quinta-feira, 30 de junho de 2022

Drag Race France faz homenagem à Rosa de Versalhes

 

O anime da Rosa de Versalhes  (ベルサイユのばら), ou Lady Oscar, fez um sucesso imenso na Itália e as referências visuais à animação, mais que ao mangá, são bem comuns.  No caso da França, o anime também causou grande impacto, mas é mais raro a gente encontrar referências explícitas à série.  Só que elas aparecem e me avisaram no Twitter que uma das drags competindo na versão francesa de Rupaul's Drag Race homenageou a abertura do anime.


Aqui, mais uma imagem: 

Paloma (*Instagram - Twitter*) parece gostar do século XVIII, porque em sua foto de perfil na competição ela usa uma referência aos famosos poufs de Maria Antonieta.

Sim, na década de 1770, início da 1780, os penteados altíssimos eram moda e a rainha da França utilizava seus penteados para marcar posição política, entre outras coisas.  A Modista do Desterro fez um vídeo sobre isso, mas não achei qual é, mas visitem o canal, porque é muito bom.  

No caso desse penteado, ele homenageia o navio Belle Poule e faz referência ao apoio militar francês aos norte-americanos que lutavam por sua independência.  

Chihayafuru já tem data para terminar

Yuki Suetsugu comunicou no seu Twitter que Chihayafuru (ちはやふる) irá terminar em 1 de agosto.  Sim, ao que parece, agora é para valer mesmo.  A série se encerra, portanto, com 50 volumes e o último encadernado será lançado no inverno japonês.  Imagino o quanto a autora deve estar se sentindo feliz, ansiosa e até com medo, porque ela está publicando esta série desde 2007.  Antes disso, a autora esteve envolvida em um doloroso processo de plágio (*tracing de fotografias e das cenas de basquete de jogo de basquete de um autor muito importante*), que quase colocou fim a sua carreira.  Aliás, era o que muita gente esperava.  Ela deu a volta por cima e em grande estilo.

Chihayafuru conta a história de uma adolescente, Chihaya, que acaba encontrando sentido para sua vida ao desejar se tornar a melhor jogadora de Karuta do mundo.  Karuta, um jogo de cartas tradicional japonês, virou febre novamente e a série estourou a bolha do josei e se tornou um grande sucesso tendo várias temporadas de anime, filmes para o cinema e eventos dos mais diversos.  Com o término no mangá, imagino que ainda tenhamos mais adaptações colocando em animação ou em live action os acontecimentos que fecham a série.  Há quem queira Chihayafuru no Brasil, acho arriscado, especialmente, nesse momento econômico, mas o mangá acabou.  É torcer que Yuki Suetsugu consiga acertar de novo.  E ainda sonho que o mangá da confusão do plágio (Eden no Hana) seja resgatado e republicado.  Ele é muito bom e eu acho o banimento que ele sofre muito injusto, porque não era um mangá de basquete e não houve plágio da história, ou nada do gênero.  

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Headcanon não é História: sobre uma pergunta sincera que um aluno me fez durante uma aula

Antes de começar, vou explicar o que é headcanon, conceito que eu aprendi com o Chris Gonzatti do Diversidade Nerd.  Não conhece? Já recomendei aqui.  Muito bem, segundo o dicionário Merrian-Webster, Headcanon "(...) geralmente se refere a ideias defendidas por fãs de séries que não são explicitamente apoiadas por texto sancionado (*o canon do seriado*) ou outra mídia. Os fãs mantêm as ideias em suas cabeças, fora do cânone aceito.".  Explicado isso, headcanon é OK, desde que a coisa não extrapole suas fanfics, fanarts, diversão pessoal.  Headcanon não é História.  Pelo menos, até ontem... 

Eu estava dando aula para uma das minhas turmas sobre Pensamento Social e Político no Século XIX (*Positivismo, Socialismo Utópico e Científico, Anarquismo, Doutrina Social da Igreja Católica).  Um aluno, um dos bons alunos da turma, garoto muito sério, baixou a voz e me fez uma pergunta "Professora, é verdade que o Marx e o Engels eram amantes?"  E eu pisquei os olhos e respondi "Não existe nenhuma evidência de que os dois foram amantes, não.  De onde veio a informação."  "Foi uma professora que falou em sala."  Eu respirei fundo.  "De repente, a sua professora assistiu ao filme Jovem Marx e acabou tendo uma ideia equivocada.""Ah, professora, foi em 2019." "O filme é de 2017."  Parou aí.  

Minha vontade era dizer, "sua professora deve ser uma fujoshi que não separa seu hobby do que é História e surtou no meio da aula.".  Bem, ia dar trabalho explicar o que é "fujoshi" e eu imaginei, também, que ao rotular Marx e Engels de homossexuais, a ideia fosse estigmatizá-los e instilar a homofobia nos alunos e alunas, afastando-os do mal, isto é, do comunismo.  Fiquei me perguntando, também, como uma professora de História diria isso.  Mas será que foi de História mesmo?  

Lembrei que a primeira vez que eu ouvi falar de nazismo foi através da minha professora de Matemática da 5ª série (*6º ano*), Dona Ruth, que parou a aula para elogiar Hitler e dizer que ele estava certo em eliminar os judeus, porque eles eram uma raça maldita que tinha assassinado Jesus Cristo. Isso foi na época que tornaram público o fato de Joseph Mengele ter morrido no Brasil.  Sim, esse tipo de coisa poderia ser dita em sala em 1986 e dar em nada.  Dona Ruth era racista, era cruel e não tinha vergonha de falar esse tipo de coisa.  Não pensem que esse tipo de gente ruim apareceu no mundo agora.

Ao mesmo tempo, eu sabia que iria encontrar fanarts de Engels e Marx, seja por conta do tal filme que citei, ou da animação chinesa O Líder, que saiu para celebrar os 200 anos de nascimento do pai do autor do Manifesto Comunista. Comentei com meu colega de equipe e ele ficou passado, mas eu disse que iria desencavar e sabia onde achar, fui direto no Deviantart.  Enfim, eu até fiquei pensando no horror que isso causaria a certos esquerdomachos por ai... Aliás, eu mesma tinha shippado Robespierre (Louis Garrel) e Saint-Just (Niels Schneider) no filme Revolução em Paris, que me enervou tanto, que acabou me fazendo liberar a fujoshi adormecida dentro de mim.  E eu fui atrás dos fanarts e encontrei. 😁


Enfim, achei uma fã de Marx e Engels no Deviantart (*as imagens vieram de lá*) que shippa os dois e fez muitos fanarts.  Lembrando que é só isso mesmo, um headcanon de História, mas que não pode ser levado para a sala de aula como verdade, nem por professor da disciplina, muito menos por quem não é da área.  E, como pontuei, não sei em qual contexto a coisa apareceu, mas não duvidaria que foi em um de homofobia mesmo. É importante dar visibilidade para personagens que realmente sejam LGBTQIA+, pois muitas vezes eles e elas são ignorados, ou, o que é ainda pior, usados como chacota.   Por isso mesmo, sugiro que esqueçam Marx e Engels, porque é possível encontrar outras personagens que tenham sido de fato LGBTQIA+ sem grande esforço.  

terça-feira, 28 de junho de 2022

Livro Apresenta 100 Anos de Yuri Mangá

Conheço a Erica Friedman (*de internet*) faz muitos anos, o conceito de garota-príncipe (girl prince) que uso em vários momentos, seja aqui, ou em trabalhos acadêmicos, é dela.  Friedman é tradutora, foi a primeira editora do mangá Yuri em inglês, com a ALC Publishing, e é especialista em Literatura Comparada, além de ser responsável pelo site Yuricon.  Enfim, ela acabou de publicar um livro chamado By Your Side: The First 100 Years of Yuri Anime and Manga (Ao seu lado: os primeiros 100 anos de Yuri Anime e Manga).

O livro vai desde as origens do gênero no início do século XX, porque não é demografia, é um tipo de história que pode ser encontrada no shoujo, josei, seinen, shounen, hentai etc.  Fala dos tropos, da literatura, da organização do fandom, do proto-yuri no mangá, isto é, o que veio antes dos anos 1970, de como o gênero se torna mais visível nos anos 2000, do desenvolvimento da garota-príncipe e muito mais.  Vale a pena comprar.  Eu queria ter feito um post mais significativo para o Dia Internacional do Orgulho LGBTQUIA+, mas não consegui organizar nada.  Daí, apareceu o anúncio do livro e acredito que é importante falar dele.  Encomendei o meu, está bem acessível no Amazon.  Basta seguir o link que está no post, ou clicar na imagem.

sábado, 25 de junho de 2022

Shoujocast no ar! Mangás que poderiam sair no Brasil 6: Confidential Confessions

Confidential Confessions (きずな ―問題提起作品集), de Momochi Reiko, é uma série que aborda questões atuais e extremamente dolorosas para muitos jovens em nossos dias. Mesmo tendo sido publicada entre 2000 e 2002, ainda permanece atual.  A traz várias histórias curtas que abordam temas como, suicídio, prostituição de menores, HIV, assédio e violência sexual, uso de drogas etc.

Na segunda parte do programa, eu comento questões que tornaram esta semana particularmente dolorosas para as mulheres, quem estranhou que eu não tenha escrito nada sobre o caso da atriz Klara Castanho, o coroamento da desgraça que vivemos esta semana em termos de direitos humanos das mulheres e violência de gênero, eu falei no Shoujocast.  Tive que preparar coisas de trabalho ontem e acabei colocando tudo lá.  Obviamente, um texto é muito mais organizado e pode ser revisado várias vezes, uma fala em vídeo, não pode.  Você pode ficar só com metade do programa, ou assisti-lo completo.  Os links que eu cito no vídeo estão no primeiro comentário fixado.

E a Newpop continua anunciando novos títulos... E a JBC, também, mas é meio que para nos enrolar.

Entre as minhas pendências está comentar os anúncios feitos pela Newpop, desta vez, de mangás Yuri.  Antes de começar, é preciso marcar que Yuri não é uma demografia.  Não há uma quantidade de revistas com mangás sobre garotas que se amam para que a gente possa delimitar as coisas.  Há a Comic Yuri Hime, que é a única revista yuri de longa duração, e antologias especiais que saem vez por outra, às vezes com o selo desta revista, e material yuri que sai em revistas josei, shoujo, shounen seinen e hentai.  Um dia, yuri será demografia?  Talvez, mas a coisa caminha de forma lenta. O yuri nasceu shoujo, lá nos anos 1970, mas ler sobre garotas com garotas é fetiche masculino, por isso mesmo, a gente encontra de tudo em uma Comic Yuri Hime.  E outro detalhe, tudo que a Newopo prometeu vem dessa revista e/ou da editora que a publica, a Ichijinsha.

Outra coisa, o Mais de Oito Mil me deu um susto com o post intitulado "Viciada em anúncios, NewPOP revela seus 8 novos mangás".  Como assim a Newpop tem QUARENTA E SETE títulos anunciados?!  Como assim?  E a segunda editora com mais anúncios é a JBC com 9.  Há de tudo nesses anúncios, claro desde livros até mangá, passando por one shot até séries com um número relativo de volumes, mas, ainda assim, são muitas promessas.  Espero que a Newpop as cumpra, mas fiquei chocada mesmo.  OK, o que a Newpop anunciou afinal?  

  • Uminekosou Days (海猫荘days) de Naoko Kodama. Tem 3 volumes e saiu na Comic Yuri Hime entre 2019 e 2020. 
  • Bocchi Kaibutsu to Moumoku Shoujo (ぼっち怪物と盲目少女) de Neji.  Foi publicado pela Ichijinsha, que é a editora da Comic Yuri Hime, e tem 1 volume somente.  
  • Watashi no Oshi wa Akuyaku Reijou(私の推しは悪役令嬢。) de Anoshimo e Inori.  A Newpop já está lançando a light novel desta série.  O mangá já está em andamento e tem 4 volumes. Sai na Comic Yuri Hime.
  • Now Lading! de Mikanuji.  Só um volume e saiu na Comic Yuri Hime.
  • Hello, Melancholic! (ハロー、メランコリック!) de Yayoi Oosawa.  Comic Yuri Hime, 3 volumes e eu falei da série, que gira em torno de um clube de música de um colégio, quando ele começou a sair, lá em 2020.  Gostei bastante do que eu vi da série e quero ler.  Aliás, ainda acredito que possa virar anime, ou dorama.

De resto, a Newpop anunciou a data de lançamento de outros yuri que ela já havia anunciado.  Recomendo o post dos Lacradores Desintoxicados sobre esses anúncios.  E vamos para a JBC. Eles anunciaram dois títulos seinen com apelo para o público feminino.  O que significa isso?  A autora é mulher, poderiam ter saído em uma revista shoujo, ou josei sem muitos problemas.  Sunny Sunny Ann! é de Miki Yamamoto, foi na revista Morning entre 2011 e 2012. Tem um volume só e fala de uma mulher que decidiu pegar um carro e sair por aí.  Road Movie.  Venceu o Tezuka Manga Awards na categoria novos artistas em 2013.  

O outro é o premiadíssimo Sangatsu no Lion de Chica Umino.  Tem duas temporadas de anime, que estão no Crunchyroll, 16 volumes e ainda está em andamento na revista Young Animal.  A série tem como protagonista um adolescente depressivo chamado Rei Kiriyama, ele perdeu sua família num acidente e tornou-se jogador profissional de shogi. O rapaz mora sozinho numa velha região de Tokyo, mas sua vida começa a se transformar após conhecer três irmãs – Akari, Hinata e Momo.  Para os fãs de Honey & Clover (ハチミツとクローバー) matarem as saudades da autora.  

É isso.  Ainda não tivemos o anúncio de um shoujo clássico, ou um mangá feminino de ficção científica.  O que a Panini irá anunciar?  Ou não vai anunciar nada?  

Ainda sobre o Direito de Aborto: Os Estados Unidos e o grande retrocesso nos Direitos das Mulheres (*Além de outros assuntos*)

Há mulheres comemorando, mas elas não são maioria.

Fiquei três dias sem postar nada no blog, porque realmente estava cansada e ocupada demais para organizar um texto sobre qualquer tema que valesse a pena ser lido.  Agora, tenho várias coisas atrasadas, desde os novos anúncios da Newpop, talvez (*é talvez mesmo*) uma ou duas palavrinhas sobre os seinen que a JBC pretende lançar, e temos atualizações sobre o caso da menina de Santa Catarina e as decisões terríveis da Suprema Corte dos Estados Unidos ontem.  Estava realmente esgotada para conseguir organizar minhas ideias de pronto, tão esgotada que consegui dormir para além das 7 da manhã hoje.  Acho que desde que ela era bebê, minha filha não me acordava pela manhã.  E peço desde já desculpas por voltar ao tema "aborto" em dois posts seguidos.  Pode pular (*ou esperar*) para o próximo, se quiser, porque serão pelo menos três posts hoje.

Voltando ao caso da menina de Santa Catarina.  Ela conseguiu que sua gravidez fosse interrompida.    Uma gravidez tardia, sem dúvida, e eu não fico feliz com nada disso, aliás, disse para minha filha de 8 anos, que está a par desse caso pelo menos nos detalhes gerais, que nenhum aborto deveria ser algo a se comemorar.  É uma opinião pessoal, você pode ter a sua sobre o tema, desde que não seja defender aqui que uma criança de 11 anos completos, há controvérsias, deva arriscar sua vida e levar uma gravidez até o fim.  Os reacionários e zumbis em geral fizeram alarde dizendo que não havia sido estupro, pois apareceu por aí a informação de que a menina teria engravidado de um namoradinho de 13 anos.  Vou me estender sobre isso.

Mesma m***a.  Século Diferente.

Primeiro, se assim foi, fica mais caracterizado que a juíza retirou a criança de casa para impedi-la de interromper a gestação com as supostas 22 semanas e 2 dias.  Quem já se informou sobre o tema, ou esteve grávida e foi bem atendida, sabe que esses contagens são bem relativas.  Podem dar para mais ou menos, não são necessariamente precisas.  Eu sei exatamente o dia em que engravidei da minha filha.  Segundo o padrão utilizado, a contagem se fazia a partir da última menstruação, o que acrescentaria quase duas semanas à data precisa.  Duas semanas pesaram bastante na decisão da juíza no caso da menina de Santa Catarina, não é mesmo? Segundo ponto, o risco de vida continuaria de pé.  A menina não estaria em menor risco se a concepção fosse (supostamente) consentida.  

Terceiro ponto, se efetivamente ela engravidou de um menino de 13 anos, e vou usar palavras que enfatizem a juventude do garoto, porque um adolescente desta idade é imaturo e inimputável, mas sua idade não é indicativo de não violência.  A menina, na terrível audiência com  juíza e promotora, disse não entender o que estava acontecendo com ela.  Um tiquinho de educação sexual na escola, coisa que os (ditos) pró-vida abominam, ajudaria um pouquinho na prevenção.  Enfim, se você der uma busca pela rede verá que adolescentes desta idade são capazes de estuprar e matar e outras atrocidades (*exemplo*), basta não serem adequadamente orientados, não terem o devido suporte familiar, ou mesmo tenham algo em si que o empurre para esse tipo de violência.  É amplamente documentado que psicopatas mostram sinais de sua propensão à violência e frieza emocional desde tenra idade.  De resto, gente dessa idade não deveria estar transando, ainda que eu possa apontar que já foi muito comum que meninas dessa idade fossem casadas com outras crianças, ou homens muito mais velhos, e estivessem mortas aos 15 anos em virtude de gravidezes precoces e outras coisas mais.

Gravidez na Adolescência (*Imagine na infância!*) - Efeitos e Riscos: interrupção dos estudos, mortalidade materna, nascimento prematuro, riscos à saúde (Ex.: fístula obstétrica, nascimento de um natimorto.

Seguindo, a legislação do nosso país é clara quanto aos casos permitidos de aborto legal, ou, como gostam os odiadores de mulheres, os casos nos quais a interrupção de uma gravidez não pode ser criminalizada.  São eles, risco de vida da mulher, estupro, inviabilidade fetal (*que normalmente pode acarretar riscos à mãe, vide esta caso aqui, que não está ocorrendo no Brasil*), tendo o STF incluído fetos anencefálicos na lista.  Vejam bem, em todos esses casos, é necessário que a mulher, ou menina-vítima, deseje interromper a gravidez.  Nada mais justo, os processos ocorrem dentro de seu próprio corpo.  Em nosso país não existe, porém, a permissão para a interrupção voluntária de gravidez dentro da lei por vontade pessoal.  A rigor, o estado tutela nossos corpos e vontade.  É aqui que entra toda a discussão feminista sobre direitos (humanos) das mulheres, porque tenham certeza, se homens engravidassem, esse papo seria outro.  

Obviamente, mulheres que têm recursos, ou meninas com famílias com recursos, não passariam por situações de constrangimento caso desejassem interromper uma gestação.  Para as outras, sobra o risco de morte e de irem parar em um pronto-socorro e serem maltratadas, aliás, uma mulher que tenha perda gestacional, em um ambiente pró-vida fanatizado passa pelo mesmo risco até conseguir provar que focinho de porco não é tomada.  Já contei em outros textos que minha mãe me falava que quando estava na enfermaria esperando pelo meu nascimento, em 1976, havia uma moça em uma cama próxima berrando de dor.  O que disseram para a minha mãe foi algo como "Deixa ela sofrer.  Matou o filho que estava esperando.".  Mamãe me dizia "Os médicos sempre sabem dessas coisas.".  Só parou com essa ladainha quando eu a confrontei com um "Será?" e a fiz lembrar da minha tia, irmã dela, ávida por ter uma segunda criança, e que perdia todas, mas foi submetida lá nos anos 1980, passou mal, teve que ir para o hospital mais próximo, perdeu seu bebê de uns 5 meses e maltratada e acusada de ter feito um aborto.  Tortura é crime inafiançável neste país, mas há quem o pratique livremente por aí até hoje.

Precisamos nos juntar à Argentina, Colômbia, Uruguai, Cuba, entre outros.

A regra da OMS, das 22 semanas e/ou 500 gramas, não valia na época.  Bebês tão prematuros eram sempre inviáveis.  Hoje, ela ainda não está incorporada à legislação brasileira sobre o aborto legal.  O Governo atual se esforça para que seja, talvez consiga ainda nos estertores agir no intuito de dificultar ainda mais o acesso ao aborto às mulheres que tenham o direito, obviamente, enfrentará resistência, porque precisamos resisir.  E não estou falando somente do ativismo judicial, porque o caso de Santa Catarina é um exemplo dele, ou o da mulher que teve que ouvir do juiz em Alagoas que risco de vida não é certeza, ao negar-lhe o direito de interromper uma gestação, mas falo de mudanças na lei mesmo. 

Então, passemos ao outro ponto.  Ontem, a Suprema Corte dos Estados Unidos finalmente derrubou a Roe vs. Wade, decisão de 1973, que definia que "(...) deu às mulheres do país o direito de interromperem uma gravidez em todo o território nacional.  Na época, a decisão a favor de uma mulher do Texas baseou-se na Seção 1 da 14ª Emenda da constituição do país que considerou que a proibição de interromper uma gravidez atentava contra os direitos individuais e respeito à privacidade.  Os estados poderiam legislar sobre as regras, mas não poderiam proibir a prática antes do fim do primeiro trimestre, ou em caso de risco de morte da mulher." Este é um trecho do meu post de 21 de maio, os links estão todos lá, quando vazou a minuta da decisão de ontem, algo que gerou um rebuliço nas redes, mas eram favas contadas.  Obama não conseguiu indicar um juiz da Suprema Corte, pois os Republicanos seguraram por mais de um ano a indicação, dando para o próximo presidente, no caso Trump, esse direito.  Já Trump, conseguiu com pouquíssimos meses de  perder para Biden, indicar e aprovar um novo nome em mais ou menos um mês.   

49 anos depois... 

Ruth Bader Ginsburg morreu em 18 de setembro Amy Coney Barrett foi aprovada em 27 de outubro.  Fora isso, Trump escolheu juízes jovens, o que possibilita, talvez, que eles permaneçam uns bons vinte, trinta anos, no cargo.  De qualquer forma, já estava montada a sólida maioria conservadora-reacionária, porque há uma aliança entre esses dois segmentos neste momento, de 6 x 3.  Bastava ter a coragem, ou desfaçatez, de derrubar a Tore vs. Wade e entregar aos estados a decisão neste caso.  Com isso, que fique claro, o direito de aborto não foi extinto nos EUA, mas caberá aos estados decidir SE, COMO e ATÉ QUANDO.  Mais de um estado já tinha leis prontas para entrarem em efetividade assim que a decisão saísse.  E, bem, observem o mapa abaixo e vejam que a situação tenderá a se tornar desesperadora para as mulheres, em especial as pobres.

Estados que devem banir o aborto caso a Roe v. Wade caia.  E caiu.

Eu assisto ao programa do Reinaldo de Azevedo, sei que ele é contra o direito de aborto eletivo, não acompanho o programa dele para formar opinião sobre isso, mas achei interessante o mal estar e o malabarismo ontem, afinal, ele comentou a decisão da Suprema Corte norte-americana enfatizando que era questão estadual e que nunca foi questão de privacidade, afinal, há de se levar em conta os direitos do pai (*A gente sabe que a maioria das mulheres que optam pelo aborto estão sozinhas.*), mas se calou para comentar a outra decisão da corte, que falarei no final, que foi determinar que os estados não podem limitar o porte de armas.  Enfatizo isso, porque ele sempre fala da lei de Nova York, a que foi derrubada, e que garantia a posse de armas (*ter em casa*), mas limitava o porte (*sair com ela por aí*).  Pensei que ele iria comentar e dizer que foi uma decisão estadual usurpada.  Nada foi comentado.  Estranhei?  Não.

Na mesma fala, ele afirmou que nenhum estado dos norte-americano iria proibir o aborto em todos os casos, porque isso seria irracional, que as leis mais limitantes iriam colocá-los na condição idêntica a nossa.  Ele é bem informado demais para não saber, que há estados norte-americanos que já estabeleceram leis limitando o direito de aborto em vários estados, ou dando direitos parentais, e de opinião em caso de aborto, para os estupradores.  Enfim, antes mesmo da queda da Roe vs. Wade, havia estados que baniram o aborto  a partir do momento em que o coração do feto começasse a bater, mesmo sem atividade cerebral, ou o Alabama que, em 2019, baniu o aborto em caso de incesto e estupro sob pena de prisão de 10 a 99 anos para a mulher ou o médico que praticar o aborto.  

Direitos Sexuais Reprodutivos são Direitos Humanos.

Esse tipo de lei levava ao questionamento na Suprema Corte, este era o objetivo, aliás, e já se sabia que era questão de tempo que as coisas iriam resultar na suspensão da Roe vs. Wade.  Fora isso, durante anos e anos, as clínicas de aborto em muitos estados tiveram sua atividade obstruída por legislações abusivas, o que resulta em maiores dificuldades para as mulheres.  Não é muito diferente do Brasil, aliás, onde a lei existe, mas pode ser difícil de fazer cumprir, vide, aliás, o caso da menina de Santa Catarina.  E há, claro, a dificuldade de acesso à métodos contraceptivos, porque isso dá, especialmente às mulheres, uma liberdade sexual que é vista como abominável por grupos religiosos fundamentalistas, que é o povo que mais pressionou pela queda da Roe vs. Wade.  Melhor patrocinar grupos que defendem a abstinência sexual.   

Obviamente, pode ficar bem pior, porque há o modelo de El Salvador, que proibiu o aborto em todos os casos e que vem criminalizando mulheres que sofrem perdas gestacionais, ou que tem um bebê natimorto.  Aliás, criminalizar mulheres por colocar seu feto em risco, o que é algo muito relativo, já é algo que existe nos EUA (*Olha, o Alabama de novo!*).  Trata-se de uma aberração, porque nem se está falando de aborto eletivo, que acaba sendo criminalizado por questões de ordem moral (*que ajudam a encobrir o desejo de controlar as mulheres*), mas de qualquer aborto.  Qualquer.  Aliás, um dos modelos para esse tipo de legislação é a Romênia de 1966 até 1989, durante o governo de Ceaușescu, que proibiu a contracepção (*e vários estados norte-americanos vem agindo nesse campo, também*) e qualquer forma de aborto.  O resultado?  Um boom inicial dos nascimentos, seguido de uma queda, porque as mulheres buscaram meios de burlar as leis, com aumento da mortalidade infantil e dos abandonos.  Depois da queda e morte de Ceaușescu, os orfanatos romenos se tornaram alvo do estudo de vários tipos de profissionais, especialmente, sobre as defasagens de desenvolvimento dessas crianças abandonadas por suas famílias e negligenciadas pelo estado.  Esta é uma das tragédias que aguardam os Estados Unidos.  E quem quiser que tampe o sol com a peneira, afinal, depois de nascido, o problema não é mais seu.

O Conto da Aia deveria ser só um romance.

Sim, mas as vítimas imediatas são as mulheres, em especial, as pobres.  E há quem tema que os estados criem leis limitando as viagens das mulheres, requisitando informações, como atestados de que não estão grávidas.  Estão achando exagero?  DERRUBARAM UMA DECISÂO DE 1973!!!!!!  Estamos vendo o Conto da Aia se materializando diante dos nossos olhos.  Agora, se eu fosse uma pessoa perversa, e talvez, todo mundo seja um tanto perverso, eu ficaria no aguardo de outras decisões muito terríveis.  Pessoas negras, gays (*porque há gente assim que são contra o aborto em todos os casos*), latinos etc. minorias, enfim, que se posicionam a favor do confisco dos direitos das mulheres, saibam que vocês estão na fila.  O casamento homoafetivo dependeu da Suprema Corte.  A derrubada das leis segregacionistas dependeu da Suprema Corte.  Basta que esta corte ideologicamente orientada se posicione.  Aliás, a lei de Nova York que restringia o porte de armas era de MIL NOVECENTOS E TREZE.  

Esta história da lei de armas de Nova York foi outro escândalo, afinal, era algo de mais de um século, quando eu não imaginava que houvesse tanto bom senso por lá.  A lei estabelecia que, para portar uma arma, uma pessoa deve ter um "motivo adequado".  Assim, um indivíduo precisava convencer uma autoridade de licenciamento de armas de fogo de que tinha uma necessidade real, e não especulativa, de autodefesa. As licenças também poderiam ser concedidas para atividades como a caça ou a prática de tiro ao alvo, ou seja, se você quisesse ter uma arma, você poderia.  New York State Rifle & Pistol Association entrou com ação na Suprema Corte afirmando que ela feria a 2ª Emenda.  Ontem, a Suprema Corte acatou o argumento e estabeleceu que a lei estadual era inconstitucional, o que impactará a legislação de outros estados, como a Califórnia, que têm legislações restritivas.  E, vejam, a coragem desses magistrados, porque os EUA vivem uma onda de tiroteios (*mass shootings*) pelo país, que levou os republicanos e democratas a montarem um grupo de estudos para discutir a questão das armas.  É muito comprometimento ideológico ampliar o direito de porte de armas neste momento.  Muito mesmo.  

"Se não tivermos acesso a abortos seguros, tá tudo bem.  Nossos filhos vão tomar tiro na escola mesmo"

E o que temos a ver com o que acontece nos EUA?  Bem, os Estados Unidos servem de modelo para muitos países.  Obviamente, os países desenvolvidos continuarão a ter leis que permitam o aborto eletivo sob certas condições, continuarão oferecendo licença maternidade remunerada, coisa que os EUA não oferecem por lei federal, mantendo suas taxas de mortalidade materna baixas e limitando a posse a porte de armas.  Mas e aqui?  Há quem diga que basta o legislativo se posicionar.  Nos Estados Unidos, o Congresso de lá não vai legislar sobre nenhum dos dois temas neste momento mesmo.  Biden é fraco e está com sua popularidade em queda, não vai rolar.  Aqui, estamos às vésperas de uma eleição.  Se ela acontecer, se não houver golpe, por favor, votem direito.  Ainda que o STF daqui tenda a se posicionar corretamente sobre direitos humanos, não é função dele, é do Congresso.  Vote direito, porque as nuvens escuras estão se adensando no céu e o nosso horizonte parece ser sombrio.

terça-feira, 21 de junho de 2022

Criança não é mãe, Estuprador não é pai: Mais um capítulo da guerra contra as mulheres no Brasil

Ontem, tive o desprazer de assistir ao vídeo disponibilizado pelo The Intercept de uma audiência no estado de Santa Catarina na qual uma juíza e a promotora, não se esqueçam dela, forçam, porque não conseguiram induzir, basta ver o vídeo, uma menina de 11 anos, grávida de um estupro ocorrido aos dez, a abrir mão de um direito assegurado (*ou exceção, a depender da leitura*) desde o Código Penal de 1940.  Explico, a legislação em nosso país admite o aborto em pouquíssimos casos, um deles, estupro, outro, risco de morte da mulher (*ou menina*), o caso cai nos dois.  Vou citar parte do texto do The Intercept e retorno daqui a pouco:

"Uma criança de 11 anos, grávida após ser vítima de um estupro, está sendo mantida pela justiça de Santa Catarina em um abrigo há mais de um mês para evitar que faça um aborto legal. Dois dias após a descoberta da gravidez, a menina foi levada ao hospital pela mãe para realizar o procedimento. O Código Penal permite o aborto em caso de violência sexual, sem impor qualquer limitação de semanas da gravidez e sem exigir autorização judicial. A equipe médica, no entanto, se recusou a realizar o abortamento, permitido pelas normas do hospital só até as 20 semanas. A menina estava com 22 semanas e dois dias. Foi então que o caso chegou à juíza Joana Ribeiro Zimmer.  A criança, que tinha 10 anos quando foi ao hospital, corre risco a cada semana que é obrigada a levar a gestação adiante devido à sua idade, segundo laudos da equipe médica anexados ao processo e especialistas consultados pelo Intercept. Ribeiro afirmou, em despacho de 1º de junho, que a ida ao abrigo foi ordenada inicialmente para proteger a criança do agressor, mas agora havia outro motivo. “O fato é que, doravante, o risco é que a mãe efetue algum procedimento para operar a morte do bebê”."

A promotora pediu a retenção da menina no abrigo, longe da mãe, e o motivo sabemos qual é, impedir que ela tenha acesso ao direito que lhe é assegurado por lei.  Assim, não haverá como o caso ter o desfecho de um semelhante ocorrido no Espírito Santo e que mobilizou à época, a militante Sarah Winter e a ex-ministra Damares para que a gravidez de uma criança estuprada da mesma idade fosse mantida.  Em todo o vídeo, percebe-se a preocupação com o feto, o que significa o apelo a um ideal, e a redução da menina a uma incubadora ("Você aguenta mais um pouquinho?"); a tentativa de sensibilizar a vítima perguntando se ela quer "dar nome ao bebê", porque vocês sabem que é como brincar de boneca; o uso de substantivos que se remetem à organização familiar, ao chamar a criança de "mãe" e o estuprador de "pai".  Este último recurso, aliás, presta-se, também, ao esforço de retirar a menina da condição de vítima, que a lei lhe assegura, porque qualquer ato sexual com menor de 14 é crime, segundo a legislação em vigor, em "parceira", "cúmplice", parte de um CASAL.  As estratégias discursivas usadas pelos (pseudo) pró-vida são das mais asquerosas.

Como a menina parecia inamovível, o que não faz diferença, pois ela estava sendo mantida em uma espécie de cárcere no abrigo, a promotora, responsável pela apreensão da menor, e eu me recuso a esquecer dela, porque ao mesmo tempo que, segundo a matéria, ela reconhece o risco de morte da criança, ela se posiciona contra o cumprimento da lei, tenta fazê-la sentir culpada de assassinato.  O esquema na audiência, na qual mãe e filha estavam sozinhas, é ao estilo tira bom (juíza), tira mau (promotora), uma tenta persuadir, a outra, colocar a criança como algoz de outra, a não nascida, mediante mentiras.  Diz que o feto seria arrancado da barriga da menina e nasceria chorando, sendo deixado para morrer.  Descreve algo que não ocorre em uma situação de interrupção de gravidez em ambiente hospitalar e cria uma cena tétrica cujo intuito é assustar e intimidar a menina e sua mãe.

Por fim, a mãe, que parece ser uma mulher humilde, ou não estaria sendo submetida a essa ordália, diz “Independente do que a senhora vai decidir, eu só queria fazer um último pedido. Deixa a minha filha dentro de casa comigo. Se ela tiver que passar um, dois meses, três meses [grávida], não sei quanto tempo com a criança… Mas deixa eu cuidar dela?”, suplica. “Ela não tem noção do que ela está passando, vocês fazem esse monte de pergunta, mas ela nem sabe o que responder”. Não lhe é permitido levar sua filha, afinal, a charge do Gilmar reproduzida no post foi perfeita, a menina está em uma espécie de prisão, apartada da mãe para que não exista a possibilidade de conseguir ter acesso ao direito que lhe é assegurado por lei.  Uma criança tratada como potencial criminosa.  É disso que se trata.

Eu acompanho essas discussões faz tempo, há vários posts sobre outros casos abomináveis, aqui, no Shoujo Café  Nada disso é realmente surpresa para mim, aliás, utilizar mulheres para oprimir outras mulheres é uma das estratégias para a manutenção do patriarcado que, em nosso país, assume aspectos misóginos cada vez mais evidentes, além de ser classista e racista.  Agora, raras vezes, assisti um vídeo tão tétrico, porque, normalmente, as crianças não são expostas dessa forma à violência institucional, afinal, a menina está aprisionada por ordem de agentes do Estado, e discursiva, porque foi transformada de vítima em mãe e potencial assassina.  Se você assistiu aquele vídeo inteiro, viu que a menina é inquirida sobre saber o que estava acontecendo com ela (estupro - gravidez - aborto) e ela aparentemente, dada a situação de abuso em que se encontra, parecia não compreender.  Enfim, tratada como objeto e incapaz de se ver de forma diferente.

Não pensem, porém, que este caso é isolado, na verdade, ele é parte de um PROJETO, uma guerra contra todos nós.  O mesmo The Intercept fez uma matéria sobre uma mulher, no estado de Alagoas, teve seu direito de interromper a gravidez por risco de vida negado, porque mesmo reconhecendo a grave perigo de morte da mãe, o juiz preferiu apostar no feto.  A incubadora defeituosa deve ser capaz de aguentar o tranco e, bem, se ela quebrar no processo, mesmo se o feto for perdido, valeu a aposta. É um jogo no qual as mulheres nunca ganham.  E eu não comentei, ia fazer o post, mas não fiz, o mesmo The Intercept publicou matéria sobre um documento  produzido pela Secretaria de Atenção Primária à Saúde, dirigida pelo mesmo Raphael Câmara, o médico da caderneta da gestante cheia de erros e justificando a violência obstétrica, apontando para um futuro interesse do governo em acionar judicialmente mulheres que fizessem aborto legal em caso de estupro, obrigando-as a provar que sofreram a violência.  Sim.  Deem mais quatro anos para esse pessoal, ou votem errado para o Congresso e vejam no que vai dar. 

Este mesmo governo super preocupado com as mulheres que desejam e/ou precisam interromper uma gravidez, é o mesmo que neste momento desmontou o programa Rede Cegonha sem prévia discussão com entidades ligas aos profissionais de saúde, ou a sociedade civil.  A Rede Cegonha,  programa considerado eficiente na assistência ao pré-natal, parto e puerpério, será substituído, segundo o Brasil de Fato, pelo  Rede Materno e Infantil (RAMI), que "(...) dá ênfase à atuação do médico obstetra sem contemplar ações e serviços voltados às crianças e a atuação dos médicos pediatras, além de excluir o profissional enfermeiro obstetra.".  O texto também informa que 8 em cada dez mortes de grávidas por COVID relatadas são do Brasil.  Sim, mas vamos focar na proibição do aborto em todos os casos, tornar a vida de meninas estupradas um inferno ainda maior e descuidar das que querem gestar, parir e cuidar de seus bebês com o suporte devido do Estado. 


Eu tenho uma menina de 8 anos.  Antes dela nascer, eu já olhava qualquer criança ou adolescente como se pudesse ser minha.  Fora isso, o apelo da mãe me toca pessoalmente.  O que eu vejo ali, é a violência contra todas nós.  Eu estou educando a Júlia para saber que a mulher sempre é a vítima em caso de estupro e que uma criança não é capaz de consentir, porque existe lei para protegê-la, enquanto ela ainda está em formação e sem os instrumentos necessários (*biológicos, intelectuais, morais*) para fazer suas escolhas de forma integral e responsabilizar-se por elas.  Minha filha também sabe que ninguém pode ter acesso ao seu corpo sem seu consentimento e que palavras bonitas podem esconder grandes maldades.  

Só um adendo, antes de fechar o texto, alguém me mandou um artigo falando da promotora que apreendeu a menina e foi responsável por mantê-la em um abrigo.  Ela estaria envolvida em um caso no qual duas meninas foram tiradas da mãe, uma quilombola, e que se pautou por uma série de argumentos que podem ser vistos como racistas e misóginos.  Para se ter uma ideia, é possível ler nos autos a seguinte afirmação "Denota-se o caso atípico da presente demanda, já que a genitora é descendente de escravos e sua cultura não primava pela qualidade de vida, era inerte em relação aos cuidados com higiene, saúde e alimentação”.  Fico por aqui.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Comentando o segundo episódio de Ms Marvel: Continua interessante e até surpreendente

O segundo episódio da série Ms Marvel foi ao ar na quarta-feira passada.  Eu assisti no mesmo dia, mas acabei não resenhando de imediato e estamos sem texto até agora.  Isso, claro, não quer dizer que o episódio foi ruim, mas que eu tenho montes de coisas para fazer a Newpop decidiu fazer um massivo anúncio de títulos de shoujo e  josei e fiquei meio atordoada.  Na minha primeira resenha, dei uma panorâmica da série, então, peço que dê uma olhada lá, por favor.

Este segundo episódio serviu para algumas coisas.  A primeira foi mostrar nossa heroína treinando para dominar seus poderes.  Ela não consegue 100%, mas avança bastante. É uma parte importante do episódio, porque é sempre bom ver um super-herói que não tem simplesmente que usar os poderes, mas que precisa efetivamente se esforçar para dominá-los. Como guardião do segredo de Kamala (Iman Vellani), Bruno (Matt Lintz) a ajuda.  Também introduziram um mistério, a bisavó da menina, que talvez seja a dona do bracelete que lhe conferiu os poderes, trouxe grande vergonha para a família.  A mãe de Kamala (Zenobia Shroff) não quer falar do assunto e a menina fica curiosa.  Temos, também, a introdução de Kamran  (Rish Shah), que também é de família paquistanesa e meio que seduz Kamala de várias maneira, para desespero de Bruno, que, no seriado, é apaixonado por ela.  

Eu já disse que não gostei, não é assim no início do quadrinho, mas se quiserem investir na linha de amor proibido, temos alguma coisa de concreto, porque muçulmanas não devem se casar com quem não seja de sua fé.  Não que eu não acredite que Bruno se converteria para ficar com ela.  De qualquer forma, acho o menino que faz o Bruno, um fofo.  Falando em amigos de Kamala, Nakia (Yasmeen Fletcher), que mal aparecia no primeiro episódio, foi muito importante neste capítulo.  

Engajada nas causas sociais e religiosas, ela e estimulada por Kamala a se candidatar ao conselho da mesquita para tentar fazer com que as mulheres tenham melhores condições de participar do culto no local.  Nessa hora, Ms. Marvel aproveita para discutir gênero e etarismo.  Todos os membros do conselho são homens e não são jovens, Nakia tem dois obstáculos a vencer.  Falando em religião, realmente amenizaram muito o irmão de Kamala (Saagar Shaikh) e sua noiva (Travina Springer).  Eles são muçulmanos religiosos modernos, por assim dizer.  No quadrinho, o irmão de Kamala está muito mais perto do fanatismo, além de ser uma espécie de vergonha para o pai, porque não trabalha e prefere se dedicar à religião do que perseguir uma carreira.

Voltando para Kamran, ele é o modelo de beleza e masculinidade que a heroína aprecia.  Ele é bonito, ele tem um automóvel e se oferece para ensinar Kamala a dirigir e os dois são fãs de Shah Rukh Khan (SRK), um dos maiores astros de Bollywood.  Há várias referências ao cinema indiano nesse capítulo, além de uma aula muito didática sobre a repartição da Índia, um evento traumático que criou a moderna Índia e o Paquistão.  É explicado que a família do pai de Kamala sempre residiu no atual Paquistão, mas que a da mão de menina foi das que tiveram que migrar por serem muçulmanos.

Por fim, Kamran, assim como nos quadrinhos, não parece ser uma boa pessoa, muito menos, o namorado dos sonhos.  Depois de praticar um ato heroico, que não saiu lá tão perfeito, porque a moça teve uma estranha visão, Kamala precisa fugir dos agentes do Departmento de Controle de Danos (DODC), que querem capturá-la.  Kamran a salva, mas dentro de seu carro há uma mulher, a mesma que apareceu na visão.  Se seguirem mais ou menos o quadrinho, Kamran é um inumado como Kamala, mas ele quer cooptá-la para o mal.  Na HQ, ele está à serviço de um vilão masculino, não de sua própria mãe.  Vamos ver como desenrolam isso.

Por fim, gostei muito desse episódio dois, mais até que do primeiro.  Ele foi divertido, teve mistério, desenvolvimento das personagens e ingrediente da cultura pop.  Agora, estranho foi a mãe perdoar Kamala tão fácil por ter fugido para ir ao Vingacon e permitir que ela fosse na festa de Zoe (Laurel Marsden), que é onde ela conhece Kamran, o aluno novo no colégio.  É isso.  Quarta-feira temos mais um episódio.

domingo, 19 de junho de 2022

Novo Shoujocast no Ar! Novos Anúncios de Shoujo e Josei: Comentando as Bombas da NewPop


A NewPop anúncios tantos títulos shoujo e josei esta semana que seria um grande erro não fazer um vídeo sobre isso. É tanta coisa, para os padrões brasileiros, que a gente precisa valorizar. Falo da JBC, também, aliás, eles devem fazer anúncios hoje. Fique de olho! 

P.S.1: O mangá que a Panini vai lançar é Umimachi Diary e falo dele na Conclusão do vídeo sobre Ōoku. Não consegui localizar o vídeo no qual falei da Divina Comédia, infelizmente. 
P.S.2: "próximos anos", não, "últimos anos", mas pode continuar pelos próximos, claro.

sábado, 18 de junho de 2022

Reimpressão de Nana este ano

A JBC acabou de postar.  Acho ótimo, mas eu gostaria de saber quando a editora vai anunciar o último volume de Orange.  Não estou pedindo box, não estou pedindo mimos, quero SOMENTE o volume final da série.  Só isso.  Aliás, falando em Nana, vai que a autora anuncia o final do mangá na entrevista que sairá no mês que vem?  Vamos torcer, orar, rezar, enfim, que Ai Yazawa tenha se curado, ou melhorado, e finalize a sua obra mais amada (*Não por mim, mas é para a maioria.*).

Quais as séries que os japoneses mais assistem no streaming em 2022?

A GEM Partners, que coleta dados de 7.000 japoneses com idades entre 16 e 69 anos por semana, registrou as séries (*ou franquias*) mais populares assistidas no serviço de streaming japonês (não apenas anime) e quantificaram qual delas é mais popular no Japão no momento. Os serviços de streaming analisados incluem Netflix, Amazon Prime Video, U-NEXT, Hulu Japan, Disney+, docomo anime store, dTV, ABEMA Premium e Paravi.  Os resultados foram publicados no site da Crunchyroll e o resultado é o seguinte: 

1. SPY x FAMILY
2. Detective Conan
3. Kingdom
4. One Piece
5. Ya Boy Kongming!
6. Kimetsu no Yaiba
7. Attack on Titan
8. Kaguya-sama: Love is War
9. 007 / James Bond
10. Tate no Yuusha no Nariagari

Versão mangá da Divina Comédia já está em Pré-Venda

Já está em pré-venda no Amazon o primeiro volume da Divina Comédia de Go Nagai, o nome original da série é Dante Shinkyoku (ダンテ神曲).  Um daqueles lançamentos muito interessantes da Newpop, mas que perdeu um pouco o timing, porque deveria ter sido lançado ainda no ano passado, nos 700 anos de morte do autor, Dante Alighieri (c. 1265-1321), um dos autores fundadores da escrita em língua italiana.  Se tivesse saído ano passado, poderia haver mais publicidade sobre a obra, pois ela chamaria de imediato a atenção dos especialistas em língua italiana, de medievalistas e por aí vai.

Eu tenho a edição italiana e trata-se de um mangá bem sério e denso que busca seguir a obra original de Dante.  Para quem não sabe/lembra, trata-se de um grande poema em três partes na qual o poeta visita o Inferno, que é dividido em nove círculos, sendo o mais externo destinado aos que não foram justos, mas não receberam Jesus Cristo e o último para Judas e seu castigo eterno; o Purgatório, um monte com seis terraços, sendo o mais baixo destinado aos pecados mais graves; e o Paraíso, dividido em nove esferas.  Nas duas primeiras partes da jornada, Dante é guiado pelo poeta romano Virgílio, no Paraíso, pela mulher que ele amou e morreu sem que ele pudesse concretizar seu amor, Beatriz.  

Em seu poema, Dante coloca personagens históricas, se vinga de desafetos da política italiana de sua época, opina sobre o caráter de uns e outros e por aí vai.  Se puder ler o original, não perca a oportunidade.  Há adaptações, também.  Quando li na adolescência, era uma versão recontada.  A edição nacional tem dois volumes, a minha tem três.  Como a obra teve várias republicações, trata-se de uma escolha de um dos formatos disponíveis, ou a aceitação da proposta dos japoneses.  O importante é estar na sua integralidade, com boa tradução e tratamento gráfico de qualidade.  Esta certeza, nós temos.  Pergunto-me se a edição nacional terá alguma introdução crítica, ou algo do gênero.  Seria bem legal.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Ranking da Oricon - Duas Semanas de uma Vez

Demorei a postar o ranking da semana passada e, agora, temos dois juntos aqui.  Dá para ter uma ideia do sucesso de SPY×FAMILY, por exemplo, tanto que, na semana passada, não havia shoujo ou josei no top 10, mas ainda temos alguns fora dele.  Esta semana, Mystery to Iunakare é o único mangá feminino, infelizmente, mas pegou o primeiro lugar do ranking para si.  É uma série que faz muito sucesso, teve dorama, mas não tem anime.  Não sei, aliás, por qual motivo não agilizam isso.

1. Mystery to Iunakare #11
2.One Punch Man #26
3.Arslan Senki #17
4.Mairimashita! Iruma-kun #27
5.Yomi no Tsugai #1
6.Karakai Jouzu no Takagi-san #18
7.WIND BREAKER #7
8.Ao no Hako #5
9.SPY×FAMILY #9
10.Dekiru Neko wa Kyou mo Yuuuts #6

1. Aoashi #28
2.One Punch Man #26
3.Kuubo Ibuki Great Game #7
4.SPY×FAMILY #9
5.Ao no Hako #5
6.SPY×FAMILY #8
7.SPY×FAMILY #6
8.SPY×FAMILY #7
9.SPY×FAMILY #4
10.SPY×FAMILY #5
12. Akuyaku Reijou wa Ringoku no Outaishi ni Dekiai sareru #10
22. Hikikomori Reijou wa Hanashi no wakaru Seijuuban #4
26. Saikyou no Kanteishi tte Dare no koto? ~Manpuku gohan de Isekai Seikatsu~ #7
30. Koi to Dangan #11