
Segundo o ICV, apesar da polêmica em relação ao casamento gay nos EUA, os editores parecem não temer que a situação seja mal recebida pelas leitoras e leitores. Muito pelo contrário! O texto diz que boa parte dos jovens entrevistados sobre a questão são favoráveis à extensão dos mesmos direitos dos casais hetero aos gays, além disso, o público feminino, em particular, é muito receptivo às relações homoafetivas na ficção. E a matéria cita o sucesso dos mangás yaoi, que mostram relacionamentos entre personagens gays, muito populares no Japão e nos Estados Unidos. Bingo! Pelo menos alguém descobriu e pretende investir (*se com qualidade, ou se com sucesso, não sabemos ainda*), naquilo que as meninas e mulheres querem ler. Muito, muito relevante isso, já que há editoras que fecham seus olhos ou torcem (*veladamente*) para que as leitoras parem de comprar quadrinhos...
Agora, outro motivo para ter postado essa notinha, é a minha raiva com o backlash (*retrocesso*) que vem se instalando na TV aberta brasileira. Bem, quando o Supremo decidiu que os homossexuais têm direito a legalizar as suas uniões estáveis, tanto o SBT, quanto a Globo, decidiram censurar suas tramas e personagens gays nas novelas Insensato Coração (*da qual eu nunca assisti mais que míseras cenas*) e Amor & Revolução (1-2). No caso do SBT, a desculpa para podar o beijo gay masculino, porque, afinal, dois homens se beijando não parece ser fetiche (masculino) “nacional”, é a rejeição do público e a baixa audiência. Afinal, novela – e nisso eu concordo – é produto e precisa se vender. Agora, é produto para quem? Curiosamente, a única novela que meus pais, ambos religiosos e com mais de 60 anos assistem, é Amor & Revolução, e eles nunca reclamaram desse aspecto, mesmo bombardeados intensamente pela propaganda homofóbica evangélica. Já meu irmão mais jovem é quem mais aversão mostra por qualquer trama que envolva homossexuais. Para ele, a simples presença do homossexual é uma agressão aos seus "valores morais". Tristemente, aqui em nosso país pelo menos, são os mais jovens os que parecem abraçar as ideologias retrógradas e que buscam cercear os direitos de expressão e cidadania das minorias.
Voltando ao SBT, asseguro que a mim, claro, ninguém perguntou nada e se perguntassem eu diria que os problemas da trama são outros, que eu apontei lá na minha análise do primeiro capítulo... Pois bem, para piorar ainda cortaram – assim, sem explicação alguma – os depoimentos do final de Amor & Revolução. Ou seja, tiraram da trama aquilo que era mais relevante. Segundo uma das roteiristas, que deu entrevista para a Revista Fórum, o SBT não queria que a novela ficasse “parcial”, já que gente de direita, gente que apoiou o golpe (*e a tortura*), raramente quer mostrar a cara. Será que devo aplaudir o Bolsonaro e o Jarbas Passarinho pela sinceridade? Enfim, não acho que o corte no beijo gay masculino (*enquanto isso as lésbicas da novela são absurdamente agressivas e chatas em relação aos seus interesses amorosos*) vá salvar a baixa audiência da novela. E é estranho desejarem que uma novela das dez, que não tem horário para ir ao ar, e está em uma TV que é a terceira na audiência fosse bombar no IBOPE, que, para piorar, é controlado pela Globo...
Já na novela da Globo, parece que a censura às discussões sobre a homofobia estão sendo feitas de forma mais agressiva e gratuita. Beijo gay – e parece que o elenco gay da novela é todo masculino, já que a personagem da Juma Marruá morreu – sabíamos que não iria rolar, mas mesmo os diálogos estão incomodando, vem sendo sistematicamente cortadas, e regravadas. Quem comenta em detalhes é a Folha de São Paulo. E essa censura acontece exatamente quando a novela subiu na audiência... Ou seja, qual é a desculpa? A Globo quer atrair, nessa altura do campeonato, o apoio de lideranças homofóbicas? Quer que pastores recomendem sua novela do púlpito? Não dá para engolir... Dito isso, acredito que a situação no Brasil vai de mal a pior e a TV é complacente e conivente com a onda homofóbica. Nada da coragem, ainda que economicamente direcionada, da Archie Comics, só para lembrar do primeiro exemplo.
E eu termino comentando dois casos. O primeiro, vocês devem conhecer, que á o do pai que no interior de São Paulo foi abordado por um grupo de pitboys e agredido por estar abraçando o próprio filho adolescente. Sabe, dois homens que se abraçam são gays e isso dá direito a que qualquer um – homens geralmente – te aborde e agrida. Meu pai e alguns de meus tios sempre foram carinhosos em público com filhos e sobrinhos, beijando e abraçando. É assim até hoje. Será que meu pai e meu irmão correm risco nas ruas desse Brasil? Em São Paulo, o homem terminou sem parte da sua orelha. Na mesma semana, para fechar a fatura, meu marido foi alvo de homofobia. E o caso também foi no Estado de São Paulo – mas, talvez, pudesse acontecer em qualquer lugar. Meu marido comprou uma bolsa, dessas coisas chinesas, com desenhos de meninas esguias. Uma bolsa bonita, ele gosta de coisas bonitas, de desenhos bonitos. Na Rodoviária do Tietê o sujeito da empresa de ônibus responsável por acomodar a bagagem, o abordou com uma piada, assim, gratuitamente, porque ele – um homem adulto – estava com uma bolsa bonita e colorida. Meu marido não se aborreceu por ser indiretamente percebido como um homossexual, mas pelo abuso, gratuidade do ato e a violência. Mas suponhamos se ele fosse estourado? Poderíamos terminar com uma tragédia...
Eu precisava escrever esse post. Não sabia por onde começar, mas o caso do Archie Comics me deu um espaço. Eu estou indignada com a homofobia crescente em nosso país, que aponta para uma corrosão do nosso (frágil) Estado Laico e o potencial de violência. Queria muito não precisar escrever uma linha sobre o assunto, mas estava entalada. Infelizmente, infelizmente mesmo, parece que homofobia vai continuar não sendo crime neste país. E, pior, o Governo recua cada vez mais. Viram o caso da Noruega? Dar espaço aos extremistas dá nisso. E o que eu percebo são discursos extremistas religiosos ganhando cada vez mais espaço e os setores que deveriam ser de vanguarda se acovardando ou fechando os olhos para isso. Triste, triste situação a nossa...













































































