domingo, 27 de janeiro de 2019

Jornal do Shoujo Café: saias curtas atraem tarados, mulher vai ao banheiro e descobre que estava parindo gêmeos, novos episódios de She-Ra, tragédia de Brumadinho e outras notícias dos últimos dias.



Semana passada, falhei em publicar o jornal. Não deu, perdi o timing, estou de ferias, afinal, mas o importante é que o blog continue funcionando.  Começo já escrevendo que nenhuma notícia da semana pode suplantar a tragédia de Brumadiinho (MG) e ainda que não seja assunto ligado aos temas que normalmente aparecem no nosso blog, já falamos de tragédias antes e deixarei recomendação de alguns vídeos no final que ajudam a pensar o que está acontecendo e o que podemos fazer para evitar que  coisas assim possam voltara ocorrer. E, só para marcar mais uma vez, este blog é escrito sob uma perspectiva feminista e  quem estiver lendo precisa ter isso em mente.

Naomi Osaka fazendo História no tênis.
1. Naomi Osaka se torna o primeiro asiático, homem, ou mulher, a liderar o ranking profissional de tênis.  Falei da  jovem tenista essa semana por causa da propaganda da Nissin que branqueou-lhe a pele, tinha falado dela antes, quando a atleta japonesa venceu o Aberto dos Estados Unidos vencendo Serena Williams na final.  Pois bem, essa menina brilhante venceu o Aberto da Austrália ontem.  Espero  que ela consiga outros triunfos por ela, porque tem méritos para isso, pelo Japão, e  para ajudar a derrubar muitas ideias racistas que ainda se sustentam por aí.  Para quem não sabe nada sobre Osaka, a jovem é filha de mãe japonesa e pai haitiano e os próprios japoneses não sabem como lidar direito com ela.  

Jackelyne, carreira e vida interrompidas.
2. Jackelyne Silva, promessa da ginástica artística brasileira, morre aos 17 anos.  Se tivesse feito o jornal na semana passada, não teria comentado o caso dessa menina, que pleiteava  um lugar na equipe principal de ginástica de nosso país, porque aguardava detalhes do caso.  A jovem levou um tombo em casa, convulsionou, foi levada para o posto médico, retornando pelo menos três vezes.  A família argumenta que houve erro de diagnóstico e negligência médica.  Não há nada de conclusivo e a imprensa parou de falar do caso, como a família de atleta é pobre, a coisa deve cair no limbo.  O que me dói, é ver uma adolescente perder a vida dessa forma, comprovada a negligência no atendimento, a coisa potencializa a dor dos pais, no entanto, não deveria ser tratado como questão privada, é crime, e exige punição.

1. "Então, chegamos a um acordo, avida começa com a emissão
de esperma.  A masturbação masculina está oficialmente banida."
2. "Exceto em casos de doação de esperma, claro."
3. E se as mulheres governassem e tratassem os homens como eles nos tratam? A artista norte-americana Katie Rose fez uma série de cartoons retratando um mundo no qual as mulheres dominassem a política, a imprensa, as políticas públicas e tratassem os homens como eles, normalmente, nos tratam,  com desdém, com condescendência, como se estivéssemos no mundo em função deles.

1. "Eu me preocupo com os homens. Eu tenho um marido e um filho. 
Meu pai era um homem." 2. "Eu conversei com os homens nas minhas
relações sobre meu plano, e sabem de uma coisa?  Eles concordam comigo!" 
Alguns da seleção são muito americanos, por assim dizer, mas, a maioria, se aplicaria a nós sem problema.  Escolhi dois e traduzi os balões na legenda.

Mais episódios de She-Ra em abril.
4. She-Ra  ganha segunda temporada. Os novos episódios estreiam 26 de abril na Netflix.  Parece que a nova abordagem da personagem agradou em cheio o público, ou vários públicos, e teremos mais personagens e novas  histórias.  Eu só vi um episódio de She-Ra até o momento, se tiver forças para retomar, faço uma resenha.  O Newsrama trouxe uma entrevista com a criadora da série, Noelle Stevenson, vale a leitura.  

Surpresa!
5. Mulher não sabia que estava grávida e tem filhas gêmeas no banheiro de casa.  Já assisti vídeos, li depoimentos e matérias sobre mulheres que não sabiam que estavam grávidas e tiveram UMA CRIANÇA só.  Duas, nunca.  A moça menstruou a gravidez inteira, não teve nenhum sintoma, nada.  Foi ao banheiro fazer xixi e teve a primeira menina.  Ligou para o serviço médico e recomendaram que aguardasse a placenta.  Bem, veio outra menina.  Estava com 37 semanas e só achava que estava "gordinha".  Estou postando, porque estou um tanto chocada.  Agora, obviamente, estou ciente de que parir deveria ser simples, senão se fizesse tanto terror em torno disso.

Mulheres na Arábia Saudita.
6. Falando em gravidez e parto, mulheres sauditas agora poderão decidir sobre como querem parir, inclusive optar por uma cesariana, sem depender de seu guardião.  Sim, segundo a leitura da Sharia vigente na Arábia Saudita, mulheres precisam de um guardião (*pai, irmão, marido, filho, outro parente masculino, tutor*) que decida por elas uma série de coisas, como se elas podem trabalhar, ou viajar ou casar, enfim, quase tudo.  Não sabia eu que podia controlar até questões como essas e, pior, para ter informações sobre data prevista de parto, ou estado de sua gravidez, as sauditas precisavam de um autorização por escrito, ou o médico somente falaria para o guardião.  

E que ninguém venha dizer que é medieval, porque não é.  Na Idade Média, seja no Ocidente, ou no Oriente, gravidez era assunto de mulheres e só era coisa pública se envolvesse rainhas, ou imperatrizes.  É aviltante que o corpo de uma mulher seja controlado nessas minúcias por qualquer pessoa que não seja ela mesma.

Takakito Usui, 45 anos, solicitou a mudança de
seus documentos sem a obrigatoriedade de
esterilização compulsória.  Sua demanda foi recusada.
7. Japão obriga os transsexuais a se esterilizarem em caso de transição de gênero. Esta semana, a Suprema Corte no Japão legislou contra a comunidade trans. Uma ação pedia a suspensão da chamada Lei 111, que obrigada pessoas que passavam por um processo de transição de gênero, solicitando alteração nos documentos e tudo mais, a se esterilizarem.  A lei tem somente 15 anos, ou seja, é bem recente, mas vai contra o que as pessoas trans consideram seus direitos humanos, por assim dizer.  

Infelizmente, muito mesmo, o Japão é um país de grandes contrastes, moderno, avançado, com índices invejáveis de desenvolvimento humano, porém é machista, homofóbico, transfóbico e racista em larga medida.  Na minha avaliação, um dos motivos é o controle sobre a sociedade de homens velhos (*gerontocracia*) boa parte deles sem sensibilidade em relação aos que não fazem parte do seu grupo, ou círculo de interesses.

As saias curtas não são convite ao assédio.
8. Saias curtas são responsáveis por ataques sexuais.  No Japão, existe um termo “chikan” que se aplica aos homens que bolinam mulheres no transporte público.  Já falamos disso no Shoujo Café mais de uma vez (*Exemplo: 1 - 2*) e qualquer um que leia mangá, ou assista anime, já viu a situação representada de várias maneiras.  Pois bem, o Sora News publicou sobre um escândalo envolvendo uma das maiores empresas que produzem uniformes escolares, a Kanko, e que produziu um pôster com os seguintes dizeres.  “A saia curta que você ache que é kawaii provoca crimes sexuais.  E não é apenas uma medida preventiva para você mesma, mas para suas amigas e companheiras, também”.  

Enfim, esse tipo de mensagem segue aquela linha que culpa as mulheres e meninas pelas agressões sexuais que sofrem, afinal, bastava se vestir de forma modesta e decente.  O culpado, o responsável, é sempre o agressor e pesquisas feitas em países como o Egito, onde a maioria das mulheres andam cobertas, apontam que o assédio existe independente disso.  Aliás, é uma forma de controle das mulheres e de sua presença no espaço público.  Só estão mais ou menos seguras as acompanhadas.

O tal cartaz.
A coisa foi parar no Twitter, a reação foi muito ruim.  Curiosamente, a empresa se desculpou dizendo que a propaganda fotografada em uma estação de metrô era de 2012, ou seja, demorou muito tempo para gerar a necessária indignação.  O pedido de desculpas sugeriu, no entanto, que, na época, a ideia estava de acordo com as diretrizes da polícia, ou seja, passou a bola para as autoridades. A polícia, ao que parece, não se pronunciou.  O SN, no entanto, enfatizou que a discussão serve para pelo menos uma coisa, lembrar que as mulheres não são culpadas, que suas roupas não são responsáveis pelos ataques de pervertidos.

Não foi acidente, foi crime.
 9. Brumadinho (MG), mais uma tragédia, não, não, o termo adequado é CRIME.  Anteontem, começou mais uma tragédia fruto de crime ambiental.  Leis ineficientes, punições leves demais, e estamos ainda contando os mortos e tentando dimensionar dos danos econômicos e ambientais.  Pois bem, registro que o governo atual agiu de forma rápida e muito mais humana e eficiente do que o Governo Dilma, no caso de Mariana.  Mesmo com sua cirurgia marcada para amanhã, segunda-feira, o presidente Bolsonaro se fez presente no local da tragédia em menos de 24 horas, além de instituir poucas poucas horas depois do ocorrido um gabinete de crise.  


Não foi acidente, foi crime.
Espero sinceramente que a política ambiental que ele mesmo, Bolsonaro, tinha planejado, seja revista.  Há tempo, e Brumadinho está aí mostrando o quanto a tolerância com empresas gananciosas não é bom para ninguém.  Pois bem, termino o jornal recomendando três vídeos.  O do Henry Bugalho foi o primeiro a ser publicado e discute o quanto essas tragédias são frequentes, porque as  vidas ficam em segundo plano em relação aos lucros; o da Sabrina do Tese 11 é a análise de uma eco socialista sobre os problemas do sistema que fazem com que tragédias assim sejam frequentes; o último vídeo, o do Pirula, tem palavrões demais, mas traz uma análise robusta do caso todo e das futuras tragédias.  Saber que Ouro Preto pode ser destruída em breve me deu angústia.  É isso, por favor, assistam os três vídeos.  Eles valem a pena.

  

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