quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Hollywood está se autocensurando para garantir o mercado chinês + Mulan direto para Streaming


O Hollywood Reporter comentou um relatório de 94 páginas do instituto PEN American intitulado "Made in Hollywood, Censored by Beijing" (Feito em Hollywood, Censurado em Pequim) sobre o esforço dos grandes estúdios japoneses e diretores em adequar suas produções - incluindo elenco, história, diálogos e locações - para agradar ao mercado chinês, na verdade, mais do que isso, para conseguir a aprovação dos censores do país.  

Ora, Hollywood poe até produzir arte, mas o que ela oferece ao mundo são produtos e o segundo mercado consumidor do mundo nos nossos dias (*não sei o que será pós-pandemia*) é a China.  O relatório mapeou essa tendência de adequação desde o filme Homem de Ferro 3, em 2013.  Um dos que deu seu testemunho para o relatório foi Richard Gere, conhecido por sua militância pró-Tibet.  Ele disse: "Imagine o Kundun de Marty Scorsese, sobre a vida do Dalai Lama, ou meu próprio filme Justiça Vermelha (Red Corner), que é altamente crítico do sistema jurídico chinês", disse Gere. "Imagine eles sendo feitos hoje. Eles não aconteceriam."

Red Corner, filme que critica o sistema jurídico chinês.

"Em 1998, o então chefe da Disney, Michael Eisner, pediu desculpas por Kundun, que mostra a opressão chinesa do povo tibetano, chamando-o de "uma forma de insulto aos nossos amigos", e o estúdio contratou o ex-secretário de Estado Henry Kissinger para ajudar a reduzir os danos provocados pelo filme. Até hoje, o filme é maldito para o estúdio. (Kundun não está disponível no Disney + e o estúdio não respondeu quando perguntado se planeja adicioná-lo à plataforma.)"  Não assisti Kundun, mas sei que ele teve impacto no desempenho de Mulan, a animação, na China.

Esta postura de Hollywood pode explicar o silêncio da Disney quando a estrela de Mulan, Liu Yifei, escreveu em agosto passado nas suas mídias sociais: "Eu apoio a polícia de Hong Kong, você pode me bater agora".  Eu comentei o caso aqui. As críticas a essa aparente complacência  para conseguir espaço da China tem vindo de ONGs e, também, da Casa Branca. A partir daqui, um trecho do artigo traduzido:

Kundun pode ter afetado a aceitação de Mulan
na China, não o filme em si.

"Nossa maior preocupação é que Hollywood esteja cada vez mais normalizando a autocensura preventiva, antecipando o que o censor de Pequim está procurando", diz James Tager, vice-diretor de política e pesquisa de liberdade de expressão do PEN e autor do relatório. O professor da USC Stan Rosen, especialista na indústria cinematográfica da China, chama as críticas de censura de "uma tempestade perfeita" que colocará em evidência a indústria do entretenimento. "Vai ficar cada vez mais difícil para Hollywood não responder", observa Rosen. (...)

Para aqueles que trabalham para aumentar a conscientização sobre os abusos dos direitos humanos no que diz respeito aos 61 anos de ocupação do Tibete na China, Hollywood já foi um amigo e agora é um inimigo. Filmes como o estrelado por Brad Pitt, em 1997, Sete Anos no Tibet (Seven Years in Tibet) foram substituídos por produções como o filme de 2019 da DreamWorks Animation, Abominável (Abominable), que reforça as reivindicações territoriais de Pequim no Mar da China Meridional. Para Doutor Estranho (Doctor Strange), de 2016, a Marvel da Disney estava disposta a enfrentar críticas por branquear um personagem asiático interpretado por Tilda Swinton para evitar a participação de um personagem tibetano originário dos quadrinhos. E Top Gun: Maverick, da Skydance/Paramount, foi criticado, como observa o relatório do PEN, pelo "misterioso desaparecimento da bandeira de Taiwan" em uma jaqueta de voo que foi vista no original de 1986.

A explicação do HR para Tilda Swinton no filme
me parece convincente.

"Se Hollywood estiver do lado do dinheiro, mais cedo ou mais tarde eles estarão do lado errado e perderão dinheiro porque o público em geral deixará de assistir a todos os filmes", diz Tenzing Barshee, ativista de Washington, presidente da Área da Capital. Associação Tibetana."

Voltei, aqui.  Hollywood nunca foi muito justa na representação de minorias, mulheres, e não-americanos em geral.  Aliás, resenhei um documentário sobre a representação dos árabes em Hollywood tempos atrás.  Obviamente, se curvar a Pequim não deve significar uma melhora nesse modus operandi. E o mesmo vale para os produtos japoneses se curvando aos interesses e padrões culturais ocidentais.  Sim, acabei de ver gente acusando Fruits Basket (フルーツバスケット) de PEDOFILIA e eu estou me coçando para não ir bater boca, mas deixa quieto, porque isso daria outro texto.

Mulan iria estrear em março.

Enfim, se estamos falando de cinema e de China, Mulan vai entrar na grade da Disney+, que não chegou ao Brasil ainda, no sistema de VOD (video on demand)  em setembro.   Olha, era esperado e, ao mesmo tempo, é burrice, porque o filme vai entrar no top 10 dos mais pirateados.  Mesmo com lançamento posterior no cinema, será que quem já tiver assistido vai querer pagar ingresso?

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