quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Até que enfim uma adaptação interessante de Ivanhoé...



Eu li Ivanhoé de Sir Walter Scott, em versão recontada e resumida, quando era adolescente e foi, durante muito tempo, um dos meus livros favoritos. Para quem não conhece o básico da história (*e como é difícil resumir este livro*), Ivanhoé é o nome de um cavaleiro que rompeu com o pai, porque este não quis permitir que ele se casasse com Rowena, descendente dos reis saxônicos. O pai, tutor da moça, deseja que ela se case com um príncipe saxão e sonha em expulsar os normandos da Inglaterra, restaurando a velha monarquia. Ivanhoé vai para as Cruzadas e volta incógnito. Na Inglaterra, governa o Príncipe João responsável por um governo cruel e temeroso do retorno de Ricardo Coração de Leão. Ivanhoé descobre que foi difamado e precisa limpar sua honra e conseguir finalmente casar com a mulher que ama. Só que seu caminho se cruza com o do vilão, o templário Bois-Guilbert, e outros obstáculos, além da bela judia Rebecca (*ambos são capturados e ela cuida do ferido Ivanhoé*), Robin Hood e do Cavaleiro Negro, que não é outro senão o próprio rei Ricardo disfarçado.

Nunca fui fã do casal protagonista, no caso Ivanhoé e Rowena, mas adorava Rebecca e o "vilão" Brian de Bois-Guilbert. Também adorava o “Cavaleiro Negro”, o Rei Ricardo disfarçado, Frei Tuck e Robin Hood. Curiosamente, acho que a melhor encarnação das personagens está neste livro. E eles brilham ainda mais quando o herói, Ivanhoé, passa boa parte do livro ferido e estirado em uma cama. Quando peguei o livro original e completo, confirmei minhas impressões, e acrescentei Wamba e o próprio Cedric à lista das ótimas personagens. Estranhamente, talvez por ser um livro cheio d epersonagens e com uma protagonista fraca, as adaptações para o cinema que assisti foram todas muito ruins. Daí, esta semana descobri que a BBC fez uma minissérie com seis episódios (*igual Orgulho & Preconceito*) em 1997. OK, vamos atrás disso.

Baixei a série (*torrent aqui*) e comecei a dar uma olhada. Mesmo cansada e sem tempo, não consegui parar de assistir o último episódio. Sim, comecei pelo final, e, apesar de perceber as mudanças (*olhei o livro e confirmei que minha memória não estava me traindo*), assisti uma das melhores cenas com Leonor da Aquitânia que eu já vi. Siân Phillips encarnou uma Leonor tão espetacular, tão cheia de dignidade e autoridade, quanto a de Catherine Hepburn. E esculachou Ricardo e João com tanta ironia que foi parelha aos confrontos da Leonor de O Rei no Inverno com o Richard de Anthony Hopkins. A cena, claro, não é original do livro. E a Rowena de Victoria Smurfit tem sangue quente, ao contrário da original que me parecia muito apagada diante de Rebecca. Vi pouco da Rebecca de Susan Lynch, sei que elogiaram a sua performance, embora ela não se pareça em nada com a descrição física da original. A atriz que faz Rowena é linda, Rebecca precisava ser, também, além de melancólica... Não gostei da simetria do rosto de Susan Lynch, mas importa a interpretação que ela dará à personagem. Mérito até agora é terem transformado Ivanhoé em um sujeito interessante, no livro ele me irritava com sua situação de eterno ferido... fora, claro, a sua indecisão diante de Rebecca. Se bem, que isso era mais que esperado... Ah, sim! Meteram muito romance na história, violência e tudo mais que o original omitia... Fica muito mais evidente que Ivanhoé está dividido entre Rebecca e Rowena. Eu sempre acreditei, e retomando o livro reforcei a minha impressão, de que o herói queria ficar com a judia, mas, enfim, isso não era possível... Agora, Brian de Bois-Guilbert é, de novo, um dos centros da minha atenção. O ator que o interpreta é o excelente Ciaran Hinds, que fez o Capitão Wentworth de Persuasão (1995), além de estar no filme Jornada pela Liberdade, que eu comentei no fim de semana. Hinds encarna Bois-Gilbert com tamanha paixão que, mesmo com um Ivanhoé brilhando mais, é o vilão que conduz a história.

A opção da produção é retratar um século XII muito sujo e realista. Nesse aspecto trata-se de uma excelente reconstituição do período. Quem gosta de Idade Média limpinha deve ficar longe. A violência, também, é muito grande. A ferida que Ivanhoé faz no rosto de Bois-Guilbert foi uma das mais feias que já vi em um filme e me pareceu ferida de verdade, por assim dizer. Eu achei ótimas críticas na internet e, até agora, estou concordando. Vi críticas pertinentes, também. Colocaram uma Rowena com muito ciúme de Ivanhoé e Rebecca (*não sem razão, claro*), no entanto, a cena final das duas, carregada de dignidade e beleza deveria ter sido mantida. Uma Rowena birrenta e disputando o homem que já era seu com Rebecca não foi uma mudança feliz. Também preferia que mantivessem a ordália de Bois-Guilbert, uma das mais espetaculares da literatura, ainda que o combate entre ele e Ivanhoé tenha sido um dos pontos altos do último capítulo. Mas queria Ivanhoé ferido e em desvantagem enfrentando o culpado cavaleiro que morre “por castigo de Deus”, salvando a pobre Rebecca da fogueira. Eu amo esta seqüência, foi um desperdício mudá-la.

Enfim, se você quiser assistir uma boa série medieval, com uma reconstituição de época primorosa e ótimas interpretações, Ivanhoé é excelente pedida. Agora, se você é purista em relação ao livro, não vale a pena, mas, até onde sei, nenhuma adaptação de Ivanhoé faz jus ao livro, a minissérie da BBC, pelo menos, é um material interessante e bem cuidado.

4 pessoas comentaram:

Eu também gosto muito da obra de Ivanhoé e apesar desta versão ser bem mais realista (a sujeira é realista! rsrsrsr) eu prefiro a versão de 1882. Não sei se você chegou a ver. O duelo final de Ivanhoé ficou bem fiél ao livro e achei as personagens femininas mais bem trabalhadas.

Perdão! É 1982! Errei o dedo! rsrsrsr

Tenho as mini-séries da BBC de Jane Austen e elas são uma boa referencia... vou baixar fiquei curiosa para conferir!!!

Pandora, muito obrigada por comentar tantos posts de uma vez. Foi uma grata surpresa e você tem tantas coisas interessantes a dizer. Vou tentar comentar todos os que puder. ^_^

Eu adoro minisséries da BBC. Sempre que posso, eu comento.

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