segunda-feira, 31 de julho de 2023

Anunciado o anime de Momochi-san Chi no Ayakashi Ouji

O mangá Momochi-san Chi no Ayakashi Ouji (百千さん家のあやかし王子), de  Aya Shouoto, teve anime anunciado pela Crunchyroll faz alguns dias, é uma das notícias que eu tenho pendurada aqui.  O resumo da história é o seguinte: 

Em seu décimo sexto aniversário, a órfã Himari Momochi herda uma propriedade ancestral que ela nunca visitou e nem sabia que existia. A Casa Momochi existe na barreira entre os reinos humano e espiritual, e Himari deve atuar como guardiã entre os dois mundos. Mas no dia em que ela se muda, ela encontra três belos invasores já morando na casa, e um parece já ter assumido o papel que seria dela.  O primeiro teaser está disponível:

A série foi lançada na revista Asuka em 2013 e foi publicado até agosto de 2019.  O mangá conta com 16 volume e o último encadernado foi publicado em outubro de 2019.  Momochi-san Chi no Ayakashi Ouji é inédito no Brasil, mas, com o anime, talvez seja anunciado por aqui.  

sábado, 29 de julho de 2023

Comentando o quarto episódio de Watashi no Shiawase na Kekkon: o melhor episódio até agora!

É difícil decidir qual é o grande anime da temporada para mim, se Ōoku (大奥), que cobriu o mangá com uma fidelidade surpreendente e uma intensidade emocional para além do comum, ou Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚), que tem uma animação de qualidade altíssima e consegue traduzir o livro em imagens e, ao mesmo tempo, criar momentos preciosos para além do original.  Difícil... difícil... mas eu vou comentar o quarto episódio de Watashi no Shiawase na Kekkon, ou My Happy Marriage, ou ainda, Meu Casamento Feliz.  Trata-se de um anime com título em várias línguas e dublagem para quem nao quiser o material legendado.  Isso é um trunfo.  Muito bem, você não conhece a história de Watakekkon, então, eis o resumo:

Miyo Saimori tem 19 anos e pertence a uma família importante e poderosa em um Japão de fantasia que estaria no correspondente à Era Meiji, neste mundo, algumas famílias são especiais, porque seus membros têm poderes capazes de afastar criaturas (grotesqueries) que podem interferir no mundo natural e causar problemas.  Miyo nasceu de um casamento perfeitamente arranjado entre os Saimori e a misteriosa e temida família Usuba, só que sem os poderes, o que representa uma vergonha para seu pai.  Após a morte da mãe da protagonista, seu pai se casa com sua antiga amante, deste novo casamento nasce Kaya e logo se percebe que a criança tem o dom. A partir de então, Miyo passa a ser tratada pela madrasta e pela meia-irmã como se fosse uma criada, menos que isso, uma escrava, sem que seu pai demonstre qualquer interesse por ela.

Crescida, Miyo não tem grandes esperanças de ser feliz, mas o seu único amigo de infância, Shouji Tatsuishi,  sinaliza que gosta dela e o coração da moça se enche de alguma esperança quando ele vem visitar sua família e ela é chamada pelo pai que a ignora.  Só que é somente para atirá-la em um poço de desespero,  pois o patriarca lhe comunica que o rapaz está de casamento marcado com sua meia-irmã e que ela terá que ir para a casa de seu futuro noivo, Kiyoka Kudou, um sujeito de família muito mais poderosa que a dela, mas que já espantou várias noivas.  Elas normalmente não conseguem ficar mais que três dias em sua casa.  Só que Miyo não tem para onde voltar, logo, ela precisa transformar seu casamento em um matrimônio feliz.  

Esse é o ponto e partida da história e eu tenho feito vídeos sobre os episódios e fiz um texto para cá, também, comentando o segundo episódio, que havia sido o melhor até que o quatro o superou.  No capítulo desta semana, aconteceram tantas cenas importantes que é difícil determinar o que foi o ápice do episódio.  Querem ver?  Tivemos o encontro de Miyo com a irmã mais nova, Kaya, no meio da rua.  Mais uma vez, o bundão do Kouji é incapaz de fazer qualquer coisa por Miyo e ela revive naquele breve momento todas as humilhações e torturas a que foi submetida em sua casa.  Quando Yuri retorna, Kaya ainda se finge de boazinha na frente da criada, mesmo que muito decepcionada em saber que Kyoka aceitou Miyo como sua noiva.

Esse encontro faz com que Miyo mergulhe em uma condição depressiva, porque a história é menos sobre uma cinderela, sobre casamento, e mais sobre a cura de uma pessoa que sofreu profundo abandono emocional, alguém profundamente traumatizado e ferido.  Miyo encontra em Kiyoka um porto seguro e a cena dele falando com ela através da porta, uma cena que era muito tocante no livro, ganhou maiores proporções na animação, porque temos imagem, temos a voz dos atores e as expressões faciais contidas que os animadores estão colocando nas personagens.

Kiyoka quer saber o que pode fazer por Miyo e Yurie lhe dá conselhos preciosos.  Como foi linda a sequência em que ele traz Hana, a ama da menina, que foi deminitida quando tentou defendê-la dos abusos aos quais era submetida pela madrasta e pelo pai, porque não tiro dele nenhuma responsabilidade, ele é ativo na imposição de sofrimento à filha mais velha, desde antes da morte de sua mãe.  aliás, a mãe de Miyo aparece em um sonho.  Os sonhos de Miyo são importantes na história, fiquem atentos.  

Voltando para Hana, a conversa entre as duas, a solidariedade entre mulheres, que é celebrada a todo instante na série.  Se temos duas mulheres más em papéis convencionais, a madrasta e a meio-irmã, temos Yurie, Hana e, daqui a pouco, a irmã de Kiyoka para mostrar para Miyo que mulheres podem ser solidárias umas com as outras, se apoiarem e ajudarem a curar suas feridas da alma, porque é disso que se trata.  É a conversa com Hana que dá coragem para Miyo de revelar à Kiyoka seu grande segredo: ela não tem dons.  Só que nosso mocinho já sabe disso e não se importa, ela a quer pelo que ela é, ela tem valor em si mesma, ele lhe diz claramente (*Amo essa característica em Kiyoka!*) que ela finalmente é amada.  Miyo está curada?  Não, há um longo caminho, seria irreal supor que ela esteja, mas isso a ajuda a ser ainda mais forte do que já é.

Em um tempo no qual as diversas mídias parecem se agarrar à ideia de que mulher forte é a que pega em armas, a que não precisa de ninguém (*Deus nos livre se for um homem!), que reproduz inclusive os piores comportamentos de gênero atribuídos ao masculino (*e tudo isso são construções culturais*), temos Miyo.  Sim, há várias formas de ser forte e de ser mulher, a protagonista de Watashi no Shiawase na Kekkon não é a sofredora, é alguém que supera o sofrimento e consegue ser feliz, que não recusa o amor e o suporte de outros.  Somos seres sociais, precisamos de companhia, de apoio, qualquer mudança, ainda que comece em nós, precisa ser coletiva.

E Miyo dá para Kiyoka o presente que fez com suas mãos, a fita que aparece na abertura e que está nos merchandisings da série junto com o pente que ele deu para a protagonista.  E eles têm um momento de grande intimidade, porque é, já que ele pede que ela amarre seus cabelos.  Sim, esses atos de afeto contidos da série podem contrastar com outros materiais que são bem explícitos, e eu não estou dizendo que um é melhor que o outro, mas que há espaço para todo tipo de representação de romance, desde que ninguém se sinta constrangido, ou sofra violência.  E é lindo!  Eu quase chorei nesse episódio e mais de uma vez.

Enfim, é neste capítulo que Kiyoka confronta o pai e a madrasta de Miyo.  E ele é arrogante, é superior, e esculhamba o sogro, que está cheio das falsas gentilezas, sem alterar a voz.  Eu gosto esse tipo de personagem, ainda que já anuncie aqui que Kiyoka irá pisar na bola no livro dois, e vai ser feio.  De qualquer forma, Kiyoka diz que não irá dar o presente (Yuinou), que poderia ser uma alta soma em dinheiro, à família da noiva, salvo se o pai e a madrasta se desculpassem com Miyo.  O Yuinou é uma espécie de compensação pela boa educação que uma noiva recebeu e um reconhecimento público do valor da mesma.  

Há cerimônias que datam de mais de 1300 anos e as tradições variam de região para região do Japão, mas, normalmente, é a família do noivo que dá o maior presente e arca com boa parte das despesas, porque eles estão sendo presenteados com algo de ainda mais valor.  Aqui, cabe uma discussão histórica, minha professora de Antiga I/Grécia (Neyde Theml), disse em aula uma vez que onde a família do noivo paga o dote, as mulheres têm mais valor para o núcleo familiar, talvez isso ajude a explicar o motivo pelo qual o Japão não tem problema com o abortamento seletivo de meninas, ou teve com o infanticídio das filhas, como Índia e China enfrentaram e enfrentam até hoje.  

Hoje, a coisa não é mais assim, mas entre famílias de posses, os valores gastos pelo noivo poderiam ser elevados.  Já de saída, Kiyoka passa por Kaya e ela fica deslumbrada com o rapaz.  Aguardem os próximos acontecimentos, porque imagino que em dois episódios o livro 1 irá acabar, teremos um clímax de meio de temporada e vai ser intenso.

Houve cenas inventadas, claro!  Kazushi, irmão de Kouji, é introduzido.  Ele não aparece nesta altura do primeiro livro, mas eu imaginava que iriam apresentá-lo.  O objetivo é marcar a diferença de caráter entre os irmãos; o mais velho é independente, tem os dons e sabe usá-los; o mais jovem é tímido, submisso e nunca se esforçou (*no livro é assim, pelo menos*) em aprender a usar os seus poderes de verdade.  Escolherem colocar Kazushi com cabelos curtos, no mangá, até por ele ser apegado ao visual samurai, ele é desenhado com cabelos longos.  E, sim, tivemos mais uma cena do vilão, o pai dos dois rapazes.  

O próximo capítulo promete, mas não será marcado pela delicadeza como este, deve ser marcado muito mais pela violência e pelo sofrimento para Miyo.  No entanto, podem ter certeza que o final vai ser feliz e que Kiyoka não vai deixar barato para ninguém, nenhum dos vilões vai ser poupado no final do livro 1.  aliás, tem resenha dele aqui.  O vídeo review está abaixo.

Primeira temporada do dorama de Ōoku está todo legendado

Para quem estava ansioso, a primeira temporada do dorama de  Ōoku (大奥), sim, a série de Fumi Yoshinaga não teve somente anime este ano, está toda legendada em inglês.  Para quem quiser baixar, é necessário visitar o Live Journal HSJHOSHI, tem que se cadastrar, mas depois que você faz essa parte, é tranquilo baixar os capítulos.  Eu fiz a resenha do primeiro episódio e preciso assistir o resto.  Esta temporada cobriu quase seis volumes do mangá, deve ter ficado meio corrido, porque na adaptação anterior para live action, foi um filme para o volume #1 e 12 capítulos somente para a história de Arikoto & Iemitsu.  Mas a produção está bonita, isso nem vou discutir, fora que faz com que as pessoas leiam o mangá.  

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Estão abertas as comemorações dos 40 anos e carreira de Yumi Tamura

Talvez, você só conheça Yumi Tamura por causa do sucesso avassalador de seu mangá Mystery to Iu Nakare (ミステリと言う勿れ), mas a artista tem uma longa carreira e pelo menos mais dois mangás longos que foram sucesso de público e crítica, Basara (バサラ) e 7SEEDS.  

Muito bem, o Comic Natalie trouxe a informação de que a autora estará em duas sessões de autógrafos de seu livro comemorativo e do volume #13 de Mystery to Iu Nakare, em 10 de setembro em Hiroshima, já no dia 23 do mesmo mês, em Tokyo.

No livro comemorativo teremos a republicação de conversas da autora com Moto Hagio, Fumi Yoshinaga, Kanoko Sakurakoji, e o ator Masaki SudaNakare, Totono Kuno, mas versões live action.  De novidade, o livro traz uma longa entrevista inédita com a autora.

Além disso, a próxima edição da revista Flowers, que publica Mystery to Iu Nakare, também celebra a autora.  A revista trará uma conversa entre Yumi Tamura e Hagio Moto (*isso aqui deve ser maravilhoso, porque ambas as mangá-kas são inteligentíssimas e espirituosas*) e outra conversa entre Yumi Tamura e Masaki Suda, pois o filme live action Mystery to Iu Nakare estreia no dia 15 de setembro.  Mystery to Iu Nakare será pubicado pela eitora JBC, aqui, no Brasil.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Novo Shoujocast no ar! Watashi no Shiawase na Kekkon 4: o Melhor Episódio da Série até Agora!


E chegamos ao quarto episódio de Watashi no Shiawase na Kekkon, o novo anime que está na Netflix, e ele é cheio de cenas de grande impacto e carregadas de emoção. Na minha opinião, foi o melhor episódio da série até agora. Já assistiu? Veja se você concorda comigo.

 

Links do Episódio:

domingo, 23 de julho de 2023

Shoujocast no ar! “Por que Kouji Não se Casou com Miyo?” Mais uma Sugestão de Mangá

Me fizeram uma pergunta que talvez seja a dúvida de muita gente, “Por que Kouji não se casou com Miyo?”. Achei que a partir esta pergunta seria possível fazer um vídeo sobre o asusnto e ainda recomendar um mangá que eu li e não tinha resenhado chamado Douseikon de Oyako ni Narimashita。(同性婚で親子になりました。) , em português, “Por que adotei meu marido: a verdadeira história de um casal gay em busca de reconhecimento legal no Japão”. Espero que seja um vídeo interessante para vocês.


Links do Episódio:

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Massacre na Escola: A Tragédia das Meninas de Realengo: Infelizmente, isso não é uma resenha

Eu assisti todos os quaro episódios da série documental da HBOMax chamada Massacre na Escola: A Tragédia das Meninas de Realengo.  Para quem nao se lembra, o que aconteceu em 7 de abril de 2011, na Escola Municipal Tasso de Silveira, foi o maior massacre ocorrido em escola no Brasil, com 12 mortos, 10 meninas e 2 meninos, além de vários feridos, a maioria do sexo feminino.  Eu fiz vários textos à época sobre o caso, também quando ele completou dez anos, e queria estar escrevendo este texto para elogiar os méritos da produção, que entrevistou sobreviventes, profissionais que trabalhavam na escola, o policial que impediu que mais mortes acontecessem e mesmo a querida Lola Aronovich, mas não será nada disso.

O documentário da HBOMax contou com a participação do consultor educacional Ricardo Chagas, ele aparece nos quatro episódios sempre alertando do perigo da internet, dos jogos violentos e, o que deveria ser o objetivo dessas falas, como aliciadores se aproveitam de canais do Youtude e da Twitch, provavelmente, para aliciar os jovens.  Há estudos suficientes sobre os chans e outros espaços que são verdadeiro criadouro de extremistas misóginos, lgbtfóbicos e racistas.  Negar isso é chover no molhado, assim como ignorar que a extema-direita tem se infiltrado na cultura pop.  Não existem tantos imbecis raivosos usando avatar de anime e mangá à toa.  Sobre isso, recomendo o vídeo do Load junto com o João Carvalho e o do Alexandre Link sobre o problema na dublagem do anime de Chainsaw Man, porque são muito explicativos.

O problema é que Ricardo Chagas não parece ser a pessoa mais adequada para falar do tema e os responsáveis pelo documentário e a HBOMax foram extremamente irresponsáveis ao não pesarem as falas do sujeito.  Eu tinha percebido uma citação absurda feita por ele ao anime Assassination Classroom, que nada tem a ver com crimes em ambiente escolar, ou com qualquer coisa que possa conduzir à violência contra alguém, ou si mesmo.  Salvo, obviamente, se a pessoa tiver algum problema, neste caso, trata-se o indivíduo, não se demoniza o produto.  O trecho está aí embaixo, eu gravei direto da TV.  

Para quem não conhece a Assassination Classroom, Ansatsu Kyoushitsu (暗殺教室), no original,  esses três parágrafos a seguir são um acréscimo feito em 22/07 ao texto original.  A série tem como ponto de partida o seguinte: Uma criatura super poderosa destruiu 70% da Lua e ameaça fazer o mesmo com a Terra em um ano.  Na verdade, este alien guarda segredos e tem uma grande vontade: ser professor.  Ele vira o homeroom teacher (*aquele que é o responsável por uma turma especifica, seu professor representante*) da turma 3-E do Ginásio Kunugigaoka.  Esta turma está cheia dos piores alunos da instituição e seu professor passará o ano inteiro ensinando o que eles devem fazer para matá-lo e evitando que eles consigam fazê-lo, porque Koro-sensei tem super poderes.  Se eles conseguirem, a Terra estará salva e eles receberão uma recompensa do governo japonês.  Enquanto isso, o alien realiza o seu sonho e é para aqueles meninos e meninas, o melhor professor que eles poderiam desejar: eles melhoram suas notas, aprendem a ter confiança em si mesmos e sonhar com um futuro melhor.  E o professor tem formato de polvo, super conexão com a realidade, não é mesmo?  

Na verdade, essa história toda é para fazer uma crítica ao sistema educacional japonêse  há quem tenha usado o mangá em trabalhos acadêmicos (*Exemplo*) para discutir práticas de ensino. Assassination Classroom teve 21 volumes e saiu pela Panini no Brasil, teve anime que está na Crunchyroll, além de filme live action para o cinema.  Mas se você visitar o Instagram do Sr. Ricardo Chagas, verá que todo ele é estruturado sobre terrorismo, teorias da conspiração típicas da extrema-direita (pseudo) cristã muito preocupada em demonizar tudo o que parece popular e visto como diferente daquilo que eles acreditam ser o correto.  O primeiro post dele foi algo sem nexo sobre Red da Pixar e foi daí para pior e muito pior.

Aliás, nada de novo sob o sol, eu lembro das palestras de igreja sobre Nova Era demonizando animações, símbolos, músicas e tudo mais que poderia ser minimamente divertido, colorido e atraente para as crianças desde a segunda metade dos anos 1980 até o final da década de 1990.  Agora, essas ideias absurdas encontram sua acolhida na internet e são amplificadas por escolhas inexplicáveis como as que foram feitas pela produção do documentário da HBOMax.

Na minha ignorância, no entanto, eu tinha perdido o que de pior os documentários tinham feito, que foi associar um importante Youtuber à aliciamento de menores e outros crimes.  O especialista diz no documentário: "Core, o maior canal de conteúdo infantil, que não é infantil. E é um jogo que parece bobo, mas vem de um massacre e fizeram um joguinho que não é infantil, nunca foi infantil e ali é um prato cheio para aliciador".  Nada disso é verdade, nem se trata de um canal infantil, nem o jogo em questão,  Five Nights at Freddy's, faz referência a qualquer massacre real.  Recomendo a matéria do F5, sobre o problema que as falas desse sujeito produziram.  Em um vídeo postado em seu canal, o Youtuber conta a sua versão dos fatos e como sua vida e a de sua família se encontram ameaçadas pela exposição feita pelo documentário da HBOMax.  O vídeo dele está abaixo:

E quando eu escrevo "sua versão dos fatos", que fique claro, é a única versão que me parece válida.  Olhando o canal dele, lembrei que minha filha de 9 anos já viu algum vídeo de lá.  Se ela assistiu, a responsabilidade é minha e do meu marido, porque, como o Youtuber bem coloca, a plataforma é para maiores de 13 anos.  Crianças deveriam estar no Youtube Kids.  Ter bichinhos fofinhos não torna um material infantil.  Fora isso, os responsáveis tem o dever de estarem atentos ao que seus filhos e filhas menores de idade estão consumindo.  Da mesma forma, se aliciadores se infiltram em fóruns ou chats, isso não quer dizer que os donos dos canais sejam coniventes com suas ações.  Aliás, o próprio especialista explica que eles jogam iscas, essas iscas são inocentes.  

Enfim, a forma como a coisa apareceu nos documentários mancha um material que é, sim, muito bom, aliás, bastaria editá-lo e retirar das falas de Ricardo Chagas, que olhando o conjunto da obra, só atrapalharam os documentários.  O estrago, no entanto, já está feito e cabe reparação ao Core.  Espero que a HBOMax, responsável por veicular os documentários tenha que pagar uma grande indenização a ele, porque, no mínimo, ele deveria ter sido ouvido antes de qualquer menção ao seu canal.

Comentando Barbie (EUA/2023): O filme mais debochado e viajado que eu já vi na minha vida

Assisti Barbie, hoje, de manhã.  Sim, as sessões já estavam tão lotadas que 11h15 abriram uma sala a mais legendada, assim como uma dublada às 11h.  E lá fui eu ver o filme que, quando anunciado, me pareceu um grande absurdo.  "Como assim um live action a Barbie?!  Esse povo não tem noção do ridículo?"  Raras vezes me diverti tanto no cinema.  Sim, é um filme absurdo e caótico.  É uma aventura de verão, é um musical, é uma crítica brutal ao patriarcado e, o mais importante, é um filme que debocha de si mesmo o tempo inteiro.  

De forma muito competente, a audiência é guiada por vários gêneros tanto do cinema mais tradicional, quanto da propaganda.  Há cenas absurdas e outras comoventes, tudo sempre em alta velocidade, porque, claro, o objetivo não é, que ninguém se engane, que você tenha tempo para pensar muito.  E o elenco, e isso já escrevi em outras resenhas, parece estar se divertindo.  Eu realmente gosto de assistir filmes nos quais eu imagino que os atores e atrizes que estão em cena não estão sofrendo, mas participando da diversão.  Mas o que é o filme Barbie?

Na Barbielândia, o mundo mágico das Barbies, todas as versões da boneca vivem em completa harmonia e todo dia é um dia feliz. Porém, a Barbie chamada de Estereotipada  (Margot Robbie), a única que não tem uma profissão, começa a se questionar sobre o sentido de sua existência e coisas estranhas começam a acontecer, como, por exemplo, seus pés ficarem chatos.  Ela então procura a Barbie Esquisita (Kate McKinnon), que vive isolada das demais.  Ela é uma pária e, ao mesmo tempo, uma espécie de sábia local e aconselha Barbie a deixar a Barbielândia e partir para o mundo real em busca de respostas. 

Apesar de Barbie recusar companhia, Ken (Ryan Gosling) se esconde em seu carro e vai com ela.  A boneca precisa encontrar a menina triste que a levou o desequilíbrio para a Barbielândia.   Forçada a viver no mundo real, Barbie se surpreende dele ser tão diferente do seu, especialmente, pelo fato dos homens estarem em todos os lugares e nas posições de poder.  Já Ken fica fascinado por este mundo no qual os homens são tão importantes e descobre o patriarcado.  Os dois terminam se separando e quando Barbie acredita que encontrou a menina certa, ela se depara com novos desafios, como impedir que a Barbielândia se torne algo totalmente diferente do que ela costumava ser.

Mesmo sem ter as bilheterias da estreia, Barbie é um sucesso.  Nunca vi um filme com tatas sessões, aliás, algumas abertas pela manhã, porque as normais já estavam lotadas.  No shopping onde estive, todas as lojas e restaurantes tinham comidas no tom rosa Barbie (*pantone rosa 219C*), além disso, vi até senhoras idosas vestidas de rosa literalmente da cabeça aos pés.  A Barbie Mania estava em todo lugar e deve trazer um lucro fora do comum para muita gente e revitalizar as vendas da boneca, que não andavam lá muito boas.  

O que eu estou dizendo é que o marketing em torno do filme foi muito bem sucedido e que o capitalismo agradece, mesmo que o filme critique de alguma forma alguns aspectos do sistema, como o consumismo.  Não se enganem com críticas que vendem o filme como contra o sistema, Barbie é um filme de um grande estúdio e mesmo debochando o tempo inteiro do capitalismo, é uma crítica permitida exatamente porque os donos do capital sabem que se trata de algo inócuo, eles não acreditam que o público  vá fazer uma revolução cor de rosa inspirado pelo filme de Greta Gerwig e Margot Robbie.

Comecei mal a resenha?  Desculpem, mas eu precisava alertá-los disso, porque há gente muito empolgada por aí.  Isso não quer dizer que o filme não seja extremamente divertido, aliás, eu não me sentia tão feliz no cinema em muito, muito tempo.  Barbie é uma homenagem à boneca mais famosa do mundo e, ao mesmo tempo, faz uma crítica ao que ela significa para muita gente, um modelo de perfeição, obviamente, inalcançável.  A Barbie Estereotipada representa a boneca despida do "tudo o que você quer ser" e precisa encontrar um sentido na vida.  A partir daqui, talvez tenhamos spoilers.

No nosso mundo, Barbie descobre que cada vez menos meninas brincam com a boneca.  O filme não busca explicar isso.  As meninas crescem, ou outros brinquedos são mais interessantes?  Será que o mundo rosa da boneca está saindo de moda, ou muita gente desconheça o quão diversas as Barbies podem ser?  Esse último aspecto é muito explorado no filme, assim como o fato de, por motivos mercadológicos, algumas Barbies e Kens (*como o Sugar Daddy Ken*), ou mesmo Allan e Midge (*a amiga grávida da boneca*), não tenham dado certo.  

Dar certo é vender bem e, ao mesmo tempo, se enquadrar em certas expectativas.  Por exemplo, todas as Barbies e Kens são assexuados, ainda que os corpos da maioria deles pareçam desejáveis.  Eles e elas não podem escolher o se quer ser nesse aspecto, na verdade, Barbies e Kens não têm escolha, bonecas são brinquedos de criança.  E, que fique muito claro,  bonecas não devem, pelo menos na concepção norte-americana, se remeter a nada que lembre atividade sexual. Por isso, a amiga grávida foi excluída, segundo os pais e mães dos Estados Unidos, a boneca poderia estimular a gravidez precoce em um país onde deve ter gente dizendo para criança que elas foram trazidas por cegonhas.  

Já Ken quer passar a noite na casa de Barbie, mas ele não sabe o que fará com ela e a boneca tampouco parece interessada. Quando em nosso mundo, Barbie se sente muito desconfortável ao ser abordada por assediadores.  A Barbie deste filme é a personagem mais assexual que eu já vi em qualquer mídia.  E ser assexual nada tem a ver com capacidade de expressar sentimentos.  A boneca é capaz de criar vários tipos de laços, mas a personagem tem ZERO interesse por sexo.


A Barbielândia é, na lógica da história, um matriarcado, as mulheres são o centro de tudo, estão nos lugares de poder e prestígio e executando mesmo os trabalhos mais pesados (*eu nunca vi Barbie pedreira, mas vá lá...*).  Os Ken não têm direito à profissão, eles orbitam em torno das Barbies tal e qual insetos atraídos pela luz.  Lembrando Toy Story,  Ken é um brinquedo de menina e só existe por causa da Barbie.  Essa estrutura é opressiva e, para Ken, o contato com o mundo real é como descobrir que tudo pode ser diferente.  

Ken acha curioso aquele mundo no qual os homens podem tanto e as mulheres não são o centro de tudo e ele começa a ter ideias. Já para Barbie, é um choque muito grande descobrir que a invenção da boneca não foi um divisor de águas na história da humanidade, mudando o sentido da vida das mulheres.  Aliás, dentro do próprio filme, a menina Sasha (Ariana Greenblatt) e suas amigas apontam o quanto a Barbie (*supostamente*) atrapalhou o empoderamento feminino representando um ideal fascista de beleza.  A forma como as meninas a confrontam, magoa profundamente a boneca.

O filme fala de revolução, mas ela é feita por Ken que tendo descoberto o patriarcado, retorna para a Barbielândia para libertar os outros homens e colocar as mulheres nos seus devidos lugares.  É um patriarcado festivo até que eles descobrem que o sistema tem ônus e bônus.  E Barbie precisa reunir aliados para recolocar as coisas nos seus lugares.  Eu não achava que Allan (Michael Cera), o boneco amigo do Ken que foi descontinuado por dar a entender que ele e o namorado da Barbie poderiam ser mais que isso, teria tanta importância na história.  O ator está muito bem e a trajetória de Allan, um excluído, é uma das mais interessantes do filme.  America Ferrera, como a especialista em Barbies e mãe da Sasha, também tem seus momentos.  Ela dirigindo perigosamente foi divertidíssimo.  E Simu Liu está maravilhoso como o Ken que antagoniza a versão de Ryan Gosling o mesmo boneco.

E, sim, Barbie consegue restaurar a ordem na Barbielândia, mas isso não resolve as suas angústias.  O final do filme é até surpreendente, porque abandona o tom de galhofa e torna-se em drama, para depois retornar ao deboche.  Eu realmente não esperava que o final de Barbie fosse aquele e, de uma certa maneira, a última piada destrói qualquer esperança aloprada de que o filme rompe com expectativas de gênero.  Na verdade, a Barbie Estereotipada parece só querer ser uma mulher comum, como as outras.  E ser mulher como todas as outras em nosso mundo não é bem uma coisa legal, o próprio filme mostra isso.  E mais, ser Ken, ou ser a Barbie Esquisita, ou as Babies que não deram certo, não é algo legal na Barbielândia e não vai se tornar muito melhor para o grupo depois que Barbie conserta as coisas com a ajuda de suas aliadas humanas, bonecas e Allan.  Veja o filme e confirme isso.

É um filme para crianças?  Não, não é.  Há muitas piadas de duplo sentido ao longo do filme.  Um humor para adultos que vai escapar mesmo para quem já tem 12 anos, a classificação indicativa do filme.  Apesar de colorido, o filme não conta uma história simples que pode ter camadas para adultos e crianças, ele não faz concessões, é bobo, mas é bobeira para gente grande.  As letras da músicas, e há muita cantoria, estão carregadas do tom debochado, crítico e caótico do filme.  As cenas musicais não são supérfluas, elas ajudam a contar a história.

Uma das melhores piadas do filme é quando a Barbie Estereotipada fica deprimida, e Margot Robbie vai caindo no chão como se fosse uma boneca mesmo, e ela diz para Gloria que é feia.  E uma voz por trás, que não sei se é da narradora (Hellen Mirren), ou da Barbie Esquisita, adverte que os produtores devem estar doidos se acreditam que uma Barbie com o rosto de Margot Robbie é feia.  E há muitas referências.  Toy Story 3, claro, na cena das roupas, mas ainda acho que o Ken da Pixar é insuperável.  Temos uma brincadeira com Spartacus de 1960. Quando os Kens cantam e dançam, é fácil, lembrar de Grease. 2001: Uma Odisséia no Espaço é o ponto de partida do filme e vimos parte da sequência no trailer.  Matrix é referenciado, também, claro, olhe a cena do sapato e a papete.  E a melhor de todas, a Barbie deprimida assiste e reassiste Orgulho & Preconceito 1995.  Eu quase dei um berro, porque essa Barbie sou eu.

Isso é meio que uma piada que somente as fãs mais hardcore das adaptações de Jane Austen vão entender.  Só faltou aparecer o Mr. Darcy do Collin Firth com a camisa molhada, mas ele está no filme, seco e vestido, assim como Jennifer Ehle, como Elizabeth Bennet.  Se o filme já não tivesse me ganhado, eu me entregaria ali e Barbie pode ajudar a criar uma nova geração de fãs para a melhor adaptação do livro mais famoso de Jane Austen.  E Barbie também me fez refletir sobre a relação que eu tenho com a minha filha.  Vendo o afastamento entre Gloria e Sasha, fiquei pensando no meu futuro com a Júlia.  Será que eu estou fazendo certo?  Sim, é um filme que atira para todos os lados e pode provocar múltiplos sentimentos, eu fui da gargalhada ao quase choro.  Querem ver?  Uma das cenas mais tocantes é quando Barbie encontra uma idosa e fica fascinada.  Com toda a diversidade de Barbies, acho que não temos uma que seja velha.  Aliás, bonecas podem ser destruídas, ou danificadas, vide a Barbie Esquisita, mas não envelhecem como os humanos.

Há algo ruim no filme?  Olha, se aqueles sujeitos que comandam a Mattel, e são todos uns idiotas, não estivessem lá, talvez fosse melhor para o filme.  As piadas produzidas no confronto entre o CEO da Mattel (Will Ferrell) e os caras que trabalham com ele e Barbie não enriqueceu o filme.  A parte de recolocá-la na caixa poderia ter sido melhor desenvolvida, mas a ida dos sujeitos para a Barbielândia não fez diferença alguma na história.  Barbie poderia ter seu encontro com a criadora construído de outra forma.  E a conversa final entre as duas pareceu muito com a conversa entre Dumbledore e Harry Potter no último filme da franquia.  A forma como a sequência é construída, eu digo.  Outra aparição que não trouxe nada para o filme foi a do marido de Gloria.

Aliás, e isso está dando nos nervos de alguns homens, o filme não é nada gentil com os homens.  Não é um filme contra eles, mas é uma película que critica o tempo inteiro a forma como as mulheres são depreciadas e obstruídas na sociedade.  Daí, o mundo perfeito das Barbies parecer tão opressor para os homens, porque ele é um tanto parecido com o sonho que muitos tem de uma sociedade ideal, só que em uma versão patriarcal.  Em dada cena, Ken conversa com um homem em nosso mundo e elogia o patriarcado.  O sujeito diz que o patriarcado continua vivo e forte, mas que é bom não falar isso em voz alta, porque as mulheres podem ouvir e não pega bem.  Mas vejam, o filme debocha, também, do sistema vigente na Barbilândia, debocha de tudo e, por isso, o filme é tão divertido.  

Para quem está preocupado com papéis de gênero e identidade de gênero.  Sim, realmente, temos uma Barbie interpretada por uma mulher trans (Hari Nef), mas eu duvido que alguém a identifique no meio das outras mulheres, ela é uma Barbie como outra qualquer.  E esta mensagem é importante.  No meio dos Ken, há um que me parece mais interessado no Ken de Ryan Gosling, do que em qualquer Barbie, mas pode ser somente impressão minha.  E o final do filme me parece mais uma reafirmação de expectativas tradicionais de gênero do que qualquer outra coisa, especialmente, quando tivemos uma cena anterior muito inspirada na qual Barbie diz que não tem vagina.

Concluindo, Barbie realmente me surpreendeu, porque eu achava a ideia de um filme live action da boneca algo muito insano.  Fora isso, eu tenho uma grande má vontade com a Greta Gerwig, detestei Lady Bird e achei seu Little Women somente mediano.  Este filme da Barbie, por outro lado, me conquistou, se Júlia quiser assistir, eu vou com ela e vejo de novo.  Por outro lado, apesar de ser Barbie, não é um filme para crianças.  As piadas podem ser bobas, mas são piadas bobas de gente grande.  Não sei se minha filha de 9 anos iria conseguir aproveitá-lo bem.  Quanto a ser um filme feminista, tenho cá minhas dúvidas, quem o fez certamente domina os discursos feministas midiáticos de empoderamento, mas o filme não aprofunda nem acrescenta nada nesse sentido.  É isso.  Margot Robbie, Ryan Gosling entregaram um filme memorável. 

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Morre o escritor Naoto Asahara: Seu maior sucesso virou dorama e mangá

Não conhecia o escritor Naoto Asahara, mas ele foi autor de uma novel (2018) que virou um mangá seinen ou josei (2019-2021) de relativo sucesso e dorama (2019) chamado Kanojo ga Suki na Mono wa Homo deatte Boku de wa nai (彼女が好きなものはホモであって僕ではない).  

O mangá, que teve arte de Akira Hirahara, e a história é a seguinte: "Jun Andou é um aluno do colegial que passa os dias escondendo que é homossexual.  Um dia, Jun testemunha uma colega de classe, Miura Sae, comprando um mangá BL em uma livraria. Esse encontro leva o relacionamento deles para uma nova direção ´Quero gostar do sexo oposto, até ter meu próprio filho. Eu quero ter minha própria família. Eu desejo ter aquela felicidade "comum".  O problema é que não consigo me interessar por mulheres.'"  O mangá teve três volumes e todos têm scanlations.

Asahara morreu no dia 16 com somente 38 anos por causa de um câncer, segundo o site Sanspo.  Eu vi a notícia primeiro no Manga Mogura, que fez uma nota informando sobre o falecimento e comentando que a novel Kanojo ga Suki na Mono wa Homo deatte Boku de wa nai foi publicado na França e na Espanha, já o mangá saiu na Alemanha e na Espanha.  As scanlations estão aqui, parece que os nomes internacional da série são She Likes Homos, Not Me e A Fujoshi Accidentally Confesses To A Gay Man.  Segundo a Wikipedia, uma das referências mais presentes na história é Freddie Mercury, vocalista do Queen.  

Ranking da Oricon: Atrasei de novo!

Sei que o novo ranking saiu ontem, mas ele só deve aparecer no Oricon amanhã.  De novo, não sei como se passaram três semanas desde que eu fiz meu último post com os mais vendidos.  Eu me distraio e passa um tempão.  Loucura isso, ou velhice.  Enfim, ainda que não esteja na última semana, o destaque desse período deve ter sido o primeiro volume de Hotaru no Yomeiri, ele entrou no top 10 e permaneceu entre os 30 mais vendidos na semana seguinte ainda.  Normalmente, para quem nunca viu uma das minhas postagens de ranking, eu coloco o top 10 e os mangás femininos que estejam entre os 30 a partir daí.  

Manter a publicação é importante, porque permite que a gente tenha uma ideia do que está vendendo no Japão no momento.  Normalmente, é o que vende mais que tem maiores possibilidades de virar animação, dorama escapa um pouco disso, mas anime normalmente depende de vendagem, assim como, possibilita que tenhamos uma ideia do que pode ser licenciado por aqui.  Eu não conhecia Hotaru no Yomeiri, preciso dar uma olhada, porque vi que tem scanlations.

1.ONE PIECE #106
2. Jujutsu Kaisen #23
3. Ao no Exorcis #29
4. Mairimashita! Iruma-kun #33
5. Kimetsu Gakuen! #4
6. Akagami no Shirayukihime #26
7. MASHLE #17
8. Kekkai Sensen - Beat 3 Peat #1 Houraku Toshi 2.99―
9.Koori no Jouheki #1
10.Isekai Nonbiri Nouka #11
11. Koori no Jouheki #2
17. Futsutsuka na Akujo dewa Gozaimasu ga ~Suuguu Chouso Torikae Den~ #5


1. My Hero Academia #38
2.Futsutsuka na Akujo dewa Gozaimasu ga ~Suuguu Chouso Torikae Den~ #5 
3. Oshi no Ko #5
4.Douse Suterareru no nara, Saigo ni Suki ni Sasete Itadakimasu #2 
5. Hatsu x Kon #12
6. Oshi no Ko # 6
7. Oshi no Ko #1
8.Aoki Hagane no Arpeggio #25
9.Uma Musume: Cinderella Gray #11
10.Oshi no Ko #7
14. Otome Game no Hametsu Flag shika nai Akuyaku Reijou ni Tensei shite shimatta... #9
18. Akuyaku Reijou wa Ringoku no Outaishi ni Dekiai sareru #12 20. Dareka Yume da to Itte Kure #7 (BL)
23. Pink to Habanero #6
28. Hotaru no Yomeiri #1


1.Uma Musume: Cinderella Gray #11
2.JoJo's Bizarre Adventure: Crazy Diamond's Demonic Heartbreak #3
3.Hotaru no Yomeiri #1
4.Yomi no Tsugai #4
5. My Hero Academia #38
6. Vinland Saga #27
7.Kouiu no Gaii #5
8.Yofukashi no Uta #16
9.MAJOR 2nd #26
10.GATE: Jieitai Kano Chi nite Kaku Tatakaeri #23
14. LIFE SO HAPPY #4
27. Hatsu x Kon #12

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Watashi no Shiawase na Kekkon 3: O Sorriso de Miyo é um Tesouro!


Mais um episódio de Watashi no Shiawase na Kekkon, mais um vídeo.  Seguimos com uma história que aquece o nosso coração e nos faz torcer pela felicidade da mocinha.  Miyo merece um casamento feliz!


Links do Episódio:

terça-feira, 18 de julho de 2023

E terminou Força de um Desejo: Meu Balanço da Novela

Semana passada, terminou Força de um Desejo, novela que eu estava acompanhando no Canal Viva.  Faz tempo que não comento sobre telenovelas, mas não é por ter parado de assistir, é preguiça e falta de tempo mesmo.  Só que, como ela terminou, preciso fazer um post de fechamento. Minha memória sobre Força de um Desejo, exibida entre 1999 e 2000, era de que a novela seria ruim.  Eu estava errada, no entanto, não é uma novela realmente boa.  Tem vários méritos, mas se esticou em demasia e tinha defeitos tão evidentes que é difícil relevar.  Vou dar um resumo inicial para situar a trama central para quem não conhece e seguirei comentando o que gostei, o que não gostei... Vai ficar grande, vai ser desorganizado.  Peço desculpas desde já.

Força de um Desejo, assinada por Gilberto Braga  (1945-2021) Alcides Nogueira, conta a  história do amor de Ester Delamare (Malu Mader), a mais famosa e bem sucedida cortesã da Corte imperial, e Inácio (Fábio Assunção), um jovem rico e sempre às turras com o pai, porque não se conforma com a forma como o Barão Sobral (Reginaldo Farias), um poderoso fazendeiro do café, trata sua mãe (Sônia Braga).  Helena foi infiel ao marido, com quem se casou contra sua vontade, uma única vez e ele a trata de forma cruel desde então. Logo no começo a história, chegam à Vila de Sant'Anna, no Vale do Paraíba, novos moradores, Higino Ventura (Paulo Betti), antigo morador do lugar e que construiu sua riqueza com seu próprio esforço, Bárbara (Denise Del Vecchio), sua esposa, e Alice (Lavínia Vlasak), a filha única.  

De cara, a jovem se apaixona perdidamente por Inácio e o irmão caçula do moço, Abelardo (Selton Mello), fica encantado por ela.  Higino Ventura é o antigo amor de Helena e ainda obcecado pela esposa do Barão.  Ele  sonha em tê-la de volta e destruir o pai de Inácio.  Depois de mais uma briga com o pai, Inácio sai de casa e, usando o sobrenome materno, conhece Ester no Rio de Janeiro.  Depois de alguma resistência por parte dela, os dois começam um tórrido romance, ela decide largar tudo e casar-se com ele, a quem julga ser um estudante pobre.  Helena, que sofria com a ausência do filho, seu único apoio, termina por cair enferma.  É caso sem solução e Inácio finalmente é chamado.  Ele jura que irá voltar para Ester.  Em casa, ele termina por fazer as pazes com o pai e compreender melhor os sentimentos e razões do patriarca.  Inclusive lhe é revelado que Abelardo é filho de Higino Ventura.

Durante sua estadia e o luto, a avó de Inácio, Idalina (Nathalia Timberg), descobre que ele está apaixonado por uma mulher que ela julga indigna dele.  A velha dama, que guarda muito rancor em relação a como o genro tratava sua filha, deseja que Inácio se case com Alice, ou outra mulher rica e de família importante.  Mesmo sem saber quem é a moça, ela consegue forjar uma carta e substituir a que o moço escrevera para Ester dizendo que viesse ter com ele e que se casariam com as bênçãos de seu pai.  Ester se sente traída e parte para a Europa, Inácio vai ao seu encontro e acaba se sentindo também abandonado pela amada, a quem julga leviana.  Ester volta, ela não esqueceu Inácio e quer vingança.  Quem também está na Corte é o Barão Sobral.  

Henrique Sobral conhece Ester, consegue sair do seu estado de culpa e decide ajudá-la a abandonar sua vingança, abrindo seu coração sobre como é terrível perder a vida odiando e se torturando.  Mesmo quando descobre o que ela faz na vida, é dona de uma casa de prostituição de luxo, se choca, mas não a abandona, ou julga.  Ester termina por aceitar o amor que lhe é oferecido e os dois se casam.  Sobral a leva para Sant'Anna, deseja lhe apresentar sua família.  Vem o choque, Inácio e Ester descobrem que terão que viver na mesma casa; até que se desfaz o mal-entendido, ele a despreza; depois que conseguem descobrir que foram enganados, não podem trair um homem a quem amam e respeitam.  

Depois de muita angústia e culpa, e bem mais tarde na trama, ambos descobrem que Sobral os está enganando sobre sua morte iminente para manter o filho e a esposa sob controle.  Há um embate, mas quando decidem fugir juntos, o barão é assassinado e ambos acabam se tornando suspeitos.    Esta morte, no entanto, não é a única da novela e outras personagens desconfiam que pode haver ligações entre casos que parecem isolados e o assassinato sangrento do Barão.

Fiz dois textos anteriores sobre Força de um Desejo (*aqui e aqui*) e parte do que vou escrever aqui está lá no primeiro texto já com outros links e fontes, como o dos livros  Autores - Histórias da Teledramaturgia e em A Seguir Cenas do Próximo Capítulo, não vou me repetir e só quero deixar de acréscimo o texto do site do Nilson Xavier, o Teledramaturgia falando dos bastidores da novela.  Enfim, Gilberto Braga foi convidado a escrever uma novela das seis para tentar alavancar o horário, ele sentiu-se rebaixado e não se esforçou muito.  E tudo isso ele disse em entrevista, revisitou Escrava Isaura, que ele odiava, mas que é a sua obra de maior sucesso aqui e no mundo, mesmo que sua obra-prima seja Vale Tudo, e criou a trama da escrava branca, Olívia (Cláudia Abreu).  

A moça era filha de pai branco e escrava de pele muito clara, assim como Isaura.  O pai lhe deu uma excelente educação, mas nunca a alforriou de verdade.  Com sua morte, Olívia cai nas garras de sua meia-irmã cruel e invejosa.  Fugindo de cidade em cidade e sonhando em escapar para a Europa, ela termina em  Sant'Anna, onde se apaixona pelo jovem médico Mariano (Marcelo Serrado) e acaba atraindo a atenção do vilão, depois da morte de Helena.  Ao longo da história, a personagem de Cláudia Abreu, que era tudo menos pura, inocente e vulnerável como a Isaura de Lucélia Santos, se torna co-protagonista da novela, interagindo muito com o vilão de Paulo Betti, que consegue comprá-la, e com a esposa deste, Bárbara.  

Minha memória sobre Olívia era a parte mais traiçoeira da minha imagem da novela, eu realmente não gostava dela, mas foi um grande trabalho de Cláudia Abreu.  Olívia é uma das personagens mais habilidosas de Força de um Desejo por necessidade de sobrevivência.  Ainda assim, continuo acreditando que em alguns momentos a trama forçou demais, esticando situações ridículas, e colocando Olívia e Mariano subestimando a inteligência do vilão, ainda assim, eles são um dos melhores casais da novela.  Com o passar dos capítulos, mesmo os momentos de humor quase pastelão se seguraram bem por um bom tempo, mas ficaram repetitivos.

Curiosamente, e para o bem, devo dizer, ainda que a violência de Higino contra Olívia tenha explodido quando este descobre o quanto ela o enganou, fingindo-se de donzela e apaixonada por ele, a parte das torturas não se desdobrou por vários capítulos.  Ainda assim, a sequência em que Higino, finalmente, porque ela o enrolou por dois anos, ou mais, sei lá (*falo da temporalidade daqui a pouco*), a estupra, foi muito violenta.  Força de um Desejo jamais seria exibida no horário das seis em nossos dias.  A quantidade de violência e situações sexuais a descredenciariam e ela seria vista como séria demais, já que parte do público parece convencido de que as novelas precisam ser inócuas.  E veja onde chegamos, temos no ar uma novela das seis na qual racismo não é um problema no Brasil dos anos 1930...

Mas a sinopse de Força de um Desejo nem era de Gilberto Braga, a ideia original era de Alcides Nogueira e a novela se baseia no livro A Mocidade de Trajano do Visconde de Taunay.  Não conheço o livro, ele não entra nos cânones escolares, na época que começou a novela, procurei e acho que não o encontrei, as edições de papel são bem caras, porque este livro não deve ter sido publicado faz tempo.  Há uma edição Kindle por 4 reais para kindle, mas olhei e achei a qualidade ruim, parece uma reprodução direta da edição do século XIX e eu devolvi.  Enfim, a graça é que Trajano (André Barros) no livro é um Sobral, mas na novela virou o neto do banqueiro da cidade (José Lewgoy), talvez por acharem o nome de pouco apelo, não o deram ao mocinho da trama.  

O fato é que Trajano é uma das minhas personagens favoritas na novela e um dos mais injustiçados da teledramaturgia brasileira.  Trajano é o amigo de todo mundo que tem importância na história, a típica personagem orelha, ele ouve os problemas alheios e não tem direito a uma história própria.  Só que ele não é passivo, ele é tão cheio de qualidades que é um desperdício colocá-lo em cena sempre para ouvir, ou ajudar um monte de gente a resolver os seus problemas.  Ele é inteligente, tem memória fotográfica, raciocínio rápido.  

Em certo momento, Juliana (Júlia Feldens) decidiu ensinar Abelardo a dançar para se aproximar dele.  Precisavam de alguém para tocar piano.  Lá estava o Trajano.   Se precisavam de alguém para ir em uma missão perigosa, lá ia ele.  Se era necessário torturar um dos vilões, sem problema (*e como tem cena de tortura nessa novela...*).  Além disso, ele era bonito, rico, bom neto e muito gentil com todo mundo.  E o que ele ganhou?  

Bem, ele é apaixonado por Juliana a novela inteira e ela só tem olhos para o pastel do Abelardo, porque, infelizmente, a personagem de Selton Mello fica andando em círculos durante toda a trama, quando parece que vai evoluir, ela se encolhe de novo, se apequena e volta aos velhos erros.  Eu realmente achei injusto com Trajano que não tivéssemos Juliana largando Abelardo, nem que seja pelo seu amor próprio, e aceitando os sentimentos do rapaz que foram estáveis desde o início da novela.  Assim, excesso de romantismo me enjoa, talvez, a Valéria adolescente pensasse diferente, mas com quase cinquenta anos essa história de amor eterno por quem não lhe dá valor é um negócio que me soa doentio.  

De qualquer forma, e Trajano salva a vida de Ester no final trazendo uma testemunha que pode absolvê-la de uma falsa acusação de assassinato, ou seja, ele foi fundamental do início ao desfecho da trama.  E eis que lhe arranjam um consolo: Mariana Ximenes.  A atriz, que se tornou namorada de André Barros na vida real, nem sei se já era quando da gravação da novela, aparece lindíssima no último episódio.  Custava terem introduzido a personagem antes, poucas cenas bastavam, para firmar algum sentimento entre os dois?  Foi tanta cena desnecessária nessas últimas semanas de trama, coisas criadas simplesmente, porque havia a ordem de esticar a novela, que dava para criar uma história para os dois.  Dava, mas não fizeram.

Enfim, mas meu primeiro grande problema com a novela é que a temporalidade. Sou historiadora e certas coisas me dão nos nervos.   Existe uma diferença entre novela/livro histórico e de época.  O primeiro tem que ter uma cronologia histórica precisa e alguma fidelidade ao período que busca retratar; o segundo, não precisa, deve, portanto, evitar marcações históricas que exijam maior fidelidade para poder voar à vontade  O problema é que Força de um Desejo não se decide.  No início da trama, a Guerra do Paraguai é citada, porque o noivo de Juliana, uma combinação feita quando ela era criança, está no conflito e morre lá.  Temos, portanto, uma datação, estamos entre 1864 e 1870.  Quando termina a novela, sabemos, porque se faz referência à Lei do Ventre Livre, que estamos em 1871.  Também perto do fim, somos informados que Ester e Sobral se casaram em 1865.  Temos dois marcos temporais precisos e um período mais ou menos demarcado.

Agora, pensem comigo, o país em guerra, a maior da nossa história, e não se fala nela salvo lá no começo.  O conflito terminou e não tivemos nenhuma palavra do Bartolomeu (Daniel Dantas), o jornalista tio de Juliana, sobre uma notícia tão importante.  Poderia ser coisa rápida.  Tanta cena repetitiva que daria para cortar!  Ao longo da trama, nenhuma palavra, também, sobre convocação ou alistamento de qualquer personagem.  É como se a guerra não fosse problema dos homens da trama.  Também nenhuma referência, de novo, poderia ser Bartolomeu, ou Jesus (Sérgio Menezes), o liberto que vira jornalista, sobre escravizados lutando na guerra para ganhar a liberdade.  E ninguém pense que estou pedindo que Força de um Desejo fosse sobre a guerra, bastava aquele esquema comum em novelas do Manoel Carlos, um dos boas vidas da trama chega, abre o jornal e comenta alguma coisa.  Morre ali, mas morre com dignidade.  

Mas a questão da escravidão é um dos calcanhares de Aquiles da novela inteira, fiz um post inteiro sobre isso, está linkado lá em cima.  Como eu pontuei no meu texto, havia duas novelas, a dos brancos, com seus dramas amorosos, financeiros e de vingança, e a dos negros, com seus sofrimentos e acomodados a eles.  Sim, a novela acusou quase que o tempo inteiro os escravizados de serem corresponsáveis pela sua condição, além de se apegar a um clichê recorrente e usado no cinema de Hollywood, que é a de separar os senhores de escravos entre bons e maus, como se isso fosse possível.

Durante toda a novela, foi reafirmado que os Sobral, o pai e os filhos, eram contra a escravidão.  Liberais.  Bem, liberal brasileiro no século XIX não era abolicionista, embora, a maioria dos abolicionistas estivesse nesse partido.  Criaram em vários momentos um grande drama para nos convencer a sentir pena dos pobres senhores de escravos que não não queriam ser. Sabe, as vítimas da escravidão, uma necessidade econômica, eram eles. Enquanto isso, os autores colocavam na boca dos próprios escravizados palavras de gratidão e a reiteração de que seus senhores precisavam deles.  Um abuso total!  

Luzia (Isabel Fillardis), que sempre esteve em posição vilanesca, foi recriminada mais de uma vez por reclamar de sua condição de escravizada.  "Ora, Luzia, quem vai trabalhar nessa fazenda?"  Uma verdadeira ingrata preguiçosa!  E como ela era má, as acusações tem impacto, afinal, as escravizadas boazinhas não reclamam, mas idolatram seus senhores e os defendem. Mesmo tão preocupados em dar tratamento humanos aos escravizados, os senhores não sabiam o que seu feitor, Clemente (Chico Díaz), o vilão da novela dos escravizados, fazia.  O Barão até disse uma vez que não podia abrir mão dele porque "Clemente tinha autoridade com os escravos".  O que isso significa?  Que ele tinha perfeita noção dos métodos usados por Clemente.

Volta e meia, os escravizados diziam que se Inácio estivesse na Ouro Verde, Clemente não os maltrataria.  Mas quando ele estava, as maldades rolavam soltas do mesmo jeito, porque o sinhozinho tinha mais com o que se preocupar.  Inácio até repreende Clemente já no final da trama dizendo que na sua fazenda não se usava o tronco.  Mas se não se usava, por qual motivo havia um tronco lá?  Quem deixou colocar?  Um?  E a culpa era jogada nos escravizados que silenciavam os maus-tratos e no feitor, como se uma fazenda como aquela não precisasse de um administrador.  Aliás, como os Sobral administravam mal seu patrimônio e eram roubados pelo feitor e por Idalina o tempo inteiro.  E eu realmente me espantava como Rosália (Chica Xavier), que ajudou a criar os patrões, tinha tão pouca capacidade de influenciá-los, mas foi quase todo o tempo assim.  

A culpa da escravidão era das vítimas, submissas e acomodadas demais, mas se reclamavam da sua condição, eram ingratas.  E foi assim até quase o final.  Quando Cristóvão (Alexandre Moreno) tenta fugir para o quilombo, é capturado e não é punido, Inácio e Abelardo meio que lhe jogam na cara que se fossem eles os escravizados, tentariam fugir sempre.  Falar é fácil.  "Ah, mas é que as pessoas não tinham reflexão sobre o tema naquela época!"  Quando a novela foi feita, essa abordagem da escravidão já era arcaica.  Fora que um dos temas mais explorados da historiografia brasileira deve ser a escravidão e a luta pela abolição.  Se houve workshop de moda, costumes da época e outras coisas para o elenco, deveria ter havido um pouco de preocupação com essas questões, também.

A Globo já tinha feito novelas melhores sobre escravidão, como Pacto de Sangue, isso dez anos antes.  A ideia de culpar os escravizados pela sua condição é covarde e negar-lhes, pelo menos até os derradeiros capítulos, a capacidade de reagir e se revoltar, é fruto de uma indiferença dos autores quanto ao tema.  Aliás, o sr. Gilberto Braga já tinha tomado na cabeça por causa dessa mesma incapacidade de colocar o racismo e a luta dos negros em outra novela sua, em 1994, quando a novela Pátria Minha virou alvo e ação dos movimentos negros e ele teve que fazer um remendo na trama. Escravo tem que sofrer, mas vamos livrar a cara dos nossos heróis culpando o feitor, quando este é somente a mão que açoita, ou o pênis que estupra.  Por outro lado, havia os maus senhores de escravos, mas esses eram todos do grupo dos vilões.  Idalina, Higino Ventura e seu capataz, Vitório (Antônio Grassi) e Alice, também

A novela se esmerou em mostrar torturas e não somente de escravizados, ela foi muito realista ao caracterizar a violência policial, algo recorrente na história e nosso país.  Aliás, nesse aspecto, nota dez para Força de um Desejo.  Enfim, já na reta final, Zelito (Nill Marcondes), uma coadjuvante muito importante ao longo de toda a novela, foi tão torturado que pensei que ele seria morto.  Ficou sendo maltratado durante vários capítulos para confessar algo que não fez; depois, sumiu por outros tantos episódios. Daí, Higino manda soltá-lo e ele some de novo. Zelito é citado no último capítulo, Inácio o comprou para alforriá-lo, porque temos a alforria geral na Ouro Verde, meio que igualando o final de Escrava Isaura, mas o ator não aparece.  Estranhei isso.  Alguma coisa aconteceu.

Outra questão complicada da novela é um elitismo absurdo que condena o vilão desde o início.  Ele é um self-made man, isso parece ofender os ricos e os pobres da novela.  Higino Ventura tem uma trajetória de sucesso, no início, não sabemos que ele cometeu vários crimes para subir na vida, mas fato é que ele se tornou um homem  poderoso trabalhando em uma sociedade em que o trabalho era visto como algo que desqualificava, coisa de escravizado, em que o mérito de um indivíduo era medido pela herança que recebia.  Só que pela lógica da própria trama, Higino poderia ser desprezado por muita gente, mas não pelos mocinhos liberais, ainda mais, porque isso não combinaria com o discurso moderno deles, especialmente, de Inácio.  

Higino deveria ser rebaixado por outros motivos, mas, desde o primeiro momento, suas origens pobres e o fato de ter trabalhado para enriquecer foram determinantes para que ele, uma espécie de Barão de Mauá (*papel que Paulo Betti interpretou no cinema*) do crime, fosse desprezado.  Complicado, porque nenhuma voz do lado dos bons se levantou a seu favor, ou, pelo menos, a favor desse espírito empreendedor que era tão caro aos britânicos e norte-americanos, mesmo para ser, mais tarde, confirmado o seu erro, porque, afinal, se tratava de um vilão.  E os vilões são o grande destaque da novela.  

Nathalia Timberg compôs a sua Idalina de forma magistral.  Ela tinha sentimentos, sem dúvida, mas um caráter tão torto que mesmo as pessoas que ela amava (a filha, os netos) poderiam ser sacrificados em seus esquemas, porque, se ela fosse vitoriosa, todos iriam lucrar no final.  Pelo menos, era assim que ela acreditava.  Creio que, mesmo em uma novela irregular, deve ter sido um dos melhores papéis da vida dela, pois, verdade seja dita, a qualidade do texto era excelente.  Outra que brilhou em sua capacidade de se transmutar, ir da vilania à simpatia, foi a Luzia de Isabel Fillardis.  A atriz foi muito competente mesmo presa a estereótipos complicados, porque Luzia será julgada desde o início por não somente usar o corpo para conseguir vantagens, algo que está na Rosa de Escrava Isaura, que lhe serviu de óbvio modelo, mas por efetivamente gostar de sexo.  O discurso da novela em relação à Luzia sempre foi moralista.  Ainda assim, graças e muito ao talento da atriz, foi uma grande personagem.  

Lavínia Vlasak fez uma sinhazinha detestável e com algumas camadas, ela poderia fazer o bem, mas era tão egoísta que não conseguia superar as suas limitações.  E não era tão inteligente quanto Idalina.  O drama do incesto que não era incesto com Abelardo teve seus momentos, mas não justifica que o rapaz se comportasse como um babaca por tanto tempo.  E não me conformo de Juliana ter ficado com ele.  Não me conformo, também, com aquele bebê Otavinho que não crescia nunca. De qualquer forma, quando a verdade, a de que Alice tinha sido colocada no lugar do filho que Bárbara perdeu no parto, foi revelada, foi muito interessante ver Higino reconhecer nela uma filha por afinidade de espírito e, não, por sangue.  Claro, era reta final da novela, poderia ser algo que se modificasse depois, mas toda a sequência da descoberta e a forma como Higino processa a novidade, foi muito boa.  Sangue não é tudo.

Agora, era uma delícia ver Alice montando como uma dama fazia no século XIX.  A atriz deve ter treinado bastante, porque em muitas produções, na maioria delas na verdade, colocam as atrizes montando como homens montavam, o que é muito inadequado.  E houve uma sequência muito boa em que ela, que precisava correr muito para resolver um problema, pede uma sela masculina, porque atravessada ela tinha medo de não ir tão rápido.  Idalina fica chocada, mas Alice segue com Abelardo para tentar salvar o sogro de mais uma das armações de seu pai.  Esses detalhes na novela faziam muita diferença. Falando em roupas, já que falei de cavalos e montaria, houve um cuidado muito grande com o figurino, mas ele, pelo menos para as personagens mais importantes, estava congelado nas décadas de  1850 e 1860.  Foi uma escolha, não cabe criticar, porque filmes de primeira linha, como Dracula de Bram Stocker, fazem isso, também.  Não entendeu?  O filme se passa em 1899, mas o figurino é da década de 1870-80, porque, bem, a figurinista certamente achava a Bustle Era visualmente mais interessante.  

Ester, Alice e Clara (Helena Fernandes), eventualmente, tinham roupas muito bonitas.  Fora isso, quando as pessoas estavam de luto, ele durava muitos capítulos.  Nas novelas e época dos últimos anos, às vezes, nem no enterro o elenco está e preto. Isso é errado e muito irritante. Em Força de um Desejo, gastou-se muito dinheiro com figurino, porque mesmo de luto, as atrizes principais tinham vários vestidos.  Agora, poderiam ter tido cuidado com os decotes de Ester, especialmente, no tribunal, porque algo que a novela não fez foi diferenciar roupas para o dia (*mais fechadas*) das que eram utilizadas à noite (*mais decotadas*), mas no julgamento, caberia um maior cuidado.  

E, claro, houve  aquela escolha horrível e colocar Olívia com um vestido que, na verdade, era o espartilho por fora da roupa.  Ela parece estar andando em roupas de baixo.  O vestido aparece lá no início da trama, quando ela chega em Sant'Anna, e ele volta no penúltimo e último capítulo.  Pensei que tinham jogado aquela roupa fora.  Aquilo era pavoroso, assim como houve momentos, poucos, verdade, no qual atrizes apareceram com o espartilho direto sobre a pele.  Isso não se faz, sempre havia uma chemise por baixo, porque, se não houvesse, a atriz iria se machucar.  Algo importante, os cabelos, no geral, as mulheres adultas estavam com penteados corretos, Olívia os prendia no começo, passou a usá-los soltos na sua fase escravizada doméstica, e voltou a prendê-los depois de casada.  Uma escolha curiosa.  

Já os homens, a maioria deveria estar usando barba, nem Inácio, nem Abelardo usavam.  Curiosamente, ao longo da novela, Bartolomeu e Mariano se barbearam, também.  Dificilmente um homem adulto abriria mão da barba naquele momento do século XIX, era uma marca de que se era adulto e homem.  De novo, escolhas curiosas, mas, muito provavelmente, pautadas por gostos contemporâneos, talvez, se a novela fosse hoje, mesmo os protagonistas usassem barba, porque ela voltou à moda.

Como não poderia deixar de ser, a novela tinha um núcleo de humor no qual se destacavam Louise Cardoso e Daniel Dantas, os dois muito competentes.  Daniel Dantas, no entanto, sempre me surpreende mais como vilão, mas acreditam que ele tem cara de bonzinho.  Paulo Betti e Cláudia Abreu poderiam, eventualmente, render algum humor.  Luzia era uma personagem cômica em muitos momentos, mas o maior destaque é para Denise Del Vecchio.  Bárbara, esposa de Higino, era realmente uma mulher sem classe e desastrada, ou ela fazia tudo isso como uma encenação para não perder o marido, que a julgava tonta, e para que ninguém descobrisse seus crimes?  Porque ela era a grande serial killer da novela e muita gente deve ter ficado surpresa quando seus crimes foram revelados.

Vendo o final, eu até sou capaz de imaginar que ela fingiu loucura para não terminar na forca, para ir para o manicômio.  O único problema com Bárbara envolvia Olívia.  Ela certamente sabia do interesse do marido pela escrava branca, ela considerava a moça como uma filha, sua simpatia parecia genuína.  Por qual motivo, então, ela não ajudou Olívia a fugir, mesmo sem que a moça soubesse?  Bárbara era muito inteligente, poderia resolver tudo sem que o marido descobrisse.  Ou por qual motivo, se ela efetivamente considerava a jovem uma ameaça, alguém que poderia lhe tirar o marido, não a matou, também?  De resto, Denise Del Vecchio estava soberba.  Aliás, ela é uma excelente atriz.

Vou concluir com o casal protagonista.  Malu Mader estava muito bem como Ester Delamare.  Atuando com toda a potência que sua mocinha não convencional exigia e sempre estava muito linda em um figurino inspirado na imperatriz Sissi. Agora, que tristeza era Inácio!  O texto repetia o tempo inteiro, como ele era capaz, másculo, bom, inteligente, forte, blá-blá-blá, especialmente, em oposição ao seu irmão, Abelardo.  Mas, vejam bem,  se o roteiro precisa insistir tanto é porque nada disso está realmente evidente.  Como senhor, ele parecia alheio ao sofrimento dos escravizados durante boa parte do tempo, e mesmo com todas as demonstrações de amor e fidelidade de Ester, ele ficava tendo ataques de ciúme. Mesmo não sendo burro para além da medida do exigido em qualquer telenovela, ele parecia muito imaturo. As partes românticas dos dois nunca me convenceram.  Eu preferia Ester com o Barão, porque Reginaldo Faria estava realmente excelente como esse sujeito que se arrepende dos erros e busca o amor novamente.  Mas eles não podiam ficar juntos, porque o amor verdadeiro era com o Inácio (*Bléh!*).  Eu preferia Ester até com o Conde Pedro Afonso (Marco Ricca), que era um sujeito bem mais divertido e interessante.

Agora, a forma como a novela normaliza em nome do amor um relacionamento absolutamente impróprio, o do enteado com a madrasta, é totalmente absurda. Fez-se um grande escândalo em relação ao suposto incesto entre Abelardo e Alice, que todos (*menos ela*) criam ser meios-irmãos, mas quando se torna público que Ester e Inácio eram, ou teriam sido, amantes, isso tem um efeito menor do que quando a protagonista teve seu passado de cortesã exposto. Vejam bem, século XIX, sociedade muito católica, a Bíblia proibindo mais de uma vez (*no Velho e no Novo Testamento*) que o filho se deite com a mulher de seu pai, Inácio é um homem casado e todo mundo aceita que os dois fiquem juntos.  Aliás, a normalização atingiu até Abelardo que, ao descobrir que não era irmão de Alice, me soltou que não tinha cometido pecado algum.  Fazer sexo com a esposa do irmão não era somente pecado aos olhos da sociedade, era crime, também, adultério.

Com tanto tempo para arrumar as coisas, 227 capítulos, os autores decidiram se atropelar em questões tão importantes.  Sim, Ester e Inácio deveriam, pela lógica da historia, terminar juntos no final, isso não se discute, mas precisariam partir da cidadezinha onde toda essa confusão ocorreu.  Deixavam Abelardo cuidando da fazenda e iam embora construir sua vida em outro lugar, onde ninguém soubesse esse rolo todo, teriam lá os seus filhos e seriam felizes, escapando de julgamentos morais.  Era o mínimo, porque aceitação de um arranjo desses por toda a boa sociedade é um negócio muito fora da casinha mesmo.

Acho que é isso.  A novela teve seus bons momentos, mas se esticou demais, criando situações repetitivas e desnecessárias, como Olívia fugindo do assédio de Higino, ou as mil armações do vilão para prejudicar o Barão Sobral (*e seus filhos*) e obrigá-lo a vender sua fazenda.  Além disso, houve saltos no tempo abruptos e a dificuldade em acompanhar a cronologia da trama.  Omissões, como não citar o fim da Guerra do Paraguai, foram outro problema grande.  A abordagem do tema da escravidão oscilou entre o ruim e o lamentável e não é problema da época, é elitismo e falta de consciência histórica dos autores mesmo.  E, muito provavelmente, deve ter havido alguma pressão na época, para que discussões sobre fuga e quilombo fossem enfiadas bem no final da trama. E eu perdi, no máximo, uns quatro capítulos.  Calhou de ser exatamente quando o tal quilombola aparece, isso, claro, se ele aparece.  O quilombo mesmo, nunca foi mostrado.

Eu entendo os motivos de Força de um Desejo não ter feito o tanto e sucesso que a Globo esperava.  No geral, talvez ela merecesse mais atenção do que recebeu, ao mesmo tempo, como foi uma produção muito bem cuidada e com grande elenco, ela acabou ficando na memória de muita gente como uma ótima novela, mas não foi não.  Aliás, o que me dava mais prazer era rever gente como Mario Lago, Claudio Corrêa e Castro, José Lewgoy, Chica Xavier, a própria Nathalia Timberg e Reginaldo Farias, que ainda estão bem vivos, atuando de forma tão competente.