quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Gengoroh Tagame lamenta o fim das antologias de mangá gays (Bara) no Japão + minhas ponderações a respeito


Não acompanho de perto o mercado de Bara mangá, aquele voltado para o público gay masculino no Japão, mas como essa notinha apareceu no ANN, decidi trazer para o blog.  Muita gente ainda acredita que mangá BL é mangá para o público gay, mas, no Japão, BL (*boys love, YAOI*) é coisa de mulher para mulher, por assim dizer.  Os mangás Bara tem uma estética diferente e são, pelo menos os que eu vi, sexualmente bem agressivos.  Explicado isso, quem é Gengoroh Tagame?  

Tagame é um dos grandes nomes, o maior, talvez, dessa demografia, mas conseguiu um lugar ao sol por publicar uma série em uma revista mainstream.  Saiu do nicho, onde seu talento já era amplamente reconhecido, para o estrelato.  Ele recebeu o Eisner Award pelo seu mangá Otouto no Otto (弟の夫).  Nesse momento,  ele está publicando o mangá Bokura no Shikisai (僕らの色彩) em uma revista seinen, a Manga Action, a mesma que publicou Orange (オレンジ).

Novo mangá de Tagame tem como protagonista
um rapaz que descobre a dua homossexualidade.
Enfim, segundo o ANN, que está traduzindo do site pessoal do autor (*+18*), ele lamenta que as antologias de mangás barra estejam morrendo.  O autor cita que foram canceladas Sabu, G-men, Badi, SM-Z, Kinniku-otoko e a Nikutai-ha.  A única que restou, a Samson é ultra especializada, porque, segundo ele tem como público alvo homens velhos e gordos.  A G-Men foi fundada por Tagame e Hiroshi Hasegawa em 1995.   “Eu estou sentindo que presencio o fim da era das antologias japonesas para homens gays no Japão”.  Acredito que de Tagame olhasse em volta, veria que o processo aprece ser mais amplo e que muitas antologias de diferentes demografias, revistas tradicionais, vem sendo canceladas nos últimos anos, ou transferidas para a internet.  Para pornografia, pelo menos para mulheres e, ao que parece, homens gays, a internet é o território mais seguro.

Ele se desculpa com seus fãs dizendo que, por isso, fará cada vez mais mainstream mangá (*seinen, provavelmente*) e mangás erótico-pornográficos somente nas horas vagas, ou em algum projeto de crowdfunding.  Olha, e não estou criticando o autor, acredito que parte do lamento seja uma desculpa para justificar uma nova fase de sua carreira.  Ele, agora, é recebido em todo o lugar, por assim dizer e tem o seu talento reconhecido para além de seu nicho. E, o melhor, ele continua tratando de temas como a homossexualidade, a aceitação da diversidade, sem ser estigmatizado.  É até engraçado, porque o sujeito que produzia pornografia mostra que entende muito da alma humana. 💖

Primeiro mangá BL oficial de Fumi Yoshinaga,
Tsuki to Sandal (月とサンダル).  Para muita gente,
ela nunca seria capaz de fazer uma "obra séria". 
  
Olho para Tagame e vejo um processo semelhante ao que aconteceu com Fumi Yoshinaga.  Ela fazia doujinshi e mangá BL, produziu para um nicho.  Começou a lançar mangás para um público mais amplo, porque arrastava sua fanbase e conseguia agregar mais gente.  Daí, veio Ōoku (大奥), o status de grande obra, material sério, indicações, premiações, adaptações para cinema e dorama etc.  É uma nova fase da carreira dela, não acho que ela vá voltar ao BL puro, por assim dizer.  Da mesma forma, não acredito que Gengoroh Tagame volte ao Bara mangá, ainda que queira, sim, manter sua base de fãs.  É isso.  Divagações.  

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