Gisou Furin (偽装不倫) acabou de ter seu primeiro volume lançado no Japão. Trata-se do primeiro mangá de Akiko Higashimura, aquela mangá-ka que deve se sentir entediada quando não produz três ou quatro séries ao mesmo tempo, o mangá é publicado em cores e pensado para celular. Li os três primeiros capítulos, foi o que eu achei em scanlations e é possível perceber o quanto faz diferença, ou seja, trata-se de um novo tipo de quadrinização também.
A série tem outra característica curiosa, ela sai quase simultaneamente na Coreia do Sul e no Japão. Na verdade, os coreanos estão alguns capítulos na dianteira, a plataforma deles publica antes. Como uma colega me explicou, trata-se de uma Webtoon aos moldes coreanos. É publicado no Japão pela plataforma Line Manga (LINE) e na Coreia no XOY (Naver).
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| Volume 1 lançado. |
Gisou furin conta a história de Shoko, uma mulher de 30 anos que desistiu de arranjar um marido. Ela constrói todo um argumento de que é possível ser feliz sozinha, ir à restaurantes sem precisar de companhia e coisas do tipo. Descobrimos, depois, que ela mora na casa dos pais e a irmã casada construiu uma casa sobre a deles. Logo, sozinha, ela não está. Como tem certa autonomia financeira, ela decide se dedicar ao seu hobby, viajar. Para onde ela decide ir? Seul.
A irmã mais velha, que casou com um homem de posses, está sempre na moda e é bonita e descolada, pressiona Shoko para que ela não desista de conseguir um marido. Shoko, no entanto, não tem vontade de continuar indo à agências e encontros amorosos. Por fim, ela consegue convencer a irmã, mediante promessas de trazer cosméticos coreanos caros, a lhe emprestar um casaco de luxo e uma bolsa. O cunhado chega com um guia de Seul e avisa para Shoko que não é comum que mulheres desacompanhadas visitem certos restaurantes na Coreia. Ela dá de ombros e segue para o aeroporto.
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| O coreano tinha ido estudar no Japão. |
Tudo parecia ir muito bem, até que Shoko encontra a aliança de casamento da irmã dentro do bolso do casaco. Do nada, um armário de bagagem mal fechado se abre e uma valise a acerta em cheio. Ela fica tonta, a aliança cai no chão e uma comissária muito polida, mas violenta a obriga a sentar. Daí, Shoko descobre que está sentado do lado de um coreano lindo e polido, o dono da valise, que se desculpa muito e encontra a aliança. Shoko termina passando a informação para o moço de que ela é casada e começa a confusão... Quer dizer, ela ganha outras proporções.
Os três capítulos que eu encontrei foram divertidíssimos. Tudo começa com Shoko deplorando o adultério, já que estavam exibindo na TV uma matéria sobre uma atriz pega no ato, e afirmando que não precisava se preocupar com isso. Desrespeitar os votos matrimoniais e tudo mais, para, mais adiante, estar tentada a se tornar uma adúltera de mentirinha. Afinal, o adultério tem seu glamour. Será?
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| Ela não desfaz a confusão. |
A maior graça foi a alucinação de Shoko, que conversa longamente com o galo na cabeça, na verdade, a luxação pula para a pia do banheiro e a faz rever toda a sua vida. Sempre foi uma mulher pouco disposta a agradar os homens, mais preocupada com seu próprio conforto e, bem, quando se interessava por um rapaz, não raro, acabava parecendo uma stalker aos olhos dele. Difícil...
Só que o coreano é uma graça e a convida para um restaurante, como forma de se desculpar. Sua irmã mais velha é a dona do lugar. Shoko se pergunta por qual motivo o primeiro lugar que visitou na Coreia é um restaurante espanhol. Não faz sentido... Bem, achei curioso que o coreano e a irmã conversem em sua língua sem se importar com a japonesa. A cor que os scanlators colocaram é diferente: preto para japonês, vermelho para o galo, azul para coreano. Eu li em inglês, não sei se há scanlations em português.
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Olha o galo lá em cima. Acho que ela vai dizer que o cunhado é marido. é de um capítulo que não li. |
Só reforçando, acho que é mais um acerto de Higashimura. Ela inova de novo, compõe para o celular e pensando nele, tudo em cores, algo que não é comum em mangá, num ritmo acelerado e gostoso de ler. Há humor e crítica social, discute-se os papéis de gênero e o choque cultural. Eu imaginei, quando li o resumo do mangá lá atrás, que Shoko era casada mesmo. Enfim, não é. Nem o rapaz parece ser. Resta saber, claro, por quanto tempo ela vai segurar essa mentirinha... acho que tem tudo para virar live action. Para ler as scanlations, clique aqui.