Como ano que vem teremos uma nova adaptação de Emma, de Jane Austen, nos cinemas, decidi assistir as versões do romance para cinema e TV. São somente quatro, duas séries da BBC (1972 e 2009) e dois filmes, um para o cinema e outro para a TV, em 1996. Na verdade, não garanto assistir a série de 1972. Sei que a tenho gravada em algum lugar, mas é uma produção que parece ter envelhecido mal, mesmo para alguém que gosta de coisas antigas, como eu. Vou tentar analisar cada obra por si mesma e, depois, fazer um post comentando as adaptações no geral e comparando algumas coisas. Será que consigo antes do fim do ano? Tentei fazer algo assim com Jane Eyre, mas não cumpri a maratona completa. Claro que há muito mais adaptações de Jane Eyre do que de qualquer obra de Jane Austen, mas, ainda assim, queria ter terminado.
Para quem não conhece o básico da história daquele que muitos consideram o melhor livro de Austen, literariamente falando, Emma conta a história da única heroína da autora que é rica por nascimento e goza das vantagens que o dinheiro pode trazer. Emma Woodhouse (Gwyneth Paltrow) tem bom coração, mas é um tanto mimada e tem como hobby arrumar casamentos para os outros, enquanto esquece de si mesma. Ela se dispôs a cuidar do pai viúvo e idoso (Denys Hawthorne) e acreditar que solteironas ricas não tem motivo para serem infelizes. Ela tem um vizinho, George Knightley (Jeremy Northam), que é 16 anos mais velho que ela e que visita os Woodhouse com grande frequência. Ele é o único a apontar as falhas no comportamento da protagonista, que é mimada por todos. O irmão de Knightley, John (Brian Capron), é casado com a irmã mais velha de Emma, Isabella (Karen Westwood).
Greta Scacchi sempre competente e muito bonita graças ao figurino inspirado. |
Jane Fairfax (Polly Walker), moça órfã, mas de boa família e muito bem educada, é tudo o que Emma deveria ser em termos de comportamento social e não é. Emma se recente disso. O outro novo morador da vila é Frank Churchill (Ewan McGregor), filho de Mr. Weston (James Cosmo), o homem que se casou com a governanta da protagonista. Churchill é charmoso, mas leviano, e Emma se sente atraída por ele e se comporta mal por influência do rapaz. A situação gera atrito entre a heroína e Mr. Knightley que, em silêncio, sempre foi apaixonado pela moça. De qualquer forma, Emma termina frustrada em todos os seus planos como casamenteira e se desespera ao descobrir que ama Knightley e que pode tê-lo perdido para sua amiga, Harriet Smith.
Harriet Smith vira massa de modelar nas mãos da heroína. |
Uma das características desse filme de Emma é que ele é solar. Os figurinos de Ruth Myers são luminosos, usando muitas cores claras e, ao mesmo tempo, vibrantes. Nem tinha lido a parte que discute isso no verbete da Wikipedia, mas está lá boa parte do que percebi. Tudo passa leveza, as cores são claras, mesmo o figurino masculino não passa a ideia de peso e sisudez. É tudo muito elegante e bonito. O figurino termina, de certa forma, amenizando alguns problemas de escalação de elenco, ou inadequação física de atores e atrizes.
Mr. Elton quase agarra Emma dentro da carruagem. |
Esse aspecto do livro é bem explorado no filme. A interação entre Emma, Harriet e Mr. Elton, está bem caracterizada. Infelizmente, até pela extensão da película, talvez, ele sequer tem duas horas de duração, o Frank Churchill de Ewan McGregor não se destaca como deveria, menos ainda Jane Fairfax, que é motivo de tanto ciúme por parte da heroína. A trama dos dois, importante no livro, não é explorada satisfatoriamente. O filme caracteriza bem os sentimentos de Emma em relação à Jane Fairfax, é verdade, mas a outra aparece muito pouco. Mrs. Elton acaba se destacando mais que Jane, porque o seu aspecto cômico termina se harmonizando melhor com o tom do filme.
Ewan McGregor e seu cabelo horroroso. |
Falando nisso, um dos destaques desta adaptação é colocar em evidência as discussões de classe e de gênero que estão no original. Emma pode ficar solteirona, porque é rica, mas a condição de mulheres como Miss Bates (Sophie Thompson), tia de Jane Fairfax, ou da própria moça, ou de sua avó viúva, Mrs. Bates (Phyllida Law), pode ser deplorável. Uma mulher da pequena nobreza não deveria trabalhar. Jane é obrigada a isso, o que gera consternação de todos os que se relacionam com a família. Jane é governanta. As Bates dependem da caridade da família de Emma, de Mr. Knightley, enfim, de todos que se dispuserem a isso.
Por questão de classe e cavalheirismo (*em um mundo ideal, claro*), tanto os Woodhouse, quanto os Knightley, mesmo os Elton, protegem essas mulheres e tornam sua vida menos miserável para os padrões de seu grupo social, afinal, elas até tem uma criada (*imagine o que deveria ser o salário dessa mulher*), mas não estão livres das humilhações. Uma das passagens do livro que está em todas as adaptações é quando, instigada por Frank Churchill, Emma termina por ser grosseira e arrogante com Miss Bates, o que resulta em Mr. Knightley colocando panos quentes e, mais tarde, passando uma descompostura na heroína ("Badly done, Emma!"*).
Knightley quase sacode Emma nessa cena da bronca. |
Outro ponto, agora ligado ao filme em si. Nesta versão, e revendo as outras vou comparar, claro, Mr. Knightley ao confrontar Emma sobre seu mau comportamento chega a tocar nela, quase sacudi-la. É uma adaptação e como pontuei o Mr. Knightley de Northam é muito mais expansivo que os outros. De resto, adoro a cena do baile, quando Knghtley e Emma conversam sobre a pequenez de Mr. Elton. E há um casal de extras dançando, muito interessante. Ambos são baixinho, a atriz é gordinha e usa um vestido vermelho e o homem é bem de meia idade. Parecem gente comum, por assim dizer. Nesse aspecto, esse Emma surpreende com detalhes.
Atirando e errando. |
Enfim, é isso. Minha memória do filme estava bem apagada. Lembrava bem do Mr. Knightley de Jeremy Northam (*claro!*), mas lembrava de muito pouco em minúcias. Gwyneth Paltrow defende bem sua Emma, e deve ter servido de base para a composição de Agatha Moreira na novela da Globo. Fora isso, é sempre é interessante ver Greta Scacchi atuando. Ela tem várias cenas com Emma. Não se fala de sua gravidez, mas no fechamento do filme, ela aparece com um bebê no colo na pintura de Emma. Aliás, como não poderia deixar de ser, o filme cumpre a Bechdel Rule sem problemas. Enfim, o filme é leve, tem humor, é bonito de se ver graças ao figurino inspirado. Vale as quase duas horas de apreciação.
2 pessoas comentaram:
Você planeja assistir a web série "Emma Aproved"? Eu assistir ela há alguns anos atrás e gostei. Inclusive você pode achar ela legendada.
Não está nos meus planos, não.
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