domingo, 30 de junho de 2019

Agora tente imaginar se eu recebesse esse tipo de comentário todos os dias?


Não costumo receber esse tipo de agressão, o principal motivo é exigir que a pessoa se cadastre para poder deixar um comentário.  Eventualmente, alguém deixa palavras agressivas, mas, para isso, terá que se esforçar.  Caso desse moço aí em cima.  Veja o tamanho da indignação dele com meu texto Gamer rebate comentário machista e perde contrato com marca de acessórios para games.  Ele, claro, não é misógino, tampouco, mal educado, só um homem de bem indignado com as palavras ofensivas de uma lésbica (!!!) que ele não conhece, nem sabe quem é.  😆  Certamente, se o autor fosse homem,  seria chamado de gay e acusado de desejar, sei lá, ter alguma intimidade com o Neymar.

Vejam só, tente imaginar se eu me ofendesse por pouca coisa, se eu estivesse fragilizada por algum motivo, sofresse de depressão, ou algo do gênero.  Ser chamada de lésbica, não me ofende em nada, ainda que eu não seja.  De feminista, muito menos.  As acusações feitas por ele não procedem.  Fora que eu sou velha o suficiente para não me ofender com o que um anônimo acostumado com fóruns de internet despeja em seus textos mal pontuados.  Agora pense em uma adolescente, ou uma mulher jovem que tem que ler esse tipo de comentário e outros piores todos os dias, que é gamer, ou está em outros meios profundamente misóginos.  A pessoa pode adoecer, abandonar a internet e coisas assim.  Eu já sofri dois ataques em massa, o último, cinco anos atrás, minha filha estava bem novinha, tinha somente dois meses e tudo começou no dia de Natal.  Nem sei quantas centenas de sujeitos como esse aí, tive que bloquear no Twitter.  Sou casca dura, duríssima, mas, repito, não encaro isso todos os dias.  A gamer (*e o link está no meu texto*) sofre toda série de ofensas o tempo inteiro, mas esperam que ela não reaja, que ela seja sempre super polida com trastes como esse aí em cima.  Pois bem, fiz esse post para ilustrar o tipo de ataque que essas moças sofrem e é daí para pior.  Eu sei que estou do lado certo da guerra.  Bom domingo para vocês!

Comentando Ōoku #15: Um dos Melhores volumes da série!



Ontem, terminei a leitura de mais um volume de Ōoku (大奥), série de Fumi Yoshimaga, que conta uma história alternativa do Japão durante o Shogunato Tokugawa.  Neste momento da história, a autora está tentando fazer algo que os escritores desse tipo de ficção não costumam executar, uma vez criado um ponto de divergência com a História "como realmente aconteceu", não há grande preocupação em criar um ponto de convergência.  Yoshinaga, que recebeu vários prêmios por sua obra, pretende, sim, já que é necessário, levar a história do Japão de volta ao curso que conhecemos.  Conseguirá?   Será convincente?  Sabe, eu cheguei a desconfiar, comecei a temer, lá no volume #13, que ela fracassasse, mas, ao que parece, ela vai conseguir resolver o problema que criou.

Ōoku começou em 2005 com um volume que se fechava em si mesmo.  Século XVII, governo da shogun Tokugawa Yoshimune, os homens japoneses foram dizimados por uma praga chamada varíola vermelha.  Com uma proporção de 1 homem para cada mulher, a sociedade se adaptou, as mulheres assumiram o poder e os postos de trabalho em todas as áreas possíveis.  O shogun é uma mulher e ela tem um harém, o Ōoku, uma grande demonstração de riqueza e de vaidade em um momento no qual a maioria das mulheres não tem condição de ter um marido.  

Felicidade em Ōoku é um convite à tragédia.
Para muitos jovens, habitar o harém do shogun é um sonho, um privilégio que pode trazer comodidade para as suas famílias e uma possibilidade de fuga da prostituição e outras situações degradantes.  Mas muitos anos se passaram desde Yoshimune, ou mesmo de Iemitsu (1604-1651), a primeira mulher a assumir o comando do shogunato.  A varíola vermelha foi debelada e a população masculina se recuperou.  Agora, apesar de ainda termos uma mulher shogun (Iesada), o Japão está às vésperas da Revolução Meiji (1868), os navios norte-americanos chegaram em  1853, e os nobres japoneses se dividem em facções, pró e contra a abertura comercial, algo inevitável, segundo os que tem mais visão, com o imperador desempenhando um papel político inevitável em um momento que antecede uma guerra civil.

O volume #15 foi um dos melhores de toda a série, o gancho que a autora deixou, com certeza é o melhor até agora e vou ficar muito furiosa com Yoshinaga se ela fizer pouco caso da surpresa que causou nas últimas duas páginas desse volume.  Ela já desperdiçou ganchos antes. Com sua dose de drama e intriga política (*a micro e a macro*), além de dor e sofrimento, o volume #15 confirma mais uma vez uma das máximas da série que é ninguém pode ser feliz por mais de um volume.  No entanto, não é ainda um volume de despedidas, pois apesar da morte de Iesada, uma das shoguns mais sofridas da série, ainda temos por mais algum tempo  Taneatsu, seu consorte, e Tachiyama, o grande mordomo do harém.  

Para quem lê o mangá, olhe o padrão do quimono
 de Taneatsu e lembre quem o usou antes.
Taneatsu, depois de viúvo, entrou para a história japonesa como Tenshō-in, deve ficar até o fim da série.  Espero, aliás, que Yoshinaga não estique Ōoku para além do volume #20, ainda que eu saiba que essa feiticeira pode levar a série adiante renovando suas tramas da mesma forma que renova as personagens.  A média de duração das personagens importantes da série é de três volumes, acredito, mas isso é uma forma de nos lembrar que o protagonista não são as pessoas, mas o próprio Ōoku, o harém do shogun.  

Quando o volume #15 começa, e no Japão ele teve edição limitada com drama CD, Iesada, que tantos abusos tinha sofrido, está bem e feliz com seu marido, Taneatsu.  Ele, que foi plantado pelo clã Satsuma para conspirar contra o shogunato, decidiu que sua real função era fazer a soberana feliz.  E Iesada, que todos criam ter saúde demasiado frágil, está grávida.  Ambos ainda lamentam a morte da habilidosa ministra Abe Masahiro, personagem importante nos volumes #13 e #14, ela conseguiu mudar a vida da shogun, protegendo-a do pai abusador e lhe dando esperanças de futuro.  Iesada também ganhou a segurança para opinar em questões de governo e quem não gosta nada disso é Ii Naosuke, novo chefe do gabinete de ministros.  E preciso comentar uma coisa, Naosuke era o DÉCIMO QUARTO filho, foi mandado para um mosteiro budista, recebia uma mesada minguada e por uma série de acontecimentos fortuitos terminou herdando o domínio do pai.  Caso excepcional, talvez único, na História Mundial.

Ao externar sua dor e sua frustração, Taneatsu
se torna alvo do desprezo de outros samurai. 
Vontade de dar colo para ele.
Ii Naosuke desejava controlar a sucessão e irá torcer (*e agir?*) para que a shogun não leve a termo sua gravidez.  Ele também age para que o tratado comercial com os norte-americanos seja assinado. Nos seus cálculos, um acordo comercial com os americanos poderia livrar os japoneses de um ataque de ingleses, ou franceses, que estavam expandindo seus impérios coloniais. Se Masahiro pretendia estender as negociações (*algo fundamental para que o Japão conseguisse fortalecer suas defesas*) e conseguir atrair os daimyos relutantes, ele opta por ações violentas e expurgos.  Sua vítima mais proeminente é Tokugawa Nariaki, chefe do partido contra o tratado, e que desejava que seu filho, Yoshinobu, fosse apontado como próximo shogun.  A pressa de Ii Naosuke em entrar em acordo com os americanos, sua truculência, faz com que o Imperador Kōmei interfira politicamente.  

Desde a morte de Masahiro, vários daimyos tinham de aproximado do imperador e o monarca, que pouco poder tinha, decide tomar medidas antes nunca vistas no shogunato, ele baixa um decreto se dirigindo ao clã Mito e, não, ao shogun Tokugawa.  Enquanto isso, o clã de Satsuma para tomar o poder.  A efetividade dos planos é limitada dentro do mangá, o próprio Taneatsu, que deveria ser peça chave, age contra os interesses de seu clã, mas o que temos é uma situação de pré-guerra civil.

Taneatsu e Iesada um dos casais mais felizes dessa série. 
Eu quero mais um live action de Ōoku
!
Yoshinaga consegue oferecer volumes muito bons quando decide sair do Ōoku  e o volume #15 consegue um raro equilíbrio entre o dentro e o fora.  Não sei se ela vai conseguir desenhar guerra, não sei se esta é sua intenção, mas o fato é que para não ter que fazer isso, ela terá que provar mais uma vez o seu talento.  Pois bem, morre Iesada, para grande luto e tristeza de Tachiyama e Taneatsu.  O consorte é proibido de deixar o Ōoku e tornar-se monge, algo que fazia parte da tradição, ele desconfia que Iesada desejava que ele guiasse a nova shogun, Tomiko, agora, Iemochi.  Muito jovem para governar sozinha, a menina termina sendo tratada como incapaz por Naosuke, mas depois do assassinato do ministro, Tenshō-in (Taneatsu) se tornará figura mais que preponderante em seu reinado.

Não sei se para quem cai de pará-quedas nessa resenha, o texto faz muito sentido, mas o fato é que você pode achar todas as resenhas de Ōoku até esse volume no Shoujo Café.  São anos de leitura e torcida, inclusive, para que o mangá seja lançado aqui.  Enfim, nesse volume, algumas questões mais que importantes são tratadas, também temos ecos de Arikoto, o concubino favorito da shogun Iemitsu, e de Lady Kasuga, que era capaz de qualquer coisa pelo bem do Japão, para que não houvesse guerra civil.  Tenshō-in e Takiyama decidem que cabe a eles agir como essas duas figuras outrora fizeram para garantir que Iemochi reine e que a guerra civil seja evitada.  Por isso, o casamento entre a jovem e um príncipe vindo de Kyoto é tão importante para apaziguar o imperador e o shogun.

O príncipe que é uma princesa.
O problema é que o príncipe Kazu, assim como a princesa "real" desta história, lembrando que a maioria das personagens do mangá tem seu sexo biológico trocado, não quer ir para Edo (Tokyo), não quer se casar.  O Shogunato promete uma série de coisas, inclusive que irá expulsar os estrangeiros dentro de um prazo de alguns anos.  O casamento se realiza.  Historicamente, Iemochi e a princesa Kazu se deram bem e viveram felizes para os padrões da época.  O problema, e esse é o gancho do final do volume, é que Kyoto não envia o príncipe que era esperado (*e que aparece em certo momento do volume*), mas uma mulher disfarçada.  A última página é ela afrontando Tachiyama.  Houve casamento, poderá haver alguma diversão no leito nupcial, mas não filhos.  É uma forma de ataque ao Shogunato.  Uma declaração de guerra?  Ou será outra coisa?

Como Yoshinaga vai resolver esse problema?  Iemochi tinha se mantido virgem para o casamento inspirada na história de amor de Taneatsu e Iesada.  Há um momento do volume em que Tachiyama desconfia que a moça ama Taneatsu (Tenshō-in) e urge que ela tome concubinos e produza herdeiros.  Só que ela tem por Tenshō-in uma devoção paternal e ele, bem, é incapaz de amar qualquer mulher que não seja sua finada esposa.  O fato é que historicamente Tenshō-in e Kazu foram adversárias (*eram ambas mulheres*) em determinado momento para, mais tarde, se tornarem aliadas em favor do Shogunato e da pacificação.  Vamos ver no que dá isso.

Kazu e Iemochi vão se dar bem uma
com a outra, o que vai acontecer?
De qualquer forma, e eu estou caminhando para o fim, o sofrimento de Taneatsu, que foi separado da esposa grávida e impedido de estar ao seu lado em seu leito de morte (*ela deve ser sido assassinada*) entra nos momentos mais comoventes da série.  Taneatsu é o novo Arikoto, mas somente agora irá ter que mostrar se tem a astúcia dosada com bondade dessa personagem tão amada, ou se irá ser o novo Emmonosuke, o dark Arikoto, capaz de conspirar sem medo e de agir sempre pensando no país e em seu próprio poder.  Talvez, essa parte caiba a Tachiyama, mas é difícil saber.

O fato é que quando Taneatsu lembra da última conversa com a esposa, uma sequência que é colocada na forma de flashback, quase chorei.  Se estivesse sozinha, choraria com certeza.  Ōoku me fez chorar outras duas vezes e, bem, os responsáveis foram Arikoto e Emmonosuke.  De qualquer forma, nessa conversa, Ieasada, cheia de esperança, fala do futuro e da revolução que quer fazer.  Ela deseja um Japão no qual as pessoas sejam valorizadas por sua competência, independente de serem nobres, ou não, de serem mulheres, ou homens.  Palavras poderosas, emocionantes, mais do que sábias, mas o Japão da série, assim como o mundo em que vivemos hoje não estava pronto para isso.  

Iesada revela seu sonho, construir um Japão no qual o mérito pese
mais que a origem social, ou o sexo biológico de uma pessoa.
Taneatsu se lembra que ele nunca se encaixou, que como samurai de Saitama, o único domínio do Japão onde a varíola vermelha não dizimou a população masculina, os homens tratavam as mulheres como lixo e ele, por ser diferente, era discriminado.  Veio daí o desejo de ajudar Iesada a superar seus medos e o apoio que ele decide dar a Iemochi.  No seu sofrimento e incapacidade de esconder sua dor, Taneatsu recebe novamente olhares de desprezo, ele não encontra paz, mas decide tirar do seu amor por Iesada e seu amor pelo Japão a força para seguir em frente e será uma árdua tarefa.

Enfim, ficção e realidade se cruzam em Ōoku.  Nesse volume, que deveria ter a capa branca, não o #14, há os que agem pelo Japão e confundem, por vezes, sua vontade com os interesses do país.  Ii Naosuke foi um deles, curiosamente, ele foi assassinado, também, por heresia, ele liberou a prática do cristianismo no Japão.  Há, também, os que agem por interesse próprio, rompendo com os laços de fidelidade que seriam sagrados.  Como os samurai que matam Naosuke, ou o senhor de Satsuma.  E há os que sofrem as consequências e tentam fazer o melhor.  Reforço meu desejo que Yoshimune não se estenda ainda mais e que consiga terminar seu mangá brilhantemente.  O volume #17 sai em agosto no Japão.  Espero que ele seja o penúltimo da série.

sábado, 29 de junho de 2019

Revista Melody comemora os 40 anos de carreira de Kyouko Hikawa


Kyouko Hikawa está comemorando 40 anos de carreira e a revista Melody trouxe um booklet revendo os trabalhos da autora.  Na capa do apêndice estão as protagonistas do mangá Kanata Kara (彼方から), segundo o Comic Natalie.  


A autora debutou em 1979 com a série Chizumi & Fujiomi  (千津美と藤臣君) e não parou mais.  Fã de Jackie Chan e filmes norte americanos, esses elementos estão presentes em algumas de suas obras.  O booklet tem ilustrações, entrevistas e outros mimos para os fãs.


Também nessa edição da revista, uma matéria sobre os filme de Patalliro! (パタリロ!) e o último capítulo do mangá Mahou ni Kakatta Shingakki (魔法にかかった新学期) de Kyouko Hikawa, que está na capa da edição.

Estou fora de casa


Pessoal, estou fora de Brasília até o dia 13 de julho.  Então, nesses dias, minha conexão estará um lixo.  Eu não posso garantir posts todos os dias.  De qualquer forma, vou tentar postar sempre que puder.  Vou dar opção à resenhas, porque posso escrevê-las sem estar conectadas.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Grávida é processada por matar feto após ser baleada no ventre no Alabama


Quando me deparei com essa história ontem, fiquei perplexa.  Uma mulher foi presa no Alabama por levar um tiro no ventre e perder o bebê que carregava.  Ela levou um tiro e, segundo a justiça do Estado do Alabama, a única vítima foi o feto.  Como a mulher supostamente iniciou a discussão, ela foi acusada de assassinato.   Quando os detalhes começaram a aparecer e as coisas a clarear, ficamos sabendo que a vitima, Marshae Jones, é negra e pobre. O Alabama é um estado racista e machista, recentemente, falei dele aqui, porque a atual legislatura conseguiu banir o aborto em quase todos os casos.  O caso de Marshae Jones faz parte da guerra contra as mulheres, ser negra e pobre a torna ainda mais vulnerável.

Lembro quando li Backlash: The Undeclared War Against American Women, de Susan Faludi, livro publicado 1991, uma das questões que a autora comentou era como legislações estavam sendo implementadas nos EUA desde os anos 1980 para considerar um crime cometido contra uma grávida um agravante.  Se o feto morresse, quem perpetrou o crime seria acusado de assassinato, por exemplo.  Parece um avanço, não é?  Algo justo, sem dúvida.  Agora, se formos à Bíblia, livro muito caro aos (pseudo)conversadores, descobriremos que provocar um aborto em uma mulher poderia ser, no máximo, lesão corporal (Êxodo 21:22), a ser compensado, claro, mas seria o marido, dono do feto e da hospedeira, e é meio desse jeito que os textos antigos e os legisladores fundamentalistas de nossos dias nos veem, a real vítima do incidente.  

A vítima transformada em assassina.
O problema desse tipo de legislação, já dizia a autora na época, é que essas leis estavam sendo usadas contra as mulheres, elas eram vistas como as agressoras em potencial.  Grávidas estavam sendo acusadas de colocarem em risco a vida de seus filhos não-nascidos e o Estado terminava por tutelá-las, interná-las, até que a criança nascesse, ou, caso viesse a falecer, as mães eram responsabilizadas judicialmente. A autora cita vários casos, inclusive de cesarianas feitas à força para garantir o (*suposto*) bem estar do feto de uma potencial assassina.  Isso mais de 30 anos atrás, desde então, as coisas pioraram.

Marshae Jones não é vítima, ela é a assassina.  A outra mulher é outra vítima junto com o feto.  Atirou na barriga de uma grávida em legítima defesa.  Jones está presa, a fiança é de  50.000 dólares, algo proibitivo para alguém pobre.  Talvez, as organizações pelos direitos das mulheres levantem o valor e a tirem da cadeia, mas o processo seguirá e poderá terminar cumprindo uma pena pesadíssima.  Espero que ela se salve, não sei se será.

O sorriso de quem nunca irá engravidar, mas se acha no direito de
tutelar e oprimir as mulheres que podem ter direito de
interromper a gravidez dentro da lei.
Mas não precisamos ir muito longe.  Gileade é aqui, também.  O vereador Fernando Holiday (DEM-SP) protocolou projeto de lei (PL 352/2019) em São Paulo dificultando o aborto legal, que se aplica a somente três casos em nosso país: estupro, risco de vida para a mãe e anencefalia.  Em caso de estupro, será necessário provar a violência e apresentar a permissão judicial, algo que não é exigido hoje.  Em todos os casos, a interrupção seria retardada por um prazo para que a mulher pudesse ser dissuadida por psicólogos (*como se um profissional ético se prestasse a isso*), aconselhamento religioso e/ou sobre "as questões bioéticas do abortamento".  Tortura, enfim,

Agora, o que despertou maior indignação foi a proposta, que ele parece pretender retirar do projeto, de previsão de internação para mulheres com propensão ao aborto (ilegal).  Imagine, você foi para uma consulta médica e o profissional desconfiou que você iria abortar, ou poderia tentar.  Ele, ou ela, poderia denunciar você e você seria internada.  Diante da reação contra tal medida fascista, o vereador destacou que seriam somente 72 horas, até que a mulher recobrasse a razão...

Em El Salvador, mulheres (pobres) podem pegar
até 50 anos de cadeia por abortarem.
Vocês percebem como a violência contra as mulheres vem em escalada?  Cada vez mais, somos reduzidas à meros úteros.  Você leva um tiro, mas não é vítima.  Perde seu bebê, o que para a maioria das mulheres é um trauma, mas é acusada de matá-lo.  Vai presa e pode mofar na prisão para servir de exemplo.  Aqui, no Brasil, vem um homem, um sujeito que em caso de estupro nunca poderá engravidar, e apresenta um PL com o intuito de tornar possível torturar as mulheres vítimas de violência, ou que tenham direito a interromper a gravidez dentro da lei.  Elas precisam sofrer.  Não fosse o bastante, ainda há o projeto de internação compulsória, algo que passou a ser permitido para drogados, de qualquer grávida que possa parecer suspeita.  Ser mulher, dentro de uma lógica misógina, já nos torna suspeitas, mais do que isso, na verdade, nos torna culpadas.

Não sei quando esse pesadelo irá terminar. Talvez, o objetivo seja competir com El Salvador, onde uma mulher que aborte espontaneamente é suspeita e pode pegar uma pena de até 50 anos.  O que eu sei é o seguinte, qualquer mulher pode ser vítima dessas legislações, pois elas normalizam a violência contra QUALQUER UMA que teve o AZAR de nascer do sexo feminino.  Sim, só se aplica a nós, não se aplica aos homens.  E pode acreditar, se quiser, que com você NUNCA vai acontecer, porque você é boa e decente.  É fundamental que pelo menos uma parte das mulheres acredite nisso e apoie tais medidas para que a opressão continue.  Pode ter certeza, no entanto, que um dia isso vai chegar em você, também, ou em uma amiga, em uma tia, filha, ou alguém igualmente decente como você.  Como mudar isso?  Uma das formas é votando de forma responsável.  É urgente, aliás, que assim se faça.  Não sei se o texto foi útil, mas precisava desabafar.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Comentado Toy Story 4 (EUA/2019):"Mamãe, não me molhe com suas lágrimas!"


Toy Story, a série, é uma instituição, uma série de respeito com quatro filmes: Toy Story (1995), Toy Story 2 (1999), Toy Story 3 (2010), e Toy Story 4 (2019).  Quando a série estreou, eu já era adulta, estava na faculdade e, por mero preconceito, não fui ao cinema assistir ao filme.  O primeiro filme que assisti no cinema foi o #3, que eu acreditava realmente que fosse o último.  Resenhei em 2010.  Li o texto e, logo no começo, pontuei que acreditava que Toy Story #3 era um golpe comercial, mas terminei concluindo que "Não foi um golpe comercial lançar esse terceiro filme, é um fechamento de um ciclo, e um dos mais felizes que eu já acompanhei.".  Agora, em relação ao último, ainda que tenha gostado bastante, isso se aplica.  Não precisávamos do novo Toy Story, ainda que eu tenha gostado bastante dele.

O novo Toy Story começa com um flashback, nove anos antes, quando Andy ainda era criança, os brinquedos tem que se unir para resgatar um carrinho que tinha ficado do lado de fora e estava sendo carregado pelo temporal.  Todos se organizam, inclusive Bo Peep, a pastorinha por quem Woody sempre foi apaixonado.  Neste momento, chega um sujeito para levar brinquedos que a irmã de Andy não queria mais.  Bo Peep, suas ovelhinhas e o abajur que formavam o conjunto, foram levados embora.  Woody se desespera, mas não há remédio, ela vai embora.


Woody decide que sua missão é proteger
o novo brinquedo favorito de Bonnie.
Nove anos depois, Woody e os outros brinquedos pertencem à Bonnie, a menininha de imaginação mais que fértil.  Só que ela não brinca mais com Woody, ele agora parece esquecido no armário junto com brinquedos de bebê e outros que não agradam mais à menininha.  É o primeiro dia no Jardim de Infância e Bonnie não quer ir sozinha.  Woody, apesar de advertido pelos outros brinquedos, se esconde na mochila e observa que Bonnie conseguiu se sair bem, fez inclusive um novo brinquedo, Garfinho.  

De volta em casa, Garfinho não aceita que deixou de ser  um descartável e se tornou um brinquedo de criança.  Ele quer se matar.  Woody e os outros decidem garantir sua proteção, só que quando Bonnie e os pais partem em uma viagem curta, Garfinho se joga do trailer e Woody decide ir resgatá-lo.  A partir daí, temos uma aventura que vai testar todas as crenças e certezas mais arraigadas do cowboy mais famoso da Disney-Pixar.


Todas as mulheres do filme repreendem
Woody, inclusive Dolly,
 a boneca de pano.
Toy Story 4, que eu assisti já faz uma semana, é bom.  Ri e chorei.  No entanto, preferia que tivéssemos vários especiais a um novo filme no cinema.  A nova película tem o compromisso de revisitar as personagens e estão todos lá: Buzz, Jessie, Cabeça de Batata, Botão de Ouro, Bala no Alvo, Rex etc.  Novos brinquedos são introduzidos, como o Patinho e o Coelhinho de pelúcia, Gabby Gabby e seus marionetes-zumbis,  Duke Caboom e, claro, Bo Peep.  Sim, a pastorinha está de volta, mas é uma personagem absolutamente nova.  Como essa resenha é escrita sob uma ótica feminista, vou focar em determinados pontos relacionados às mulheres do filme.



Bo Peep estava nos primeiros dois filmes da franquia.  Era uma personagem importante para o protagonista, Woody, sua amada, mas a função dela era dar um ou outro bom conselho e ficar no fundo.  No primeiro filme, os meninos (*Buzz e Woody*) eram os indiscutíveis protagonistas.  No segundo filme, mesmo com a introdução de Jessie, eram os machos que tinham maior espaço na película.  No terceiro filme, há mais Jessie, temos a Barbie, mas elas são coadjuvantes, os meninos continuam sendo os elementos centrais.  Nesse quarto filme, decidem empoderar as meninas.  O resultado é bom?  Sim e não.


Antes e depois.
Bo Peep era uma personagem passiva e pertencia ao Andy, não a sua irmã (*Uma colega disse que no primeiro filme andy dividia o quarto com a irmã menor, não me lembro disso, mas não fui rever o filme*).  Nesse último filme, ela vira brinquedo de menina, na verdade, uma estátua de um conjunto com um abajur.  Coloquei um vídeo no corpo da resenha mostrando a evolução dos filmes de Toy Story e vocês podem ver perfeitamente que ela era do Andy, ou ele brincava com ela pelo menos.  OK.  Refizeram o passado da personagem, é outra Bo Peep.

Mandada embora pela dona, termina em um antiquário, mas foge de lá, porque não suporta ficar em uma prateleira.  Ela não quer, também, ser o brinquedo de uma criança só.  Ela quer ser livre.  o não-conformismo é interessante, é como contrapor duas visões de mundo sendo que uma delas, a da exaltação da vilazinha segura do interior (*nesse caso, o quarto de uma criança*), é a favorita do cinema norte-americano, surte efeito.  Ela vem se virando e superando obstáculos ao longo de anos, aprendeu, também, a liderar.  Mesmo sendo de porcelana, ela não se deixou quebrar, ou destruir.  E temos uma heroína de ação.
Novos brinquedos.
Essa heroína de ação, no entanto, subordina Woody (*achei tão exagerado quanto o esquecimento de Bonnie*) e manipula os outros machos em tela sempre que pode.  Vide o caso de Duke Caboom, o motociclista vaidoso.  Permanecemos com um estereótipo comum, que é o da mulher ardilosa.  E ela se impõe ao protagonista, Woody, que acaba pintado como alguém que acredita saber das coisas, mas é um provinciano, alguém que não sabe de nada.  A outra mulher forte e ardilosa do filme, a vilã que se redime, é Gaby Gaby.  Ela parece má, mas o que ela quer, o que quase todo brinquedo quer, exceção para Bo Peep e meia dúzia, é ser amada por uma criança.  Para isso, ela é capaz de tudo, inclusive, sequestrar o Garfinho e mutilar Woody (*sem spoilers*).

Ter mais personagens femininas é bom para as meninas.  Não vou negar isso.  Ao mesmo tempo, não sei se essa mudança súbita em Bo Peep, essa transformação em personagem baddass, é o melhor que poderiam fazer nesse quarto Toy Story.  Poderiam ter criado uma nova personagem ao invés de remodelar uma antiga.  Poderiam manter Bo Peep como primeiro amor de Woody.  Fora isso, a coisa me parece forçada em alguns momentos e em detrimento de Woody, que termina sendo ridicularizado.  De qualquer forma, o filme funciona bem e somos capturados pela nostalgia.


O primeiro amor que renasce.
Outra coisa que me parece forçada é que Bonnie tenha se esquecido de Woody completamente.  Tenho uma menina de cinco anos em casa, lembro, também, da minha relação com meus brinquedos.  ainda que pudesse ficar um bom tempo sem brincar com algum deles, quando os revia, reencontrava, era como se tudo começasse de novo.  A insensibilidade de Bonnie em relação à Woody, é bem triste e eu não imagino a menina do filme três e dos especiais fazendo isso.  Não imagino mesmo.  Ela chega a lembrar de Woody só para tirar dele a estrela de xerife e colocar em Jessie.  Desculpe, isso não empodera a Jessie, é somente cruel e injusto mesmo.  E Júlia gostou muito mais dos bichinhos de pelúcia novos do que das personagens femininas "fortes" do filme. Com ela, não surtiu efeito.

Falando nisso, salvo por Buzz que tem um pouco mais de tempo de tela e ótimas cenas com os bichinhos de pelúcia psicopatas, a atenção maior é para os novos brinquedos (*Bo Peep incluída*) e Woody.  Garfinho, o suicida, é mero alívio cômico, uma desculpa para que Woody viva a aventura que é central ao filme e, no final, tenha que escolher entre ficar esquecido no armário de Bonnie, ou iniciar uma nova jornada.  É uma escolha difícil, porque implica em dar adeus aos amigos e romper com toda a sua visão de mundo.  Woody não conseguia se perceber como algo que não fosse o brinquedo de uma criança.  


Buzz continua sendo o meu favorito.
Não sei se tenho muito mais a dizer sem contar spoilers.  Veria o filme de novo, queria mesmo assistir legendado.  Há cenas pós-créditos, então, não saia correndo do cinema.  Fiquei emocionada várias vezes, mas ando meio maria-mole mesmo.  Todos que estavam na sessão vibraram, riram, e aplaudiram no final.  Ah, sim!  Há muitos easter eggs, desde brinquedos que aparecem em especiais da Pixar e de Toy Story até outros segredinhos.  Assistindo uma vez só, não dá para ver tudo.

E, sim, como a animação evoluiu!  Fiquem atentos ao gato.  Ele parece absolutamente real.  Se pegarmos os primeiros filmes, a diferença é enorme, absurda.  Agora, o caráter estático que favorecia os bonecos, lhes dava charme, foi praticamente eliminado e isso trabalha um tanto contra determinadas personagens, como a boneca de porcelana aventureira.  Ela é flexível demais.  Mas é isso.  Duvido que daqui uns cinco anos não tenhamos mais um filme no cinema.  Fora isso, especiais virão e eles tendem a ser muito bons.  


Recomendação de Vídeo: O que Harry Potter nos Ensinou sobre Política | Louie Ponto e Sabrina Fernandes (Tese Onze)


Olha, quando vi esse vídeo, não poderia deixar de recomendar.  Uma conversa super legal entre a Louie Ponto e a Sabrina do Tese Onze.  Ficou leve e ficou profundo e eu gosto de Harry Potter. 



Agora, queria discordar um tiquinho.  Há negros em HP, só não estão em situação de protagonismo.  Os protagonistas são brancos.  E quando chegamos nos filmes, a coisa piora, Lavender Brown começa interpretada por uma atriz negra, mas no filme em que se torna namorada do Ron, passa a ser uma atriz branca.  Há, também, uma das meninas da equipe de Quidditch de Giffindor, que se casa com o gêmeo que sobrevive, inclusive, que é negra.  Agora, há toda uma discussão que surgiu quando escalaram uma atriz negra na peça de teatro para ser Hermione e muita gente reclamou.  

Li um artigo (*não lembro mais onde*) de um jornalista negro que estava se culpando por não perceber pistas nos livros de que Herminone sempre foi negra.  E ele aponta, especialmente no Cálice de Fogo, que elas existem "Minhas irmãs faziam isso!".  Obviamente, não me surpreende terem escalado uma menina branca para o papel e a autora ter ficado na dela.  Em Jogos Vorazes não embranqueceram a Katniss?  Pegaram uma atriz branca e loura e lhe tacaram lentes e pintaram o cabelo?  Nos livros, ela e morena e tem "olive skin".  OK, mas foi ótimo o vídeo. 

Autora de Banana Fish vai estrear novo mangá na revista Flowers


Akimi Yoshida, autora de Banana Fish e do premiado Umimachi Diary (海街diary), vai estrear novo mangá em 26 de julho.  O primeiro capítulo de Utagawa Hyakkei (詩歌川百景) terá 56 páginas incluindo capa da revista Flowers e páginas coloridas.  O que sabemos da história até o momento, e que está no Comic Natalie, é o seguinte: a série gira em torno de um grupo de pessoas que mora em uma cidadezinha em um vale que tem uma fonte termal.  O protagonista se chama Kazuki, cunhado de Suzu, uma das protagonistas de Umimachi Diary.  A personagem apareceu em um gaiden da série anterior de Yoshida.  A história se passa dez anos depois de Umimachi Diary.

Akiko Higashimura na Big Comic Spirits


Não consegui entender se é série, ou se é um one-shot, mas o fato é que Akiko Higashimura, que, sei lá, deve ter uns cinco mangás em andamento, publicou ou começou a publicar um mangá na Big Comic Spirits.  A capa é linda e o traço dela está cada vez mais bonito.  Se alguém puder me ajudar a entender direito, a matéria está no Comic Natalie.

Está chegando o dorama de Nagi no Oitoma


Nagi no Oitoma  (凪のお暇)  é um mangá com um traço bem peculiar e que tem aparecido em praticamente todas as premiações importantes.  Em maio, foi anunciado um dorama (*ia acontecer, mais cedo, ou mais tarde*), pois bem, para comemorar, pois a série estreia em 19 de julho, a revista Elegance Eve, que publica a série, trouxe um booklet com duas histórias extras inéditas.  Há detalhes no Comic Natalie.  Ou seja, ótimo para os fãs da série.


Para quem não conhece, um pequeno resumo: Oshima Nagi, de 28 anos, trabalha para um fabricante de eletrodomésticos em Tóquio. Ela se ajusta ao ambiente enquanto mede constantemente o humor das pessoas. Seu objetivo é passar cada dia sem incidentes. No entanto, como resultado de toda essa tensão e de se esforçar demais, ela entra em colapso por causa da hiperventilação. Um dia, o namorado de Nagi diz algo que quebra o coração da moça. Isso a leva a reexaminar sua vida e a tomar a decisão de mudá-la. Ela se demite de sua empresa, cancela o contrato para o apartamento que está morando e também para de se comunicar com todo mundo, inclusive com o namorado. Nagi planeja redefinir sua vida para ser feliz e uma das suas decisões é deixar que seu cabelo naturalmente encaracolado, que ela costumava alisar, cresça do seu jeito natural.  A página do dorama é essa aqui.  O teaser trailer está aí embaixo.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Uma imagem que queria dividir com vocês


Batsukoi (バツコイ), da mangá-ka Tsukiko, não tem scanlations.  Eu já tinha visto ilustrações do mangá, mas, hoje, no Twitter, fiquei realmente surpresa com uma ilustração da série na qual a protagonista aparece de biquíni e com um barrigão de grávida.  Quantas vezes vocês já viram uma grávida em um mangá, ou anime?  Não falo de uma mulher descobrindo-se grávida, sem barriga alguma, falo de gravidez mesmo.  Eu conto nos dedos, uma imagem assim, nunca vi, é sempre a grávida discreta.  Parece que as mulheres, no Japão, costumam se esforçar para que a gravidez seja percebida pelo menor número de pessoas possível.  Há a pressão para se manterem magras, mesmo grávidas.  Então, queria dividir a imagem com vocês.


Fui atrás de um resumo da série, que já vai nos 5 volumes, achei o seguinte: Kahori é uma advogada, solteira, já com trinta anos e sem nenhuma disposição para caçar marido.  Ela quer ser independente e, se as reviews não me enganaram, ter romances e sexo ocasionais.  Há uma capa em que ela aparece com dois caras, inclusive. Obviamente, duvido que isso se mantenha por muito tempo.   


De qualquer forma, ela parece ser feliz, mas acaba sendo surpreendida por uma gravidez e decide levar adiante, ter a criança e sozinha.  Outro tema tabu,  Agora, não sei se o pai da criança é casado, ou algo assim.  Pelo que li, parece opção da personagem mesmo.  Queria scanlations.  A página do mangá é essa aqui.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Gamer rebate comentário machista e perde contrato com marca de acessórios para gamers


Usei o mesmo título da matéria do Jornal O Dia, porque ela expressa perfeitamente o que houve nesse caso e se posiciona de forma critica em relação à questão.  Enfim, não conheço Gabi Cattuzzo, não sou gamer, muito longe disso.  Só que, como não podia deixar de ser, chegou em mim o incidente no qual a moça, uma gamer importante do cenário brasileiro, deu uma resposta enviesada para um sujeito que a assediou, muito provavelmente, por já ter sofrido isso tantas e tantas vezes, e acabou sendo alvo de uma campanha de misóginos, machistas e afins.  Resultado, a Razer Brasil, empresa ligada ao ramo, anunciou que vai retirar seu patrocínio.  O comunicado está aí embaixo:



Mais cedo, antes de saber mais detalhes do caso, eu tinha me posicionado da seguinte forma, Cattuzzo é uma pessoa pública, por isso mesmo, deve ter cuidado com a forma como se expressa em suas redes sociais, e a empresa patrocina quem quiser.  Ainda que mantenha essa posição, sei muito bem do momento terrível em que vivemos, isto é, toda a sorte de escória se sente empoderada para expressar o que tem de pior e ameaçar as pessoas que considera mais fracas.  Gabi Gattuzzo disse que todos os homens são lixo e uma turba de homens (*e mulheres validadoras*) prontamente age como se ela tivesse ameaçado promover um genocídio de metade da raça humana.  

se você não é lixo, não vai dar a mínima para isso.  Mas qual não foi o resultado?  Ela, seus familiares e amigos começam a receber ameaças de morte.  Sim, de morte.  Mulheres são chamadas de uma série de coisas absurdas todos os dias no coletivo, nem por isso saem por aí ameaçando MATAR os homens, muito menos, matando seus desafetos, ou pessoas que dizem amar profundamente, como os homens fazem.  Mulheres matam, mas em uma proporção muito menor aos dissabores que enfrentam no dia-a-dia.


A atitude da Razer Brasil, que disse que não vai renovar o patrocínio com a moça, foi saudada por 9 entre dez misóginos da internet.  A ação, aliás, foi orquestrada e atingiu os objetivos. É para comemorar mesmo.  A empresa se posicionou imediatamente contra a moça e a acusou de fazer discriminação por sexo (!!!!!).  Seja lá o que signifique isso, trata-se de uma invenção para justificar a covardia, ou a cumplicidade.  Olhei o Twitter faz pouco e existe uma onda de indignação.  Bem, é direito da empresa deixar de dar dinheiro para Gattuzzo, é direito dos consumidores apoiar essa medida, ou boicotar a marca.  Simples assim.  Acabei de ver que Felipe Neto, que tem estado do lado certo da maioria das causas nos últimos tempos, veio a público defender a moça.  Bom, espero que aumente a onda de indignação.

Discuti mais cedo com um moço que veio na linha do "quem lacra, não lucra".  Pergunto-me se já esqueceram da ressaca causada pelo sucesso da Capitã Marvel, porque está mais que provado que abraçar causas justas não causa benefícios somente para a sua consciência.  Ele citou o exemplo de Neymar, que perdeu patrocínios por conta do escândalo recente.  Perdeu, sim, nem tanto por causa do suposto estupro (*sim, nada provado, apesar da moça já ter sido julgada e condenada*), mas muito mais por ter cometido um crime ao expor as imagens da moça, conversas, nome do filho criança dela na internet.  E, olha, que ele já era sonegador antes disso e, bem, continuava em alta.  Só que ele recebeu inúmeros apoios, começando pelo presidente, o mesmo que não prestou uma solidariedade sequer à família negra fuzilada pelo Exército no Rio de Janeiro.  Enfim, se houvesse o mesmo peso e a mesma medida, não teríamos um homofóbico, misógino e racista eleito e festejado, inclusive em meios cristãos.  Resumindo, os pesos e as medidas não são as mesmas, homens e mulheres não são tratados da mesma forma em nossa sociedade..

Misóginos querem que as mulheres fiquem "no seu lugar",
aqueles que eles determinaram para elas.
Voltando, o meio gamer é extremamente machista e tóxico. Querem ver?  Segue algumas notícias: Em campanha contra machismo nos games, youtubers sentem assédio na peleNo “Dia do Orgulho Nerd”, mulheres expõem o lado tóxico dessa comunidadeAnita Sarkeesian talks about exposing gaming’s most toxic trends with sheer dataConheça Anita Sarkeesian, a crítica de games que está sendo execrada na internetAnita Sarkeesian: uma voz mal-entendidaO que as mulheres fazem para driblar o machismo em games online?Mulher denuncia ataques machistas em jogos online etc.  Poderia continuar listando matérias o dia inteiro e em várias línguas.  O meio nerd em geral é muito machista e uso nerd para abarcar tudo, a seção dos games pode ser mais exacerbada, mas não abri o Shoujo Café e antes dele o Shoujo House e uma lista de discussão no Yahoo, porque as mulheres e suas opiniões eram bem acolhidas em grupos mais amplos.

Enfim, Gabi Gattuzzo poderia ter respondido de forma diferente.  Ela poderia não ter generalizado, aliás, detesto esse tipo de coisa.  Ela poderia ter respirado e dado uma resposta melhor, mas ela não fez nada de tão nefasto assim.  Abominável é ser ameaçada de morte e ver a festa que alguns estão fazendo, porque, aparentemente, conseguiram anular uma mulher, uma gamer e aparentemente feminista.  É disso que se trata, uma ação coordenada para tentar silenciar mulheres, aterrorizá-las e a empresa, a Razer, agiu no mínimo precipitadamente, ainda que, repito, seja direito deles patrocinarem quem quiserem.


Terminando, deixo o vídeo do Clayson sobre o assunto, está aí em cima.  Ele explora bem o caso.  Não concordo com ele quando diz que a empresa deveria separar a gamer de suas ideias.  Não.  Se uma pessoa é horrorosa, salvo em caso de necessidade absoluta como vencer uma guerra, ou impedir uma catástrofe, não se deve dar voz e espaço para ela.  Raros são os monstros que já nascem grandes, sabe?  Mas nem é o caso.  

Não há simetria entre o que uma mulher gamer sofre e a indignação (*seletiva*) dos homens que se sentiram ofendidíssmos com a generalização.  Infelizmente, porém, é o mundo em que vivemos.  Espero que a Gabi Gattuzzo não se deixe calar e logo esteja com um novo patrocínio.  Sim, estou me posicionando.  Entre os misóginos e hipócritas, eu fico com ela.  Perdeu a paciência, mas é mais vítima do que uma coletividade que raramente se junta para algo de positivo.

Anunciado mais um OAV de Midnight Occult Civil Servants


Midnight Occult Civil Servants ou Mayonaka no Occult Koumuin  (真夜中のオカルト公務員)  é uma série da revisa Asuka.  O mangá de Youko Tamotsu começou a ser publicado em 2015 e teve anime este ano.  Desculpem, mas acabei não dando a notícia.  A série começou a ser exibida em abril e terminou este mês, contando com 12 episódios de TV + 3 OAVs.  O Comic Natalie noticiou que mais um OAV será lançado em 25 de outubro na   Hikari TV e outros meios.


O resumo do início do mangá é o seguinte: Arata Miyako foi recentemente designado para o Departamento de Relações Regionais Noturnas do Escritório de Shinjuku. Cada um dos 23 distritos de Tokyo tem um desses departamentos, criado para mitigar eventos paranormais e relacionados ao ocultismo. A habilidade especial de Arata é a compreensão da fala não humana, e a história começa com ele encontrando um youkai no parque Shinjuku Gyoen que se refere a ele como o lendário exorcista da era Heian, Abe no Seimei.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Primeiro capítulo de Babysitter Gin! republicado na revista Kiss


Babysitter Gin! (ベビーシッター・ギン!), de Waki Yamato, vai virar dorama.  Comentei isso recentemente.  A série estreia no diz 30 de junho na NHK e a Kodansha está fazendo o possível para promover a série.  Acabei de ver no Twitter que o primeiro capítulo do mangá será publicado amanhã na revista eKiss, a versão digital da Kiss.



Não conhecia Babysitter Gin! e por tudo o que eu vi de imagens da série, deve ser um negócio muito surtado.  Do tipo, ou é muito bom, ou é muito ruim.


De qualquer forma, o dorama faz parte das comemorações dos 50 anos de carreira de Waki Yamato.  Aliás, alguém sabe se a segunda parte do filme animado de Haikara-san ga Tooru (はいからさんが通る) já saiu?  Eu agradeço a informação.

Publicado capítulo extra de Sabaku no Harem


Em março, fiz uma pequena resenha dos primeiros capítulos de Sabaku no Harem (砂漠のハレム), de Mitsuru Yumeki.  É um mangá simpático e preciso lembrar de retomá-lo.  Hoje, foi lançado um capítulo especial do mangá na revista LaLa.  


Em 5 de julho, teremos o último volume lançado, o #10, em edição normal e limitada.  Essa versão especial tem um booklet.  As imagens vieram do Twitter da autora.

Meio Off-topic, mas vamos falar de Celibato Clerical


Ontem, falei de duas produções televisivas que tratam do celibato como ponto de partida para uma um drama amoroso.  Poderia listar de cabeça outras tantas novelas que criam um drama em torno do padre apaixonado e que está preso por seus votos. Pois, bem, hoje, vários jornais e portais davam destaque à possibilidade do Vaticano flexibilizar (*não abolir, não é disso que se fala*), o celibato.  Que isso seria um risco para o Papa Francisco.  Não acho que vá acontecer, mas como me meti em uma discussão no Facebook e não queria desperdiçar ideias, vamos fazer a história dessa imposição disciplinar, porque não é dogma, nem algo fundamental à fé. 

Desde o século IV, pelo menos, havia gente que propunha a proibição do casamento dos padres (clero secular).  Essas proposições foram rejeitadas várias vezes e tivemos, inclusive, vários papas casados.  E falo de casados mesmo, não amigados, não estou pensando em gente tipo Alexandre VI (Rodrigo Bórgia).  Quem não se casava de jeito nenhum?  Clero regular, os monges e as monjas.  Eis que no século XI, os monges chegaram ao poder na Igreja Católica, vários papas eram monges e a moral deste grupo passou a ser imposta ao resto do clero.  Por fim, o Primeiro Concílio de Latrão (1123) e o Segundo Concílio de Latrão (1139) determinaram que era proibido para os padres viverem em concubinato, ou serem casados.  

O ex-padre anglicano Robin Farrow (de óculos)
 é casado e tem quatro filhas.
A partir daí, toda uma série de discursos foram construídos para justificar o celibato para todo o clero, desde repulsa ao sexo, às mulheres, até o elogio ao altruísmo, sacrifício e abnegação.  Enfim, todos os padres eram celibatários, mas castidade, bem, alguns não mantinham, não.  São coisas diferentes.  Mula Sem Cabeça, vocês sabem, é amante de padre.  Há quem não entenda, mas casamento não é somente sexo.  Aliás, mesmo com a proibição do casamento, a questão da moral dos padres continuou sendo um problema para a ICAR.  Impedir o casamento é tirar a possibilidade do sujeito de ter uma família, filhos, um tipo de conforto que vai além de ter alguém na sua cama.  No século XVI, através do Imperador Carlos V, se fez a proposta de reforma da Igreja Católica, com o intuito de reintegrar os protestantes, um dos itens era colocar fim ao celibato do clero secular.  A Igreja rejeitou, e o Concílio de Trento (1545-1563) confirmou o celibato.  A Igreja Ortodoxa lida com a coisa de outra forma.  Padre que não quer ascender na hierarquia da igreja, pode casar, se você é monge, ou almeja se tornar bispo e além, não pode.  

Como o próprio texto que eu linkei pontua, a própria ICAR abre exceções.  Igrejas do rito oriental que permaneceram com Roma permitem o casamento dos padres, o que gera tensões.  Padres anglicanos que decidem se tornar católicos, podem vir com suas famílias.  O que eu quero dizer, o celibato não é absoluto e o que o Sínodo amazônico irá discutir é a possibilidade de abrir outras exceções, como a admissão de homens casados ao sacerdócio em lugares isolados.  Abrirá?  Não sei.  Abrindo, haverá pressão para a abolição total e a ICAR poderá ter que lidar com questões novas, separações, brigas por herança e outras coisas que, bem, não fazem parte do dia-a-dia da igreja.   E os padres católicos que largaram a igreja para terem uma família?  Poderão ser reintegrados?  Afinal, muitos continuam bons católicos (*mesmo sem que possam se casar no religioso*), amavam o sacerdócio, fora que a instituição investiu muito neles.  De qualquer forma, garanto a vocês, que ela se adaptaria sem problema, não sobreviveu tanto tempo por ser intransigente, ou agir de forma pouco inteligente, ainda que possa ter tropeçado aqui e ali.

A ICAR perde cerca de mil padres por ano,
por  causa do celibato.  Dados do ano passado.

O celibato é um problema?  Bem, minha opinião pessoal é a seguinte: não é.  O problema é o celibato compulsório, isto é, obrigar os sujeitos, porque estamos falando de homens, aqui, a escolher entre o sacerdócio e o casamento.  Nesse sentido, o casamento compulsório, algo que muitas vezes é exigido dos pastores evangélicos e protestantes, também é.  Conheço mais de um pastor que se casou para poder assumir uma igreja, que não foi escolhido, porque era solteiro.  Esses casamentos às pressas, com a única função de conseguir exercer o sacerdócio, são tão ruins como se forçar ao celibato.  Enfim, deveriam deixar as pessoas livres nesse aspecto.  E, não, sexo não é fundamental para a vida.  Há quem precise mais, há quem precise menos, há quem não sinta falta.  Assexualidade não é doença.  O problema é que o dispositivo da sexualidade faz com que fiquemos tal e qual insetos em volta da lâmpada, obcecados pela ideia do sexo.  

No mais, o fim do celibato (*que o próprio Papa negou em janeiro desta ano*) poderia ajudar a aumentar candidatos ao ao sacerdócio, mas digo e lembro para quem não sabe que formar um padre dá muito mais trabalho que formar um pastor.  Oito anos, no mínimo. Tempo suficiente para o sujeito mudar de ideia e ainda sair com uma boa base intelectual.  Fora que é um processo caro, muito caro.  Já um pastor, ele pode ser autodidata.  Temos milhares, ou até mais, de "iluminados" por aí.  Para o ara os que querem estudar, há faculdades de teologia de três anos.  São raras as denominações protestantes e/ou evangélicas que exigem muito mais que isso.  Vai continuar faltando padres.  Havia outra solução, mas essa nem Francisco iria externar: ordenar mulheres.  Isso não está mesmo no horizonte.

domingo, 23 de junho de 2019

Recomendação de canais do Youtube com novelas e séries de época completas


Ontem, não sei por qual motivo, o Youtube me ofereceu duas coisas no meu feed, a novela Gabriela, de 1975 e a série Pássaros Feridos, de 1983.  Como sei que há o pessoal que vem ao Shoujo Café pelos posts de novela e coisas do gênero, e eu tenho feito pouco, porque não estou assistindo nada do que está no ar no momento, acho que fale recomendar.

Eu não assisti a primeira versão de Gabriela Cravo e Canela, porque em 1975, nem tinha nascido.  Eu vi um compacto bem curto que a globo exibiu no horário da tarde quando das comemorações dos seus 25 anos, em 1990.  Na época, assisti, também, Irmãos Coragem,  a original de 1970, e A Escrava Isaura, que eu lembrava de ter visto alguma coisa de uma repetição na minha infância remota.  Foi nessas comemorações, que passavam no Vídeo Show, que eu vi Malu Mulher, também, e sei mais o quê.  

Mundinho Falcão e Jerusa, 1975.
Enfim, eu gosto mais da primeira versão de Gabriela que da segunda.  Não por fidelidade, há questões nas quais o remake de 2012 foi mais fiel ao livro, começando pela aparência da Jerusa, neta do Coronel Ramiro (Paulo Gracindo), que batia certinho com a Luiza Valdetaro, enquanto a primeira versão tinha escalado a Nívea Maria.  Mas, enfim, a nova versão tem as presepadas do Walcyr Carrasco, aquela vulgaridade que ele não resiste em meter em todas as suas novelas, as repetições sem fim, o clichê das freiras malvadas, a fixação por piadas com quengas e por aí vai.  O original é mais seco e elegante.  Curiosamente, o Coronel Ramiro é muito mais doce com sua neta, ainda que seja ruim feito o cão com seus desafetos e os inferiores..  

Malvina apanhava muito na versão de 1975.

É interessante notar, também, como se dá a marcação do velho e do novo, bastando olhar o colarinho do velho coronel e o de Mundinho Falcão (José Wilker), um ainda estava parado no início do século XX, o outro, estava na última moda.  Se bem que almofadas douradas na cama de Mundinho Falcão é coisa dos anos 1970 mesmo.  Enfim, eu nunca assisti Gabriela pela personagem título, gosto mesmo é de ver a Malvina, que é muito melhor na pele de Elizabeth Savalla, e por causa de Mundinho e Jerusa, neste caso, não tenho preferência, gosto muito do Mateus Solanos, mas acredito que a interação das personagens na primeira versão é melhor.  A cena final com Mundinho Falcão é icõnica, "que tudo mude, para que tudo continue o mesmo".  Acabando essa parte, há dois canais com a novela, deve ser uma versão compacta que foi exibida em Portugal, eu imagino.  Basta clicar: Canal 1 - Canal 2.  Sobre a novela Gabriela de 2012, eu escrevi quatro textos: 1 - 2 - 3 - 4.

Meggie criança.
O outro programa que pipocou no meu feed foi Pássaros Feridos (The Thorn Birds), série baseada no livro homônimo de Colleen McCullough, que acabei de descobrir que era neurocientista.  Enfim, a série de 1983 tinha arrebatado vários Emy e foi comprada por Sílvio Santos em 1985.  Lembro quando ela estreou com grande sensacionalismo, afinal, ainda tínhamos censura e a história girava em torno do escandaloso romance de um padre com uma jovem que ele viu crescer.  A estratégia do Sílvio Santos deu certo e ele conseguiu quadruplicar a audiência.  Eu não assisti Pássaros Feridos na época.  Queria, um dos artistas que eu achava mais lindos à época era o Richard Chamberlain, mas minha mãe não deixava, tinha que dormir depois da novela das oito, na época, Roque Santeiro.

Nessa cena Meggie não estava muito disposta a ser gentil.
Pássaros Feridos, e o livro é ainda mais interessante (*você acha baratinho em sebo, em inglês, ou português*), conta a história de amor do padre Ralph de Bricassart (Richard Chamberlain) e Meggie (Rachel Ward).  Quando eles se conhecem, ele era um jovem padre irlandês enviado para a Austrália como punição por sua insubordinação.  Já a menina era a única filha de uma família com vários garotos, com um pai amoroso, mas sempre trabalhando muito, e com uma mãe insensível que olhava para ela e antevia sofrimentos, afinal, mulheres vêm ao mundo para sofrer.  O padre Ralph passa a zelar pela menina como uma filha, mas Meggie desde criança decide que ele é o amor de sua vida.  Eventualmente, ele acaba se apercebendo disso.  Mas fica dividido não entre o celibato e a garota, ainda que ele use essa desculpa, mas entre a moça e suas ambições.  Ele sonha alto, quer ser cardeal, quem sabe papa e uma chance aparece.  

Rachel Ward continua parecendo jovem, mesmo quando velha.
A velha tia rica da menina, interpretada por Barbara Stanwyck, deseja o padre e coloca diante dele a possibilidade de obter o que deseja.  Ela deixa toda a sua imensa fortuna para a Igreja Católica, desde que as propriedades sejam administradas pelo padre em nome da instituição.  Se ele recusar, e ele podia, a família de Meggie ficaria rica.  Se ele aceitasse, chamaria a atenção da cúria, e além, possibilitando sua ascensão na hierarquia da igreja. Ele escolhe sua carreira, ele deixa Meggie para traz, mas, obviamente, ela sabia que ele voltaria mais cedo, ou mais tarde.

A única cena de nudez da série é essa e é masculina.

Algo que é atenuado na minissérie é o rancor que a autora parece sentir da Igreja Católica. Ela deve ter tido algumas experiências bem ruins, porque não é somente a crítica ao celibato, mas você precisaria ler o livro.  Já a série de TV tem ótimas cenas (*praticamente nenhuma nudez e sexo em doses homeopáticas*) e conta com um elenco com algumas estrelas como Christopher Plummer e Jean Simmons.  Há uns probleminhas de maquiagem, porque, bem, Rachel Ward nunca convence nem como adolescente, nem como mulher madura, ou idosa.  Seu cabelo também não casa com os anos 1930, ele grita anos 1980.  Mas ela era uma atriz belíssima e sempre parece no auge da juventude.  O ator que interpreta Dane (Philip Anglim), seu filho, é mais velho que ela.  Aliás, estava tentando lembrar de onde lembrava do ator, ele fez o vedek Bareil em Deep Space Nine.  Parece que ele só é escolhido para papéis trágicos... Mas a série é muito boa.  Todas as cenas com o Christopher Plummer são uma preciosidade.

A personagem de Christopher Plummer ajuda o protagonista
a resolver alguns problemas de consciência.
Enfim, fui assistir muitos anos depois, acho na época em que Richard Chamberlain confessou finalmente a sua homossexualidade (2003), ou um pouco depois.  Tenho o box da série, inclusive, mas não voltei a assistir, nem resenhei para o blog.  Na época em que a notícia da homossexualidade do ator foi revelada, era comum encontrar gente desqualificando a atuação do ator, como se ele, que foi um dos grandes galãs da TV e do cinema de sua época, não convencesse como par romântico. Lembro de umas criaturas que diziam não conseguir mais assistir Pássaros Feridos por causa disso. Foi interessante ver que não havia nada  desses comentários esdrúxulos.  As pessoas estavam apreciando a série mesmo.  Enfim, o canal com uma coletânea de cenas de Pássaros Feridos é esse. Tem legendas em português e outras línguas. Não tem a série inteira, mas séries-chave cronologicamente agrupadas.  Agora, para quem quiser é fácil baixar.  Se você se deparar com um filme chamado The Thorn Birds: The Lost Years, não recomendo.  É um material feito muito depois e sem nenhuma base no romance original.  Se você pegar o livro, ou a série, irá entender que não existem "anos perdidos", é picaretagem mesmo.

Já que o assunto é romance com padre...
Antes de terminar, alguém me pediu para dizer onde eu estava assistindo Desejo Proibido (2007).  Olha, tem um canal com todos os capítulos, mas é uma versão que passou na TV portuguesa.  A novela está compactada e eu descobri por acaso o canal, porque estava vendo se meus DVDs, nos quais a tinha gravado, estavam funcionando.  Infelizmente, estão todos com defeito.  alguns capítulos rodam, outros, não.  Enfim, para quem quiser assistir, os capítulos estão aqui. Sempre me espanto da Globo não tire essas coisas, quando basta eu colocar uma ceninha de novela para que ela seja derrubada do Youtube.  Melhor para a gente, porque Desejo Proibido nunca foi reprisada e nem acho que será, infelizmente.  Sobre Desejo Proibido, eu fiz dois textos (*acho*): 1 - 2.  Foi a primeira, ou segunda, novela que comentei no blog e é uma das minhas favoritas.