mão abanando, ou sem nada mesmo. Outra coisa, o Oscar tende a não premiar comédia, fantasia e terror. Exceções não fazem a regra e os dramas são os favoritos da Academia. Fora isso, a tomar pelas premiações que tivemos até o momento, e ainda faltam algumas importantes, como o prêmio do sindicato dos atores (SAG) e o do sindicato dos diretores (DGA), além de outros mais específicos, como o do sindicato dos figurinistas (CDG), acredito que seja o ano de Oppenheimer, seguido de Pobres Criaturas.

Se eu tivesse que apostar agora, eu deixaria quatro prêmios importantes já nas mãos de Oppenheimer (filme, diretor, ator e ator coadjuvante), fora o que a película vai levar de prêmios técnicos. Já Pobres Criaturas deve ter sua chance em atriz, roteiro adaptado e talvez ainda leve figurino. Sim, eu acredito que Emma Stone levará por melhor atriz, desbancando Lily Gladstone (Assassinos da Lua das Flores) e a sempre excelente Carey Mulligan (Maestro).

Agora, o assunto depois da indicação foi Barbie, que alguns veículos disseram ter sido esnobado. Crianças, a discussão é outra, porque nenhum filme com oito indicações é um filme esnobado. O problema, em primeiro lugar, foi inscrever Barbie para roteiro adaptado. ADAPTADO DE QUÊ? Os gênios que fizeram a escolha abriram mão de uma possível vitória para uma derrota certa. Barbie não vai levar roteiro adaptado, mas poderia ser um forte candidato à roteiro original. (*Me informaram que, neste caso, a culpa é da Academia*)

Mas vamos ao cerne da questão, Greta Gerwig não foi indicada. Sim, vou focar nela, porque a categoria Melhor Atriz está cheia de gente muito boa e alguém teria que ficar de fora, sobrou para Margot Robbie. É como Leonardo DiCaprio em Melhor Ator. Já brincaram de dança das cadeiras? Pois é. O problema, O PROBLEMA MESMO, é direção. Antes de falar de machismo, vou recordar que não é a primeira, nem a segunda, nem a décima vez, acredito que um filme é indicado e seu diretor, não. E é no masculino mesmo, porque salvo um caso ou outro, como Barbra Streisand em O Príncipe das Marés, as vítimas nesse caso são homens mesmo. Por exemplo, Ben Affleck por Argo. O filme foi indicado, levou melhor filme, mas seu diretor ficou de fora.

O problema é que Greta Gerwig parecia ser uma queridinha da Academia, já tinha duas indicações, que eu nem considero tão justas, por Lady Bird e Adoráveis Mulheres. Quando ela realmente merece, quando oferece um filme genial em muitos sentidos, ela fica da fora. E acabou virando uma piada de humor negro referenciando o roteiro do filme, porque Ryan Gosling, que merece muito, não pensem que não, foi indicado por Ken, enquanto Barbie a diretora, não. Não existe Ken sem a Barbie e, no fim das contas, foi ele quem levou a melhor, Porque "I'm Just Ken" está bem cotada para receber melhor canção original.

O próprio ator, ao comentar a sua indicação, foi de uma elegância e perspicácia no limite da perfeição, pois ele disse o seguinte: "É uma honra imensa ser indicado pelos meus colegas ao lado de artistas tão notáveis em um ano com tantos filmes excelentes. E nunca pensei que estaria dizendo isso, mas também é uma honra incrível e estou muito orgulhoso por interpretar um boneco de plástico chamado Ken. Mas não há Ken sem Barbie, e não há filme da Barbie sem Greta Gerwig e Margot Robbie, as duas pessoas mais responsáveis por este filme aclamado mundialmente que faz história. Nenhuma indicação seria possível para ninguém no filme sem o talento, a determinação e a genialidade delas. Dizer que estou desapontado por elas não terem sido indicadas em suas respectivas categorias seria um eufemismo."

Ryan Gosling não vai ganhar, se acontecer, será uma zebra e vai detonar uma outra gritaria, como se fosse uma afronta ao discurso que perpassa o filme Barbie. A minha torcida não vai fazer diferença nenhuma. America Ferrera, que á uma gracinha, nem deveria estar indicada, mas a diretora responsável por Barbie deveria e muito. A exclusão de Gerwig é inexplicável, mas ter duas mulheres diretoras indicadas no mesmo ano é algo praticamente impossível. Vejam, não é questão de competência, houve outras mulheres esquecidas este ano, é simplesmente para dar lugar ao maior número de machos brancos possíveis. E, salvo se eu for apontar que gregos, ítalo-americanos e judeus não são vistos pelos supremacistas como brancos, este ano, os cinco candidatos são considerados socialmente brancos na maioria dos países do mundo, inclusive a única mulher indicada, Justine Triet.

Em toda a história da premiação, somente oito mulheres foram indicadas à melhor direção, a maioria nos anos mais recentes, e somente três venceram. Sim, você pode ter feito o filme mais lucrativo do ano e que é realmente muito bom, mas você é mulher. F***-SE! E, bem, se indicam tantos filmes ao prêmio principal, que mal há em indicar mais diretores, também? Ah, mas alegrem-se, mulheres! Este ano temos um incrível recorde de filmes dirigidos por mulheres entre os que disputam o melhor do ano! Rufem os tambores! São TRÊS! Barbie, Vidas Passadas e Anatomia de uma Queda. Viu quanta representatividade?

O fato é que a exclusão e Barbie (*e da diretora*) e a indicação de Ken faz lembrar que o patriarcado é o que é. O filme Barbie estava muito correto no seu deboche e mesmo que a Academia esteja buscando ampliar a sua diversidade, um filme debochado como Barbie, mesmo sendo a maior bilheteria do ano, não pode receber tantos reforços positivos. É isso. Com sorte, Barbie sai com melhor canção original, melhor figurino, e alguma coisa da área de direção de arte. Nem cabelo e maquiagem rendeu uma indicação e o filme ainda ficou fora de melhor fotografia.

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