domingo, 19 de setembro de 2021

Grande Mestre do xadrez citada em Gambito da Rainha processa a Netflix

Um dos assuntos mais importantes da semana sob um prisma feminista foi a notícia de que a enxadrista georgiana e da antiga URSS Nona Gaprindashvili está processando a Netflix por ter sido citada de forma desqualificadora e mentirosa em Gambito da Rainha.  No episódio final da série, o comentarista fala sobre a protagonista, Beth Harmon, o seguinte "A única coisa incomum sobre ela, realmente, é seu gênero. E mesmo isso não é único na Rússia. Há Nona Gaprindashvili, mas ela é a campeã mundial feminina e nunca enfrentou homens".  Naquela altura da série, Gaprindashvil já tinha enfrentado vários homens, nomes importantes do xadrez e os derrotado.  Segundo o Estadão, "A denúncia lembra, ainda, que a jogadora de 80 anos competiu contra dezenas de enxadristas masculinos de destaque, derrotando 28 deles ao longo de sua carreira."

Sobre isso, a Wikipedia em inglês diz ainda o seguinte:  "Durante sua carreira, Gaprindashvili competiu com sucesso em torneios masculinos, vencendo, entre outros, o torneio Hastings Challengers em 1963/4. Ela empatou em segundo lugar em Sandomierz em 1976, empatou em primeiro lugar em Lone Pine em 1977, e empatou em segundo em Dortmund em 1978.  Sua performance em Lone Pine fez dela a primeira mulher a ganhar uma norma para o título de Grande Mestre Internacional. Embora ela não tenha cumprido todos os requisitos da norma, ela se tornou a primeira mulher a receber o título de Grande Mestre Internacional da FIDE em 1978."


Na minha resenha sobre a série, que eu assisti e gostei, eu enfatizei o quanto ela era negligente e mentirosa ao ignorar que a protagonista era mulher e sujeita a uma série de discriminações de gênero que deveriam estar em Gambito da Rainha e que JAMAIS elas seriam uma questão menor na vida de Beth Harmond ou qualquer outra enxadrista.  O que me escapou, porque eu só conhecia as irmãs Polgar e tinha lido a crítica feita por uma delas à série, é que os caras que fizeram a série, sim todos homens, chegaram a mentir sobre uma enxadrista real, citada por nome, para elevar a sua criação.

Enfim, eu torço muito para que Gaprindashvili ganhe a indenização que está pedindo.  Não basta tentar vender uma imagem irreal do que era (*e ainda é um pouco*) ser mulher no mundo do xadrez, ou ser mulher nos anos 1960 e 1970, mas eles ainda rebaixaram o maior nome feminino do xadrez no mesmo momento para tornar sua protagonista sexy ainda mais brilhante. É nojento, sabe?  E recomento o texto do Omelete da Julia Sabbaga sobre o tema, também.

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