domingo, 31 de dezembro de 2023

Feliz 2024! Que venha o Ano do Dragão!

Último dia de 2023, gostaria de agradecer a todos que visitaram o blog e assistiram ao Shoujocast este ano.  Este blog existe por tantos anos, também por causa de vocês.  E o dragãozinho é por causa do ano do Dragão no Horóscopo Chinês.  Eu sou de Dragão, mas como além do signo temos os elementos, o ano que vem será do dragão de madeira, o meu é o de fogo.  Os elementos do Horóscopo Chinês são Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água; eles se alternam também em ciclos, como os signos.  

A ilustração cima é da Suu Morishita, ela postou no Twitter. Várias autoras estão postando suas ilustrações de Ano Novo na rede do Elon Musk.  Abaixo, o Shoujocast de Retrospectiva do ano de 2023.  Ficou longo, mas tem a minutagem e, se você quiser assistir, pode fazer aos pedacinhos.  Outra coisa, saio de Brasília hoje, então, tanto o blog, quanto o Shoujo Café, vai entrar em ritmo de férias.  A internet onde vou ficar é ruim.  Feliz 2024 para todos, todas e todes!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Shoujocast no Ar! 60 Anos da Revista Margaret - Parte 2

Comentando Claudine de Riyoko IkedaEste ano, a revista Margaret está completando 60 anos e esta é a segunda parte do programa feita a partir da seleção de mangás importantes da revista publicada em uma matéria do site Oricon.  Eu acrescentei por minha conta outras séries, lacunas na minha opinião.  Os anos 1980, aliás, são um grande buraco vazio na matéria.  E duas coisas, o tenista japonês que se inspirou em Ace Wo Nerae se chama Shuzo Matsuoka e quando estava falando de Hana Yori Dango, eu falei Rei Hanazawa e é Rui.  E o mangá da Rinko Ueda que o nome enorme me fugiu é Hadashi de Bara wo Fume (Stepping on Roses Barefoot).

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Shoujocast no Ar! Comentando o filme Live Action de Watashi no Shiawase na Kekkon: uma nova interpretação do início da história de Miyo e Kiyoka

O filme live action de Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚) nos dá uma nova visão sobre a história de amor de Miyo e Kiyoka e reinventa parte dos acontecimentos da série de livros. Neste programa, comento o filme e faço algumas comparações com os livros e o anime. Tem spoilers, não consegui evitar, infelizmente. A resenha por escrito será publicada no blog, também.  Pode ser que não consiga terminar o texto antes do ano novo, mas vai sair.  

Vem aí uma nova adaptação de Razão & Sensibilidade e com um elenco negro

Vi ontem que o Hallmark, aquela companhia americana que atua em vários setores midiáticos, de cartões até produção de séries e filmes, começou a produção de uma nova adaptação de Razão & Sensibilidade.  Detalhe importante,  o filme irá sair pelo selo Hallmark Mahogany voltado para o público afro-americano, ou seja, o elenco, pelo menos o principal, que foi divulgado, será completamente negro, espero que todo ele seja, porque pode cair naquela vala que foi a série de Ana Bolena, que escalou brancos para compor a parte vilanesca do elenco.

Para quem não conhece, Razão e Sensibilidade foi o primeiro livro de Jane Austen a ser publicado, em 1811, e conta a história de duas irmãs, Elinor, a racional, e Marianne, a sensível.  As moças, sua mãe e irmã caçula, Margaret, viviam uma vida confortável, interrompida pela morte do pai.  Toda a herança foi para o irmão mais velho, que deveria, a pedido do pai, prover as irmãs e madrasta de uma pensão, mas ele age de forma mesquinha.  As quatro mulheres devem ir para o interior e viver em uma condição muito inferior as que possuíam antes.  E é no interior que Marianne conhece o Coronel Brandon, um homem rico e mais velho que se apaixona por ele, e Willoughby, um boy lixo que conquista seu coração.  Já Elinor está apaixonada por Edward Ferrars, irmão de sua mesquinha cunhada, e os dois terão que enfrentar muitos obstáculos até ficarem juntos.

Os protagonistas do filme serão Deborah Ayorinde (Elinor), Bethany Antonia (Marianne), Akil Largie (Coronel Brandon).  Um ator chamado Victor Hugo será Willoughby.  Confesso que nao conheço nenhum deles, mas achei o ator que fará o Coronel Brandon muito bonito.  O filme é de época mesmo e está sendo rodado na Bulgária, na Irlanda e em Londres, segundo o site Blexmedia.   A estreia será em fevereiro do ano que vem.

Segundo vi no TV Insider, o Hallmack, conhecido por suas produções "para toda família", irá prestar um grande tributo à Jane Austen com várias produções inspiradas na autora. Estão listados na matéria os seguintes filmes: Paging Mr. Darcy, Love & Jane, An American in Austen.  Razão & Sensibilidade será o último a estrear desse pacote que começou a ser liberado, agora, em dezembro.

Marianne conhece Willoughby: A mesma cena em quatro adaptações de Razão & Sensibilidade

Marianne conhecendo Willoughby  é um dos pontos mais importantes de Razão & Sensibilidade, aquele livro de Jane Austen que começa com a morte do patriarca e as três filhas e a segunda esposa ficando em uma pindaíba, para alguém da classe social delas, claro, porque o herdeiro é o filho homem do primeiro casamento e ele é um homem mesquinho e sua esposa ainda mais.  Eu recortei o mesmo trecho do filme de 1995 e das séries da BBC de 2008, 1981e 1971.

Das três irmãs, uma, Margaret, é criança e foi cortada de duas das adaptações que eu recortei.  Tinham tempo de sobra, eram minisséries, e eliminaram a menina.  Enfim, as irmãs mais velhas têm personalidades distintas.  Marianne é uma adolescente ainda, começa o livro com 16 anos, emocional e romântica.  É ela que encanta tanto o rico Coronel Brandon, um homem bom, mas que parece mais velho do que é, no livro, ele tem 35 anos, e um dos grandes boys lixo de Jane Austen, o tal Willoughby, jovem, bonito, educado e, claro, golpista.  

Guardem isso, porque ele se apaixona de verdade por Marianne, mas ele é pobre e ele andou aprontando no passado, isto é, engravidando uma garota de 15 anos e a abandonando.  Quinze anos parece ser aquela idade em que, nos romances de Jane Austen, uma mulher já tem os seus atributos físicos de adulta, mas é uma menina e, logo, se deixada ao alcance de algum biltre, está em grande perigo.  Ela precisa, portanto, ser protegida.  A outra irmã, Elinor, tem 19 anos, está ali na idade de casamento, mas sem um dote de peso, está condenada a um casamento que a rebaixe, ou nenhum casamento.  Ela se apaixona pelo irmão da cunhada, Edward Ferras, um rapaz de bom coração, mas que é o mocinho mais emocionalmente vulnerável de todos os criados por Jane Austen.  Fanny, a cunhada, tenta separar os dois, a vida tenta separar os dois, mas eles ficam juntos no final.  Mas isso não é assunto do vídeo.  Eu fiz resenha de 2008, série de BBC, e do excelente filme de 1995, para mim, a melhor adaptação do livro de Jane Austen.  

E, para quem ficar confuso com Emma Thompson na foto, no filme de 1995 a história foi modificada para que Elinor se tornasse uma mulher de 27 anos, uma solteirona, portanto.  A única mocinha solteirona de Austen é Anne Elliot de Persuasão.  Aliás, cortei a cena da carta dessa adaptação, está no Youtube, também.  Quanto ao encontro de Marianne e Willoughby eu tinha feito o corte dessa sequência de todas as produções que consegui para mero efeito de comparação. O Youtube tinha bloqueado cerca de 1 ano atrás. Eu recorri. Está no ar. Espero que para sempre.  Para quem quiser assistir, está logo abaixo:

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Saíram os vencedores do 14ª premiação de mangás da revista Anan

A revista feminina Anan anunciou os vencedores do seu prêmio anual para melhores mangás.  O prêmio principal ficou para Taiyou Yori mo Mabushii Hoshi (太陽よりも眩しい星) de Kazune Kawahara, roteirista de Ore Monogatari!! (オレモノガタリ!!), que é publicado na revista Betsuma. 

Os vice-campeões foram Kirakira to Giragira (キラキラとギラギラ), de Sawako Arashida; Yayakoshii Mikan-tachi (ややこしい蜜柑たち), de Kari Sumako; Oshi ni Amagami (推しに甘噛み), de Julietta Suzuki e Suzuki-kun no Teinei na Seikatsu (寿々木君のていねいな生活), de Yuuki Fujimoto.  Dessas séries, a única que não é shoujo ou josei é Kirakira to Giragira, mas todas as autoras são mulheres.  Há também uma lista de melhores leituras de 2023-2024.  As informações vieram do Comic Natalie.  

Saiu o trailer do dorama de Living no Matsunaga-san

O dorama de Living no Matsunaga-san  (リビングの松永さん), baseado na série de mesmo nome de Keiko Iwashita, estreia em 9 de janeiro e o primeiro trailer da série já está disponível.  

A história começa com a mocinha, Meeko, sendo obrigada, por problemas de família, a ir morar com o tio, o administrador de uma espécie de albergue para jovens adultos.  Meeko então passa a conviver com estudantes universitários e jovens profissionais, um deles em especial, Matsunaga, a assusta um pouco, mas, também, exerce sobre ela grande fascinação.  Fora isso, sempre que pode, Matsunaga ajuda e protege a garota.  

Enfim, o mangá terminou em 2021 e eu espero que seja anunciado no Brasil.  Se você clicar no X do vídeo, vai cair na conta do dorama no antigo Twitter.  De resto, Nakajima Kento me parece jovem demais para ser Matsunaga (*mas não é, ele é ais velho que a personagem no início da história*) e Takahashi Hikaru não me convence como adolescente.

Captain Wentworth's Letter: "You pierce my soul. I am half agony, half hope."


Persuasão foi o último romance completo de Jane Austen. Foi publicado seis meses após sua morte. Em Persuasão, temos a mais pungente de todas as cartas literárias de Austen, a carta do Capitão Wentworth está lindamente escrita e nós, leitores, ficamos muito felizes quando ele e Anne terminam juntos.


Cortei a sequência da carta em quatro adaptações (2022, 2007, 1995, 1971. A mais longa vem da de 1971, é uma série de TV e por isso tive mais tempo para dar vida ao livro. A minha preferida é a versão de 1995, eu adoro esse filme, e devo dizer que o horrível filme da Netflix faz com que as coisas pareçam melhores do que no filme de 2007. 


Para quem não sabe, eu uso o meu canal, onde posto o Shoujocast, para publicar fragmentos de séries e filmes baseados em Jane Austen, também.  Aliás, boa parte do fluxo do canal é movido por esses fragmentos.  As pessoas me pedem para que eu poste mais, só que, não raro, um ou outro vídeo é bloqueado sem motivo, caso de qualquer coisa que eu poste de Razão & Sensibilidade, por exemplo.  


E escrevo isso, porque as pessoas postam filmes e séries inteiras.  Não sei se este vídeo será derrubado, pois já postei fragmentos das mesmas obras antes.  Vamos esperar.  Por enquanto, está no ar.   O Youtube derrubou.  Subi para o Vimeo.  Vamos ver se fica lá. Se não ficar bom para assistir aqui, o link é este.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Yuu Watase voltará a publicar Fushigi Yuugi - Byakko Senki depois de um longo hiato + um pouco de nostalgia da época em que protagonistas de isekai eram pessoas vivas

Quando li essa notícia no Manga Mogura, demorou a ficha a cair.  Yuu Watase ainda não terminou esses gaiden de Fushigi Yuugi?  Não, não terminou.  Na verdade,  Fushigi Yuugi - Byakko Senki (ふしぎ遊戯 白虎仙記)  começou em 2017, parou em 2018 e só teve um volume até agora mesmo.  Segundo o Manga Mogura, o mangá voltará a ser publicado na edição da revista Flowers que sairá em 28 de maio.  Dá tempo da autora mudar de ideia ainda.  E este não é o único mangá parado da autora.

Para quem é jovem e não sabe do que eu estou falando, Fushigi Yuugi começou a ser publicado em 1991 e 1996 na revista Sho-Comi (*época em que as coisas eram mais apimentadas por lá*), contando com 18 volumes ao todo.  A série tem como protagonista uma garota chamada Miaka.  Ela mora com o irmão mais velho e a mãe, que a pressiona para entrar em uma escola de elite no ensino médio.  Miaka é uma garota comum, não é burra como no anime, mas não teria condições de passar em uma prova de admissão tão difícil. Ela não é como sua melhor amiga Yui, uma garota academicamente brilhante.

Um dia, as duas adolescentes estão na biblioteca e decidem dar uma olhada em um livro que parece atraí-las.  O nome do volume é "O Universo dos Quatro Deuses".  Sabe aquelas coisas que você sabe que vai dar ruim?  Pois, bem... Elas abrem o livro e são sugadas para outro mundo.  Sim, é uma série isekai (異 世界), que, em japonês, quer dizer "outro mundo".  Lá, as duas são separadas e Miaka é prontamente atacada por criminosos que não querem somente roubá-la, mas violentá-la (*normal da Sho-Comi da época*).  A garota é salva por um sujeito bonitão chamado Tamahome, que também é um ladrãozinho de beira de estrada.  O fato é que Miaka logo descobre que é a sacerdotisa do deus Suzako (Fênix) e terá que reunir os sete guerreiros celestiais e se envolver um uma guerra que está em andamento.  

O imperador Hotohori, um dos guerreiros celestiais, e que se apaixona por Miaka, está em lutando contra os guerreiros de Seiryuu (dragão) e sua sacerdotisa.  Quem é ela?  Yui.  O líder dos guerreiros do deus dragão, Nakago, um dos poucos louros legítimos de mangá, convenceu Yui que ela foi abandonada por Miaka e violentada por causa disso.  Ele mesmo tem um passado muito triste, mas que não justifica as crueldades que ele faz, obviamente.  Já Yui, como iremos descobrir ao longo da história, tinha inveja da alegria genuína de Miaka, da forma como ela parecia encarar a vida sem se preocupar com as responsabilidades.  Fora isso, Yui se apaixona por Tamahome.

Enfim, teremos muitos embates, violência, crueldade, drama e algum conteúdo sexual, inclusive coisinhas inconvenientes.  E, como não é isekai reencarnacionista, Miaka volta para casa algumas vezes, tem saudade da família, leva o material escolar para o outro mundo, porque sabe que precisa estudar para passar na prova.  E, depois da batalha final, é Tamahome reencarnado que vai morar no mundo real e não ela, uma garota de 15 anos, que fica no livro e vira esposa e mãe em uma China pseudo-medieval.  Sim, bons tempos esses dos isekai em que as pessoas ainda tinham esperança, mesmo que em Anatolia Story (天は赤い河のほとり), um dos meus mangás favoritos, Chie Shinohara largou a menina no passado sem pensar duas vezes. 

O mangá é melhor, mas o anime é bom, também.  E tem OAVs e outras coisas.  A Conrad lançou a série, o primeiro shoujo mangá da editora, naquele formato ruim da pré-histporia do mangá no Brasil, mas isso não apaga o mérito. Eu assisti 11 episódios seguidos de anime para ver a morte de Hotohori, eu era apaixonada pela voz do dublador da personagem (Takehito Koyasu) e preferia que a Miaka terminasse com o imperador, mas, desde o início, a gente sabia que este não seria o caminho.  E eu só não chorei com o massacre dos irmãozinhos de Tamahome, porque estava chegando em casa na hora da faculdade e não tive tempo de entrar no clima.  Meu irmão estava assistindo.  Foi a forma que a autora arrumou para livrar Tamahome das suas responsabilidades, assim, ele poderia ir para o mundo real sem culpas.  

Como são 4 deuses, em 2003 a autora começou a publicar uma continuação  Fushigi Yuugi - Genbu Kaiden (ふしぎ遊戯 玄武開伝), com outra sacerdotisa, desta vez, a do tigre.  Começou como one-shota, mas virou série e foram 12 volumes, a série pulou de revista em revista, primeiro era shoujo, mas terminou josei, em 2013.  Teve drama CD, teve video-game, mas não teve anime.  E, finalmente, em 2017, a autora começou  Fushigi Yuugi - Byakko Senki com a sacerdotisa de Byakko, o deus tartaruga.  Já começou como josei. Ambas as histórias tem protagonistas que viveram no passado, no início do século XX, bem antes da 2ª Guerra Mundial.  De resto, Yuu Watase é farofa, mas é farofa boa e divertida, não espere grandes reflexões das séries dela, mas quando ela acerta, ela realmente consegue fazer uns mangás bem interessantes.

sábado, 23 de dezembro de 2023

50 Anos atrás, Rosa de Versalhes terminava na revista Margaret + Shoujocast

Há 50 anos foi publicado o último capítulo da Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら), obra máxima de Riyoko Ikeda e que marcou o shoujo mangá e se tornou um fenômeno cultural.  A série tinha começado a sua jornada em 21 de maio de 1972 e, quando chegou ao seu término,  Oscar, a protagonista moral da história, já havia morrido fazia 10 semanas.  Foi o prazo que os editores deram para a jovem mangá-ka terminar a história de Maria Antonieta.  E Riyoko Ikeda teve que correr, eu fiz resenha das edições do mangá e pontuei que a qualidade da série cai ligeiramente depois da morte de Oscar e da Queda da Bastilha.  

Ainda assim, a qualidade da série não foi destruída, não é o que eu quero dizer, mas os eventos históricos tão importantes para marcar os últimos dias de Maria Antonieta foram abreviados, condensados.  A graça é que a capa da Margaret não trouxe Rosa de Versalhes na capa, mas preferiu falar de Natal.

Os últimos momentos de Antonieta foram magistralmente desenhados pela autora, quadro a quadro tivemos a sua subida à guilhotina e as lembranças de tempos felizes, da primeira visita à Paris, ainda como delfina (*esposa do herdeiro*), sua vida feliz.  O resultado foi belo e trágico, a arte de Ikeda perto do seu melhor, mas a narrativa impecável.  E o fechamento do mangá foi a morte do Conde Fersen, amante da rainha, e único sobrevivente do trio de personagens cujo nascimento abriu o mangá.

Ikeda encadearia um gaiden, o da Condessa Sangrenta, que fecha o que são os 10 volumes originais do mangá, mas, verdade seja dita, a morte de André seguida da de Oscar foram fortes demais para que o mangá seguisse impunemente.  

Enfim, é um post para marcar a data e lembrar que nada de notícias do novo anime.  Tenho medo de outro tiro n'água como foi a animação para marcar os 35 anos da série, fora que não vejo como alguém pode resumir a história da Rosa de Versalhes com a necessária dignidade em um filme só.  Só para lembrar, a Rosa de Versalhes foi lançado no Brasil pela JBC e já passou da hora de termos uma reimpressão.  Abaixo, o Shoujocast sobre a data

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Mangás que poderiam sair no Brasil 8: HanaKimi (em memória de Hisaya Nakajo)


HanaKimi, na verdade, Hanazakari no Kimitachi E  foi um dos grandes sucessos da revista Hana to Yume entre 1996 e 2004.  A série conta a história de Ashiya Mizuki, uma garota que se disfarça de rapaz para poder estudar na escola masculina que seu ídolo, Izumi Sano, frequenta.  Hanakimi, cujo nome em inglês é For You in Full Blossom foi a obra máxima de Hisaya Nakajo.  A mangá-ka nos deixou este ano e eu não poderia deixar de lhe prestar esta homenagem.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Comentando Cassandro (EUA/2023): luta livre também é lugar para a diversidade

Acabei de assistir ao filme Cassandro, cinebiografia do lutador mexicano, de mesmo nome, criado por Saúl Armendáriz. Cassandro foi o primeiro luchador exótico, que se recusou a assumir o papel de vilão e alívio cômico, além de ter assumido publicamente a sua homossexualidade.  Trata-se de um filme que fala de empoderamento, representatividade e se foca no Cassandro vitorioso, encarnado de forma magnífica pelo ator Gael García Bernal.  O resumo do filme é o seguinte:

No final da década de 1980, o lutador gay Saúl Armendáriz (Gael García Bernal) mora com a mãe, Yocasta (Perla De La Rosa), em El Paso, Texas.  Ele ajuda a mãe nas suas costuras e entregas de roupa que ela lava e passa para fora, além de trabalhar em outros empregos que pagam muito mal.  Durante várias noites por semana, Saúl cruza a fronteira para Ciudad Juárez, no México, onde participar de lutas de lucha libre. Ele luta como El Topo, cuja função é perder para o lutador local mais importante.

Insatisfeito, sua vida começa a mudar quando ele  até conhece, Sabrina (Roberta Colindrez), a lutadora Lady Anarquía, que se torna sua treinadora e lhe sugere que ele deveria competir como um exótico. Só que um exótico, lutador que se monta como uma drag queen, é sempre o vilão, sempre derrotado. Saúl termina por aceitar a proposta, mas ele não quer ser coadjuvante, não quer ser sempre o perdedor, ele quer vencer, ele quer brilhar e é isso que ele irá conseguir.

Esta resenha terá duas partes, na primeira, irei comentar o filme em si.  Na segunda, irei pontuar o quanto Cassandro se afasta da sua personagem original.  Começando, independentemente de sua fidelidade à história do lutador Cassandro, o filme do diretor Roger Ross Williams é bem redondinho e se ancora em excelentes interpretações.  Temos o uso dos flashbacks de forma muito afiada, sempre pontuando a estrutura familiar complicada de Saúl.  Seu pai lhe incutiu o amor pela luta livre, a admiração pelo grande lutador El Santo (*que aparece em Viva, a Vida é uma Festa!*), mas o pai não o acolheu quando o garoto saiu do armário aos 15 anos.  Ele foi embora.

A mãe é o centro da vida de Saúl.  Ela ama o filho, ela elogia seu talento com a costura, o fato dele ser trabalhador, deseja em voz alta que ele encontre um rapaz que o ame.  Mas o filme é extremamente feliz em desenhar uma mãe complexa e contraditória, pois Yocasta, mesmo amando intensamente o filho e acolhendo sua orientação sexual, o culpa pelo abandono.  O marido a deixou por causa do filho.  Só que o próprio filme mostra que ela nunca teve um marido, ela sempre foi "a outra" de um homem adúltero, mas muito religioso.  No fundo, no fundo, ela sabe que o filho não é culpado, no entanto, se aceitar isso, ela irá perceber que o homem que ela acredita amar nunca valeu nada.

Se Yocasta ama demais o ex-marido, Saúl segue em seus passos.  Ele também é o outro na vida de um homem que jamais o assumirá, que só o recebe quando a esposa está fora e, ainda assim, não lhe permite entrar e sair pela porta da frente de sua casa, afinal, os vizinhos não podem ver um gay frequentando a residência dele.  A vida de Saúl começa a mudar quando ele conhece Sabrina, sua treinadora.  Ela começa a refinar o estilo de Saúl, lhe ensina os truques da luta livre mexicana, que é um grande teatro e serve de ponto de apoio para ele.  Pensei que Saúl viraria as costas para Sabrina depois de conhecer Lorenzo, que se torna seu empresário e fornecedor de cocaína, mas não é o que ocorre.  

O ápice de Cassandro no filme, porque a história é cortada em determinado momento, é quando ele é convidado a participar de uma luta na Cidade do México com o Hijo del Santo (*interpretado por ele mesmo*) e é mostrado dando entrevista no programa de TV do lutador.  Quem desprezava Cassandro em sua cidade natal, ou em Cidade Juarez, muda de ideia.  Agora, o lutador é uma celebridade, reconhecido pelo maior astro da luta livre do país.  É durante o programa que temos a cena mais emocionante do filme e que Cassandro fala de sua futura turnê mundial.  O lutador tornou-se um grande ativista tanto da luta livre, quanto da causa LGBTQ+.  

Mesmo quando elevado a celebridade, o filme continua reforçando o quanto a cidade em que Saúl mora é conservadora e hipócrita.  Cassandro é seu filho mais estimado, mas a orientação sexual de Saúl é um problema, é algo que ofende.  Seu amante, que tinha inveja dele, jamais irá se separar da esposa.  É contra tudo isso que Cassandro, a personagem criada por Saúl, luta e triunfa, porque efetivamente ele conseguiu romper com a ideia de que o exótico é sempre o vilão.  Cassandro se torna modelo de representatividade e esperança, que, mesmo que limitada, faz diferença na vida de vários jovens.  

O sistema pode só ser arranhado, mas vidas podem ser salvas, sua autoestima resgatada, famílias são resignificadas e tem seus laços reforçados.  E o filme Cassandro não é piegas, ou defende que se ofereça a outra face, vitorioso, o lutador não mendiga as migalhas de afeto do pai que o abandonou. E termina em glória, aclamado pelo público dentro e fora do México.

O filme é muito bom e bem redondinho, mas realmente não entendi por qual motivo reconfiguraram tanto as origens de Cassandro.  Ele nunca foi El Topo, ele usou dois nomes antes de virar Cassandro,  Mr. Romano (debut) e Rosa Salvaje.  O nome que o tornou famoso não veio de uma telenovela, mas foi tomado de empréstimo de uma cafetina de  Tijuana, no México, conhecida por doar parte de seu dinheiro às crianças de rua e famílias de baixa renda.  Seria tão legal isso aqui, mas preferiram se apegar a um clichê que os americanos adoram, que é o de que todos os mexicanos são absolutamente apaixonados por suas telenovelas.

Cassandro também tinha pelo menos irmãs por parte de pai e mãe, porque, no filme eles aparecem nas fotos dos créditos.  Na película, Saúl fez uma roupa inspirada em uma blusa da mãe, mas, segundo o G1, ele "entrou no ringue vestindo uma blusa da mãe e a cauda do vestido da festa de 15 anos de sua irmã.".  Por qual motivo cortaram o resto da família.  Quando a mãe de Cassandro morre, aparecem várias pessoas em sua casa, mas não é dito se são vizinhos, amigos, parentes, ou o quê.

Outro ponto, Sabrina não existiu.  A personagem é, na verdade, uma junção dos primeiro treinadores de Cassandro e uma forma de colocar mais diversidade no filme.  O vídeo do Gay Nerd, que foi a gota d'água para eu ir atrás de Cassandro, diz que Sabrina é uma lutadora lésbica.  Não vi nada no filme que marcasse isso.  Ela é mãe solteira.  Ela não aparece com nenhum par amoroso.  quando Cassandro brinda aos homens, ela não faz nenhum comentário do tio "e às mulheres".  Enfim, para criarem Sabrina, apagaram Baby Sharon, um lutador exótico que, diferentemente dos seus contemporâneos, se assumia como homossexual, quando os demais diziam que vestiam uma personagem, ele também  costurava muito bem.  

O verdadeiro Cassandro.

Baby Sharon foi fundamental para Cassandro, abriu caminhos para ele, por qual motivo reconfigurar quase que totalmente as origens do lutador?  Além disso, nesse processo de reconfiguração, parece, pelo menos para mim, que a carreira de Saúl começou mais tarde.  Ele se lançou aos 18 anos.  Só que Garcia Bernal já está com bem mais de 40.  Difícil convencer como um garoto, então, o filme me pareceu investir que ele não era mesmo, que já era um homem perto dos trinta.  Em dado momento, antes do seu encontro com o Hijo del Santo, Saúl é mostrado completando 36 anos.  Escolhas do filme que, repito, é muito competente no que se propõe a fazer.

Nesse sentido, o título da resenha da Folha de São Paulo foi perfeito, trata-se realmente de um tributo afetuoso, muito humano, muito sensível, mas que quer mostrar um Cassandro inspirador.  O filme inclusive para antes de mostrar que Cassandro, após a morte da mãe, mergulhou nas drogas e no álcool e teve que lutar contra esses dois inimigos.  E ele venceu e está ativo e continua fazendo um ativismo que serve de referência em um esporte marcado pela homofobia.  

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Uma princesa com visões trágicas do futuro é protagonista de novo mangá no Japão

O Comic Natalie fez um post sobre o mangá Mirai de Reiguuhi ni naru Hazu na no ni, Nandaka Yousu ga Okashii no desu ga... (未来で冷遇妃になるはずなのに、なんだか様子がおかしいのですが…) de Hibiki Sayama (autora da novel original) e Michi Takasato (autora do mangá).  Como tenho percebido, parece mais um candidato a ser o próximo fenômeno, isto é, um competidor para Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚).  Será?  Não sei, a concorrência é grande e Watakekkon tem muita dianteira.  Mas qual o nosso resumo?

Rose é a segunda princesa do reino de Gridor.  Considerada feia por seus pais, uma espécie de aleijão se comparada com sua outra irmã.  Não fica claro nos resumos quem é a mais velha, mas a irmã bonita, Rhea, está destinada a se casar com o príncipe herdeiro do reino vizinho chamado Raphael.  Rose então tem um sonho, ou visão, ela embarcaria com a irmã em um navio para as suas bodas.  A irmã desapareceria no meio do mar e ela seria dada como noiva substituta só para levar uma vida de humilhação e desespero.  Seria esse realmente o seu futuro?  Dez anos depois, o sonho profecia começa a se realizar, ambas as princesas embarcam no navio, Rhea desaparece e... 

O CN já entregou que o príncipe Raphael irá receber Rose muito bem, acredito que o rolo seja o retorno da irmã desaparecida. E, como sempre, a menina feia não tem nada de feia.  De qualquer forma, há as novels, acredito que somente duas foram lançadas e o mangá teve seu primeiro volume publicado agora.  É shoujo?  É josei?  Enfim, é meio óbvio, mas saiu por um selo seinen.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Boku no Shotaiken talvez seja o mangá mais errado já publicado na Margaret e, ao mesmo tempo, é brilhante do seu jeito

Fazendo minha pesquisa para a segunda parte do Shoujocast sobre os 60 anos da Margaret (*Não assistiu?  Está aqui.*), acabei revisitando um dos mangás mainstream mais errados já feitos no Japão.  Sim, sim, vocês vão entender o meu ponto.  Só que, ao mesmo tempo, é um negócio tão louco, tão sem noção, que é brilhante e lembrado até hoje, porque inaugurou um tipo específico de gender bender que se consagrou em séries como Ranma 1/2 (らんま1/2), na década de 1980.  Mas vamos explicar.

O gender bender é fundador do shoujo mangá, vide A Princesa e o Cavaleiro, que está completando 70 anos este ano.  O gender bender mais tradicional é aquele em que a mocinha se vê obrigada, ou escolhe, se vestir como um garoto.  Temos desde material sério, como A Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら) ou Kakan no Madonna (花冠のマドンナ), passando por dramédias como Hanakimi  (花ざかりの君たちへ), até comédias rasgadas como Ouran Host Club (桜蘭高校ホスト部).  Isso para ficar no shoujo somente.  Todo mundo já leu ou assistiu um gender bender e, claro, não são somente as garotas que se vestem de garotos, o inverso acontece, também.  Um exemplo interessante é o Kuranosuke de Kuragehime (海月姫). Este é o gender bender que pode é literariamente acolhido, afinal, Shakespeare já escrevia peças assim, como Noite de Reis, no século XVI.  Nenhuma novidade aí.

Agora, há outro tipo de gender bender que implica na troca de corpos, ou troca de mentes, seja por intervenção de uma divindade, ou por mágica, ou ainda por ação da ciência maluca.  Esse tipo de gender bender tem raízes bem profundas na literatura japonesa, afinal, o Torikae Baya Monogatari (とりかへばや物語), no qual um alto funcionário do imperador é amaldiçoado por um youkai e seus filho e filha gêmeos tem sua identidade de gênero trocada, é do final do século XII, início do século XIII, e tem autoria feminina, assim como boa parte dos shoujo mangá.  Chiho Saito fez um mangá belíssimo adaptando a história.

Muito bem, o mangá da Margaret ao qual me refiro é um dos fundadores desse tipo de gender bender e se chama Boku no Shotaiken (ボクの初体験), em português algo como "Minha Primeira Vez", de Hikaru Yuzuki.  Falarei do autor daqui a pouco, mas ele já tinha rascunhado a ideia em seu mangá oneshot de 1972, Doron (どろん), que é pequenininho, no qual o protagonista ativamente tomava uma droga ninja para virar menina e escapar de uma situação de assédio que ele mesmo criara.  Mas vamos ao resumo do Bakaupdates, que não dá conta da doideira da série em si: "Desanimado porque a garota que ama não retribui seu afeto, Eitaro tenta cometer suicídio. Mas seu quase cadáver é descoberto por um cientista e sua mente é transferida para o corpo de uma jovem. Quando menina, Eitaro logo descobre que a garota dos seus sonhos de fato o amava, então eles tentam fazer o relacionamento funcionar apesar do fato de Eitaro estar no corpo de uma garota."

Parece um mangá sério, não é mesmo?  Esqueça!  Eitaro, o protagonista, é um tipo de personagem que começou a aparecer nos mangás para garotas a partir da influência de um sucesso avassalador de Go Nagai, Harenchi Gakuen (ハレンチ学園), em português, Uma Escola Sem Vergonha, publicado na Shounen Jump entre 1968 e 1972.  O mangá é apontado como o inaugurador do fanservice, foi perseguido pela Associação de Pais e Professores, enfim, um escândalo.  Mas foi um grande triunfo e abriu caminho para inúmeros outros mangás.

Voltando para Boku no Shotaiken, Eitaro é apaixonado por uma garota (Michiru Saeki), é fato, mas ele não consegue não flertar e assediar qualquer outra menina que lhe passe pela frente.  Por conta disso, as VINTE MENINAS do clube da beleza da escola decidem humilhá-lo.  A garota que ele ama é uma delas.  Eitaro fica arrasado e decide colocar fim a sua vida.  Ele se atira de um penhasco em uma sequência espetacularmente desenhada e muito dramática.

Acabou?  Claro que não acabou!  Eitaro acorda e fica surpresa por estar vivo, claro, mas o pior ainda está por vir, ele está em um corpo de mulher, mas não um corpo qualquer, o de uma mulher que seria o tipo que ele perseguiria.  Vejam que isso é um clichê do gênero, PORÉM Boku no Shotaiken é de 1975, ele está criando o tal clichê.  O rapaz fica desesperado.  Está ruim para ele?  Mas pode piorar, obviamente.  

Eitaro agora está no corpo de Haruna, a esposa adolescente de um cientista maluco e pervertido de 42 anos.  Sim.  A seu favor, se é que podemos dizer isso, Haruna se aproximou do cientista quando tinha 15 anos mentindo que já estar com 18.  Quando a mentira foi descoberta, eles acabam se casando quando a moça completou 16 anos, idade de casamento na época.  Agora, a surpresa, o cientista se chama Hitora, que é a forma japonesa de pronunciar Hitler.  Sim, o cientista é a cara de Adolfinho, há suásticas na roupa dele e pela casa.  Está louco o suficiente já?  Hitora quer que Eitaro assuma o lugar de sua esposa, afinal, ele o salvou da morte e o garoto de 15 anos lhe deve isso.  E estou falando em TODOS os sentidos, inclusive esse que você, leitor ou leitora, está pensando.

Haruna morreu de câncer no cérebro e, por isso, Hitora decidiu se apropriar do de Eitaro.  O corpo do garoto não foi descartado, ele está em uma câmara criogênica.  Eitaro exige que o cientista retorne seu cérebro para o seu corpo.  Hitora avisa que o corpo do rapaz está muito machucado e, se ele fizesse a vontade de Eitaro, ele morreria.  Mas o garoto queria morrer mesmo, certo?  Pois é, mas ele se arrependeu.  O cientista avisa, inclusive, que escreveu uma carta de suicídio, coisa que o menino não tinha pensado em fazer, e a colocou em seus sapatos, que ficaram abandonados no penhasco.

O cientista então faz a seguinte proposta, ele viveria como sua esposa por três meses, cuidaria da casa, cozinharia, usaria roupinhas bonitas e sensuais, beijaria Hitora e... Bem, Eitaro se recusa ao resto, mas vai rolar e teremos piada com estupro em uma revista juvenil feminina, porque, bem, estamos no campo do absurdo.  Toda vez que Eitaro recusa algum avanço de Hitora, ele ameaça "matar" o seu corpo de menino que está se recuperando, condenando-o a ser Haruna para sempre.  É desse jeito.

Eitaro, agora Haruna, via fazer compras para a casa e temos piadinhas sobre como andar e sentar, afinal, ele é um garoto adolescente.  Curioso, Eitaro quer descobrir como as pessoas que conhece estão.  Ele vai até sua casa e descobre que está acontecendo uma cerimônia fúnebre.  Meio miolo mole, ele acha que sua mãe, uma mulher de saúde frágil, pode ter morrido, mas são os funerais dele mesmo.  Passou-se um mês, Eitaro não teve o corpo localizado no mar, mas foi dado como morto.

O que acontece então?  Eitaro é assediado pelo seu irmão mais velho (!!!), que elogia o gosto do falecido para mulheres.  O protagonista bate nele, diz que pode não parecer, mas é uma mulher casada e vai dar uma olhada no livro de condolências.  No Japão, existe o Gokoden (ご香典 – ごこうでん), uma espécie de presente para a família do morto como forma de ajudar nos gastos de cremação e outros, além de confortar.  Eitaro se delicia com o fato de seus professores, que ele tanto atormentou, darem somas de dinheiro respeitáveis, 20 mil ienes (*quase 700 reis por valores de hoje*).  E ele vê o quanto as meninas do Clube de Beleza deram, estão todas lá com cara de choro.  Elas doaram míseros 2 ienes, todas juntas.  Ele então jura vingança, porque elas estariam debochando dele mesmo depois de sua morte.  Sim, as meninas do Clube da Beleza são más, mesmo que Eitaro não valha nada, também.

Cedendo favores para Hitora, Eitaro consegue permissão para ir para a escola, afinal, ele precisa se vingar.  Apresentado como Haruna, o garoto é recebido com empolgação, afinal, trata-se de uma garota bonita.  Eis que, de repente, outra menina transferida aparece, ela conhecia Haruna, era sua colega de escola, quando a jovem abandonou os estudos para CASAR.  As garotas do clube de beleza ficam empolgadíssimas, "como é ser uma mulher casada?".  Eitaro precisa pensar rápido para despistar todos, inclusive, a antiga colega de escola.  

Aqui, temos um rombo de roteiro.  Eitaro tem 15 anos, está, acredito, no primeiro ano do colegial, perto dos 16 anos.  Haruna tem 17 anos.  Como uma antiga colega da garota estaria cursando o mesmo ano escolar de Eitaro?  Ela reprovou?  O autor se confundiu?  O que aconteceu?  Não temos explicação nesse terceiro capítulo que termina com as meninas encontrando a camisa ensanguentada de Eitaro dentro do armário da garota que ele ama, afinal, ele voltou ao colégio para se vingar.  Acabaram as scanlations, são três volumes de mangá.

Boku no Shotaiken não questiona papéis de gênero, ele mostra toda a desigualdade existente dentro de um casamento, com Haruna tendo que assumir todas as tarefas domésticas e servir sexualmente o seu marido.  É tudo em tom cômico, verdade, mas não é para reflexão, ao que parece.  O autor teve grande preocupação com questões fisiológicas.  Logo no início, temos Eitaro, que nunca sequer pegou na mão de uma menina, se recusando a ir ao banheiro e Hitora o obrigando a ir urinar, ou teria infecção urinária.  

No início, Eitaro, este é outro clichê do gênero, virgem e inexperiente, se sente estimulado pelo corpo feminino que habita, mas, com o passar do tempo, começa a ser vítima dos hormônios femininos e vai se tornando cada vez mais emocional.  Quando termina o mangá, segundo vi por aí, Haruna está grávida.  Em uma entrevista deste ano, o autor disse que introduziu a gravidez, porque esqueceu de colocar Eitaro/Haruna menstruando.  Foi a saída que ele encontrou.  Tudo dentro da lógica da série, você vai empilhando absurdos.  Segundo consta, o autor se inspirou em um livro de ficção científica do escritor norte americano Robert A. Heinlein com a mesma premissa para fazer seu mangá.

Mas vamos falar do autor?  Hikaru Yuzuki ganhou o primeiro prêmio para novos autores da revista Ribon, em 1968, dividindo o prêmio com Morita Jun e Yukari Ichijo.  Aliás, ele é amigo íntimo de Ichijo, os dois trabalharam juntos ajudando como assistentes um do outro e Hikaru Yuzuki chegou a morar na casa da autora, enquanto estava tentando resolver sua vida.  Yuzuki, que ainda estava no colegial, estudava em uma escola masculina, e escolheu um pseudônimo que escondesse totalmente a sua identidade, porque não queria que seus colegas suspeitassem dele.  Gekkan Shoujo Nozaki-kun (月刊少女野崎くん) feelings!  Ele estava entrando no universo do shoujo mangá em um momento no qual os homens estavam saindo.  Consta, também, que quando passou a trabalhar na Ribon e precisava aparecer por lá em pessoa, ele ia vestido com roupas femininas, ou seja, Yuzuki era um crossdresser de ocasião.

O traço de Boku no Shotaiken é muito bom e, pelo menos para mim, já grita década de 1980 em alguns momentos.  O fato é que Hikaru Yuzuki já produzia de tudo desde o início da carreira e vai se mudar para o shounen definitivamente nos anos 1980.  Boku no Shotaiken é muito lembrado entre suas obras, teve DORAMA em 1986, mas o autor é mais lembrado por seus mangás seinen e shounen que terminaram virando animação e/ou dorama, como Cinderella Express (シンデレラ・エクスプレス),  Amai Seikatsu (甘い生活) Minna Agechau (みんなあげちゃう♥), entre outros.

Enfim, precisava fazer um texto sobre o pouco que li desse mangá.  Por tudo que comentei e coisas que nem devo saber, Boku no Shotaiken seria inaceitável hoje, acredito que não fosse publicado desse jeito em nenhuma revista mainstream de qualquer demografia.  Agora, é inegável que se trata de um ancestral direto de mangás como Boku to Kanojo no XXX (僕と彼女の×××) de Ai Morinaga.  

No fim das contas, são todas séries que riem de estereótipos de gênero, isto é, a forma esperada de comportamentos e papéis de homens de mulheres em uma dada sociedade, mas sem questioná-los de fato.  Qualquer conclusão mais subversiva fica realmente na conta do leitor.  Infelizmente, Boku no Shotaiken só teve três capítulos traduzidos, para quem quiser ler em inglês, eles estão aqui.