segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Meu Post de Ano Novo: Coragem para enncarar 2019


Chegamos a mais um final de ano.  O Shoujo Café, esse blog feito por uma pessoa só, segue cumprindo suas funções.  Espero que tenha sido útil para vocês os posts que faço, as notícias que tento publicar apesar do meu japonês muito precário, as reflexões e resenhas.  Queria publicar com mais qualidade, nem sempre é possível com trabalho e família, queria mudar o layout do blog**, queria poder abrir um canal do Youtube, pelo menos voltei com o Shoujocast.  Queria muitas coisas, vou fazendo o que está dentro das minhas condições de produção. Queria fazer mais.  Queria que o site pudesse ser  mais interessante.

Adoro essa imagem.
Enquanto puder escrever e publicar, enquanto acreditar que o blog é útil, ele  continuará publicando diariamente, ou quase. Não sei que futuro nos aguarda.  Não vou mentir dizendo que estou otimista.  Acredito que podemos mergulhar em tempos de obscurantismo e violência sem precedentes em nosso país.  E deixo uma nota triste, Armandinho foi cancelado.  A censura e as ameaças antecederam a retirada da tirinha de 4 jornais.  O autor continuará publicando na internet.  Até quando?  Não sei.

Prenúncio de tempos tristes.
Uma das melhores coisas que 2019 pode trazer é o anime novo de Fruits Basket.  Daí, a imagem abaixo.  Será o ano do Porco, acredito que do elemento terra.  Eu torço muito pelo sucesso desse anime.  Quero, também, legendas para o segundo movie de Haikara-san ga Toru e o movie de YURI!!! on Ice.  Está demorando demais, sabe?

Ano do Porco e de Fruits Basket.
Para os fãs de shoujo e josei, o ano de 2018 no Brasil não foi dos melhores, mas as promessas feitas pelas várias editoras parecem sinalizar um 2019 melhor.  Mesmo com a crise do mercado editorial e das livrarias, que certamente teve impacto no atraso, por exemplo, da Rosa de Versalhes, temos boas promessas da Panini e da NewPop para o ano vindouro.  Torço para que os mangás anunciados (My Lesbian Experience with Loneliness, Citrus, Wotakoi e  Omoi, Omoware, Furi, Furare) sejam um sucesso.  A Rosa de Versalhes abrirá o ano e torço muito para que a edição da JBC faça justiça ao clássico e tenha toda a repercussão que merece.

Quino vai bem nessas horas.
Muita coragem para todos nós nesse 2019 que está para começar (*se o grande meteoro não vier*), esses são os meus votos para o ano que está para se iniciar.   Agradeço ao carinho, aos comentários, muito mais frequentes no Facebook, mas que se remetem aos posts do Shoujo Café. Espero ficar com vocês e que tenhamos esperanças de tempos melhores. Se  não houver esperança  no horizonte, que coragem não nos falte para lutar, sabedoria para resistir e resiliência para  suportar os tempos difíceis.  Obrigada por ficarem comigo.  Ninguém solta a mão de ninguém. 💗

** Se alguém quiser fazer para mim, e posso pagar pelo serviço, mande sua proposta.

Sexualização infantil e namoro: Discutindo uma Imagem

Você já deve ter visto essa imagem.  Ela tem circulado muito pelas redes sociais, como ela merece ser discutida,decidi trazer a discussão para o Shoujo Café. Apaguei os rostos e nomes dos envolvidos, porque, bem, não acho correto expô-los aqui (*repassei no Facebook e no Twitter e acredito que vou deletar*).  Enfim, nos últimos tempos, cresceu a campanha "Criança não namora".  Em princípio, concordo, mas será que quando adultos pensam em "namorar" não estão contaminados pela ideia de consumação do ato sexual? Namorar pode ser trocar olhares, bilhetes, presentes, querer estar junto, andar de mãos dadas, dividir um sorvete etc.  Sexo é uma possibilidade, inclusive, que não se encontra no espectro daquilo que muitos grupos consideram namoro.  Explicado isso, eu, Valéria, não vejo problema na foto acima, nada de sexualização precoce salta aos meus olhos. Olhar essa foto e ver sexo é o mesmo, a meu ver, que olhar um casal homoafetivo e ficar imaginando o simples ato de tocar de mãos sexualizado e ofensivo. Isso encerra a discussão?  Não.

Não sou freudiana, nem tenho leituras profundas de psicanálise, mas eu sei que a noção de que criança tem sexualidade não é nova, aliás, muito pelo contrário.  Ela se manifestaria de forma diferente da dos adultos, ou do boom da puberdade e estaria condicionada à questões de ordem cultural-religiosa, ou mesmo individual (*há pessoas que são assexuais e isso também é ser normal,oras!*). Crianças sentem prazer, mas não teriam a consciência dos complexos códigos de sexualidade  das sociedades nas quais estão inseridas, porque elas não são naturais.  Aí, sou eu, historiadora, afirmando.  Para tentar acomodar as coisas, entram os adultos "educadores" e, não raro, começa a desgraça.
Meninas, cheguei!

O que me preocupa é que crianças, especialmente os meninos, sejam expostos a toda uma série de estímulos sexuais desde cedo.  Pedem a um bebê garoto (*vi isso ontem em uma festa de família*) que pisque para uma mulher/menina e os pais e adultos ao redor brincam que ele está namorando.   Há toda uma gama de roupas alardeando a potência sexual de  um futuro macho sendo vendidas no mercado.  Ser hetero, perseguir as garotas, se fazer notar, é fundamental para a construção de nosso modelo hegemônico de sexualidade. 


Para as meninas, o modelo é a repressão, ou a sublimação.  Nem nos tocar podemos, porque é feio, imoral.  Há  o culto ao corpo e a objetificação presente nas roupas para meninas, mas não é socialmente aceitável que uma menina seja o agente em um "namoro" precoce.  E se fosse o inverso essa foto dos presentes, a menina estaria sendo criticada, chamada de vadia, a mãe, em especial, seria crucificada.  Mas olhemos a foto de novo, se fossem duas crianças negras, talvez, ao invés de curtidas teríamos gente comentando de forma agressiva e falando em gravidez precoce.  Agora, se essa expressão de afeto, que, repito, me parece inocente, fosse de dois meninos, ou duas meninas, os moralistas de plantão estariam pedindo a prisão dos responsáveis e clamando alguns que as crianças fossem surradas para se consertarem.   Estou falando de expressões de afeto sem caráter sexual e, não, estou colocando na mesa o caso do aniversário do adolescente de 13 anos que beijou o namorado.  Isso exigiria outro texto.
Dito mais que popular.

O que quero dizer, é que a foto não envolve somente privilégio hetero, como muita gente está repetindo.  Há  outros privilégios envolvidos  nesse angu.  Privilégio branco. Privilégio do macho.  E se a gente perde isso de vista, tende a ser injusto.  Fora isso,  no afã de expôr esses problemas, não cabe sexualizar a foto e projetar nela coisas que, à princípio, ela não nos diz.  Namorar pode ser muita coisa, crianças de 8,  9 anos, tem certo grau de autonomia nos seus afetos. Quem nunca viu um menino apaixonado pela professora, por exemplo?  (*De novo, menina apaixonada não pode.  É perigoso.*) Não é o mesmo que pegar dois quase-bebês de 3 anos e fazer um sessão de fotos de casamento, porque as duas crianças, menino e menina sempre, são muito amiguinhos e as mamães acharam que seria fofo.  Agora, crianças de 8, 9, 10 anos, continuam sendo isso, crianças, e a gente tem que cuidar delas e tratá-las desse jeito.


Agora, há um problema de nossos tempo para além de achar necessário mostrar sua intimidade nas redes  sociais, a exposição precoce de crianças à pornografia. Coisa  que elas não entendem direito, nem deveriam precisar entender, e que normalmente expõe situações de violência, abuso e humilhação das mulheres.  Segundo matéria que li, e queria comentar no último jornal, mas não consegui arrumar as ideias, cresce o número de atendimentos de crianças sexualmente abusada por outras crianças.  Isso não deve ser  coisa nova, certamente, não é (*e eu não queria citar histórias  que conheço*), mas aumentou a quantidade de crianças atendidas nos hospitais e de casos que chegam até a polícia.  E manchetes como essa "Filho de 13 anos de babá confessa ter estuprado menina de 7 por várias vezes".  
Muitas crianças são expostas à pornografia
 por acidente, ou descuido.
Alguém poderia dizer que com 13 anos não é criança.  Concordo, mas está no limiar.  Que tipo de estímulo esse menino recebeu para achar que podia e devia violentar uma criança.  Não é, também, uma questão de classe, ainda que possa ser uma questão de classe levar o caso para a polícia,ou abafá-lo, vide o caso do filho do dono da RBS, ocorrido em 2010. Na época, o garoto de 14 anos e seus amigos, estupraram uma menina de 13 anos.  Deu em quase nada (*hoje,ele já tem outros problemas com a lei*), mas a conduta sexual da garota foi examinada.  Afinal, o que ela estava fazendo lá com os garotos?  O que esperava?  Deve ser normal ir estudar com os colegas e ser por eles estuprada.  Mas isso era coisa corrente na literatura erótico-pornográfica brasileira e além.  É aquilo, sua boca diz "não", mas seu corpo diz "sim".

Misturei muito as coisas, mas espero ter me feito entender.  Por princípio, não vejo nada demais na foto que gerou a polêmica.  Namoro  não significa sexo,ou crianças sexualizadas.  O pessoal que se preocupa como abuso infantil e os que se preocupam em encobri-lo parecem comprometidos em tapar o sol com a peneira.  Família, escola, mídias deveriam trabalhar para criar pessoas melhores, inclusive na forma como lidam com seus afetos e sexualidade.  O problema é que não há nada disso no horizonte, vide a minha discussão final sobre crianças expostas à pornografia e os abusos cada vez mais recorrentes. Por outro lado, a foto aponta para uma série de privilégios e deixar de analisá-los é, também, tapar o sol com a peneira. Crianças não são anjos, nem demônios, nós, adultos, é que projetamos neles nossas noias e, não raro, ajudamos a bagunçar com a cabeça dos pequenos, seja por excesso de zelo, seja por excesso de exposição.  Um pouco de bom senso ajudaria muito nessas horas.

Comentando Bumblebee (2018), a última resenha do ano


Sexta-feira fui assistir Bumblebee com minha filha de 5 anos e uma priminha da mesma idade.  Foi a última ida ao cinema de 2018 e, claro, a última resenha.  Não fosse pelo pedido das duas, não teria ido mesmo, ainda mais sendo um filme dublado, mas, no fim das contas, valeu a pena. O filme é divertido e simpático, um pouco como foi o último Homem Aranha, e trabalhou muito bem com a nostalgia de gente que cresceu nos anos 1980, como eu.  O próprio filme em si tenta imitar os filmes adolescentes da época em quase tudo, menos nas referências sexuais, porque, bem, somos muito mais puritanos hoje do que éramos 35 anos atrás.

Planeta Cybertron, a resistência dos Autobots, liderada por Optimus Prime, está perdendo uma guerra civil para os  Decepticons.  Eles planejam evacuar o planeta e procurar um refúgio seguro, mas são interceptados pelo inimigo.  Optimus Prime envia para Terra, o planeta que os acolheria, o agente B-127, que tem a capacidade  de assumir múltiplas formas.  Chegando à Califórnia, ele acaba entrando em conflito com forças do Exército dos EUA, que o identificam com o inimigo, e por Decepticons que estão em seu encalço. Danificado, ele assume a forma de um fusca e se refugia em um ferro-velho.  1987. Um fusca amarelo aos pedaços, machucado e sem condição de uso, é encontrado e consertado pela jovem Charlie (Hailee Steinfeld), às vésperas de completar 18 anos. Traumatizada pela morte do pai e em conflito com a mãe a moça se sente profundamente infeliz.  Consertar o carro é revigorante para ela, mas descobrir que se trata de um alienígena mudará sua vida para sempre.


Charlie finalmente encontrou o
carro certo e, de quebra, ganhou um amigo.
Não vi um filme sequer da franquia Transformers, esta será, portanto, a resenha de um único filme e um filme que se sustenta por si mesmo.  Antes de Bumblebee minha única experiência com Transformers foram as animações antigas que passaram na Globo em algum momento da transição da minha infância para a adolescência.  E não adianta me perguntar detalhes, porque eu não lembro nitidamente de nada, salvo os robôs.  Estabelecido isso, não faço ideia, nem quero saber, aliás, de detalhes do universo da franquia, mas deixo registrado o seguinte, Bumblebee é muito divertido e deve ter sido o melhor filme pipoca que eu assisti em 2018.  Legendado teria sido melhor, mas, bem, fui ao cinema por causa das crianças.

O filme trouxe uma introdução que nos situou muito bem no universo dos robôs e de sua guerra civil.  A parte computação gráfica foi bem deslumbrante e convincente.  Não pensem, no entanto, que isso resume o filme, que ele é somente uma exibição de efeitos especiais com uma história rala.  Ele oferece um roteiro consistente e dramático dentro daquilo que um filem desse tipo exige.  Bumblebee privado de sua voz terá  que buscar uma forma de se comunicar com Charlie que é mais que sua dona, é uma amiga.  A música, e o filme traz uma trilha anos 1980 primorosa, tem um papel fundamental nessa comunicação entre eles.  Não darei spoilers, mas comento o seguinte, se você quiser aproveitar essa parte em especial do filme, é melhor que você o veja com o som original.  A perda em uma versão dublada é mais que evidente.


Como não amar Bumblebee?
Outro ponto, li em pelo menos um site feminista que a protagonista ser uma mulher salvou o filme.  Desculpe povo que vê empoderamento em tudo, mas não vou embarcar em uma narrativa de que isso fez a diferença, podemos falar, sim, em representatividade,mas se fosse um garoto o dono do fusca amarelo não faria grande diferença na narrativa, dou-lhes minha palavra.  Na verdade, o filme é um delicioso emaranhado de clichês e o que faz real diferença é como eles se entrelaçam, como Bumblebee, o robô-carro, consegue ser simpático e ganhar nossos corações desde a primeira de suas cenas.  Pequeno, valente, gentil, ingênuo, capaz de se sacrificar pelas grandes causas e pelos seus amigos.  Ele foi feito para ser amado.  Fora isso, há o efeito nostalgia, que serve para tentar capturar a empatia de gente velha como eu.

Retornando ao ponto, nós já assistimos Bumblebee antes, vou somente comparar com seu antecessor mais célebre e de gênero semelhante, E.T., o primeiro filme que eu assisti nos cinemas.  Se você viu E.T., você viu Transformers, porque ambos elementos muito similares.  Elliot, o protagonista de E.T., é  uma criança, mais limitado em suas ações, portanto, mas a situação de infelicidade familiar é  ponto comum entre ele e Charlie.  Elliot tem uma irmãzinha caçula que parece um problema no início, mas que se torna uma aliada.  Charlie tem o irmão caçula, Otis (Jason Drucker) em situação similar. E há, claro, o extra-terrestre que precisa de ajuda e que aprende a se comunicar com o humano que o acolhe.  Fora isso, temos a incompreensão dos adultos ao redor, seja família (*que depois termina ajudando em ambos os filmes, vejam bem*), ou as "autoridades", cuja ação violenta e insensível coloca o alienígena em perigo.  O que não há em E.T. são Decepticons.


Vilões MUITO malvados.
Os vilões do filme são malvados.  São cruéis, mas os humanos do filme não ficam muito atrás.  Os robôs querem usar os militares e eles acreditam que poderão usar  os robôs para conseguir vencer a Guerra Fria.  Bem, assistam o filme e vejam no que isso dá.  Estalecido isso, o diferencial de Trasformers é a violência.  Estilizada, adequada à classificação indicativa do filme, mas bem consistente.  Há mortes e algumas não são atenuadas.  A mãe desnaturada aqui, que só vi o o trailer que ressaltava a amizade entre a menina e o fusca, sem destacar os aspectos violentos do filme, não checou que era classificação 12 anos.  Não sou criminosa por levar meninas de 5 anos para ver Bumblebee, nada na lei me limitaria nesse aspecto, porém, Júlia se assustou em determinados momentos, fechou os olhos.  

Foi, com certeza, o filme mais violento que ela já viu.  Se eu tivesse checado, e isso é dever do adulto (ir)responsável, provavelmente, não teria levado a minha pequena.  Ela gostou do fusca, dos robôs em geral, da menina protagonista, do irmão dela (*uma criança*), mas ficou visivelmente assustada e quando Charlie se machucou, ela não deixou de notar o sangue.  Não leve crianças pequenas, portanto, ou leve,mas esteja ciente de que não é um filme para elas mesmo. Tem carros, tem robôs, mas é para gente um tanto mais velha.


Se Memo fosse branco, será que ele não ficaria com a garota no final? 
Queria não ter que pensar nisso, mas não posso evitar.
Agora, se no quesito violência o filme não faz grandes concessões, quando o assunto é romance e, claro, sexo, tudo é inócuo.  O vizinho de Charlie, Memo (Jorge Lendeborg Jr.) se interessa por ela.  Ela termina descobrindo o segredo da menina, se torna uma espécie de parceiro.  Só que o romance entre os dois não evolui.  Não estou pedindo que o filme obrigasse Charlie a se tornar namorada de Memo, mas em um filme dos anos 1980,e Bumblebee tenta se parecer com ele, isso ocorreria.  Se Charlie fosse um rapaz e Memo uma garota, talvez tivéssemos algo de romance, também.  Além do puritanismo vigente em nossos dias, há, também, a ideia de que uma protagonista feminina precisa se sustentar sobre as próprias pernas, ser forte e, claro, um romance poderia comprometê-la.

Poderíamos falar da neurose em cima da sexualização, algo que algumas feministas estão levando aos extremos.  Charlie tem 18 anos.  Ela tem  um visual absolutamente dessexualizado.  Provavelmente, uma menina como ela nos anos 1980, e com aquele perfil roqueiro, teriaum visual tão limpo, mesmo com seus gostos pouco peculiares, ela se interessa por mecânica, por exemplo.  Só que há todo o esforço de diferenciá-la das "outras" meninas, um trio de garotas que parecem uma caricatura das meninas malvadas de filmes high school, e olha que esse tipo de personagem já é em si uma caricatura.  


Você já viu esse filme,mas assiste de novo,
porque Bumblebee ficou muito legal.
Enquanto Charlie é dessexualizada, as meninas, em especial sua líder, Tina (Gracie Dzienny), usam maquiagem berrante, roupas justas e curtas e se equilibram sobre saltos altíssimos.   Mensagem dada.  Outra coisa, voltando para Memo, e não quero acusar o filme de ser racista, mas isso chamou a minha atenção, o rapaz é negro e ele é somente o amigo da menina branca.  Agora, basta Trip (Ricardo Hoyos), o colega de escola bonitão da personagem aparecer na tela que, bem... Se esse moço fosse Memo, ou se ele tivesse alguma função no filme além de aparecer sem camisa e fazer a protagonista perder um pouco o chão, talvez fosse diferente. 

Já caminhando para o final, o filme cumpre a Bechdel Rule.  Temos várias personagens femininas com nomes, que conversam entre si e que não estão falando de um homem.  O destaque vai para a protagonista e sua mãe, Sally (Pamela Adlon).  A relação das duas é conturbada.   A menina, que abandonou o esporte depois da morte do pai (*algo que o filme não conta detalhes*) não perdoa a mãe por tentar recomeçar sua vida.  A mãe, assim como a de Lady Bird, é enfermeira, tem um marido desempregado e dependente, trabalha muito, e faz o possível pelo bem estar de sua família.  


Como explicar para sua mãe que um robô destruiu a sua casa?
Charlie é revoltada, mas, diferente do filme sensação no ano passado, não é insensível às necessidades de sua família.  Ela trabalha, ela se esforça, ela quer seu carro, chega a exigir a ajuda da mãe, mas não fica de braços cruzados esperando que as coisas aconteçam e culpando os outros.  Sim, esse aspecto de Bumblebee dá de dez em Lady Bird, até na representação da adolescente revoltada e egoísta até certo ponto.

Saldo final?  O diretor Travis Knight fez um excelente trabalho.  Não sei qual caminho será tomado pela franquia, mas sei que Bumblebee é um filme muito divertido e interessante por ele mesmo.  É um filme de robôs.  É uma homenagem aos filmes adolescentes dos anos 1980 (*Clube dos Cinco, em especial*).  É uma ode à  amizade e à fidelidade.  É um filme que reforça a importância da família,do perdão e da compreensão entre pais e filhos.  Repito, você já assistiu esse filme, mas um  valente fusquinha amarelo faz toda diferença nele.


domingo, 30 de dezembro de 2018

Shoujo Mangá dos anos 1980 ganha continuação 20 anos depois


A série Hoshi no Hitomi no Silhouette (星の瞳のシルエット) de Aoi Hiiragi foi publicada entre 1985 e 1989 na revista Ribon.  A série contava a história duas amigas, Kasumi e Mariko, que se apaixonavam pela mesma pessoa.  O mote da série era “um manual para 2 milhões e meio de garotas”.  Na época, era a vendagem aproximada da Ribon. Agora, uma sequência da série começou a ser publicada na revista digital Comic Tatan, da editora Tokuma Shoten.

Com o nome de Hoshikuzu Serenade: Hoshi no Hitomi no Silhouette another story, a série se passa vinte anos depois da original e tem como protagonista uma universitária, Yuzuki Setogawa, que conhece alguém especial na cerimônia de abertura do semestre.

Não é a primeira sequência de Hoshi no Hitomi no Silhouette, no entanto.  Hoshi no Hitomi no Silhouette ~Engage~ teve dois capítulos nos anos 1990 e mostrava as amigas originais da faculdade.  Outra sequência veio em 2015, Hoshi no Hitomi no Silhouette -Seishun Finale- (Youth Finale), e tudo, pelo que eu entendi do ANN, foi compilado em um volume em 2017.  Hiiragi fez dois mangás inspirados em animes da Ghibli, Mimi o Sumaseba (耳をすませば/Whisper of the Heart) e  Baron ~Neko no Danshaku~  (バロン―猫の男爵).

Jornal do Shoujo Café: Não é somente no Japão que estudantes são perseguidos por causa de sua cor de cabelo e outras notícias da semana


Hoje, publico o último jornal do ano. O fim das contas, esse tipo de postagem foi bem sucedida e acredito que continuarei com o formato no ano que vem. O ideal em nossos tempos seria abrir um canal do YouTube para o Shoujo Café,  mas não sei se dou conta de tudo isso. Enfim, este jornal será curto, porque comentei durante a semana pelo menos duas notícias que poderiam ter ficado para  hoje.  Uma delas, a mais importante, a entrevista de Maurício de Sousa para a Folha de SP, a outra, uma recomendação de vídeo sobre o caso da Kefera. Deem uma olhada nesses posts, porque eles já estão contando aqui.  E, lembrando, esse site é feito por uma feminista e meu olhar sobre as notícias não é neutro, aqui, temos posicionamento político, sim.

A menina e sua mãe.
1. Não é somente no Japão que estudantes são perseguidos por causa de sua cor de cabelo.  Em outubro do ano passado, foi muito comentada a história de uma adolescente japonesa que tinha cabelos castanhos claros e foi constrangida por sua escola, que era pública, a tingi-los.  A garota era acusada, também, de querer ter atenção, porque sua mãe era solteira.  A responsável pela adolesdente entrou na Justiça contra o Estado e venceu.  Ontem, vi uma notícia semelhante vinda da Inglaterra, uma menina de 12 anos que tem um cabelo laranja, sim, aquele tipo mais extremo de louro arruivado, eu diria, foi constrangida por um professor que acusou a criança de querer aparecer e que tingir os cabelos era contra os regulamentos.  Na Inglaterra, alguém ser utilizado por ser ruivo... Nesse caso, trata-se  de uma escola particular.  

Veja, não estou questionando que a escola tenha regras sobre uniforme e cabelo com restrições à tintura, mas sobre a violência que é perseguir alguém, rotulá-la e tudo mais por causa de algo que é natural, como cor de pele, estatura, cor de cabelo etc.  O pior é que a escola parece estar resistindo a admitir que a sua atitude não está correta.  Tanto que a mãe recorreu ao OFSTED (Office for Standards in Education, Children's Services and Skills), que seria a agência do governo responsável por fiscalizar as escolas e tudo mais.  Espero sinceramente que esse caso termine servindo de exemplo para todos os outros e que a menina não sofra mais nem com o bullying, nem com a violência institucional.  De resto, serve de lição, não são somente os japoneses que fazem essas barbaridades.
Cientista pioneira.
2. Física brasileira Elisa Frota Pessôa morre aos 97 anos, no Rio de Janeiro.  Nunca tinha ouvido falar dessa cientista brasileira, mas é muito fácil não ouvir falar das cientistas, pois há todo um esforço em apagá-las da história. Agora, é muito interessante ler sobre a trajetória dessa mulher que estudou até o nível superior em uma época na qual as mulheres eram estimuladas a casar cedo.  Ela mesma casou aos 18 anos, mas teve apoio do marido (*precisa ter  tido, ainda mais naquela época*) para prosseguir.  Foi a segunda mulher a se formar em Física em nosso país, a primeira foi Sonja Ashauer. Ambas foram membros fundadores do  Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).  Lecionou no Rio, na UFRJ em mudou-se para Brasília em 1965 para lecionar na UnB. 

Em 1969, como desdobramento do AI5, que endureceu a ditadura no Brasil, foi aposentada compulsoriamente. Nessa  época, ela lecionava na USP. Só para reforçar, muita gente foi perseguida e teve sua carreira prejudicada, essas pessoas não precisavam ser militantes políticos stricto sensu  ou estar na luta armada, bastava uma denúncia, uma perseguição do chefe ou inveja de um colega.  Sua vida poderia ser destruída.  E ser compulsoriamente aposentado era um dano menor do que ser preso, torturado e/ou morto.  Fugindo da ditadura militar, ela trabalhou na Europa e nos EUA, onde colaborou na formação de físicos brasileiros. Em 1980, com a abertura política, reassumiu os trabalhos no CBPF implantando um laboratório de emulsões nucleares para estudo de espectroscopia nuclear. Mesmo após a aposentadoria compulsória (*por idade*), em 1991, permaneceu até 1995 como professora emérita do centro.  Uma esplêndida carreira e em uma área ainda hoje muito masculina, que precisa  ser divulgada.
Mulheres no amistoso Irã e Bolívia, em 2017.
3. Conselho pede à Fifa suspensão do Irã se restrição para mulheres não acabar.  O Irã proíbe as mulheres de assistirem jogos de futebol masculino desde 1979, com a Revolução Islâmica.  Mesmo com todos os obstáculos, no entanto, as mulheres jogam futebol e a seleção do país é bem competitiva dentro das competições nas quais toma parte. Agora, por qual motivo o conselho de direitos humanos da FIFA, coisa que é novidade, decidiu pedir que a organização dê um ultimatum ao pais exatamente agora?  Bem, há questões politicas envolvidas, claro!  Não vou falar de EUA e outras coisas, vou somente comentar o seguinte: este ano a Arábia Saudita levantou o banimento às mulheres em seus estádios.  Reformas foram feitas para garantir a segregação, criando um espaço para homens e um para famílias,  no qual as mulheres ACOMPANHADAS de um irresponsável (*homem*) podem se fazer presentes. Daí, vem essa exigência ao Irã que parece ser o único país (*não consegui descobrir de fato*) a ainda proibir em seus estádios.  Ninguém quer irritar a Arábia Saudita, mas mexer com o Irã é permitido e até estimulado. No caso do Irã, houve exceções nos últimos anos, como no amistoso com a Bolívia em outubro de 2017, as mulheres puderem assisti-lo.  Não consigo crer que a decisão dos sauditas não teve impacto sobre essa recomendação. 

Voltando ao ponto, a perseguição ao Irã é de longa data.  Em 2011, a FIFA, que uma vez propôs o uso de uniformes mais reveladores para impulsionar o futebol feminino, decidiu banir o véu islâmico.  Ora, a única seleção de país muçulmano mais estrito a participar das competições internacionais com regularidade é o Irã e suas jogadoras são obrigadas pelas leis do país a usarem o véu.  Elas não tem escolha, ou usam, ou não podem jogar.  Na época, as iranianas terminaram excluídas da copa que acontecia na Jordânia. Qual seria o ganho?  ZERO.   Proibir o véu islâmico era punir essas meninas e mulheres, não os homens que as obrigam a usá-los. Não é preciso ser entusiasta  do véu para perceber o problema, certo?  Trata-se de violência contra as mulheres.  Por mais restrições às mulheres no Irã, lá elas nunca tiveram seu direito de voto ou dirigir carros confiscados.  Podem sair à rua sem um guardião.  Podem praticar esportes desde que sigam o código de vestimenta do país.  Enquanto isso, na Arábia Saudita, educação física só foi permitida na grade das escolas públicas para meninas em 2017.  Dirigir, somente este ano.  Enfim, eu não consigo ver preocupação com as mulheres nessas restrições ao Irã, só  perseguição ao país mesmo.


Meninas da seita na Guatemala.
4. Toda religião tem seus ulta-extremistas, o caso do Lev Tahor.  Ontem, o Jornal do Brasil noticiou o seguinte: "Quatro homens ligados a uma seita extremista judia, sediada na Guatemala, foram presos nos Estados Unidos por suspeita de sequestrar duas crianças, informou o procurador federal de Manhattan.  Segundo a fonte, os quatro suspeitos pertecem à seita judia Lev Tahor, que pratica uma forma ultraortodoxa do judaísmo, onde as mulheres usam túnicas negras que as cobrem da cabeça aos pés.  Um dos indivíduos, Aron Rosner, 45 anos e que morava no Brooklyn, foi preso em 23 de dezembro. Os outros três - Nachman Helbrans, 36, apresentado como líder da seita, e Mayer e Jacob Rosner, 42 e 20 anos respectivamente, todos vivendo na Guatemala - foram expulsos na quinta-feira do México, onde se escondiam, e detidos ao chegar a Nova Iorque, de acordo com a declaração do procurador.  Os quatro homens supostamente organizaram o sequestro, na noite de 8 de dezembro, de uma adolescente de 14 anos e seu irmão de 12 anos na cidade de Woodridge, 150 km ao norte de Nova York, depois que a mãe das crianças decidiu abandonar a seita seis semanas antes.  A mulher era membro voluntário da seita, que foi fundada por seu pai. Mas o grupo teria se tornado mais extremista sob as rédeas de seu irmão, Nachman Helbrans.  Os quatro homens teriam organizado o sequestro para levar os adolescentes de volta à Guatemala através do México, passando pelo aeroporto de Scranton, no estado da Pensilvânia."  

A seita Lev Tahor (coração puro) nasceu em 1980 e é conhecida como o Talebã judeu (*mas há outros grupos que também recebem esse apelido negativo*).  Seu líder,  Shlomo Helbrans, era filho de pais seculares que se voltou para um seguimento mais estrito da religião judaica, não satisfeito,  fundou seu próprio grupo.  O grupo é acusado de uma série de crimes como sequestro, maus tratos à menores e mulheres, lavagem cerebral, imposição do uso de drogas aos seus membros, estupro e casamentos forçados de crianças.  Helbrans viveu nos EUA, foi preso lá por sequestro de um menor.  Voltou para Israel, foi perseguido pelas leis do país. Levou seu grupo para o Canadá, usando das leis do país para asilo de perseguidos políticos.  Lá foram acusados de crimes contra crianças e adolescentes, os mesmos que já listei.  O grupo foi para a Guatemala.  Lá, também tiveram problemas com a lei.  Mudaram-se para o México. E vem o caso que comentei.


Ultra-ortodoxos oferecem apoio aos
 que querem deixar o Lev-Tahor na Guatemala.
Grupos como o Lev Tahor não admitem que seus membros abandonem o grupo.  Os perseguem.  Segundo o New York Times, amenina de 14 anos que foi sequestrada era "esposa" de um dos sequestradores.  O Lev Tahor estimula os casamentos infantis de meninas com homens muito mais velhos que elas.  A mãe dos adolescentes tinha conseguido se refugiar nos EUA e recebido asilo e a guarda provisória das crianças.  Felizmente, elas foram recuperadas sem grande dano.  As maiores vítimas desse tipo de seita são, normalmente, as mulheres e as crianças.  Normalmente, assim como no caso dos mórmons radicais, a forma mais eficaz de desmantelar esses grupos é provando que comentem crimes sexuais contra menores.

Eu queria ter encontrado as matérias, mas em 2016 (*acho*), um líder de uma dessas seitas radicais, procurado em Israel por vários crimes, escondeu-se no Brasil, no Bom Retiro (SP).  Temo que com a flexibilização de certas leis e com o avanço do desmantelamento do Estado Laico, grupos radicais como esse que descrevi terminem vindo buscar abrigo aqui e se juntem aos absurdos que já temos que aguentar. Percebem como coisas como educação domiciliar podem ajudar esse tipo de grupo pseudo-religioso a ter controle sobre suas vítimas? Pois é...


Gosto muito da Felicity Jones.
5. Suprema deve ser um filme bem interessante.  Felicity Jones interpreta a juíza Ruth Bader Ginsburg, a primeira mulher a fazer parte da Suprema Corte Americana em um filme que está prestes a estrear.  Uma das questões que quase impediram as filmagens é que os produtores queriam transformar o marido da protagonista, que sempre lhe apoiou (*vide meu comentário sobre a física brasileira*), em um opositor.  Sabe, o clichê do macho opressor e invejoso? Enfim, parece que isso foi evitado e, se o trailer não for propaganda enganosa, o filme deve ser bem interessante.  Deem uma olhada e vejam o que vocês acham:


sábado, 29 de dezembro de 2018

Tomoko Ninomiya retoma o trabalho na na primavera depois de licença médica


Tomoko Ninomiya ficou mundialmente famosa por causa de sua série Nodame Cantabile (のだめカンタービレ).  Desde lá, e ela não parou de trabalhar, salvo por questões médicas e licença maternidade.  Ela tem duas crianças, se não me engano.  Eu realmente não sabia que seu mangá na revista Kiss, Nanatsuya Shinobu no Hōsekibako (七つ屋志のぶの宝石匣), estava em hiato, mas localizei no ANN que a licença dela começou em outubro. Ela deve retornar na primavera, imagino que em abril, ou maio.  


Nada foi dito sobre o motivo, mas a autora sofre com a síndrome do túnel do carpo, oque deve ser bem terrível para uma desenhista.  Em 2009, ela parou a produção de Nodame por causa desse problema,eu queria tero link do próprio Shoujo Café, mas não consegui localizar, mas achei no ANN, de novo.  Não sei se a razão foi essa, mas é bom ver uma autora tão competente voltando à atividade.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Ranking da Oricon


Saiu o ranking do Oricon, o penúltimo do ano de 2018 (*17-23/12*).  Não há shoujo ou josei no top 10, ainda que tenhamos liderando um mangá feito por uma autora muito querida, Chica Umino, e Kaoru Mori,que desenha espetacularmente, estejam no top 10.  Aliás, Sangatsu no Lion apareceu duas vezes no ranking,já  que teve edição especial.  O melhor colocado é Haru matsu Bokura, cujo filme está no cinema, seguido pelo último volume de Umimachi diary. Tsuiraku JK to Haijin Kyoushi talvez suba de posição, afinal, ela chegou às  lojas no dia 20 e apareceu no top 30.  Parece ser uma série em ascensão no momento.

16. Haru matsu Bokura  #11
18. Umimachi diary #9 Ittekuru
22. Dokyo Jin Ha Hiza, Tokidoki, Atama No Ue。 #5
23. P to JK #13
29. Tsuiraku JK to Haijin Kyoushi #3

Recomendação de texto: "Um Elogio aos Filmes Ruins Dirigidos por Mulheres"


Semana passada vi alguns sites de cinema ou cultura pop brasileiros repercutindo uma pesquisa de um importante site norte-americano que havia perguntado quais seriam os piores filmes de todos os tempos.  A atenção, claro,ia para o mais votado, o único do top 10 dirigido por uma mulher e voltado principalmente para meninas adolescentes, Crepúsculo (Twilight).  Eu ri e nem me dei ao trabalho de abrir,não ia sequer comentar essa bobagem até me deparar com esse texto "Um Elogio aos Filmes Ruins Dirigidos por Mulheres".  Deixo alguns trechos dele, recomendando que você o leia por completo:
"Ano passado, antes da estreia de Mulher-Maravilha (2017) de Patty Jenkins algo muito comentado era o tamanho do orçamento do filme, quase 150 milhões de dólares, o filme mais caro dirigido por uma mulher sozinha na história. Ficava aquele medo: e se não for bom? Quando outra mulher vai ter a oportunidade de dirigir um filme com um orçamento desses?
Enquanto isso, Michael Bay continua a fazer mais filmes do universo Transformers com orçamentos ainda maiores que o de Mulher-Maravilha. Mas, diferente de Mulher–Maravilha, os filmes de Bay têm uma péssima recepção da crítica. Em nenhum momento, entretanto, passa pela cabeça de alguém que homens não deveriam receber dinheiro para fazer filmes porque um diretor homem faz filmes ruins. Pode-se argumentar que não se trata de privilégio, afinal, Bay continua a fazer filmes porque recebe um retorno enorme em bilheteria, o que justificaria que ele continue a dirigir. Mas será que uma grande bilheteria é suficiente quando se trata de uma diretora mulher?
Quando Catherine Hardwick dirigiu Crepúsculo em 2008, o filme não fez sucesso com a crítica, mas faturou 70 milhões de dólares no seu primeiro final de semana e ganhou o prêmio de melhor sequência de ação da MTV. Hardwick esperava que, como qualquer outro diretor de cinema comercial com um filme de grande bilheteria, logo apareceriam propostas para outros filmes de grande orçamento, mas nada surgiu. Ela mesma ligou demonstrando interesse em dirigir um filme com várias sequências de ação, mas foi rejeitada. O estúdio queria um homem para dirigir o filme e no final contrataram um diretor que nunca tinha tido uma bilheteria que chegasse perto da que Hardwick havia conseguido com Crepúsculo.
Para mulheres diretoras, não basta que o filme seja bem recebido pela crítica ou pelo público, é tudo ou nada. A questão não é só que educamos nossas meninas a buscarem a perfeição, é que a perfeição é a única coisa que aceitamos delas. (...) Quando um homem faz um filme ruim, dizemos que aquele é um filme ruim, mas quando uma mulher faz um filme ruim dizemos que a mulher por trás daquele filme é ruim e, por consequência, todos seus futuros filmes serão ruins e quiçá qualquer filme dirigido por uma mulher seja ruim."
Terminando, acho que preciso explicar o motivo de achar esse tipo de pesquisa absurda, ou o resultado ridículo?  Talvez, você queira saber.  Olha, uma votação popular, sem critérios técnicos-objetivos, somente aquilo que eu sinto, ou penso, não tem como ser valorado salvo para medir o que determinados estratos da população, caso a pesquisa tenha alguma demografia especificada acreditam. A lista dos piores filmes de todos os tempos feita por Valéria, seria a lista baseada, somente, nos filmes que eu assisti, logo, seria a lista de piores filmes de todos os tempos segundo a Valéria que, por exemplo, nunca assistiu um filme tcheco, nigeriano, sul-africano, que só assistiu um filme egípcio, uma meia dúzia de filmes indianos, enfim, percebem?  

Não resisti.  Recomendo
muito o trabalho da artista.
Outro ponto é que exatamente um filme dirigido por uma mulher e para o público feminino jovem tenha sido o pior de todos os tempos.  Mulheres são sub-representadas na direção,mas o filme de uma mulher aparece como a maior bomba de todos os tempos... Sei... Sei... E isso nada tem a ver com gostar de Crepúsculo, ou não.  Eu não gosto, mas com o saber perfeitamente o quanto produções para mulheres - filmes, novelas, quadrinhos etc. - despertam o desprezo de uns,os críticos, e meio que o terror de outros, certos setores barulhentos do público.  

Imagina se cismam de produzir material pensando PRIORITARIAMENTE nas mulheres.  Os homens precisam de (*TODA*) a atenção.  Isso é discriminação, não é  mesmo?  Esse blog, aliás, foi criado exatamente, porque coisas assim que eu já ouvi aos montes, tipo "As autoras de shoujo precisam pensar nos homens."  Precisam, não,colega! Há um mundo de coisas que você pode ler.  "Shoujo é ruim, porque os homens de verdade não são do jeito que as autoras colocam." Sim, criança, e as mulheres são todas iguais aquelas garotinhas de anime/mangá shounen cheio de fanservice que você acha o máximo.  E, repito, não precisa gostar de Crepúsculo, eu acho horroroso, também, mas não por ser para meninas, escrito por uma mulher, ou o filme dirigido por outra, mas por ser ruim mesmo. Já tive muito aborrecimento com fãs dessa série em anos passados, aliás.  

Akiko Higashimura terá nova séria na revista Kiss em breve


Akiko Higashimura é incansável e não consegue se contentar em publicar somente dois, ou três, ou quatro séries ao mesmo tempo.  Enfim, segundo o ANN, o site da revista Kiss anunciou que Higashimura estreará um novo mangá na primavera japonesa.  Eu acredito que abril, mas as informações serão divulgadas posteriormente.  No momento, ela está publicando na Kiss três capítulos especiais de Tokyou Tarareba Musume  (東京タラレバ娘).  Esses novos capítulos serão compilados em um volume especial que será lançado em 13 de março.

Como brinquei no começo, só para vocês terem uma ideia, Higashimura tem em andamento os seguintes mangás: Gisou Furin (偽装不倫), que é publicado em formato para celular e totalmente em cores; Yukibana no Tora (雪花の虎), mangá histórico seinen; e  Hypermedy Nakajima Haruko (ハイパーミディ中島ハルコ), na revista Cocohana. Fora isso, acho que ela volta e meia pulica o mangá do detetive gourmet,  Bishoku Tantei Akechi Gorou (美食探偵 明智五郎), também na Cocohana, e ainda há o mangá experimental seinen parado, porque deu problema com o "público" da revista.  E ela ainda anda publicando um mangá-ensaio sobre Astro Boy chamado Akiko Higashimura meets ATOM (東村アキコ meets ATOM).  Tem uma entrevista dela comentando aqui. Coisa pouca, vocês percebem.

Suenobu Keiko vai publicar mangá na revista Be Love


A próxima edição da revista Be Love, que se tornou mensal, lembrem disso, será bem especial.  Além de comemorar as vendagens de Chihayafuru (ちはやふる), 23 milhões  exemplares acumulados, teremos capítulo especial de  Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu (昭和元禄落語心中), Suenobu Keiko irá publicar um mangá na revista.  Não há título ainda, só uma imagem pequena, mas  maiores detalhes devem aparecer nos próximos dias.  A notinha está na página da ANN.


De resto, acredito que seja o primeiro josei de Suenobu Keiko. Seu último mangá, foi a continuação de Life na revista Afternoon.  Bom vê-la de volta ao mangá  feminino strictu sensu da palavra.  Sempre me dá certo desespero quando as autoras vão e não voltam.  Suenobu Keiko não é desconhecida dos brasileiros, a JBC publicou Vitamin (ビタミン) *resenha* e Limit (リミット). Meu sonho é ver Life (ライフ) saindo por aqui.  A  edição norte-americana, que eu acompanhava, foi interrompida no volume #9 e eu nunca terminei de ler a série direito.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Exposição comemora "era de ouro" das vendagens da revista Ribon


Houve um momento nos anos 1990, que a revista Ribon viveu sua Era de Ouro.  Era a revista shoujo mais vendida do Japão, com 2 milhões e meio de exemplares vendidos por volume.  O pico foi edição de fevereiro de 1994, lançada no final do ano anterior, que atingiu 2 milhões 550 mil exemplares vendidos.  Na época, praticamente todas as séries importantes da revista viravam anime.  Daí,  não deixa de ser curiosa esta exposição. 

Segundo o Comic Natalie, a exposição trará todas as séries da revista na época, como Yukan Club (有閑倶楽部), Marmalade Boy (ママレード・ボーイ), Tokimeki Tonight (ときめきトゥナイト), Akazukin ChaCha (赤ずきんチャチャ), BabyLOVE (ベイビィ★LOVE),  Chibi Maruko-chan (ちびまる子ちゃん), Tenshi nanka Ja Nai (天使なんかじゃない), Hime-chan no Ribon (姫ちゃんのリボン) etc.  Os apêndices da edição também estarão na exposição (*se entendi bem*) e ela acontecerá em Tokyo no verão de 2019, indo depois para Kyoto e circulando em seguida pelo país. Criada em 1955, a Ribon é uma das revistas shoujo mais importantes do Japão.  Hoje, no entanto, sua vendagem deve girar perto dos 200 mil exemplares, muito distante do que acontecia na última década do século XX.

Vamos falar de Maurício de Sousa ou Muita Calma Nessa Hora


Como estou de férias e fora de casa (*isso quer dizer que minha internet só funciona de manhã ou na madrugada e depois, bem...*), só fui tomar pé em uma matéria/entrevista com o Maurício de Sousa hoje.  "Se depender de Mauricio de Sousa, Cebolinha não usa losa nem blinca de boneca", começo escrevendo que considero o título da matéria da Folha de São Paulo bem sensacionalista e desnecessário, mas se o objetivo era produzir desconforto e discussão, o objetivo foi atingido.  Por outro lado, se você lê as respostas do Maurício de Sousa se depara com um sujeito que parece ser super-reacionário e não falo somente da questão de gênero, mas do que ele fala sobre bullying, também, além de desconectado do material que é produzido pelo seu próprio estúdio. Ao que parece, ainda que sejam criações dele, quem está no comando da empresa de fato é sua filha Mônica, sim, a que inspirou a personagem mais famosa de seu pai, e a visão dela é  muito mais moderna que a dele. 

O que eu quero dizer com  esse primeiro parágrafo?  Não se deve relevar o que o Maurício disse, devemos fazer a crítica, sim.  Agora, salvo se houver uma guinada repentina naquilo que os estúdios do Maurício de Sousa vem produzindo faz mais de uma década, já temos discussões de gênero aos montes, inclusive meninos brincando de boneca, assim como a presença de temas feministas em várias histórias. Tudo diluído, tudo em doses homeopáticas, mas eu não espero que seja diferente.  E, não, o fato do estúdio ter feito material louvando as Forças Armadas não é sintomático de mudança, é coisa que eles sempre fizeram. Tem gente lendo essa entrevista do Maurício de Sousa que não pega um gibi da Turma da Mônica faz 20 anos, que não conhece Mônica Jovem, que nunca viu um desenho animado da turminha do Limoeiro, ou sabe dos projetos do estúdio, e fazendo um escândalo enorme. 
Prova viva de que Maurício está
por fora do que é feito pelos seu estúdio.
O que eu quero pedir é muita calma nessa hora e antes de começar a queimar revistas da Mônica, porque Maurício falou bobagem, pense na importância que as personagens dele tem, das discussões sobre amizade e respeito à diversidade que aparecem constantemente nas revistas de seu estúdio.  A Turma da Mônica é uma marca, mas é, também, uma obra coletiva de muitos roteiristas e desenhistas.  Há muita gente envolvida no processo de produção.  Agora, não espere demais de Maurício de Sousa, ele não é um progressista, ele quer vender o seu produto e estar na média em termos de discussões que circulam na sociedade, por isso, proponho valorizar o que de positivo a empresa dele vem produzindo.  De resto, me deparei com um artigo sobre a Turma da Mônica e sua importância para as crianças brasileiras no Japão e traduzi.  Vale a leitura.  Veio do site da NHK.

Crianças brasileiras no Japão tiram coragem dos quadrinhos
De Rikako Takada
Terça-feira, 25 de dezembro de 2018



O governo japonês está no meio de um esforço para recrutar pessoas de fora do país para trabalhar em uma ampla gama de áreas onde a escassez de pessoal é um problema contínuo.  Entre eles estão muitos brasileiros - uma comunidade que tem sido um dos maiores grupos de estrangeiros no Japão desde os anos 90. Mas algumas crianças brasileiras acham difícil se adaptar às escolas japonesas. Eu conheci um artista brasileiro que está incentivando-os através de seus quadrinhos.

Mauricio de Sousa e seu quadrinho “A Turma da Mônica”

Mauricio de Sousa é um quadrinista brasileiro popular. Ele foi apelidado de Walt Disney do Brasil por causa de seu sucesso no negócio de quadrinhos e pela criação de personagens populares.


Mauricio de Sousa é o cartunista de maior sucesso
no Brasil. Ele visitou o Japão em novembro de 2018.
"A Turma da Mônica" é amada no Brasil por pessoas de todas as gerações há muito tempo. Sua personagem principal, Mônica, é uma garota feliz e forte. Ela passa seus dias com amigos de todos os tipos de origens. Em novembro de 2018, Mauricio veio ao Japão e visitou as prefeituras de Aichi, Gunma e Shizuoka, onde existem grandes comunidades brasileiras. Ele recebeu uma recepção entusiasmada de seus fãs.


Mauricio visitou comunidades brasileiras no Japão para incentivar
as crianças que vivem em uma cultura
completamente diferente de seu país de origem.

Conexão profunda com o Japão

Mauricio nasceu e cresceu em um subúrbio de São Paulo, onde moram muitos nipo-brasileiros. Ele esteve no Japão muitas vezes e construiu uma conexão profunda com o país por meio de mangás ou histórias em quadrinhos.  Ele era amigo do lendário cartunista japonês Osamu Tezuka. A Mônica de Mauricio já apareceu em uma história colaborativa com o célebre Astroboy de Tezuka.


Mauricio era amigo do lendário cartunista japonês Osamu Tezuka,
à direita. Eles compartilhavam da paixão e da
filosofia dos mangá antes de Tezuka morrer em 1989.
Suas visitas o levaram a ter um interesse especial pelas crianças brasileiras no Japão. Ele frequentemente visita comunidades brasileiras para dar apoio moral a crianças que enfrentam uma língua e cultura completamente diferentes.

Livros e carimbos para crianças brasileiras no Japão

No ano passado, Mauricio criou um livro para ajudar as crianças brasileiras a aprender sobre a vida escolar no Japão. Ele mostra a Mônica experimentando novas atividades que não são comuns nas escolas brasileiras, como almoços escolares comunitários ou limpeza das salas de aula.




Mauricio diz: “A vida escolar será o primeiro contato com a sociedade japonesa para a maioria das crianças brasileiras. Então, usei o livro para apresentar as regras da sociedade que eles encontrarão quando vierem ao Japão ".



Ele também ajudou a fazer carimbos com Mônica e mensagens encorajadoras, como "Boa sorte!" ou "Tente de novo!" em português e japonês. Os carimos e livros foram entregues às escolas em todo o Japão.

Um professor dedicado aos estudantes brasileiros

Os carimbos eram originalmente a ideia de um professor do Ginásio Hie na cidade de Konan, na província de Shiga. É uma área industrial que abriga muitos brasileiros e outros trabalhadores estrangeiros. Mais de 10% dos alunos da escola são não-japoneses.


Yoshimichi Aoki, do Hie Junior High School,
ensina estudantes brasileiros com aulas especiais.
Yoshimichi Aoki ministra uma aula especial onde os estudantes brasileiros podem aprender tanto em japonês quanto em português. Aoki conhece Português do seu tempo como estudante universitário no Brasil. Ele também ensinou em uma escola japonesa lá.


O carimbo à esquerda é a invenção original de Aoki.
Agora ele usa os carimbos de Mônica e outros personagens.
O primeiro carimbo que ele fez diz “importante” em português e japonês. Ele fez com que alunos e pais brasileiros pudessem dizer o que é importante e o que não é entre as muitas anotações que as crianças trazem da escola para casa.  Mauricio aprendeu sobre os esforços de Aoki através de um artigo de jornal em inglês e decidiu criar carimbos com Mônica e outros personagens populares.  Aoki diz: “Com os personagens de Mauricio nos carimbos, os alunos sentem que estão sendo incentivados por um herói nacional brasileiro. Os carimbos definitivamente fazem os estudantes brasileiros estudarem mais.”

Menina brasileira encontra tranquilidade nos desenhos de Mauricio



Sarah Kusumoto, de quatorze anos, é uma grande fã dos desenhos de Mauricio. Ela consegue desenvolver conversas do cotidiano em japonês, mas ela vem para a aula de Aoki para aprender assuntos que requerem habilidades linguísticas mais profundas, como estudos sociais.  Ela se mudou de Brasília para o Japão há dois anos, quando seus pais começaram a trabalhar no Japão. Ela lembra que a vida escolar não foi fácil no começo.

Sarah diz: "Quando eu estava no sexto ano, meus colegas tentavam conversar comigo. Eu entendia que eles estavam tentando fazer amizade comigo, mas eu não sabia o que eles estavam dizendo. Não ser capaz de fazer amigos me fez realmente triste."  Naquela época, uma coisa que a animava era assistir A Turma da Mônica. Ela adorava o desenho porque Mônica podia fazer amizade com qualquer um.

Sarah diz: “A Turma da Mônica  é toda sobre amizade. Há um personagem chamado Cascão, que não gosta de água ou tomar banho. Ele fede, mas Mônica não o deixa fora do grupo, porque ela sabe que não ter um amigo é mais difícil do que qualquer coisa. ”



No ano passado, algo memorável aconteceu - Mauricio visitou a cidade onde Sarah mora. Ela recebeu uma cópia do mangá que Mauricio fez para crianças brasileiras no Japão.  Sua parte favorita é onde Mônica incentiva uma criança que é nova no Japão. Ele descreve como uma nova língua pode ser difícil no começo, mas com o tempo e a ajuda de novos amigos, tudo funciona no final.

Sarah gosta da página onde os personagens dizem que ninguém precisa ficar sozinho, já que isso pode acontecer com qualquer criança em um novo país.  O livro de Mauricio lhe ensinou que ela pode pedir ajuda a seus amigos. Então, ela começou a perguntar a seus colegas quando ela tinha perguntas. Ela também ajuda outros estudantes brasileiros que são novos no Japão.

Para contar a mais pessoas sobre o apoio de Mauricio para estudantes brasileiros no Japão, Sarah fez uma apresentação chamada "Um Presente Especial do Exterior" em um concurso de fala em inglês. Ela foi bem recebida e ela ficou em segundo lugar.


Sarah Kusumoto teve a chance de conhecer Mauricio e contar o
 quanto ela foi encorajada por seus quadrinhos, assim
como pelos livros e carimbos que fez
para as crianças brasileiras no Japão.
Durante a recente visita de Mauricio ao Japão, ela teve uma segunda chance de encontrar com ele e transmitir sua gratidão pessoalmente. Ela fez o mesmo discurso em português desta vez: "Acredito que muitos dos alunos que receberam 'presentes especiais' dele serão a ponte entre o Japão e outros países algum dia. Esse seria o verdadeiro presente do exterior. Gostaria ser uma dessas pessoas.



Mauricio vem divulgando sua mensagem sobre a importância da amizade através de seus quadrinhos e emocionou muitos jovens brasileiros, tanto em casa quanto no exterior.


As aventuras de Mônica no Japão podem ser lidas on-line em português, espanhol, inglês e japonês.