domingo, 27 de fevereiro de 2022

Comentando o resto da Primeira Temporada de Bridgerton: Antes tarde do que nunca!

Aproveitei a sexta-feira para terminar de assistir a primeira temporada de Bridgerton.  Tinha visto até o episódio 6, e só passado os olhos por cima do que sobrara, são 8 ao todo.  Já havia comentado até o episódio 5 em textos que falavam de alguns aspectos da série (*1 - 2 - 3*), porque eu realmente não acredito que Bridgerton, pelo menos até agora, valha o esforço de resenhar episódio a episódio.  Só para marcar, a novela das seis da Globo, Além da Ilusão, me parece bem mais interessante do que a adaptação dos romances Harlequin de Julia Quinn, mas a série me causa muito menos irritação do que Sanditon, que é vendida como Jane Austen, quando, na verdade, não é.  Eu acho menos aviltante uma série superficial e com um visual muito bonito como Bridgerton do que outra que tenta se construir como legítima representante da obra de Jane Austen.  E já escrevi muito sobre Sanditon e falei da série no podcast Café com Jane Austen, então, basta.  Não irei assistir nada do que ainda vai sair de Sanditon.

De resto, este texto atrasou porque decidi ler, nem que fosse de forma rápida, o primeiro livro, O Duque e Eu.  Já tinha começado, mas parei.  Motivo?  Tenho que comentar a tal acusação de que a mocinha, Daphne, violentou o marido.  A primeira temporada terminou faz mais de um ano, não se trata de um grande spoiler, aliás, ano passado, houve quem tenha juntado o incidente de Bridgerton e o que rola em Mulher Maravilha 1984 para fazer falsa simetria entre a forma como homens e mulheres são tratadas dentro da ficção, em especial, quando se trata de abuso sexual.  Volto a isso daqui a pouco.  

E mais um ponto, este me surpreendeu muito, porque não tinha ido atrás de spoilers, a identidade de Lady Whistledown, a fofoqueira com a voz de Julie Andrews que guia a história com seus comentários sarcásticos e indiscretos sobre a alta nobreza (the ton) e alta sociedade britânica, tenha sido revelada já nesta primeira temporada.  Segundo vi, a autora só revelou quem seria a pessoa no livro quatro.  Achei bem tiro no pé, por assim dizer, seria interessante manter o suspense, ainda que, ao  rever algumas cenas, as pistas já estivessem lá.  Eu é que não tinha percebido.  

Enfim, para quem não viu a primeira temporada, a segunda série mais assistida da Netflix em todos os tempos, ou leu o primeiro livro, Bridgerton trata da história dos quatro filhos e quatro filhas da dita família, membros da alta nobreza britânica, na Inglaterra do início do século XIX.  Cada um dos livros é focado em um dos Bridgertons e sua vida amorosa e a série parece desejar seguir o mesmo padrão.  A primeira temporada trata de Daphne (Phoebe Dynevor), a filha mais velha, então debutando na sociedade e sendo apresentada à Rainha Charlotte (Golda Rosheuvel), uma honra dada somente a um punhado de moças das melhores famílias ao país.  Apesar do seu sucesso inicial, algo que é proclamado nos escritos da misteriosa Lady Whistledown, a moça não consegue um pretendente, porque seu irmão mais velho, Anthony (Jonathan Bailey), atual visconde de Bridgerton, e conhecedor de todos os pecados e segredos dos jovens da nobreza, acaba melando todas as propostas da moça.

Concomitante a isso, Simon (Regé-Jean Page), o novo Duque de Hastings, melhor amigo do irmão de Daphne, volta à Inglaterra e se torna o solteiro mais disputado do país.  Só que ele, que tinha um relacionamento péssimo com o pai, não quer casar, tampouco ter descendentes.  Para se vingar do pai, que o rejeitara por não ser perfeito, pois o menino tivera dificuldades com a fala e teve que lutar contra a gagueira,  decide que o título irá morrer com ele.  Ele e Daphne começam um falso relacionamento, ele para afastar pretendentes, ela para atrair.  Era um jogo, mas os dois se apaixonam e acabam tendo que se casar.  Não darei detalhes.  Mas o moço avisa para a futura esposa que não pode ter filhos.  Guardem isso, ele disse que não podia, ele não disse que não queria.  É igual na série e no livro. A diferença é que na primeira noite do casal,  no livro, Daphne acreditava que o marido seria impotente, na série, isso não aparece. Como a jovem não sabe nada sobe concepção, ou sobre sexo, porque sua mãe (Ruth Gemmell) nada de útil lhe contou, ela acredita que seu marido não pode ter filhos e demora a compreender o motivo do marido não ejacular dentro dela.

É no capítulo 6 da série que a mocinha descobre que está sendo enganada, porque ela está.  Ainda que a série e o livro não se aprofundem nisso, aos olhos da sociedade, a culpa do casal não ter filhos seria dela, a esposa.  Daphne seria acusada de estéril, ela seria alvo da pena das pessoas de bom coração.  E chegamos ao ponto da controvérsia, Daphne descobre que o marido não quer ter filhos e decide obrigá-lo a lhe dar o que é direito seu, sua semente.  Ela estupra o marido?  Na série, de forma alguma.  Eles estão no ato sexual, ele está participando ativamente e ela consegue impedi-lo de praticar coito interrompido.  A partir daí, a relação harmoniosa dos dois fica comprometida.  Ele acusa a esposa de defraudá-lo, de o enganar, e que ela sabia que ele não queria filhos.  Não, ela não sabia, em nenhum momento ele disse isso.  Estou dizendo com isso que a atitude dela foi "OK", de forma alguma, mas estupro não foi.

Os capítulos 7 e 8 giram em torno, principalmente, do drama dos dois, que se amam e precisam se entender.  No original, e vou falar mais dele daqui a pouco, Simon deixa a esposa para trás, em plena lua de mel (*foram quinze dias, mas eu cheguei a achar que tinha passado mais tempo na série de TV*), e vai para outra de suas muitas propriedades, enquanto Daphne segue para a residência dos Hastings em Londres, como forma de ficar perto da família, sem causar o escândalo de se hospedar em sua antiga casa.  Na série, eles nunca se separam, ficam se bicando, seja no campo, ou em Londres.  Alguns diálogos que, no livro, estariam antes da ação de Daphne, como o duque exigindo que a esposa continue dividindo seus aposentos com ele, são apresentados como posteriores à tentativa da protagonista de engravidar do marido.  E, algo importante, as atitudes violentas e autoritárias de Simon são muito amenizadas, assim como a ação de Daphne que resultou no afastamento dos dois.  Vamos ao livro?

No livro de 2000, as coisas são bem diferentes.  Daphne descobre que está sendo enganada pelo marido e o confronta.  Eles discutem, ela se muda para os aposentos da duquesa (*cada um ter seu quarto era algo normalíssimo entre a nobreza*), ele sai e volta bêbado e ao não encontrar a esposa em seu quarto, vai até onde Daphne está e a ameaça.  Ele é o marido, ele é o seu dono, segundo a legislação vigente, ele pode obrigá-la a cumprir os seus deveres (*estuprá-la, mas para a lei não seria isso*), ele a segura com força a ponto de doer, além de ser sexualmente agressivo.  Ela continua firme e diz que ele é honrado demais para cumprir com suas ameaças. Ela diz "não" mais de uma vez e ele aceita a recusa.  Ainda assim, a autora delimitou direitinho a diferença de poder entre os dois, o fato da relação ser desigual, porque ser homem e mulher naquela sociedade estabelecia essa hierarquia.  A série ameniza as coisas, a precariedade da condição de uma esposa, mesmo rica, assim como a personalidade possessiva de Simon.  

Só que o livro dá a entender que essas características do marido, o ciúme, as exibições de possessividade seriam excitantes para Daphne, elas seriam quase uma forma de elogio.  Se ele fosse um pouco mais "insistente", ela cederia.  E isso, aviso, não é incomum nesse tipo de literatura popular para mulheres, são padrões repetidos e reiterados, modelos de masculinidade e feminilidade apresentados como ideais.  A graça, claro, e isso está em O Duque e Eu, é que a autora mistura essas informações de época com atitudes modernas, daí, não existe muita coerência nos comportamentos das personagens.  Depois desse entrevero entre os dois, Simon bebe de novo e volta muito embriagado para casa e Daphne o recebe, cuida dele, ele pede para que ela não saia do seu lado e ela vê que o marido está excitado e decide aproveitar-se disso. É aquilo que eu escrevi em um texto importante do blog, "sua boca diz "não", mas o seu corpo diz "sim"", a diferença, a novidade, é que isso foi aplicado ao mocinho.  

Diferentemente da série, onde o mocinho estava lúcido e consciente durante o ato sexual, no livro ele está absolutamente alcoolizado.  E Daphne se sente poderosa ao abusar do marido.  E, bem, estupro não tem a ver com sexo ou desejo, mas com poder.  Ainda que o poder seja transitório, afinal, lembrem que a condição dos dois não era de igualdade, ela estava à mercê dele.  Enfim, o mocinho fica horrorizado ao perceber o que aconteceu entre eles, mas é tarde demais, começa a gaguejar, se sente humilhado e foge.  Estamos em um livro, que se passa no início do século XIX, Daphne não poderia ser enquadrada em nenhum crime, mas eu esperava mais da autora, porque o que se desenrola a partir daí é uma culpabilização de Simon por se deixar escravizar pela raiva em relação ao pai morto, sem que Daphne precise sequer se desculpar pelo que fez.  Ela parece ser a vítima absoluta.  E não é porque o livro tem vinte anos que as coisas precisavam ser assim.  

Enfim, o estupro de personagens femininas é muito mais constante do que um caso isolado de mocinho sendo abusado, porque, no livro, é uma sequência que não deixa dúvidas.  Agora, personagens femininas sofrem violência sexual para que o herói, ou qualquer outro homem na história, cresça, ou tenha um ponto de virada em sua trajetória, o tempo inteiro.  Fora isso, como vocês podem ver nessa chamada para uma sequência futura da novela das seis da Globo (*imagem abaixo*), a palavra "estupro" é substituída muitas vezes por eufemismos, "transa forçada" é um deles, como se as coisas fossem diferentes por ser o noivo, namorado, ou sei lá o quê.  Deveria ter escrito "estupro" e pronto, mas o moço é tão bonito e trata-se de uma palavra tão feia...

Além disso, seja em um livro como Bridgerton, na novela que se passa nos anos 1940, ou mesmo no Catar de hoje, um estupro poderia destruir a vida de uma mulher, ou obrigá-la a um casamento com seu agressor.  Era a forma de resolver um problema sem que sangue tivesse que ser derramado, uma mulher tivesse que ser expulsa de casa, mandada para um convento, whatever.  Aliás, muito do que foi lido como histórias de sedução ao longo de séculos poderia ser enquadrado em nossos dias como estupro sem problema algum.  Pegue os relatos das aventuras de Casanova e leia com nossos olhos, ou a forma como Cécile é "seduzida" por Valmont em Ligações Perigosas.  Isso não é brincadeira e não é porque temos um número maior de personagens femininas fortes, ou empoderados, que as desigualdades entre homens e mulheres e a violência patriarcal foram anuladas.

Não entrarei em detalhes sobre como Simon e a esposa fizeram as pazes, mas é ele quem precisa se dobrar e ir atrás dela, já Daphne não é levada a refletir sobre o fato de ter abusado dele. É como a Mulher Maravilha no último filme, ela sequer se questiona sobre ser certo, ou errado, que seu amado Steve use o corpo de outro homem como hospedeiro.  De forma alguma, é um tanto decepcionante que Julia Quinn tenha escolhido esse caminho no seu livro.  Por outro lado, a série acertou ao mudar as coisas, pois livrou a mocinha da acusação de abusar do marido, ainda que muita gente tenha gritado estupro.  O que Daphne na série fez foi um ato desesperado, mas estupro não foi.  Infelizmente, ao retirar boa parte dos melhores diálogos do livro tornou a história bem rala a partir daí, além disso, a série optou, veja que curioso, por dar ao casal um filho homem, quando, no livro, nascem três meninas antes do herdeiro.

O que mais acontece nesses últimos capítulos?  Decide-se a trama de Marina (Ruby Barker), que não era personagem deste livro e que me pareceu mais uma historinha para encher linguiça, mesmo que algumas cenas envolvendo as  Featherington tenham sido interessantes.  O casamento arranjado da moça grávida com o irmão (Chris Fulton) de seu falecido namorado é usado para ilustrar que aquilo era mais a regra do que a exceção, que a condição das mulheres que perdiam sua virgindade poderia ser ruim, ou ainda pior, e que a maioria dos casamentos eram sem amor.  Colin (Luke Newton), depois de descobrir que foi usado por Marina, decepciona Penelope (Nicola Coughlan) e parte na sua Grand Tour.  Ainda falando dos Featherington, eles estavam falidos, mas o pai da família (Ben Miller) decide armar para que o amigo boxeador de Simon, Will Mondrich (Martins Imhangbe)um dos atores mais bonitos da série, aceite perder uma luta importante.  Os dois ganham dinheiro, muito, só que a alegria do pai de Penelope dura pouco e as ações do picareta terão desdobramentos desagradáveis para toda a família. 

 Já o boxeador, que aceitou a fraude para ter dinheiro para se aposentar, parece ter conseguido se sair muito bem da armação, logo ele, o elo mais fraco da corrente.  Pior, como ele é inspirado em um pugilista negro real, Bill Richmond, colocá-lo como alguém que participa de fraude foi algo bem feio.  Mondrich poderia pedir ajuda para Simon, mas diz que não queria caridade.  É mais fácil, então, se tornar um criminoso?  Ficou esquisito, porque o sujeito dava ótimos conselho para o mocinho e parecia um sujeito honrado.  Pior, ele ainda dá lição de moral no Duque de Hastings meio que o convocando a ser um bom pai de família e olhar para o mal que estava causando à Daphne.  Eu realmente não consegui gostar desse desdobramento da série.  Eu imagino que o boxeador também esteja fora da segunda temporada, Regé-Jean Page não volta mesmo e acho que ele vai se arrepender.

Falando do resto dos Bridgerton, Anthony termina por retomar o seu caso com Siena (Sabrina Bartlett) para, mais tarde, ela romper definitivamente com ele.  E a moça faz isso por saber que o romance de uma atriz com um visconde não tinha futuro mesmo.  O rapaz então decide que irá encontrar uma noiva adequada, abrindo mão de questões como o amor.  Este é o ponto de partida para a próxima temporada e já comentei o trailer.  Já Benedict (Luke Thompson) acaba se afastando dos seus amigos da pá virada e arrumando uma amante, o que afasta qualquer ideia de que o rapaz pudesse ser bissexual, ou mesmo gay, porque senão teriam que mudar muito o livro dele.  No meio de tantos irmãos, não seria mau que um deles pelo menos não fosse hetero, mas ia ter gente se rasgando de dentro para fora.  E a tomboy Eloise (Claudia Jessie), a Bridgerton mais interessante, é obrigada pela mãe a debutar, mas ainda arruma um tempo para salvar Lady Whistledown da rainha.  Eloise deve continuar aparecendo bastante na próxima temporada e torço para que ela tenha cenas interessantes fugindo da sua condição de debutante e melando os planos da família.

Enfim, durante boa parte do tempo, Bridgerton é uma série simpática e visualmente muito bonita.  O figurino não se propõe a ser fiel, mas dialoga muito bem com a moda da época que visa retratar.  Essa beleza calculada pode enervar algumas pessoas, mas eu realmente vejo mais problema na  mocinha descabelada de Sanditon.  Claro, o duque sem gravata me irrita, mas é um detalhe que dá para levar.  Agora, o grande problema de Bridgerton, que tira muito do brilho da série, foi criar a fantasia de que o racismo, a escravidão, tudo isso foi apagado por um casamento entre uma mulher negra e o rei da Inglaterra.  Eu escrevi sobre isso em um dos textos sobre a série, não lembro qual, e realmente foi (*e continuará sendo*) um desserviço.  

Se fosse tudo color blind mesmo, isto é, tanto faz a cor de pele do ator, ou atriz, porque isso não estaria em questão, seria como se ninguém tivesse cor, daria para levar.  Do jeito que colocaram, é como se Bridgerton fosse um conto de fadas, só consigo ver a série desse jeito mesmo, e dos bem bobinhos.  É isso, dia 25 estréia a nova temporada.  O trailer (*que está aí embaixo*) me lembrou Orgulho & Preconceito, vamos ver se eu confirmo o meu feeling a respeito do casal principal.

Mangá de Kageki Shoujo!! completa DEZ ANOS!

Kumiko Saiki está comemorando no twitter os dez anos de sua deliciosa série Kageki Shoujo!! (かげきしょうじょ!!), o mangá, que teve série animada no ano passado, conta a história das meninas que estudam na escola que forma as atrizes do Teatro Kouka, uma homenagem ao Teatro Takarazuka, e que tem como protagonista a menina Sarasa que sonha em interpretar Oscar, da Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら), depois de formada e efetivada.  A outra protagonista, ou quase, é Ai-chan, uma ex-idol que entra para o Kouka, porque é uma escola feminina, e  precisa superar uma série de traumas, como tentativas de abuso sexual por parte do padrasto e o descaso da mãe, e acaba se apaixonando de verdade pelo Kouka e sonhando em se tornar parceira de palco de Sarasa.

Kageki Shoujo!! Começou sua trajetória em 2002, na extinta revista seinen Jump X.  Lá foram publicados dois volumes que funcionam como uma prequel.  Mais tarde, a série se mudou para a revista shoujo Melody, que é bimestral, e deu continuidade à história original, abrindo espaço para contar as histórias das outras meninas da turma de Sarasa e Ai.  No momento, a nova série conta com #11 volumes e eu torço por uma temporada animada.  Há reviews de todos os episódios, aqui, no blog, basta clicar na hashtag e acessar tudo o que escrevi sobre Kageki Shoujo!!.  Eu realmente queria ver Kageki Shoujo!! publicado em nosso país.  Também nas mensagens, Kumilo Saiki diz estar se recuperando de uma doença, mas comenta que o mangá não parou e que as pessoas devem aguardar o próximo capítulo na edição da Melody que está para sair, além de homenagens à Kageki Shoujo!!, claro.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

My Broken Mariko está em Pré-Venda na Amazon


My Broken Mariko de Waka Hirako é um dos grandes lançamentos do ano e está previsto para 25 de março.  Já comentei o mangá mais de uma vez aqui e no Shoujocast, porque, enfim, quando li a edição norte-americana fiquei realmente impressionada e até cantei que teria filme e, sim, a adaptação já foi anunciada.  E era fácil saber, porque é um roteiro pronto.  O resumo do Amazon é o seguinte: Tomoyo Shiino apoiou sua amiga Mariko durante anos de abuso, abandono e depressão. Por mais horríveis que sejam suas circunstâncias, a amizade delas tem sido a única constante reconfortante na vida de Mariko e na de Tomoyo também. Certo dia, tomoyo é surpreendida pela notícia da morte de Mariko. Em estado de choque, ela decide descobrir o motivo pelo qual sua amiga cometeu suicídio.  Aqui, sou eu: E ela decide sequestrar as cinzas da amiga e realizar um de seus desejos, levando os restos mortais de Mariko até uma praia que ela tanto desejou conhecer.


Enfim, é um material sério, que trata de temas pesados como suicídio, abuso infantil e violência doméstica, mas que mostra, também, o valor de uma verdadeira amizade.  A leitura, no entanto, não vai fazer você terminar leve, aviso.  E tem uma história bônus no final.  Basta clicar no link no parágrafo acima para ir para o Amazon.  E é o tipo de leitura que pode ser oferecida sem problema para quem não costuma ler mangá.

Mangá-kas falam de sua intimidade em novo livro lançado no Japão

 

No dia 18 de fevereiro foi lançado no Japão o livro Shoujo Mangá-ka “Ie” no Rirekisho (少女漫画家『家』の履歴書), algo como "Nas Casa das Mangá-kas de Shoujo", na verdade, "dos", porque entre as doze artistas há um homem, Mineo Maya de Patarillo (パタリロ!).  Quem mais está no livro?  Hideko Mizuno (Fire!), Yasuko Aoike (Eroica yori Ai o Komete), Yukari Ichijo (Yuukan Club), Suzue Miuchi (Glass Mask), Yoko Shoji (Seito Shokun!), Ryoko Yamagishi (Hi Izuru Tokoro no Tenshi), Toshie Kihara (Mari to Shingo), Kyoko Ariyoshi (Swan), Fusako Kuramochi (Itsumo Pocket ni Chopin), Koi Ikeno (Tokimeki Tonight) e Ryo Ikuemi (Kiyoku Yawaku).  

Apesar da notícia ter saído primeiro no Comic Natalie, o site Gunosy olhou o livro e separou alguns comentários feitos pelas mangá-kas sobre seus mangás e seu trabalho.    Vou colocar o que acho que entendi, o que não consegui, fica de fora.  Yasuko Aoike diz que se sentiu estimulada a escrever Eroica yori Ai o Komete (エロイカより愛をこめて), enquanto tentava comprar um apartamento sendo uma mulher solteira e trabalhando para se sustentar; Yukari Ichijo diz que enquanto fazia Suna no Shiro (砂の城) ou The Sand Castle, ela chegou a construir a maquete da casa,  que é importante para a história, com escadaria e cozinha de tijolos; Suzue Miuchi conta que a experiência em uma pensão feminina lhe inspirou na hora de criar a companhia teatral de Glass Mask (ガラスの仮面); Yoko Shoji diz que fez sua grande obra prima, Seito Shokun! (生徒諸君!), em homenagem a sua mãe, que era desenhista amadora; Fusako Kuramochi fala que quanto mais desenha, mais energia tem, e que desenhar Tennen Kokekkoo (天然コケッコー), que homenageia a vila onde sua mãe cresceu, a ajudou a superar uma doença; Koi Ikeno fala que ter crescido em uma casa com várias gerações de sua família lhe deu o material e a sensibilidade para criar Tokimeki Tonight (ときめきトゥナイト); Ryo Ikuemi conta que perdeu o pai enquanto escrevia Kiyoku Yawaku (潔く柔く) e que se dedicar à jardinagem a ajudou a se recuperar.  É isso.  O livro deve ser lindo, mas é para quem lê japonês e pode se deliciar com esse mergulho na intimidade das mangá-kas.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Volume final de Chocolate Vampire terá edição especial com brindes

Chocolate Vampire (チョコレート・ヴァンパイア), de Kyoko Kumagai, teve seu último capítulo publicado na revista Sho-Comi em novembro passado.  O último volume, o 18º, chegou às lojas japonesas hoje em duas versões, a normal e outra com drama CD e um livro com cartões postais.  Chocolate Vampire começou a ser publicado em 2016 e fez muito sucesso, sendo um dos mangás mais importantes da Sho-Comi durante sua publicação.  Não leio a série, na verdade, nunca tive interesse por ela, mas o resumo que encontrei de Chocolate Vampire é o seguinte: "A escola Kagarizuki leva o nome da família que a fundou e sustenta. Os Kagarizuki tem 4 filhos e Setsu é o mais novo e é o idol da escola.  Apesar disso, Misaki Chiyo parece odiar Setsu.  A verdade é que Setsu é um vampiro e sempre bebe o sangue de Chiyo. Por que ela dá seu sangue para alguém que ela odeia? Existe algum segredo entre esses dois?" É isso.  Esses volumes especiais sempre são um presente para os fãs.  As informações vieram do Comic Natalie.

90 Anos do Voto Feminino no Brasil

Ontem, comemoramos os 90 anos da concessão do direito de voto às mulheres com a promulgação do Código Eleitoral em 24 de fevereiro de 1932.  Não foi algo dado, mas o fruto de uma campanha que se estendeu por pelo menos quatro décadas.  Bertha Lutz, uma das líderes da campanha pelo voto feminino, é mais lembrada como feminista e sufragista do que como cientista, por exemplo.  Aliás, para se ter uma ideia, nem a constituição de 1824, nem a de 1891, falavam do voto feminino, mas mesmo sem ser proibido, pelo menos na República, todas as mulheres que pleitearam o direito de votar, receberam "não".  Mesmo que os estados tivessem muita autonomia durante a República Velha (1889-1930), o governo federal invalidava as leis estaduais que ousaram permitir o voto das mulheres, como foi o caso  do Rio Grande do Norte, que elegeu a primeira prefeita do Brasil, Alzira Soriano, em 1928.

No site do TSE, há um texto historiando as discussões sobre o voto feminino e como os políticos homens se recusaram, durante um bom tempo,  criar leis que possibilitassem criar leis ou dispositivos que tocavam no assunto do voto feminino, seja para proibi-lo, ou concedê-lo a algumas mulheres.  Curiosamente, durante o Império, uma mulher, a dentista  Isabel de Mattos Dillon aproveitou-se das brechas na Lei Saraiva (1881) para conseguir tirar seu título eleitoral.  Segundo a reforma, que retirou o direito de voto dos analfabetos, todos que tivessem curso superior poderiam votar.  Mas a república veio antes que Dillon pudesse ter a chance de votar.  Eu imagino a frustração dessa mulher... 

Mesmo que as sufragistas brasileiras não tivessem utilizado métodos violentos como ocorreu na Inglaterra, ou longas greves de fome, como ocorreu no Reino Unido e nos Estados Unidos, no entanto, a campanha contra o voto feminino usou exemplos desses países para obstruir os direitos das mulheres.  Eram acusadas de querer destruir a família e provocar a anarquia na sociedade, de desejarem escravizar os homens, trocando de lugar com eles (*entendem o medo?*), havia, também, o argumento da incapacidade intelectual.  Foi um trabalho árduo e, ainda hoje, há quem queira nos roubar o direito de voto.  Tornar o voto facultativo, além de vários outros problemas, poderia ser usado por maridos, pais, irmãos, para cercear o voto feminino.  Não pensem que não.

Mas não pensem que o voto feminino nasceu igualitário.  Em 1932, o voto feminino era facultativo, enquanto o masculino, obrigatório.  Na constituição de 1934, o voto feminino passou a ser ainda mais restrito, porque só poderiam votar mulheres que tivessem um emprego remunerado e registrado, se fossem casadas, ainda precisavam da autorização do marido.  No ano seguinte, o Código Eleitoral de 1935 tornou obrigatório o voto de todas as mulheres que exercessem atividades remuneradas. Caso a mulher não trabalhasse, seu voto era facultativo.  A partir da Constituição de 1946, o voto feminino continuou facultativo para as que não exerciam trabalho remunerado.  A igualdade total só veio no Código Eleitoral de 1965, curiosamente, durante a Ditadura Civil Militar.  E, não, não se trata de um elogio, até porque, como argumentei, foram anos e anos de luta das mulheres e alguns homens para que as restrições fossem derrubadas.

Este ano, teremos eleições.  O voto feminino é muito importante, não porque as mulheres formem um bloco monolítico, mas por serem maioria da população.  É preciso votar com consciência e eleger mais mulheres.  Sim, representatividade importa.  Agora, é preciso ter atenção à qualidade dessa representação, também, não basta ser quantitativa, ela precisa ser qualitativa.  Então, é isso, 90 anos do direito de voto.  Se você for prestar vestibular, é um dos temas quentes do ano junto com a Independência do Brasil.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Coisas Atrasadas: Saiu o trailer da Segunda Temporada de Bridgerton

Bridgerton, série baseada nos livros de Julia Quinn, fez um enorme sucesso na Netflix e a segunda temporada estreia no dia 25 de março.  Acredito que a demora seja por causa da pandemia, porque tivemos que esperar mais de um ano para ver o retorno do seriado.  Se na primeira temporada a protagonista foi Daphne (Phoebe Dynevor), a mais velha das filhas da família Bridgerton, a segunda temporada terá como protagonista Anthony  (Jonathan Bailey), o irmão mais velho e atual dono do título de Visconde.  

Se na primeira temporada, ele estava tendo um caso atribulado com uma atriz, agora, ele está em busca da esposa ideal e seus interesse recai sobre a jovem Edwina (Charithra Chandran), mas é com sua irmã mais velha, Kate (Simone Ashley), que ele vai ficar.  As irmãs tem ascendência indiana e continuaremos levando adiante aquele ideia estapafúrdia de que o casamento da princesa Charlotte, que é negra na série, com George III criou um mundo sem preconceitos raciais.  Isso me dá nos nervos, mas sigamos.

Olhando o trailer, senti no ar um clima de Orgulho & Preconceito.  Espero estar certa, porque Bridgerton é bem divertido boa parte do tempo. A parte desagradável, eu descrevi acima.  Outro ponto que será debatido nessa temporada é a identidade de Lady Whistledown, que, segundo o site Adoro Cinema, é Penelope (Nicola Coughlan), uma das vizinhas dos Bridgertons.  Já  Regé-Jean Page, que fez o duque marido de Daphne, não volta mesmo.  Acho que ele errou ao sair da série e, talvez, venha a se arrepender no futuro.  Enfim, espero que o planejamento de Bridgerton não seja de oito temporadas, porque, muito provavelmente, eu irei largar antes.  Aliás, ainda nem terminei de ver a primeira temporada.  Faltam dois episódios.  Tentarei assistir antes de 25 de março e fazer mais um texto, meio que como um esquenta para o que virá.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Saiu o trailer de Metamorphose no Engawa

Metamorphose no Engawa (メタモルフォーゼの縁側), de Kaori Tsurutani, é um belo mangá que recebeu várias premiações e terá filme estreando este ano no Japão.  A história da série é a seguinte: Ichinoi, uma mulher de 75 anos que vive uma vida tranquila até comprar sem querer um mangá BL… ela fica fascinada com o que encontra dentro. Quando volta à livraria para comprar o próximo volume, uma colegial que trabalha lá – Urara, que é uma fujoshi (fã de BL) – detecta uma principiante quando vê uma. Urara, então, se oferece para ajudar Ichinoi a explorar todo esse novo mundo de ficção, as duas mergulham juntas no fandom de BL e formam uma amizade improvável ao longo do caminho.  O trailer saiu ontem.  

 Mana Ashida interpreta Urara e Nobuko Miyamoto é Ichinoi.  O trailer revelou mais nomes do elenco: Naniwa Danshi's Kyōhei Takahashi, Kotone Furukawa, Tomoko Ikuta, Ken Mitsuishi, Yuki Shioya, Taeko Itō, Asumi Kikuchi, e Shūtarō Ōoka. 

Metamorphose no Engawa teve cinco volumes e seria uma escolha excelente para sair no Brasil.  Apesar de ter toda essa temática, de ter entrado na lista feminina do Kono Manga ga Sugoi! 2019, a série não é rotulada como josei, ou shoujo, ela começou a ser publicada na internet e, mais tarde, foi transferida para a Newtype.  Para maiores informações, recomendo o ANN, ou o Comic Natalie.


domingo, 20 de fevereiro de 2022

Autora de Perfect World vai lançar um mangá seinen

Rie Aruga, de Perfect World (パーフエクトワールド), anunciou no Twitter (*vi no ANN primeiro*) começará no dia 24 de fevereiro um novo mangá na revista Morning.   A série se chamará Koujou Yakei (工場夜景) e tem como chamada "Verão dos 17 anos.  Aquele incidente mudou tudo."  Espero que ela não abandone os mangás femininos, mas, provavelmente, ela está mudando de demografia, porque Perfect World, que em breve sairá no Brasil pela Newpop, furou a bolha e fez sucesso com o público masculino?  Quase sempre quando isso acontece, a autora migra para o seinen, porque as mulheres leem shounen e seinen, mas os homens tem muita dificuldade em consumir mangás femininos.  

Nas revistas seinen normalmente as autoras fazem praticamente o mesmo que faziam nas revistas shoujo e josei, mas, agora, nenhum hominho vai ficar receoso de ler o material e comprá-lo. Fora isso, em uma revista que é lida por todos, elas podem conseguir maior visibilidade, o que nem dempre acontece. Basicamente é isso.  Tomoko Ninomiya fez seinen depois de terminar Nodame Cantabile (のだめカンタービレ) e voltou ao josei, já Fuyumi Soryo, de Mars (マース), foi e não voltou mais.  Moyoco Anno publica em praticamente todas as demografias sem problema algum, já Akiko Higashimura faz de tudo, mas teve problemas com um mangá exatamente em uma das revistas Morning, acusada de desrespeito para com os homens.  E uma revista josei, não passaria este constrangimento, porque os homens se sentiram ofendidos por seu senso de humor.. Enfim, espero que Rie Aruga tenha sucesso.

Discutindo o caso Flow: A Juventude Estendida tem Cor, Classe e Gênero

 

Por absoluta falta de tempo e cansaço, tenho escrito muito pouco sobre temas relevantes.  Um deles foi o caso Flow, que você deve saber do que se trata, se não estava em outro planeta nas duas últimas semanas, quando em nome da liberdade de expressão irrestrita, o apresentador, e então dono do podcast, Monark e o deputado Federal Kim Kataguiri defenderam o direito à existência dos nazistas, de um partido nazista no Brasil e, no caso do parlamentar, disse que ACHA que a Alemanha ERROU ao criminalizar a ideologia de Extrema-Direita.  Sim, defendeu o direito de existência de uma ideologia que, por princípio, prega o extermínio de segmentos inteiros da humanidade e já teve pelo menos uma oportunidade de tentar executar esse plano em escala industrial.

Desde o dia 7 de fevereiro, muita água já rolou debaixo dessa ponte, gente muito melhor que eu comentou o caso, o Ministério Público se pronunciou, e o MBL, grupo ao qual Kataguiri pertence ameaçou os críticos à postura do deputado com assédio judicial, Monark saiu do Flow, vendeu sua parte na empresa e se viu bloqueado de monetização ao tentar abrir um novo canal no Youtube, o que lhe mostrou que ele não é capitalista, porque ele não é dono dos meios de produção.  

Não é meu objetivo, no entanto, discutir nazismo, ainda que eu lamente que a Tábata, que fez lá o papel dela, porque arrancou o "Acho" do Kataguiri em relação à Alemanha, mas gostaria de marcar algo importante, o Nazismo não é somente antijudaico.  Os judeus são o alvo número um dos nazistas, foram suas maiores vítimas em termos quantitativos, mas esta ideologia condena à destruição todos os que considera ameaça e/ou inferiores.  Aliás, antes de matar os judeus, antes da Solução Final, começaram matando pessoas com necessidades especiais e problemas psiquiátricos, além de adversários políticos, como os socialistas, comunistas e até os pacifistas e liberais que se manifestavam contra o regime de alguma forma.  Foram enviados para campos de concentração e de extermínio, homossexuais, ciganos (*que foram mortos em larga escala*), testemunhas de Jeová, poloneses etc.  Aliás, os nazistas usaram como cobaias, tanto judeus, quanto eslavos e mesmo prisioneiros de guerra.  Provavelmente, você que está lendo este texto não teria o direito de existir em um mundo gerido pelos nazistas, não importa o que aquele coleguinha whitepardo da internet lhe falou.  Não teria MESMO.  Mas vamos ao ponto do texto.

Assistindo gente comentando o caso do Nazismo no Flow, e estou ouvindo a  Márcia Tilburi nesse momento (*vídeo abaixo*), é sempre curioso como gente de mais de 30 anos, ou perto de, é tratado como muito jovem.  Quando eu penso em muito jovens, penso em adolescentes, meus alunos e alunas, se o sujeito está no limite dos 30, é um adulto que teve tempo de aprender alguma coisa, mesmo que possa mudar de posição, afinal, enquanto há vida, há esperança, sobre suas ideias problemáticas.  Sim, eu acredito nisso, e a Tilburi cita o Felipe Neto para reforçar esse ponto.  

Curiosamente, todos os muito jovens aos 30 anos do nosso século XXI, porque houve momento em que não foi assim,, são socialmente brancos e de classe média para cima.  O menino ou menina negro, ainda mais agravado pela pobreza, aos 11 anos já teria idade suficiente para saber o que quer.  Aliás, comentei como essa ideia estava presente na infeliz novela Nos Tempos do Imperador (*e voltarei a falar dela hoje*), uma construção contemporânea sobre o século XIX, que ao retratar a menina negra de 12 anos a colocou como rival da branca de 20 e poucos por um macho e plenamente responsável por seus atos.  Aos 18-20, na segunda parte da novela, ela não era tratada com a mesma complacência das outras personagens femininas brandas de sua idade.  Ela era apresentada como capaz o suficiente para saber perfeitamente o que era certo e errado, além de sexualmente madura.

Outro ponto importante desse caso todo, e volto à adolescência/infância estendida daqui a pouco, é que ao delimitar o nazismo como uma ideologia contra os judeus, limitando a sua dimensão, o que a Tábata possibilitou discursivamente foi a mobilização de todas as entidades judaicas de tendências políticas das mais opostas e grupos que se dizem a favor dos judeus (*e recomendo o canal do Prof. Michel Gherman para a discussão da construção do judeu imaginário*) contra Monark e Kim Kataguiri.  Esse clima deve ter pesado inclusive para que a Record cancelasse a reprise da novela Vitória, que tem neonazistas como vilões, temendo que, assim como ocorreu em 2014, oparte da audiência pudesse torcer pelos malvados, afinal, há quem seja simpatizante e quem acredite que ser nazista é OK.  Enfim, louvo a mobilização, mas veio na esteira dela o discurso de que quando Monark foi racista, a coisa passou batida, era exercício da liberdade de expressão, mesmo sendo crime no Brasil.  

Esta constatação não veio acompanhada, na maioria das vezes, da reflexão sobre o fato do Holocausto dos judeus ser amplamente divulgado, de que ele mexe com algumas das culpas de muitos países que fecharam os olhos ou invejaram os atos de Hitler, assim como a influência econômica de alguns grupos judaicos ou que assim se veem etc.  O que eu li e ouvi muito foi "Pena que os negros não são tão bem organizados!" "O Movimento Negro precisa aprender com as organizações judaicas!".  Resumindo: negros, vocês precisam se esforçar mais, ou suas pautas nunca serão reconhecidas.  Ora, com isso se esquece o racismo estrutural, a falta de simpatia social e das mídias com as demandas dos negros e negras, a acusação de mi-mi-mi.  

O antissemitismo é prevalente e está em todo o lugar, mas o Holocausto é reconhecido simbolicamente como um crime descomunal contra toda a humanidade e dá legitimidade às reclamações JUSTAS da comunidade judaica, já a escravização dos negros e negras e o racismo decorrente de 300 anos dessa instituição é naturalizado como algo que foi fundamental para a construção do Brasil.  Aliás, o deputado Kim Kataguiri, sim, ele mesmo, acabou de protocolar esta semana uma proposta para acabar com as cotas étnico-raciais, porque elas seriam desnecessárias.  Ele disse que "A pobreza não tem cor", isso é parcialmente verdade, mas o racismo existe e atua de forma muito pesada, inclusive cooptando negros e negras a acreditar que sua cor não lhes trará desvantagens em nossa sociedade.

Voltando, o que estou enfatizando no caso da juventude estendida, é que não se trata se complacência neutra, ou de infância/adolescência estendida para todos como alguns veículos de comunicação gostam de vender (*EXEMPLO*).  É como o povo que começou a estudar a construção da infância e, mais tarde, da adolescência, e apontou que é algo ligado à sociedade burguesa e sua constituição, um fenômeno, portanto, do final do século XVIII.  O livro fundamental, caso você queira dar uma olhada é História Social da Criança e da Família, do Philippe Ariès (*Tem no Amazon e nos sebos por aí muito mais barato.*)  Discordo e muito desses estudos generalistas, ainda que sejam um marco na historiografia e há bons estudos mostrando que o conceito de infância não foi crido pelo capitalismo e que há várias possibilidades de infância, mas, enfim, o que volta e meia esses estudos fundadores perdiam de vista é a questão de classe, eram europeus falando, a qual poderíamos acrescentar, no caso do Brasil, a racial, também.

A infância burguesa é delimitada com uma certa rapidez, mas para os pobres, continuou valendo a ideia de que tão logo pudessem andar já estavam aptos ao trabalho.  Da mesma forma, ainda se viam execuções de crianças no início do século XIX, todos não pertenciam à burguesia.  Casamentos de meninas no limite da puberdade ainda ocorriam com certa frequência, mesmo dentro das casas reais.  Crianças brancas trabalhavam em minas e fábricas, garotos pobres ainda eram vistos nos exércitos e marinhas, meninos e  meninas negros trabalhavam nas lavouras de café e em outras tarefas relegadas aos escravizados.  A infância protegida, a adolescência tranquila, às vezes, a juventude dos moços ricos estendida  por viagens e lazeres, era para poucos no século XIX e XX.  


Um Monark (31 anos), um Kim (26 anos), uma Tábata (28 anos) poderão alegar juventude por muito tempo ainda.  Mais eles do que ela, porque o fato de Tábata Amaral ser mulher, ainda que mais jovem que Monark, ou que um Felipe Neto (34 anos), torna seus deslizes e opções questionáveis muito mais criticáveis do que as de seus colegas homens e as críticas, mesmo que justas, a ela vem normalmente carregadas de machismo e até misoginia.  Como mulher, ela tem o DEVER de amadurecer mais rápido e de ser capaz de discernir sobre temas que os meninos, coitados, não tem como compreender ainda.  Fora isso, o fato dela ser mulher parece obrigá-la a ser mais empática do que seus colegas homens.  Existe uma natureza feminina que nos obrigaria a ficar do lado certo, a amar, ou sermos consideradas monstros anormais.  Isso aqui renderia outro texto e, não, não estou defendendo Tábata, não a vejo com os mesmos olhos de um texto que fiz sobre ela meses atrás. Considero Tábata um elemento realmente desagregador, perigoso até, mas que parece atraente diante de tanta irracionalidade. 

De qualquer forma, as elites protegem os seus, ou os propagadores úteis de ideias que lhe são interessantes.   Porque como Monark está descobrindo nesses últimos dias, ele não é um capitalista, ele é uma engrenagem do sistema que pode ser descartada, se for interessante à manutenção da ideia de que somos civilizados e não compactuamos com o mal, mesmo que enunciado por um sujeito imbecilizado por anos e anos de preguiça mental e superproteção.  Não colou dizer que estava bêbado.  Infelizmente, talvez o deputado, alguém que por ocupar função pública precisa ter um cuidado especial com o que fala, saia bem mais tranquilo dessas história.  É um menino, enfim... 

Racismo nos bastidores de Nos Tempos do Imperador ou, ao que parece, os Autores eram um Problema Menor

Infelizmente, volto a comentar sobre Nos Tempos do Imperador, a cada vez mais infeliz recém terminada novela das seis da Globo.  Já em um dos meus últimos textos sobre a novela, comentei sobre o péssimo final da personagem Lupita, de Roberta Rodrigues, uma das melhores da trama, e que a desculpa oficial, a atriz estava com COVID e não pode gravar o final previsto, tinha sido desmentida pela própria nas suas redes sociais,agora, sabemos que foi uma forma de punição.  Mas logo vieram as acusações de racismo nas gravações e, agora, veio a notícia, replicada em vários sites (*Exemplo: Blog do Arcanjo, F5, Notícias da TV, Metrópoles, Correio Braziliense*) de que o diretor, Vinicius Coimbra, tinha sido afastado.  Todas as matérias replicam-se umas às outras, então, lendo uma, você já tem boa parte das informações.  Como o diretor estava responsável pela substituta de Além da Ilusão, Mar do Sertão, e a mudança já provocou algumas alterações para que a novela atual possa ficar no ar, se necessário, por mais algum tempo, dando tempo para a arrumação da novela que virá depois.

Segundo as notícias, as atrizes Cinnara Leal (Justina), Dani Ornellas (Mãe Cândida) e Roberta Rodrigues, além de um figurante chamado Ricardo Lopes fizeram uma série de denúncias.  Quais seriam elas?  O diretor usava termos racistas.  No caso de Ricardo, o diretor se recusava a chamá-lo pelo nome, usando "escravo 1", mesmo depois de uma assistente corrigi-lo.  Os camarins do elenco branco e negro eram separados, sim, separados por cor.  E quando do incidente da constrangedora cena de racismo reverso, o diretor constrangeu as atrizes a se posicionarem publicamente a favor da novela em suas redes sociais, algo que elas não fizeram.  Achei curioso que Heslaine Vieira (Zayla) nãos seja citada nessas acusações, tampouco os atores homens.  Será que nenhum deles se sentiu ofendido com a segregação?  O acusado não agredia todos os atores negros?  Ele escolhia figurantes e mulheres?  Maicon Rodrigues, o Guebo, é citado em algumas das matérias como o responsável por acalmar as coisas.

O fato é que as denúncias só foram levadas à sério depois de muito tempo e a situação foi agravada, porque as atrizes teriam se queixado sobre o ocorrido aos diretores Ricardo Waddington, de Entretenimento, e José Luiz Villamarim, de Dramaturgia, que garantiram que providências seriam tomadas.  Como nada foi feito, as atrizes registraram uma reclamação formal no setor de compliance da Globo e teriam recebido o apoio de Letícia Sabatella (Imperatriz Teresa Cristina) e Gabriela Medvedovsk (Pilar). Segundo todas as matérias, Roberta Rodrigues e Dani Ornellas estão fazendo acompanhando psicológico e psiquiátrico tamanho o dano sofrido.  E, como também foi relatado, o diretor teria sido racista em outras tramas e o currículo dele é extenso contando com tramas com um elenco negro grande para os padrões da Globo, como Novo Mundo, Liberdade, Liberdade e Lado à Lado.

É muito chocante que uma novela que se propôs a apresentar um casal interracial com homem negro e mulher branca, o que inverte as hierarquias, ter um grande elenco negro e criticar o racismo e a escravidão seja esse poço sem fundo de absurdos e, talvez, crimes.  E acaba sendo uma ironia que uma novela que tentou se vender como engajada em causas sociais, era produzida em um ambiente de violência racista e, eu aposto, machista, também.  Segundo matéria de Camila Silva para a Carta Capital, ao reclamarem as atrizes teriam ouvido "“Não tem nada disso. Vocês deveriam agradecer por estar aqui”. E essa resposta não só teria sido dada apenas pelo diretor como também corroborada por outras pessoas da equipe/elenco, que inclusive chamaram as reivindicações de “mimimi”"  Talvez resida aí o silêncio de outros atores e atrizes negros do elenco, o medo de não serem chamados para outras tramas.  Mas e os brancos?  Por que somente duas atrizes brancas se posicionaram?  E, sim, o trio que denunciou vem usando suas redes sociais (*imagem abaixo*) para se posicionar sobre o caso, sempre de forma cuidadosa, porque a pressão sobre elas deve ser enorme.

Enfim, quanto mais se mexe nesse caso, fica mais evidente que não havia como Nos Tempos do Imperador dar certo.  A novela tinha uma história fraca, autores que pareciam não ter pesquisado o suficiente, ou dar pouca atenção aos contratados para fazer essa parte, e um diretor que é acusado de racismo.  Como discutir com propriedade temas como escravidão e racismo estrutural em uma situação como essa?  E não pensem que diretores não tem poder em relação às novelas que dirigem, porque não é assim.  No livro A Seguir Cenas do Próximo Capítulo, Carlos Lombardi reclama em sua entrevista do excesso de poder dos diretores e de como interferem nas novelas.  

Provavelmente Nos Tempos do Imperador nunca mais será reexibida e torço para que não exista um fechamento dessa infeliz trilogia.  E termino dizendo que temo pelo futuro dessas atrizes, porque elas podem ficar marcadas e termino citando outro trecho do artigo de Camila Silva: "O racismo no Brasil funciona assim. Enquanto a atriz branca, protagonista da novela segue sua vida feliz, e registra a emoção de mais uma trama finalizada em rede nacional, a atriz negra que conseguiu se destacar mesmo numa novela ruim, tem sua personagem desumanizada e eliminada da novela após denunciar o racismo sofrido nos bastidores. Assim como a atriz branca, ela também usa suas redes sociais para falar de emoção MAS porque é o único canal que tem para desabafar e se reerguer diante de tamanha violência sofrida no exercício de sua profissão durante meses. (...) Mas o silenciamento também é isso. É você lidar com racismo explícito de forma velada. É ter que ser tão estratégico para combater a violência, que não pode falar diretamente dela, até que alguém acate sua denúncia, até que alguém investigue o racista. Caso contrário, ainda periga o racista vir com um processo em cima de você."  Nos Tempos do Imperador é uma mancha, uma ferida aberta, mas não deve ser uma exceção, infelizmente.

ATUALIZAÇÃO (25/02): ""Em um dado momento, Vinicius gritou no estúdio: 'O elenco vem comigo, os pretos ficam'. Na frente de várias pessoas. Quando alguns artistas pretos foram questioná-lo sobre essas falas, ele reagiu dizendo: 'Vocês deveriam agradecer de estarem aqui'", disse uma outra fonte ligada ao elenco.".  Quanto mais leio sobre essa história, mais raiva eu sinto.  E me pergunto por qual motivo somente TRÊS ATRIZES, TRÊS MULHERES, que tinham papel de destaque se manifestaram.  E os outros?  E os atores negros?  Recomendo a nova matéria sobre essa nojeira que foi publicada no Notícias da TV: Diretor da Globo acusado de racismo obrigou negros a gravar em pico de Covid.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Ranking da Oricon - Semana 07-13/02

Saiu o ranking da Oricon e, ao que parece, a onda em torno de Mystery to Iunakare se aplacou.  No top 30, não há mais nenhum volume da série de Yumi Tamura, como não vi o top 50, não posso garantir, mas é 99% de certeza de que eles estão lá, o que no mercado japonês é muita coisa.  Enfim, no ranking dos mais vendidos da semana temos três josei, Chihayafuru, que não conseguiu arrancar o topo da lista de My Hero Academy, Utagawa Hyakkei, nova série de Akimi Yoshida e que é spin-off de  Umimachi Diary, e Shinya no Dame Koizukan, que nem sabia que ainda estava sendo publicado ainda, teve dorama em 2018 e, infelizmente, não tem scanlations (*eu procurei MUITO*).  E é isso.

1. My Hero Academy #33
2.Chihayafuru #48
3.Kami-tachi ni Hirowareta Otoko #8
4.Death March kara Hajimaru Isekai Kyousoukyoku #13
5.The Fable - The Second Contact #2
6.Tensei Shitara dai Nana Ouji dattanode, Kimamani Majutsu o Kiwamemasu #6
7.Isekai Kenja no Tensei Musou - Game no Chishiki de Isekai Saikyou #5
8.Yowamushi Pedal #76
9.Owari no Seraph #26
10.Jujutsu Kaisen #18
13. Utagawa Hyakkei #2
17. Shinya no Dame Koi Zukan #9

Ōoku recebe o 42º Prêmio de Ficção Científica Japonês

Ōoku (大奥) de Fumi Yoshinaga acabou de receber mais um prêmio, sim, a série, um dos meus mangás favoritos, acumula vitórias desde sua estreia na revista Melody em 2004: 10º Prêmio de Excelência da Divisão de Mangá do Festival de Mídia da Agência Cultural, 13º Prêmio Cultural Tezuka Osamu, Prêmio James Tiptry Junior (EUA), o primeiro prêmio de mangá da revista Anan, 56º Prêmio Shogakukan Mangá na categoria Shoujo, 5º Prêmio Especial do Sense of Gender Award (EUA).  Sim, Ōoku é considerado uma série de ficção científica, porque cairia no sub-gênero ficção científica social, isto é, em que o mais importante é discutir as múltiplas possibilidades de sociedades e papéis de gênero.  Normalmente, esse tipo de história é o sub-gênero favorito de mulheres escritoras de ficção científica, a diferença é que, como o Comic Natalie descreve a série como drama histórico, é uma sociedade do passado.  E, claro, também é um exercício de ucronia, isto é, de História Alternativa.  Resumindo, Ōoku cai em dois subgêneros de SF.

Para quem não conhece a série, e tenho todas as resenhas do volume 1 ao 18 no blog, o último volume só sai nos Estados Unidos em março, agora.  Ōoku descreve um Japão no qual todos os Shogun, ou a maioria, foram mulheres, porque uma praga, a varíola vermelha, se espalhou no Japão no início do século XVI e dizimou a população masculina, especialmente, a jovem.  Sobraram somente 1/5 dos homens do país e as mulheres tiveram que ocupar os espaços antes masculinos, seja os de poder, ou os do mundo do trabalho, e reinventar a sociedade.  Tudo é como no Japão do Shogunato Tokugawa salvo por alguns detalhes, por isso ser história alternativa, porém, Yoshinaga se colocou o desafio de fazer o que não é feito nesse sub-gênero que é criar um ponto de divergência (*a prega*) e um ponto de convergência, pois os homens voltam ao poder e apagam qualquer lembrança do Shogunato das mulheres.  Pensei que Yoshinaga iria se enrolar no final, mas ele se saiu muito melhor do que eu esperava.  Aliás, só mostra o quanto ela é uma excepcional contadora de histórias.

Mas o que é o Ōoku?  É o harém do Shogun.  O Ōoku era formado por mulheres, claro, mas o do mangá, por uma legião de homens.  Em um mundo com falta de homens, a maior demonstração de poder é ter um monte deles somente para si, alguns sem a possibilidade de sequer chegar perto da sobrenada.  Somente alguns deles poderiam ser escolhidos para compartilhar o leito da soberana e, mesmo assim, até uma determinada idade, 35 anos.

Muito bem, a série terminou em dezembro de 2020 e o 42º Prêmio de Ficção Científica abrange obras que tenham sido publicadas entre 1 de setembro de 2020 e 1 de agosto de 2021.  A premiação acontecerá em 16 de abril na  Tsutaya Books em Daikanyama, Tokyo, em um evento chamado SF Carnival e será transmitido no Youtube pelo canal do Clube de Escritores de Ficção Científica e Fantasia do Japão.  Devidamente encerrado, agora já dá para defender o lançamento de Ōoku e eu torço para que a série receba outras adaptações para live action, já houve um dorama e dois filmes para o cinema.  Como Ōoku é feito de arcos, porque o harém é o personagem principal, dá para pegar os pedacinhos da história sem que ninguém fique perdido.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Sazanami Aoshi ni Shojo o Sasagu ~ Sā, Jikkuri Medemashou ka: Anunciado novo anime TL + resenha dos primeiros capítulos

Não sei qual o critério de escolha de mangás TL (teen love) para adaptação para anime feita pelo Comifesta.  O que eu sei é que há um oceano de mangás divertidos e interessantes e que dariam ótimas adaptações.  Por outro lado, os animes do Comifesta tem uma qualidade tão baixa, começando com os capítulos micro de 6 minutos, que é melhor se manter longe de séries de qualidade.  

Enfim, a bola da vez é Sazanami Aoshi ni Shojo o Sasagu ~ Sā, Jikkuri Medemashou ka (漣蒼士に処女を捧ぐ~さあ、じっくり愛でましょうか) de Aki Murakami, segundo o Comic Natalie.  O nome em inglês da série é Offering My Virginity to a Gangster (Oferecendo minha Virgindade para um Gangster).  Sim, é importante frisar que é a mocinha quem oferece e dentro da lógica desse tipo de história, com a garota inocente se relacionando com um mafioso, isto é notável, porque via de regra o sujeito é que força a barra.  Mas vamos ao começo do mangá?  Eu li quatro capítulos e não sei se vou continuar, mas o Bato.to tem 23 capítulos da série até o momento.  

Nossa protagonista se chama Nagisa, é muito bonita, mas tímida e nunca teve um namorado.  O grande dilema de sua vida é ser virgem.  Às vésperas de completar 26 anos, ela decide fazer a viagem de sua vida e começa a empreitada descolorindo o seu cabelo.  O melhor amigo da moça se chama Dai e é um policial.  Ele fica preocupado com a moça, que parece ser uma típica cabeça de vento e diz que se ela tiver algum problema, deveria lhe ligar.  Ela desembarca em Macau, outrora colônia portuguesa e atualmente famosa por seus cassinos e outros empreendimentos de "lazer", e roubam sua carteira sem que ela perceba.

Nossa mocinha está sozinha e desesperada e aparece um homem lindo e super elegante.  Ele se oferece para ajudá-la, a impede de ligar para o amigo policial e lhe faz uma proposta.  Ele é o gangster, vocês sabem, e polícia não é com ele.  Em um mundo real, essa coisa iria terminar muito mal, mas estamos em um mangá TL bem descerebrado.  O que ele quer dela?  Ele tem uma reunião super importante (*com um monte de outros bandidos*) e precisa aparecer com uma mulher.  Ele poderia contratar uma, imagino, mas ele prefere a bela Nagisa e pede que ela finja ser sua esposa.  Sim, nem é namorada, é esposa mesmo.  Como a mocinha não tinha nada o que fazer mesmo e não vê nada de suspeito no cara, ela aceita.

O sujeito, que se chama Sazanami, dá um banho de loja na moça e ela vira a mulher mais atraente da tal reunião, que parece ter um monte de macho sem par.  Um dos sujeitos acusa Sazanami de ter contratado Nagisa, o gangster diz no ouvido da moça que os caras na reunião falam japonês.  Após tremer um pouquinho, a moça assume um ar muito tranquilo e fala para o sujeito que é esposa de Sazanami, que fica fascinado com o sangue frio de Nagisa.  A seguir, o outro cara faz a proposta de um jogo de poker e o prêmio seria a moça.  Sazanami se faz de ofendido, mas aceita.  Ele aposta a moça, isso não é nada legal.  Repito, isso não é legal.

Ele ganha, claro.  Nagisa reclama, mas o sujeito lhe oferece um jantar espetacular.  Depois, ele a leva para o hotel.  Lá, é super respeitoso, mas ela faz a proposta, quer que ele tire sua virgindade.  Ele fica surpreso, ele pergunta se ela tem certeza várias vezes ao longo das preliminares e ela se mostra muito segura sobre o que quer.  Apostou a moça no jogo, mas no sexo, ele sabe o significado de consentimento.  OK.  A moça apaga durante a transa por excesso de orgasmos.  Parece ser um clichê da demografia, já vi mais de uma vez.  



Ao acordar no outro dia, Nagisa percebe que sua carteira está lá no criado mudo, intacta, inclusive com a passagem de volta.  Ela olha com carinho para Sazanami, se veste e vai para o aeroporto e volta para o Japão sem que nenhum dos capangas do sujeito a impeça.  Vários dias se passam, nossa mocinha está lá lembrando de Sazanami e que nada na sua vida mudou.  Um belo dia, ela está na rua e quem aparece?  O próprio.

E é engraçado o encontro dos dois, porque ele a confronta com muito bom humor.  "Você usou meu corpinho e me jogou fora!  Saiu sem dizer uma palavra!"  "Era um relacionamento de uma noite.", diz a mocinha.  Isso é muito surpreendente, tanto quanto a história dela oferecer a virgindade para o sujeito de forma aberta.  O problema é que Nagisa não parece ser o tipo de mocinha decidida que faria isso e bancaria a posição.  E ele insiste que para ele, ela é sua esposa de verdade.  O que vem depois?  Ele faz uma proposta para Nagisa, que ele permita que ele a faça se apaixonar por ele em 3 meses, se não acontecer, ele vai embora.

E eu parei de ler. Veredito?  É ruim, mas tem seus momentos divertidos.  Colocar na boca se Sazanami algumas falas que seriam típicas da mocinha, foi interessante.  Agora, o comportamento de Nagisa é temerário no início da série. E, sim, acho que o melhor amigo deve querer ser algo mais e deve se enfrentar com o mafioso.  É isso por enquanto.  Comparado com o outro anime que está para sair antes deste, 3-Byogo, Yaju.~ Goukon de Sumi ni Ita Kare wa Midarana Nikushoku Deshita (3秒後、野獣。~合コンで隅にいた彼は淫らな肉食でした), até que Sazanami Aoshi ni Shojo o Sasagu ~ Sā, Jikkuri Medemashou ka parece um passatempo de alguma qualidade.