Hoje, pouco depois da meia noite, uma amiga querida me perguntou se eu estava sabendo que Fire! (ファイヤー!), de Mizuno Hideko, provavelmente seria publicado no Brasil. Sabe quando uma notícia é muito boa para ser verdade? Quando é tão estranha que seu cérebro fica processando a informação e parece não aceitá-la? Mas, enfim, a editora Pipoca & Nanquim fez o anúncio oficial em sua live hoje. O anúncio vem lá quando o vídeo está passando de 1 hora e 37 minutos:
Fire! conta a história do jovem Aaron, que é injustamente encarcerado em um reformatório, onde conhece e faz amizade com o carismático Fire Wolf, um rebelde e cantor talentoso. Após a morte de Wolf em um acidente de moto, Aaron decide seguir seus passos e se tornar um músico de rock, iniciando assim um mergulho na contracultura dos Estados Unidos do final dos anos 1960. Dedicando-se totalmente à música e atormentado pelas incessantes visões de Wolf, Aaron explora as drogas, o misticismo e o amor.
Fire! saiu entre 1969 e 1971 na revista Seventeen, que era a antologia shoujo mais adulta, por assim dizer, da época. Foi o primeiro shoujo a ter um protagonista masculino e a ter uma cena de sexo. Tempos atrás, traduzi (*mal e mal*) uma entrevista da Hideko Mizuno (*a original está aqui*) e ela falava das censuras que sofreu dos editores no início de sua carreira, quando qualquer toque entre personagens femininas e masculinas nas revistas para meninas era motivo de escândalo. Em Fire!, ela teve liberdade para trabalhar e ganhou o 15º Shogakukan Manga Award.
Mas que ninguém fique muito empolgado achando que a autora teve seu talento plenamente reconhecido em sua época, porque na mesma entrevista que citei, Hideko Mizuno comenta de como era dura a vida de mangá-ka, mais ainda se fosse mulher, e de como Fire! foi encurtado, não por não fazer sucesso, mas por uma retaliação já que ela foi parte de um grupo de mangá-kas, dentre eles Tetsuya Chiba (Ashita no Joe), que decidiram fundar um sindicato. Depois disso, ela passou a trabalhar mais como freelancer, porque as editoras evitavam lhe dar contratos fixos. E, para tornar as coisas mais difíceis, no meio desse turbilhão todo, ela descobriu que estava grávida, apesar de ser uma mulher solteira.
Só que Hideko Mizuno, a única mulher a residir na década de 1950 no Tokiwa-so, o lendário prédio onde Osamu Tezuka, de quem foi auxiliar, ajudou a formar uma geração de mangá-kas, nunca se intimidou e continua produzindo até hoje. Para quem está achando o traço familiar, o SBT exibiu uma série animada baseada em um mangá da autora, Honey Honey no Sutekina Bouken (ハニー・ハニーのすてきな冒険), nos anos 1980.
Enfim, Fire! terá dois volumes na edição da Pipoca & Nanquim. Originalmente, foram quatro volumes, acho, mas já foi republicado em múltiplos formatos. A minha edição é bunko em três volumes. De novidade, a edição da Pipoca & Nanquim trará dois gaiden que a autora publicou anos depois do término da série. A previsão do lançamento é em abril com pré-venda a partir do mês que vem. Eu imagino que cada volume não saia por menos de 90 reais. Como um dos sujeitos, que esteve em Angoulême, se empolgou e começou a falar de Hagio Moto, imagino que esta autora não tarde a aparecer por aqui.
1 pessoas comentaram:
Maravilhoso. Estava outro dia ranzinza pela falta de Hagio Moto e nem poderia imaginar que em pouquíssimo tempo ia ter anúncio de Hideko Mizuno e ainda uma talvez pista de Hagio!
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