segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Comentando a 88º Cerimônia do Oscar

Lady Gaga e vítimas de violência sexual no palco.
Apesar de haver escrito que não daria a mínima para a premiação, afinal, Sufragette foi esnobado e houve, mais uma vez, a ausência de negros e negras entre os indicados, além de nenhuma mulher na direção etc. acabei parando para assistir.  Peguei um streaming da TNT, ele funcionou bem boa parte do tempo, perdi o início e o monólogo machista do Chris Rock (*comento depois*), mas vi praticamente tudo.  Fazia tempo que eu não assistia o Oscar integralmente e, mais legal ainda, comentava no Twitter.  A última vez?  Acho que foi na época do Discurso do Rei.  Acho...

Eu não tinha um favorito, assisti somente A Garota Dinamarquesa mesmo, mas estava acompanhando as premiações, sabia das chances de Spotlight, por exemplo, ainda que não esperasse a vitória na categoria melhor filme, e participei do bolão gratuito da Lola.  Meu marido viu O Regresso e tinha reforçado minhas suspeitas de que seria um bom filme, mas chato, e confesso que não tenho vontade de assistir.  Estou meio saturada de histórias de homens, desculpem a franqueza.  Agora, aquela coisa toda em torno do Leonardo Di Caprio era engraçada de se ver, afinal, gente igualmente competente também ficou na fila do Oscar por décadas, Paul Newman, por exemplo, ou saiu com um Oscar honorário mea culpa da academia, tipo Chaplin.  Vou comentar alguns momentos interessantes e pouco mais que isso.


Jenny Beavan, vencedora do Oscar de melhor figurino.
Não vi Mad Max: Estrada da Fúria, mas gostei do filme ter concentrado quase todos os prêmios técnicos.  É um filme feminista – não encontrei ninguém que negasse – e com muitas mulheres na produção.  Fiquei torcendo pelo diretor, George Miller, mas não deu, venceu O Regresso.  Mas é aquilo Oscars técnicos não são prêmios principais e outros filmes de ficção científica já conseguiram fazer o mesmo, só que o frisson em torno de O Regresso era forte demais, sufocante demais. Indicado até para figurino?  E, pensando depois, foi realmente interessante ver Mad Max ganhar nessa categoria e sua figurinista ir ao palco vestida de couro e sem salto.  A cara de desdém frustração do diretor de O Regresso e outros homens, que pode ser vista no vídeo.  Para mim, foi uma atitude feia, deselegante, talvez coisa de mal perdedor, mas, para alguns, foi coisa de machista mesmo.

Gostei de ver  Ex-Machina: Instinto Artificial, outro filme com Alicia Vikander, receber Oscar de Melhores Efeitos Visuais, quebrou a sequência de Mad Max, verdade, mas tinha uma mulher no grupo premiado.  Segundo o site Mulher no Cinema, é caso raro, normalmente mulheres não se fazem bem representadas nessa categoria entre os indicados.  Parabéns para Sara Bennett e preciso ver esse filme que apareceu entre os grandes meio que como um estranho no ninho.

O Menino e o Mundo.
Divertidamente ganhou.  Todo mundo sabia que iria ganhar mesmo.  Agora, acho o fim as manchetes aqui serem algo como "O menino e o mundo perdeu o Oscar de Animação” (*exemplo*).  Não, gente, só de estar lá no meio dos grandes, como Pixar/Disney, Ghibli, já era uma vitória.  Esse pessoal tem que parar de pensar determinadas coisas pelo prisma negativo.  Não perdeu, foi um anão entre gigantes, conseguiu atrair atenção para um filme cheio de méritos e para os artistas envolvidos.  Quem esperava a indicação?  Fico doente com esse tipo de coisa, sabe?

Outro momento importante e emocionante da premiação – apesar de algumas omissões – foi o In Memoriam.  Tanta gente boa, competente, cheia de boas coisas ainda a fazer por aqui se foi.  Alan Rickman, que esses comentaristas cretinos (*tive que aturar o Ewald Filho*) parecem só lembrar de ter visto em Harry Potter... Enfim, eles ainda me massacraram ao terminar com Leonard Nimoy.   Precisavam terminar com o Sr. Spock?  PRECISAVAM?  Não, mas fizeram isso... 


Lady Gaga foi maravilhosa em sua apresentação.
Somado a esse momento, que sempre é muito emocionante, o ponto ápice da cerimônia, para mim, foi a apresentação de Lady Gaga.  Não sou fã dela, mas admiro a sua voz e sempre a acho muito mais bonita quando não está fazendo alguma performance.  Ela estava elegante, a música, “Til it happens to You”, do documentário The Hunting Ground, que trata sobre esturpros nas universidades norte americanas, composta por ela  e Diane Warren, ambas vítimas de abuso sexual, foi interpretada de forma poderosa e terminou com várias mulheres que sofreram abusos sexuais juntas no palco.  Favorita?  Sim, especialmente, quando comparadas com as chatíssimas músicas apresentadas.  No entanto, e esse foi o ponto mais baixo da noite, o prêmio foi para "Writing's on the wall", de 007 contra Spectre.  Foi bem na hora que o meu streaming falhou.  Fiquei sem acreditar.

A boa piada em cima disso foi que Lady Gaga, que passou a mão em Leo Di Caprio no Globo de Ouro, teria pego para si a maldição de não ganhar estatueta, porque, bem, só assim para compreender essa derrota.  Aliás, foi fofo ver a Kate Winslet emocionada com a vitória de Di Caprio, realmente feliz por ele; já o ator, bem, ele teve que se conter para não gritar e pular no palco.  Dava para ver.  Pena que não soltou as frangas, porque seria lindo. ^_^


Sharmeen Obaid-Chinoy em seu discurso emocionante.
Outro momento bonito foi a premiação do curta de documentário A Girl in the River: The Price of Forgiveness, único filme dirigido por mulher premiado este ano. O filme conta a história de uma jovem paquistanesa que sobreviveu a tentativa de assassinato perpetrada pela própria família, um crime de honra.  Deram-lhe um tiro na cabeça, colocaram em um saco e jogaram no Rio, mas ela sobreviveu.  A produtora e diretora Sharmeen Obaid-Chinoy fez um dos  mais belos discursos da noite (*agradeço à Tradução do site Mulheres no cinema*): “É isso que acontece quando mulheres determinadas se reúnem. De Saba, a mulher do meu filme, que sobreviveu a um crime de honra e dividiu sua história, à Sheila Nevins e Lisa Heller, da HBO; à Tina Brown [produtora], que me apoiou desde o primeiro dia; aos homens que lutam pelas mulheres, como Geof Bartz, que editou o filme, Asad Faruqi [diretor de fotografia]; ao meu amigo Ziad, que levou o filme ao governo; a todos os homens corajosos, como meu pai e meu marido, que encorajam as mulheres a estudar e trabalhar, que querem uma sociedade mais justa para as mulheres. Nesta semana, depois de ver esse filme, o premiê do Paquistão [Nawaz Sharif] disse que vai mudar as leis quanto aos crimes de honra. Esse é o poder do cinema.”

De resto, lamentei que Cinco Graças (The Mustang) não tenha vencido por filme estrangeiro.  Não vou desfazer de O Filho de Saul, filme húngaro vencedor, nem falar que o tema Holocausto está esgotado ou em lobby.  Todas as críticas que li foram unânimes nos elogios ao filme, assim como vi Spotlight sendo louvado como um grande filme, um filme de elenco, no qual ninguém brilhava mais que o companheiro ou companheira.  Aliás, acho que está na hora dos prêmios Oscar serem repensados.  Acho injusto crianças e adolescentes competindo com adultos, um prêmio para revelação poderia ser inserido, assim como acho urgente uma premiação para melhor elenco, algo que existe no SAG, o prêmio do sindicato dos artistas.  E quem venceu?  Spotlight.  Fora prêmios técnicos, enfim...


Kate Winslet fez campanha para Di Caprio e
reagiu de forma emocionate a sua vitória.
De resto, achei irritantes e hipócritas as brincadeiras em relação ao racismo da academia.  Rock acertou ao falar que o racismo sempre existiu e que o importante é estar falando disso, mas não vi constrangimento em ninguém com as piadinhas dele e de outros.  O boicote – e foi lindo Spike Lee não ir receber seu prêmio (consolação) honorário – era a postura mais adequada.  Agora, se Rock foi muito preciso em alguns de seus comentários sobre racismo, foi um fiasco ao propor prêmios para negros, ou que homens e mulheres não tivessem categorias separadas.

Querido, se foi piada não deu certo.  Primeiro, porque existe uma desigualdade imensa nas oportunidades para homens e mulheres no cinema, assim como há para atrizes e atores negros, isso sem falar em outras etnias.  “People of color”, que até hoje não sei se é um termo racista, ou não, mas sei que coloca todo mundo no mesmo saco e elimina qualquer caráter racial da “cor” branca, como se ela fosse neutra, no geral estão sub-representadas em Hollywood.


Cris Rock decepcionou em sua fala de abertura.
Rock também debochou da campanha #ASKHERMORE, lançada ano passado com o intuito de evidenciar a forma desigual como são tratados homens e mulheres nas entrevistas e premiações.  Eles perguntados sobre seus papéis e trabalhos, elas sobre roupas e sapatos, principalmente.  Olha, é claro que atrizes são vitrines para grifes e que os homens se vestem praticamente iguais, mas esse comportamento não existe por conta da indústria da moda, mas porque mulheres são vistas como artigos decorativos, mesmo quando seu talento é o que deveria estar em evidência.  Vejam só, perceber o racismo não faz o sujeito deixar de ser um babaca racista, o tempo inteiro ou em alguns momentos. 

De resto, minha solidariedade com quem assistiu a Glória Pires.  Quando o streaming deu pau e eu tive que olhar a Globo, deu nervoso ver a cara de tédio da atriz, que é ótima como atriz, que fique claro, sua falta de interesse, enquanto seus companheiros de apresentação tentavam se desdobrar.  Gente, trabalhar domingo ou na folga é ruim, mas será que ela foi obrigada?  Se eu fosse a Globo, chamava o Jô Soares para o ano que vem.  Ele pode ser narcisista, mas lembro que quando o SBT roubou o Oscar da Globo, ele fez um trabalho excelente.  Saudades do José Wilker, muita mesmo.  E fiquem com a apresentação de Lady Gaga.  Linda mesmo!


  

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Ranking da Oricon



Quarta-feira passada saiu o ranking da Oricon da semana de 15-12 de fevereiro.  Não foi uma semana excelente, porque não tivemos títulos no top 10, mas, ainda assim, os shoujo marcaram boa presença.  Nenhum josei apareceu, no entanto, mesmo Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu desapareceu.  Em destaque estão ainda Kurosaki-kun no Iinari ni Nante Naranai  e Haru Matsu Bokura, LiarXLiar também resistiu da última semana.  Os outros são novidade. Poderia incluir ReLife, que está em 26º  lugar, porque os mangás da revista Comico são flutuantes, ora aparecem como shoujo, ora como seinen, o fato é que é uma revista especializada em material slice of life - histórias do dia-a-dia, o cotidiano em evidência - e de demografia ampla, enfim... 

11. Kurosaki-kun no Iinari ni Nante Naranai #6
12. Haru Matsu Bokura  #4
19. Soredemo Sekai wa Utsukushii  #12
20. Namaikizakari。#6
23. LiarXLiar #8
29. Kuro Hakushaku wa Hoshi wo Mederu #5

sábado, 27 de fevereiro de 2016

One-shot sobre a Hosokawa Gracia é publicado no Japão


Hosokawa Gracia (1563-1600) é uma personagem muito popular no Japão.  Filha de uma poderosa família samurai, durante as guerras do período Sengoku, recebeu ao nascer o nome de Tama.  Casada adolescente com um senhor da guerra, Hosokawa Tadaoki, ele se recusa a abandoná-la quando sua família cai em desgraça por ter traído Oda Nobunaga.  Protegida e escondida pelo marido, passando por vários palácios para não ser capturada pelos vários inimigos ocasionais que os homens da família faziam, ela se converte ao catolicismo pela pregação de uma de suas damas.  E surge o problema: captura seria uma desonra para qualquer mulher samurai, mas o suicídio, saída nobre desejável para qualquer nobre japonesa seria um pecado mortal.  Tama, agora batizada como Gracia, termina sendo morta pelo guardião que seu marido encarregara desta função, impedir que ela se deixasse capturar por recusar cometer sepuku, quando o palácio da família em Osaka é conquistado.  

Sua história inspirou James Clavell a criar Mariko Buntarou, uma das personagens mais importantes de seu romance Shōgun.  Gracia já apareceu em outras obras, inclusive mangás, e lembro de ter lido em algum lugar (*deve estar no Shoujo Café...*) que ela sempre aparece em pesquisas sobre as personagens históricas favoritas das japonesas.

Enfim, segundo o Comic Natalie, um one-shot sobre Hosokawa Gracia chamado Kyara Ogo (Gracia) (伽羅奢(ガラシャ)) foi publicado na revista Comic Ran Twins, a autora é Fumi Saimon, autora de vários mangás seinen e josei.  Queria poder ler algum mangá sobre a personagem, ou mesmo uma biografia, porque sua trajetória aprece ser realmente interessante.

Anunciado um dorama baseado em clássico de Hagio Moto


Poe no Ichizoku (ポーの一族), série de vampiros publicada entre 1974 e 1976 e que segue o protagonista, Edgar, por aproximadamente 200 anos, receberá uma adaptação para a TV.  A notícia está no Comic Natalie (*me passaram o link do ANN, esses dias mal pude cuidar do blog*).  A série de TV será inspirada no mangá, não uma adaptação direta, e tem como nome Stranger ~Bakemono ga Jiken wo Abaku~ (ストレンジャー ~バケモノが事件を暴く~).  A estréia é para muito breve, 27 de março, 21h, na TV Asahi.  

Na série, Shingo Katori será Akira Musugi, um médico da Era Taishō que é transformado em um “vampanella” após tentar o suicídio depois da perda de sua esposa e filho/a.  Ayami Nakajō será Maria, membro de um clã de vampanella que lança sobre Akira o peso da vida eternal.  Maria tem o sangue mais poderoso de sua família e está condenada, também, a viver uma longa vida... 


É isso.  O mangá original tem 5 volumes e é composto por histórias curtas que se passam na Europa do século XIX e XX.  Na época em que foi publicado muitos mangás shoujo de sucesso se passavam na Europa e, não, no Japão.  A página oficial do dorama é este aqui.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Chihayafuru e Orange indicados ao 20º Tezuka Awards


O Osamu Tezuka Cultural Award foi criada para premiar anualmente mangás que tenham se destacado e sigam - de alguma forma - os passos do mestre Osamu Tezuka. Este ano, dois mangás femininos (*ou quase*) muito queridos estão entre os indicados.  Chihayafuru e Orange. :D  Eu votaria em Orange, mas confesso que é difícil a parada e nem estou contando com os outros concorrentes.  Enfim, os indicados são:

Orange (オレンジ) de Ichigo Takano (Futabasha)
Golden Kamui (ゴールデンカムイ) de Satoru Noda (Shueisha)
Kodoku no Gourmet (孤独のグルメ) de Masayuki Kusumi (roteiro) e Jiro Taniguchi (arte) (Fusosha)
Chihayafuru (ちはやふる) de Yuki Suetsugu (Kodansha)
Cho-no-Michiyuki (蝶のみちゆき) de Kan Takahama (Leed Publishing)
Hanagami Sharaku  (鼻紙写楽) de Kei Ichinoseki (Shogakukan)
Yotsuba&! (よつばと!) de Kiyohiko Azuma (MediaWorks)

Para se qualificar, o mangá deveria ter pelo menos um de seus volumes publicado em 2015.  O ANN comentou que o mangá que recebeu mais indicações foi Orange.  O anúncio do vencedor será feito no site do Asahi Shimbum em abril e os prêmios (*há mais de um*) serão dados no dia 29 de maio no Tokyo Yurakucho Asahi Hall, segundo o Comic Natalie.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Comentando Êta Mundo Bom!



Hora de confessar o inconfessável, estou assistindo quando posso Êta Mundo Bom! e achando uma novela muito bem feitinha e gostosinha de se acompanhar.  É do Walcyr Carrasco, eu tenho birra com ele, mas acho que ele acertou alguns problemas que, por exemplo, me incomodavam em Chocolate com Pimenta.  A novela está boa até agora e o elenco muito afiado.  Então, por qual motivo não deveria assistir?  


Praticamente toda novela cômica do Carrasco tem um núcleo com sotaque caipira, desta vez, pelo menos, as personagens estão realmente no campo e há uma distinção entre  como elas e os que moram na cidade falam.  Ainda não rolaram, também, aquelas cenas repetitivas de gente sendo jogada no chiqueiro ou torta na cara, isso é um consolo, porque eu odeio.  De resto, o núcleo rural é simpático e os atores e atrizes, incluindo aí a bonitinha Camila Queiroz, estão muito bem.  Acho a Mafalda fofa e a relação dela com o Zé dos Porcos (Anderson Di Rizzi ) pode ficar legal, singela e, ao mesmo tempo, engraçada.  A tia solteirona Eponina (Rosi Campos) também é uma figuraça, pois é amorosa e ressentida ao mesmo tempo.


Outro destaque nesse núcleo é Jennifer Nascimento como a empregada Dita.  A moça sonha em ser professora e tem consciência das dificuldades que enfrenta por ser negra.  Os discursos – e isso vale para tudo o que eu vi na novela até agora – são condizentes com a época, mas, e isso é importante frisar, não quer dizer que Dita não é submissa, ela acredita que pode mudar as coisas, que ser negra e criada não justifica as humilhações que sofre, ainda que fuja do amor que sente pelo filho dos patrões, Quincas (Miguel Rômulo).  Espero, aliás, que ela se torne professora, tire sua tia (Dhu Moraes) do seu trabalho quase escravo, e se vier a ficar com o Quincas que seja em condições de igualdade.  Posso confiar no Carrasco?  Não, eu sei que não... 


Aliás, só há quatro personagens negras em toda o elenco.  As duas empregadas, que formam, mal ou bem, um núcleo familiar, algo raro, a empregada de Anastácia e o menino de rua, o excelente JP Rufino, as duas personagens solitárias, por assim dizer.  Mais uma vez reforça-se a idéia do Brasil branco e de negros em funções subalternas.  Ademais, poderiam salpicar, por exemplo, um imigrante japonês e suas dificuldades de integração, ou nordestinos, ou árabes, ou... São Paulo é o mundo e o ambiente da pensão seria um ótimo lugar para essas personagens secundárias interagirem, mas qual nada... 



Gosto de Eliane Giardini, ela está ótima como a Anastácia e seu acolhimento da Maria, personagem de Bianca Bin, é condizente com a sua trajetória de vida.  Uma das melhores cenas dela até agora, das que eu vi, claro, foi a dura que ela deu no sobrinho por assediar Maria.  Aliás, Bianca Bin parece melhorar a cada novela, nem me parece mais a intragável mocinha de Cordel Encantado.  Fora isso, meu casal favorito – porque eles são um casal – é Maria e Celso (Rainer Cadete).  Gosto de histórias de regeneração e o Celso vai precisar se esforçar muito ainda, uma das questões que devem ser exploradas é o machismo da personagem, ele não pode continuar jogando na cara da Maria a sua situação de “moça que se perdeu” a todo momento e, ainda assim, ser correspondido por ela.  É preciso que ele supere isso ao longo da trama.


Só que Celso evidencia um dos vícios de Carrasco, ele não pode ser vilão, a alma danada é Sandra, a mulher, a irmã que influencia mal o moço.  E não consigo gostar de Flávia Alessandra quase reprisando a aparência da Cristina de Alma Gêmea.  Acho a Sandra muito forçada, caricata até nas suas maldades.  Na verdade, só gostei de Flávia Alessandra em Salve Jorge! mesmo.  A relação com o Ernesto (Eriberto Leão), as cenas deles juntos, parecem muito artificiais, forçados.  Outra que me parece destoar das boas atuações, mas não gosto dela como atriz mesmo, é outra vinda de Alma Gêmea, Priscila Fantin.  Ela foi uma das atrizes que perderam status na Globo, já foi protagonista e vilã, agora, tem papel secundário.  Como ela ficou muito tempo fora das telas, me espantei com as mudanças físicas.  Ela me parecia mais bonita quando era mais roliça, enfim...


De resto, ver Marco Nanini atuando é um prazer.  Estou escrevendo esse texto muito mais estimulada pela cena entre ele, Candinho (Sergio Guizé), D. Camélia (Ana Lúcia Torre) e outras personagens na pensão.  Os diálogos tanto lá, quanto na casa de Pancrácio, personagem de Nanini, foram espirituosos e carregados da sabedoria simples de Candinho.  Aliás, Sergio Guizé é muito bom.  O vi primeiro em Saramandaia, novela que não em conquistou, mas que assistia muito mais para acompanhar o seu desempenho.  Ele conseguiu transformar uma personagem que poderia ser intragável e caricata em um sujeito humano, otimista e astuto, dentro da sua inocência, claro.  Só espero que,no correr da história, ele não se case com Sandra por algum motivo... 


Como não vi o primeiro capítulo, não sei como foi a relação entre Candinho e Filomena (Débora Nascimento), só sei que acho a personagem chatinha, ainda que crível boa parte do tempo, e queria que Candinho arranjasse um novo amor.  Gosto do detetive Jack (David Lucas) e Tarcísio Filho está absolutamente desprezível como Severo.  A cena em que ele agrediu a esposa na frente da filhinha foi ótima e terrível.  Pior é que tem gente que acha que esse tipo de cena não deveria estar em uma novela das seis... Só lamento que ele seja tão mal aproveitado na maioria das novelas da Globo.  


O que poderia ressaltar além disso – não posso, nem quero, falar de todas as personagens e tramas – é que a reconstituição de época, da indumentária aos objetos e ao linguajar, passando com as (pre)conceitos correntes nos anos 1950, está muito boa.  Normalmente, e isso é um problema de novela da Globo, as personagens tendem a se vestir na última moda, usar o penteado mais moderno e coisa e tal.  Deram uma amenizada nisso em Êta Mundo Bom! e foi para melhor.  É isso, se acontecer alguma coisa de interessante, devo comentar.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Ako Shimaki estréia uma nova série na revista Cheese


Segundo o Comic Natalie, Ako Shimaki, de Pin to Kona (ぴんとこな), estreou uma série na revista Cheese. Boku no Rinne (ぼくの輪廻)  tem como protagonista alguém que tem lembranças de suas vidas passadas. Não sei se é uma garota ou garoto, mas acho que é um rapaz mesmo.  O site JShoujo traduziu a chamada da revista e é a seguinte:

“Se você tivesse a memória de sua vida anterior, que tipo de sentimento seria?
Você não é capaz de imaginar o encontro com o amante de sua vida passada?
Ansiar por alguém que você está sentindo que será o seu destino?
Para mim isso é o inferno.
Outra vez, com certeza, eu não quero estar com ela.
Eu não quero me apaixonar.
Pobre Shouwaru-kun ... e a linda garota ...”


Já o Comic Natalie acrescenta que o rapaz da história é mangá-ka, ou aspirante à mangá-ka, e sem experiência alguma com as mulheres, até que a garota da imagem invade a sua vida... Ako Shimaki é divertida. 

Um gaiden para Orange começando em março


Segundo o site Animeland, a edição da Gekkan Action de abril (*e que sai no dia 25 de fevereiro*) vai anunciar que Orange terá um gaiden, isto é, um spin-off ou algo do gênero.  O site francês assevera que não há maiores informações, nem mesmo é garantido se a autora, Ichigo Takano, será a desenhista, mas que o gaiden, ou a primeira parte dele, sairá em 25 de março.  De resto, como já havia comentado (*mas não achei o post*), um capítulo extra de Orange está na edição de 25 de fevereiro, agora, com o anime anunciado, muito mais coisa vai aparecer.  Resta saber, se este material extra será publicado no Brasil.  

Quanto a mim, estou aqui me roendo, porque Orane #4 ainda não chegou às bancas que conheço aqui em Brasília.  Uma amiga disse que já está no Sebinho - que, apesar do nome, tem uma gibiteria lá dentro - só que não tive tempo de ir lá ainda.  Devo fazer isso amanhã.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Atelier Houmon: uma preciosidade para os fãs de shoujo mangá


Entre abril e junho de 1991, a NHK colocou no ar 13 programas de pouco mais de dez minutos (*salvo pelo último*) entrevistando as grandes mangá-kas japonesas dos anos 1970 e 1980.  Não conhecia essa preciosidade até ontem, são 15 entrevistadas: Riyoko Ikeda, Suzue Miuchi, Hagio Moto, Keiko Takemiya, Yukari Ichijou, Mayumi Yoshida, Asagiri Yu, Jun Morita, Satosumi Takaguchi, Hiromi Tominaga, Emiko Yachi, Waki Yamato, Youko Shouji, Yumiko Igarashi e Yasuko Aoike.  A entrevistadora foi outra mangá-ka, Machiko Satonaka.  Infelizmente, não há legendas em inglês.  Há quem diga que aparecem legendas automáticas em português em alguns vídeos, para mim, só apareceu em italiano... Vai entender?  Coloquei o vídeo de Mayumi Yoshida no post, porque, bem, vejam só o que essa mulher faz com as retículas:


De qualquer forma, trata-se de um tesouro e gostaria muito de poder entender todas as palavras, não somente apreciar a arte e conhecer alguns rostos.  Como a Machiko Satonaka era linda e elegante!  Deve continuar, aliás. :D Toda a lista de vídeos está aqui.

Urasawa no Manben um programa interessante para quem quer conhecer o trabalho dos mangá-kas


Não lembro mais quem me recomendou o programa de Akiko Higashimura do seriado Urasawa no Manben (*até desconfio, entretanto não tenho certeza*), mas é muito legal e a gente fica de queixo caído com a habilidade da artista que produz, junto com uma equipe, claro, uns cinco ou seis mangás ao mesmo tempo.  Enfim, Urasawa no Manben é apresentada por Naoki Urasawa (Yawara!, Billy Bat, 20th Century Boys, Monster etc.), que não é qualquer um, mas um dos maiores artistas de sua geração.  


A primeira temporada exibida pela NHK acompanhou o trabalho dos seguintes mangá-kas: Akiko Higashimura, Kazuhiro Fujita, Inio Asano e Takao Saitō.  Agora, segundo o Manga News foi anunciada uma nova leva de episódios:  Moto Hagio (3/3), Kengo Hanazawa (10/3), Daisuke Igarashi (17/3) e Usamaru Furuya (24/3).  Os episódios atéagora estão disponíveis no Youtube com legendas em inglês.  Seria o tipo de material que alguém poderia traduzir para o português, pois valem a pena.  Para quem quiser, o episódio com Higashimura está aí embaixo. 


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Ranking do Comic List


Este é o ranking do Comic List da semana de 08-14 de fevereiro.  No geral, foi uma boa semana para os mangás femininos, com cinco shoujo, 1 josei e 1 BL no top 30 geral.  A maioria deles, é preciso dizer, não resistiu entre os trinta mais vendidos.  Kurosaki Kun no Iinari ni Nante Naranai vem empurrado pelo filme para o cinema, assim como Showa Genroku Rakugo Shinju é ajudado pelo anime na TV.

6. Kurosaki Kun no Iinari ni Nante Naranai #6
10. Koi dano Ai dano #10
11. Haru matsu Bokura #4
19. Liar X Liar #8
21. Koi nashi Ai nashi
22. Showa Genroku Rakugo Shinju # 9
30. Dekichatta Danshi Harahara Hen


Em shoujo, temos vários títulos resistindo por semanas, inclusive, Umimachi diary, que é josei.  As novidades ocupam o resto do top 10, séries que sempre conseguem aparecer em boa colocação.  Os últimos volumes - Kobayashi ga Kawaisugite Tsurai!! e Aozora Yell - devem continuar vendendo bem mesmo depois de saírem do top 15.

SHOUJO
1. Kurosaki Kun no Iinari ni Nante Naranai #6
2. Koi dano Ai dano #10
3. Haru matsu Bokura #4
4. Liar X Liar #8
5. Koi nashi Ai nashi
6. Urakata!! #3
7. Umimachi diary #7 
8. Kimi ni Todoke #25
9. Kobayashi ga Kawaisugite Tsurai!! #15
10. P to JK #6
11. Aozora Yell #19
12. Akagami no Shiruyakumi #15
13. Orange #5
14. Good Morning Kiss #14
15. Omoi Omoware Furi Furare #1


Em josei, predomina o material da Petit Comic, uma revista que tem conteúdo adulto, mas é rotulada de shoujo, volumes únicos, e títulos que vem resistindo por um bom tempo, como Wotaku ni Koi wa Muzukashii e Dokyo Jin wa Hiza, Tokidoki, Atama no Ue。, que é shoujo mesmo.  Chihayafuru também mantém a boa colocação e deve continuar no ranking graças ao filme para o cinema.

JOSEI
1. Showa Genroku Rakugo Shinju # 9
2. Osama ni Sasagu Kusuri Yubi # 4
3. Kekkon Renai
4. Midara na Nettaigyo # 6
5. Chihayafuru # 30
6. Shacho to anan ~ 8% no Haitoku ~
7. Hanayome ni Haizoku Saremashita # 1
8. Dakenai Hanayome
9. Ohitori sama monogatari # 6
  10. Meiji Melancholia # 611. 30 Debut
12. Wotaku ni Koi wa Muzukashii #1
13. Nerawareta Muku
14. Ayamekun no Nonbiri Nikushoku Nisshi #5
15. Dokyo Jin wa Hiza, Tokidoki, Atama no Ue。 #1

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Comentando A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl, 2015)



Quinta-feira, assisti A Garota Dinamarquesa.  Saí de casa para ver Deadpool, muito mais por inércia, admito, afinal, eu detesto o Ryan Reynolds, e me surpreendi quando vi que estava bem na hora (*literalmente, quando entrei a película já estava começando*) de um filme que realmente queria assistir.  Enfim, não me arrependi.  É um filme bonito – o destaque absoluto é para o figurino, direção de arte e fotografia – e sensível, no entanto, nunca aquela expressão “loosely based”, algo como vagamente baseado, me pareceu tão correta, o filme deixa muito a desejar em relação ao registro da vida de Einar/Lili e da espaço demais em tela para sua esposa, a pintora Gerda Wegener.   Mas vamos ao filme!

A Garota Dinamarquesa conta a transição Einar Wegener (Eddie Redmayne), um dos melhores pintores dinamarqueses de sua época, para Lili Elbe.  Einar foi um dos primeiros homens a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual, isso antes da existência dos antibióticos, pior ainda, de drogas contra a rejeição de órgãos transplantados.  Fora isso, o filme foca principalmente no relacionamento de Einar/Lili e Gerda (Alicia Vikander), a esposa que se debate entre apoiar o marido em seu processo de libertação e sua angústia por perder o homem que amava.


Antes de tudo, A Garota Dinamarquesa é um belíssimo filme, emocionante em muitos momentos, mas concordo com a primeira crítica que li sobre ele, em inglês (*não tenho o link, infelizmente*), vários meses atrás: o filme é sobre Gerda, a esposa da personagem trans, cuja carreira é projetada quando começa a usa Lili como modelo,  e, não, sobre a própria Lili.   Vikander é protagonista, não, coadjuvante, independente da jogada que os produtores tenham feito para que o filme recebesse mais indicações em premiações como os Oscar. Ela é a Garota Dinamarquesa. Tanto é assim que a expressão foi usada em referência a ela “The Dannish girl is out there!” (A garota dinamarquesa está lá fora!) em uma determinada cena do filme.  Daí é muito estranho que a excelente Alicia Vikander concorra ao Oscar de coadjuvante.  

Por tudo isso, não me surpreende então que algumas pessoas reclamem, só não consigo concordar com a desqualificação em relação à atuação de Eddie Redmayne.  O ator passa ao longo do filme por vários estágios.  Começa como um homem aparentemente seguro de si, mas, aqui e ali, certos detalhes, pequenas cenas, já sinalizam que Einar não era um sujeito comum.  Sensibilidade de artista?  Não necessariamente.  Mais adiante, quando começa a transição, e eu prefiro dizer a libertação de Lili e a morte de Einar, ele parece hesitante, trêmulo, perdido.  O que o povo esperava da interpretação dele, não sei, só imagino que não foi fácil para o verdadeiro Einar/Lili, nem para qualquer pessoa trans passar por algo semelhante.  Mais adiante, na sua busca, ele alterna medo, certeza, dor, angústia até se firmar como Lili.  Pronto, aí a atuação parece firme, sem receios ou amarras.  Ora, ora, o que eu vi em A Garota Dinamarquesa foi um grande trabalho de ator.


Alguns dizem que Redmayne está muito preocupado com os trejeitos durante o filme.  Bem, ele precisava libertar Lili e “aprender” a ser mulher seguindo padrões de gênero muito estreitos de sua época.  Até hoje as pessoas trans são submetidas a um escrutínio severo de seus comportamentos de gênero para que os especialistas acreditem que eles e elas podem realmente pleitear a mudança de sexo.  Enfim, lembrei-me do filme A Bela do Palco que mostra um processo semelhante “aprender a ser homem/mulher” em uma dada sociedade.  Talvez as pessoas se perguntem se Einar não era somente – como se pouco fosse – homossexual.  Sim e não.  Então, vou dar uma meia parada nessa resenha e tentar explicar a relação entre sexo biológico, gênero, orientação sexual e identidade de gênero.  Espero que o/a leitor/a não se chateie. 

Sexo biológico, e vou ser muito binária aqui, se remete à identificação de um indivíduo ao nascer como homem ou mulher a partir inicialmente da observação da genitália, casos que gerem dúvida tendem a ser enquadrados em uma ou outra possibilidade, muitas vezes por ignorância, em outros casos, por questões de ordem ideológica, afinal, Deus criou homem e mulher, não é mesmo?  No filme, Lili esclarece que Deus, que não erra, ele a criou e Einar é que foi um erro da sociedade. :)  Já gênero tem a ver com comportamentos que são atribuídos aos homens e as mulheres.  Andar, movimentar as mãos, olhar, tudo isso tem a ver com gênero.  Espera-se que homens e mulheres se comportem de uma forma X ou Y, você pode até se esquivar e transgredir em alguns momentos, mas a maioria de nós se enquadra e se assujeita a muitos papéis, mais que isso, acaba acreditando que são inatos.    Só que se fossem naturais, não seria necessário reforçar esses comportamentos o tempo inteiro, daí a idéia de “performance”, encenar e reencenar (*vide a obra de Judith Butler*). 


No filme, e parece que a própria Gerda era uma pioneira nessa forma de ver a questão, gênero é visto como performance.  Lili nasce de um exercício artístico imposto por Gerda ao marido, uma experiência estética que se inicia com Einar posando para ela no lugar de uma modelo que havia se atrasado e serve de gatilho para que a mulher reprimida nele aflore.  Só que há mais duas variáveis a serem pesadas, a orientação sexual e a identidade de gênero.  

Orientação sexual tem a ver com desejo, ser heterossexual, homossexual, bissexual, assexual, ou o que mais aparecer.  No filme, antes de Lili aflorar, Gerda e Einar pareciam ter uma intensa vida sexual e o sonho de ter filhos fazia parte da vida dos dois.  Quando Lili se impõe, o desejo de ter filhos não desaparece, mas o desejo por Gerda, sim.  Nesse sentido, Lili é uma mulher trans heterossexual e, curiosamente, não desperta o desejo em uma personagem homossexual da história – Henrik  (Ben Whishaw) – que se interessava por Einar, não pela mulher que ele se tornou.  Complicado?  Sim e não.  E podem acreditar que o filme em si, mesmo intenso, consegue passar essas questões de forma muito tranquila, sem cair em nenhuma discussão de ordem teórica.  Eu é que estou me estendendo demais nessas questões. 


E falta a tal identidade de gênero que é como você se vê e sente, daí, nem sempre o seu corpo biológico (*e seu registro civil por tabela*) está em consonância com sua identidade de gênero.  Quando seu corpo biológico e identidade de gênero andam juntas, você é cisgênero, se as coisas não são bem assim, você pode ser uma pessoa trans, ou sofrer de algum transtorno que possa ou precise ser tratado (*o filme não entra no mérito, mas há a desconfiança de que Einar poderia ser um Klinefelter*).  Quanto à orientação sexual, ela pode não acompanhar nem o sexo biológico (designado), nem os comportamentos de gênero, tampouco a identidade de gênero.  Confuso?  Sim, muito.  Difícil? Também, claro.  

Agora tente imaginar esse rolo todo no início do século XX quando tais categorias não existiam, tampouco a reflexão teórica, ou mesmo o suporte médico terapêutico e psicológico possíveis em nossos dias.  Einar/Lili poderia ser tratado como efeminado, depravado, esquizofrênico, poderia, mesmo, ser internado a sua revelia ou preso a depender da legislação.  Tentem imaginar a angústia da personagem.  Nas próprias memórias de Lili, Man into Woman: The First Sex Change, esse conflito está presente, a culpa por “matar” Einar, a vontade do suicídio, confrontadas a felicidade por poder ser finalmente e somente Lili.


Duas das grandes cenas de Redmayne no filme são ao mesmo tempo angustiantes e belas, expressando bem as angustias e necessidades da personagem, o conflito entre corpo biológico e identidade de gênero, a urgência de performar um gênero que você nunca deveria exibir.  Uma das cenas é a do espelho, que tem um pequeno nu frontal masculino, aviso logo, e, a outra, quando ele paga para observar uma prostituta seminua por detrás de um vidro.  Nesta segunda cena, Einar/Lili imita os trejeitos da outra mulher, quer se esconder e quer se mostrar e a própria prostituta, acostumada a ser vista, passa no olhar e expressão corporal toda a curiosidade e desconforto da situação.  Eu não sei se no confronto com os outros candidatos Remayne mereceria levar outro Oscar para casa, não deve receber mesmo o prêmio, mas não deixa de ter sido um grande desempenho.  E registro aqui que é o segundo trabalho dele que eu vejo, como o Jack de Os Pilares da Terra, ele não me impressionou de forma alguma.

Indo para Alicia Vikander, bem, ela é uma ótima atriz, eu já sabia disso e há , aqui, no Shoujo Café, duas resenhas de filmes protagonizados por ela, A Royal Affair e Testament of Youth. O problema é que Gerda não deveria ser a protagonista do filme, seu sofrimento deveria ser secundário em relação ao de Einar/Lili e, lendo sobre a história dos dois, percebi que o correto deveria ser tirá-la de cena antes do fim do filme, como de fato havia ocorrido nos dias finais de Lili.  Só que o filme opta por prolongar a relação dos dois, omitindo mesmo o divórcio e anulação do casamento dado por concessão do próprio rei da Dinamarca.  


Enfim, vendo A Garota Dinamarquesa, não pude deixar de me sensibilizar com a situação de Gerda.  São várias, aliás, as questões em torno dela.  Primeiro, a luta de uma artista para que sua arte seja reconhecida.  Pelo que li, Gerda Wegener é o principal nome da Art Noveau dinamarquesa e os meios artísticos tradicionais rejeitaram seus trabalhos.  Isso, aliás, é bem desenhado no filme, ela é a esposa de um grande artista, alguém que deveria se contentar com isso, mas ela não aceita a posição. O marchand amigo de Einar aceita olhar seus trabalhos e a trata com complacência, mas os rejeita.  Ela não se dá por vencida.

De espírito livre, ela acaba estimulando o marido a encarnar Lili, posar para ela, e, mais tarde, ela se culpa, afinal, seu marido deixou de existir no processo.  Eu me senti tocada pelo drama da personagem, solidária com ela.  Impossível para mim não sofrer junto graças a grande atuação da atriz e, curiosamente, não havia a quem culpar, já que Einar/Lili era uma personagem igualmente simpática.  Houve críticas ao filme por não retratarem a suposta homossexualidade de Gerda, que a artista teria empurrado a transição Einar com seu comportamento ambíguo. A culpa é da mulher, entendem?  Aliás, há no filme um médico que a culpa por não trancar seu armário de roupas.  Tsc... Tsc.. O que ela queria?  Era tentação demais para Einar...


Enfim, pelo que li, não há sequer como precisar se ela era, ou não, lésbica, aliás, os indícios são em contrário.  Ela se casou duas vezes e nenhum relacionamento lesbiano é visível na sua biografia.   Talvez fosse bissexual, enfim... Apoiar Lili parece que é usado para determinar sua orientação sexual, o fato de pintar preferencialmente mulheres, também.  Eu lamento que não tenham mostrado as pinturas eróticas da artista, ela desenhava mulheres se relacionando com mulheres.  Isso é indício de algo?  Nem preciso dizer, mas digo, que as discussões sobre isso reforçam papéis de gênero, se Gerda era transgressora, era, portanto, dominadora e intimidadora em relação ao marido, daí ter auxiliado no afloramento de Lili, uma mulher extremamente feminina.  Se Gerda fosse bem comportada, tal não aconteceria. Será?  

Bem, no filme, o que parece sugerir seu caráter lesbiano é o fato de Gerda dizer que beijar Einar era como beijar a si mesma e a excitação que mostrava em relação ao marido usando peças suas.  Agora, isso pode sinalizar muito mais um fetiche do que homossexualidade, o fato é que Gerda não se enquadra e, ao mesmo tempo, no filme, é assujeitada pela paixão que sente pelo marido.  Algo tão forte que, mesmo depois que Lili sobrepuja Einar, a impede de viver um outro amor, especialmente, com o lindo Hans Axgil (Matthias Schoenaerts), amigo de infância de Einar e primeira paixão de Lili, todo solicito ali em volta dela.  De resto, toda vez que olhava para o Hans, amigo de Lili/Einar, pensava no Alemanha de Hetalia. Pensava também, "quando é que ele e a Gerda vão, pelo menos se beijar?"


Apesar de continuar elogiando o filme, as leituras posteriores me fizeram baixar a sua nota.  Depois de assisti-lo, daria 9,5.  Hoje, seria 8, pela infidelidade extrema em relação à vida de Einar/Lili.  Vou começar dizendo que assim como o filme Frida deveria se chamar Frida e Rivera, Este filme é sobre Lili e Gerda e não sobre a personagem trans.  Vikander é protagonista e é injusto, ainda que o estúdio possa justificar a estratégia, que ela não tenha sido indicada como atriz principal.  E ela pode ganhar como coadjuvante, vejam só, mas isso não vem ao caso.

A simplificação do drama do casal também apequenou o filme aos meus olhos, que parece ser uma versão limpinha de situações muito barra pesada.  A temporalidade, por exemplo, foi comprimida entre 1926, início do filme, e 1931.  Tudo é muito, muito rápido, quando, na verdade, Lili tinha surgido bem antes disso e o casal se mudado para Paris, uma cidade muito mais liberal que Copenhague, em 1912, e lá permanecido, em virtude da rejeição sofrida por Einar.  Seus antigos amigos lhe viraram as costas, seu trabalho começou a perder visibilidade, enquanto as pinturas de Gerda, que usava Lili como modelo, tornaram-se um sucesso.  Vejam só, deveriam ser quase 20 anos acompanhando a transição de Einar para Lili, o encurtamento do tempo, ajudou a dar a impressão para muitas pessoas de que tudo foi de repente.  Fora isso, os atores eram muito mais jovens que as pessoas que estavam interpretando.


As operações sofridas por Lili também não foram bem colocadas no filme.  Dois médicos pioneiros foram transformados em um só, o Dr. Warnekros (Sebastian Koch).  Quatro ou cinco operações que incluíram transplantes de ovário e útero, viraram duas intervenções com o objetivo de ajustar a genitália externa.  Simplificação em cima de simplificação.  A coisa foi muito mais dramática do que as modernas operações afinal, queriam transformar Lili em uma mulher completa.   E ainda eliminaram o companheiro de Lili nos seus últimos meses, o francês Claude Lejeune.  Ele estava com ela durante a última cirurgia, não Gerda.  Aliás, algo que me deixou encucada durante o filme é como Lili iria viajar sem documentos.  O fantástico, e isso o filme não mostrou, nem comentou, nem nada, é que ela foi reconhecida como mulher pelo Estado, recebeu documentos com seu nome feminino e, por isso, pode se inserir no mercado de trabalho e viajar, coisa que é negado para muitas pessoas trans até hoje.

A Garota Dinamarquesa cumpre a Bechdel Rule sem problemas.  Lili é o maior assunto do filme.  Trata-se de uma mulher, segundo a minha perspectiva.  Gerda é igualmente uma personagem preponderante e presente no filme até quando já deveria ter sumido.  Há outra personagem feminina de destaque, a bailarina Ulla Paulson (Amber Heard), amiga do casal e quem nomeou Lili.  No geral, aliás, trata-se de um filme de poucas personagens mesmo.  Poderia enquadrar A Garota Dinamarquesa como um filme feminista?  Sim e não.  Não vejo o filme como conscientemente feminista, mas ao abordar questões relevantes para as ativistas em nossos dias, além de mostrar perfeitamente como opera o gênero, um filme que pode se estar a muitas discussões.  Fora isso, o filme tem ajudado na redescoberta da arte de Gerda, uma artista ousada e livre das amarras de seu tempo.


É isso.  Está recomendado, apesar das muitas imprecisões históricas.  Ainda que superficial, já que o drama das personagens na vida real era muito mais complexto, trata-se de um belo produto cinematográfico, mais ainda, nunca se vendeu como um filme fiel à vida de Lili/Einar, as como adaptação do romance The Danish Girl de David Ebershoff.  Fidelidade, aliás, não credencia um bom filme, ainda que eu lamente que A Garota Dinamarquesa não tenha se esforçado mais para retratar a vida de Lili Elbe.  

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Quais os vinte “animes” ocidentais que os japoneses recomendariam


O site Charapedia fez uma pesquisa com 10000 pessoas (homens: 47.7%/mulheres: 52.3%) com o objetivo de saber quais desenhos animados não-japoneses eles recomendariam.  O resultado é curioso, como o Sankaku Complex (*+18/NSFW*) pontuou as recomendações vão dos clássicos e fofinhos até o mais violento.  Como 60.1% dos que responderam são adolescentes e gente na casa dos 20 anos, é até curioso ver o resultado, enfim... De qualquer forma, no site da pesquisa é explicado que havia uma lista prévia com 50 opções, assim, não foi uma resposta aleatória.  Segue os resultados:

1. Tom e Jerry
2. As Meninas Super poderosas
3. Transformers
4. Bob Esponja
5. Happy Tree Friends
6. South Park
7. The Loony Tunes Show 
8. Tartarugas Ninja
9. Toy Story
10. Phineas e Ferb
11. Star Wars
12. Frozen
13. Ultimate Spider-Man
14. O Incrível Mundo de Gumball
15. RWBY
16. Ursinho Pooh
17. Procurando Nemo
18. A Bela e a Fera
19. Hora de Aventura
20. Aladdin

Esse primeiro lugar para Tom e Jerry... TOM E JERRY!!!!!  Não dá para entender, não... Deixa prá lá.

Kamisama Hajimemashita completa 8 anos de publicação


Kamisama Hajimemashita (神様はじめました), mangá de Julietta Suzuki, está no seu arco final e comemorando seus 8 anos de publicação.  Segundo o Comic Natalie, a partir da edição de hoje da Hana to Yume, 20 de fevereiro, estão planejados vários prêmios, brindes e eventos ao longo do ano.  Nesta edição da revista, haverá sorteio de uma ilustração especial das protagonistas da série para 50 pessoas.  A Hanayume também anunciou que haverá um evento relacionado ao anime da série em 22 de outubro, os ingressos poderão ser adquiridos antecipadamente e as edições limitadas dos volumes #24 (20/04) e #25 (19/08) trarão ingressos, também.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Os 20 primeiros volumes que mais venderam na segunda metade de 2015


Eu nunca tinha visto esse tipo de levantamento, mas o Animeland publicou os dados do site  Hon-Hidikashi com os 50 primeiros volumes de melhor vendagem na segunda metade de 2015 (1/07-31/12).  É importante ressaltar que só estão listados mangás e novas edições, republicações, não entram.  Como estava sem tempo, eu peguei somente o top 20 e marquei o que é shoujo, josei, BL, onze títulos ao todo.  Io Sakisaka liderando com seu novo mangá e Keiko Nishi conseguindo colocar o único josei no top 20.  Moyoco Anno apareceu, mas lá no final da lista, basta consultar o Animeland e localizar.  É fácil localizar os mais vendidos do primeiro semestre, também, mas tem que saber se virar um tiquinho em japonês.

Se fôssemos pensar em autoria feminina, no top 10 são oito mulheres e dois homens.  Por exemplo, o mangá Yukibana de Akiko Higashimura é seinen.  Momokuri está sem demografia em todos os lugares que vi, sai em uma revista on line, a Comico, e sua versão impressa conseguiu boas vendagens.  Se, de repente, aparecer em um Kono Manga Sugoi da vida, saberemos se os japoneses o consideram mangá feminino, ou não.  De qualquer forma, a Comico parece especializada em mangás slice of life.

1.    Omoi, Omoware, Furi, Furare (思い、思われ、ふり、ふられ) de Io Sakisaka (shoujo)
2.    Hataraku Saibô (はたらく細胞) de Akane Shimizu
3.    Tsubaki-chô Lonely Planet (椿町ロンリープラネット) de Mika Yamamori (shoujo)
4.    Gozen 0-ji, Kiss Shi ni Kite yo (午前0時、キスしに来てよ) de Rin Mikimoto (shoujo)
5.    Kûbo Ibuki (空母いぶき) de Kaiji Kawaguchi
6.    Yukibana (雪花の虎) no Tora de Akiko Higashimura
7.    Katsu Curry no Hi (カツカレーの日) de Keiko Nishi (josei)
8.    Koi Furu Colorful – Zenbu Kimi to Hajimete (恋降るカラフル~ぜんぶキミとはじめて~) de Ai Minase (shoujo)
9.    Ashita no 3600-byô (明日の3600秒) de Risa Konno (shoujo)
10. Plunderer (プランダラ) de Suu Minazuki
11. Momokuri (ももくり ) de Kurose
12. Sesuji wo Pin! to – Shikakô Kyôgi Dance-bu he Yôkoso (背すじをピン!と~鹿高競技ダンス部へようこそ~) de Takuma Yokota
13. Ani ni Ai Saresugite Komattemasu (兄に愛されすぎて困ってます ) de Rina Yagami (shoujo)
14. Happiness (ハピネス ) de Shûzô Ôshimi
15. Seirô Opera (青楼オペラ ) de Kanoko Sakurakôji (shoujo)
16. Dôkyonin ha Hiza, Tokidoki, Atama no Eu (同居人はひざ、時々、頭のうえ。) de Asu Futatsuya e Tsunami Minatsuki (shoujo)
17. Nanoha Yôgashiten no Ii Shigoto (なのは洋菓子店のいい仕事 ) de Tamiki Wakaki
18. SP x Baby (SP×ベイビー) de Maki Enjôji (shoujo)
19. Kimi Shi ni Tamou Koto Nakare (君死ニタマフ事ナカレ) de Daisuke Moriyama e Tarô Yoko
20. Kaori no Keishou  ~The Inheritance of Aroma~ (薫りの継承) de Asumiko Nakamura (BL)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Revista Petit Princess agora só em formato digital


A Petit Princess é uma edição especial da revista Princess Gold, criada em 2002 em formato bimestral e, mais tarde, virou bimestral e focada na publicação de one-shots.   A última edição da revista em formato de papel será a de abril, agora, a revista será somente digital.  Os trabalhos presentes na revista continuarão em publicação normalmente em formato digital, mas, segundo o Comic Natalie, maiores detalhes ainda serão dados pela editora, a Akita Shoten.

Anos atrás, outra revista passou pelo mesmo processo, a Silky.  Ela sobrevive muito bem, um ou outro mangá publicado lá, às vezes, aparece entre os mais vendidos. O formato digital deve ser o futuro de outras revistas, especialmente, edições especiais, mas, normalmente, as grandes revistas têm criado uma versão digital e outra em papel, trabalhando simultaneamente com sucesso e, quando uma série digital vai muito bem, não raro migra para a revista de papel. Nunca tive a revista Petit Princess em mãos, mas, ao que aprece, ela seria uma irmã “quase” josei da Princess e Princess Gold.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Ranking da Oricon


Saiu o ranking da Oricon da semana de 8-14/02.  No top 10, temos dois shoujo.  Kurosaki-kun no Iinari ni Nante Naranai, que teve filme para o cinema e parece ser aquele típico shoujo escolar que seria usado por certas pessoas para definir toda a demografia, e Haru Matsu Bokura, que é um mangá de esportes e fala de basquete.  De resto, LiarXLiar sempre aparece bem colocado e tem capas que eu acho muito bonitas, mesmo que simples.  Koi dano Ai dano não deve estar na semana que vem, mas é uma série que não me causaria surpresa ver virando anime ou, muito mais possível, filme ou dorama.  De resto, Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu não vai bombar nas vendas mesmo com o anime, mas está indo muito bem, já que é um produto muito não convencional, por assim dizer, e Urakata!! vai sobrevivendo.  Queria olhar scanlations de ambos.

4. Kurosaki-kun no Iinari ni Nante Naranai #6
5. Haru Matsu Bokura  #4
13. LiarXLiar #8
19. Koi dano Ai dano #10
20. Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu #9
23. Hetalia World★Stars #3
24. Ousama ni Sasagu Kusuriyubi #4
29. Urakata!! #3