Esse artigo do The New Yorker estava aberto aqui faz um bom tempo, estava guardado para traduzir e publicar. Enfim, não conhecia o livro “Work: A Story of Experience” (Trabalho: A Estória de uma Experiência), procurei e não encontrei referência a nenhuma edição brasileira, da mesma forma que não encontrei nenhuma edição de "An Old Fashioned Girl" (*que já teve filme para o cinema e para a TV*),[1] mas este eu já ouvira falar, e dos contos de Natal da autora. Pelo que está no artigo, “Work: A Story of Experience” é não somente um livro feminista, no sentido puro da palavra, mas uma obra antirracista e permeada socialista utópica, por assim dizer. Parece ser muito interessante mesmo, ainda que me pareça um material, a tomar pelo artigo, um tanto ingênuo.
Enquanto isso, temos muitas edições de Little Women, com títulos diversos, em um ou dois volumes, integral ou adaptado para um público juvenil, e, em número bem menor, suas sequências. Recentemente, a Pedra Azul publicou Oito Primos e O Desabrochar de Rose (*sequência de Oito Primos*). Não li nenhum dos dois. Para quem quiser, eu tenho resenha dos filmes e séries de Little Women de 1933, 1949, 1979 (*não é bem uma resenha*), 1994, 2017 (*primeira parte/segunda parte*), 2019. Little Women já virou anime mais de uma vez e até dorama. Enfim, o artigo está abaixo. mantive a estrutura do artigo original. Espero que a leitura seja útil. Para quem quiser ler o original, é só clicar AQUI.
O romance feminista utópico sobre o ambiente de trabalho de Louisa May Alcott
Em “Work: A Story of Experience”, Alcott ficcionaliza suas próprias atividades como empregada doméstica, costureira, governanta e dama de companhia — e questiona se um salário conta como liberdade para as mulheres.
Por Sarah Blackwood
22 de julho de 2025
Em janeiro de 1861, Louisa May Alcott começou a escrever um romance que planejava chamar de "Sucesso". Alcott tinha 28 anos e morava em Orchard House, a casa da família em Concord, Massachusetts. Naquele mesmo mês, sua mãe adoeceu brevemente, porém gravemente, e Alcott abandonou o manuscrito para cuidar dela. "Escrevi um novo livro — 'Sucesso' — até que minha mãe adoeceu", escreve ela em seu diário. "Entupi meu tinteiro e me tornei enfermeira."
É fácil descobrir quanto dinheiro Alcott ganhava com seus escritos, pois ela mantinha registros muito precisos e simples em seus diários, que listavam o que a escrita lhe rendia, além do que ela ganhava com costura, ensino e outros trabalhos ocasionais. Ela começou a praticar, com carinho, ainda adolescente, em 1850, ano em que vendeu sua primeira obra de ficção, o conto "Os Pintores Rivais", por cinco dólares. (O conto foi publicado dois anos depois.)
Alcott pode ser uma das nossas maiores, porém menos reconhecidas, teóricas feministas do trabalho. Seus romances, ensaios e artigos pessoais revelam o quanto, e com que inventividade, ela refletiu sobre a relação entre dinheiro e arte, e sobre seu lugar nos sistemas de trabalho remunerado e não remunerado. Frequentemente lhe pediam para deixar de lado a escrita para se dedicar ao trabalho doméstico, mas ela também descreve sua família assumindo essas tarefas para apoiá-la em seu trabalho criativo. Ela via o trabalho doméstico a serviço de pessoas que amava como uma incubadora para a criatividade, escrevendo em seu diário, ainda muito jovem, que "posso escrever romances enquanto faço minhas tarefas domésticas, então consigo um dinheirinho". Perto do fim da vida, enquanto cuidava do pai após ele sofrer um derrame, Alcott novamente estabeleceu uma conexão entre os dois tipos de trabalho — doméstico e criativo — que definiram sua vida: "Comecei um livro chamado 'Gênio'. Nunca o terminarei, ouso dizer, mas preciso manter um espaço para minhas fantasias escaparem. Esta vida dupla é cansativa e minha cabeça funcionará tão bem quanto minhas mãos."
“Work” ficcionaliza as experiências de Alcott como criada, costureira, governanta e dama de companhia. Trata essas e outras formas de trabalho realizadas por mulheres de sua época (domésticas, trabalho em fábricas, trabalho sexual) como inerentemente dignas. Há uma linha reta entre a descrição de Alcott de seus ganhos na adolescência e seus esforços, décadas depois, para tornar esse trabalho visível aos leitores e exigir que fosse contabilizado. O romance começa com uma cena doméstica — uma jovem e sua tia sovando massa à mesa da cozinha. Esse quadro sentimental é perturbado quando a moça, cujo nome é Christie Devon, anuncia “uma nova Declaração de Independência”: ela vai “viajar pelo mundo em busca da minha fortuna”. Ela continua: “Tenho idade suficiente para cuidar de mim mesma; e se eu fosse um menino, já teriam me dito para fazer isso há muito tempo. Detesto ser dependente; e agora não há necessidade disso.”
Christie é charmosa, enérgica e bem-humorada. ("Brincando como sua mãe, cheia de noções incoerentes, descontente e bêbada em suas próprias ideias. Capital ruim para começar uma fortuna", responde seu tio Enos, rabugento, à sua declaração.) Durante anos, ela tentou de várias maneiras conter sua fome por "uma vida mais ampla e nobre". Tentou ler, tentou fazer amizade com "garotas peitudas cuja única ambição era 'se casar'" e tentou se deixar cortejar por homens que estão inteiramente "embrulhados em gado premiado e nabos grandes". Nenhum deles proporcionou a sensação de realização pessoal e independência que ela busca. E então ela deixa a casa da família e entra no mercado de trabalho.
O primeiro terço do romance acompanha Christie em cinco diferentes tipos de emprego remunerado. Primeiro, ela consegue um emprego como empregada doméstica para uma família rica — apenas para ser demitida quando sua "vela particular" incendeia seus vestidos e quase toca fogo na casa. Em seguida, ela encontra trabalho como atriz — até perceber que o teatro a tornou vaidosa e competitiva. Ela aceita um emprego como governanta, e o tio de sua jovem pupila se apaixona por ela; ela serve brevemente como acompanhante remunerada de uma jovem melancólica que, em vez de transmitir a "maldição" familiar da loucura, acaba tirando a própria vida. Finalmente, Christie se torna costureira, até que sua supervisora proíbe sua associação com uma colega de trabalho, Rachel, que, está implícito, é uma mulher "decaída". Christie se recusa e pede demissão. Sem um trabalho significativo, ela considera o suicídio. (Aqui, Alcott reescreve um episódio de depressão que vivenciou em 1858.)
Na segunda parte do livro, Christie, cada vez mais desiludida com o mundo do trabalho assalariado, apaixona-se e casa-se com David Sterling, personagem vagamente inspirado em Henry David Thoreau, amigo e ex-professor de Alcott. Tanto Christie quanto David participam da Guerra Civil: David como soldado do Exército da União e Christie como enfermeira. David é mortalmente ferido em batalha, e o romance termina com Christie, que deu à luz uma filha nos meses seguintes, tornando-se ativa em um grupo local de reforma social e reconstruindo sua vida em uma comunidade multirracial, multiclasse e multigeracional de mulheres dedicadas à organização trabalhista.
Ao longo de "Work", Alcott questiona o que conta como liberdade para as mulheres. Christie abandona o lar familiar e sua dependência forçada, mas sua história não é um triunfo do feminismo inclusivo. As restrições que vivenciou em casa a acompanham no mundo exterior; um salário não anula os limites impostos a ela em virtude de seu sexo. Alcott sugere que a verdadeira conquista de Christie não reside em sua capacidade de se sustentar, mas nos vínculos duradouros que cultivou com as mulheres com quem trabalhou em cada um de seus vários empregos.
No início de "Work", Christie pensa no lar como "estreito" em um sentido negativo. Ela anseia por "escapar" de sua "vida estreita", descarta as "profecias sombrias e as visões estreitas" de seu tio e considera o socorro religioso que busca em desespero "frio e estreito". Na metade do livro, ao se apaixonar por David, ela começa a se sentir confortável, até mesmo aconchegante, dentro dessa estreiteza. “Enquanto ela estava deitada em sua estreita cama branca”, escreve Alcott, “com a ‘luz pálida das estrelas’ enchendo o quarto silencioso, semelhante a uma cela, e alguém tocando suavemente uma flauta acima, ela sentiu como se tivesse deixado o mundo problemático para trás e, excluindo a necessidade, a solidão e o desespero, tivesse chegado a um lugar seguro e isolado, cheio de flores e sol, corações bondosos e atos de caridade.”
Muitas histórias, fictícias e reais, terminariam aqui, com essa sensação de aconchego estreito e feminino. É mérito de Alcott imaginar um final diferente e mais flexível para seus personagens e para nós. O romance termina no quadragésimo aniversário de Christie, com uma reunião de mulheres que se uniram para se organizar e assumir maior controle sobre seu próprio trabalho. "Com um gesto impulsivo, Christie estendeu as mãos para as amigas ao seu redor, e de comum acordo elas colocaram as suas sobre as dela, uma liga amorosa de irmãs, velhas e jovens, negras e brancas, ricas e pobres, cada uma pronta para fazer a sua parte." E de onde vem o dinheiro para sustentar esse trabalho? De um fundo comunitário de salários e de uma generosa pensão do governo. ♦
Sarah Blackwood é professora de inglês na Pace University e editora da edição da Norton Library de "Little Women", de Louisa May Alcott.
[1] A Jéssica me mostrou que há uma edição da Pedra Azul. Eu procurei bastante no Amazon e usando até o nome da editora e não encontrei.
















































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